sábado, 6 de novembro de 2010

MATE MAIS UM NORDESTINO

Espalha-se a xenofobia nacional. O nordestino é alvo da mais nojenta discriminação: a que se mede pela pobreza do indivíduo ou grupo e à qual conseguiram acrescentar sentimentos de racismo físico e psicológico, de genocídio e limpeza étnica.

Pessoas doentes, catequizadas por ideais nazistas, como Mayara Petruso, discípula de Joseph Mengele, não se conformam que os nordestinos apenas sofram. Querem também que eles morram. A extrema direita vomita sua bílis venenosa. Devemos pagar pelo crime de existir.

Mataram poucos nordestinos até agora. Mate mais um. Não bastam os que são eliminados ano a ano no polígono das secas; não bastam os assassinados por grileiros e empresas agropecuárias; não bastam os que desaparecem todos os anos nas enchentes. Mate mais um e seja feliz sentado nos vergalhões de suas metrópoles, vendo o mundo do alto dos arranha-céus, em frente ao TV de Plasma, ao canal digital por assinatura, computando os lucros da Bolsa de Valores, vivendo o luxo das jóias raras e dos casacos de pele, gastando o suor dos operários nas águas termais de Aruba e outros paraísos fiscais.

Mate. Mataram poucos até agora. Não bastam os assassinados pelo terrorismo dos hospitais públicos, os consumidos pelas moléstias da inanição, os destruídos pelo analfabetismo e desemprego, os corroídos pela corrupção de Brasília. É preciso matar muito mais. Afinal, como disse aquele jornalista sicário de Belzebu, assessor de imprensa de Mefistófeles e oficce boy de Lúcifer, que em boa hora foi ser correspondente do Inferno, trata-se apenas de uma sub-raça que é preciso extinguir.

Reúnam as milícias, grupos de extermínio, os ex-agentes do DOI-CODI, os skean heads, o PCC, o Comando Vermelho, as torcidas assassinas e não tenham pena: matem mais um nordestino que para eles é muito pouco morrer.

Não importa o quanto seus braços fortes tenham contribuído para a construção deste país: nas fábricas, nos arrozais em flor, nas construções civis das megalópoles, nos edifícios de vidro, nas fazendas escravocratas, na construção de escolas e hospitais, nas pontes levantadas entre mundos no Brasil.

Não importa que a carne em sua mesa guarde o sabor deste suor atrasado, cansado, que os salões de mármore que pisam com chinelos dourados nas escadas rolantes tenham deixado calos em suas mãos. Não importa que seus ternos de zinco tenham sido urdidos, fio a fio, pelas mãos grossas e mal educadas que entre espinhos arrancam algodão. Não importa que seus relógios de ouro marquem a hora do nordestino trabalhar. São nordestinos. Só isso. E só por isso, apenas por isso, eles têm que morrer.

Mate mais um nordestino. Eles são sujos de barro, fedem a trabalho, a roça, cozinham, dirigem ônibus, constroem metrôs de superfície e arranha-céus, desfilam em escolas de samba, asfaltam ruas, erguem igrejas, vigiam prédios, vigiam carros, vigiam Bancos, plantam verduras, frutas e flores, vestem fardas e salvam vidas, mas nem por isso merecem viver.

J M Cunha Santos

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