quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SÍNDROME VISUAL PELO USO DE COMPUTADORES É RECORRENTE

Os computadores têm se tornado quase indispensáveis para a maioria das funções cotidianas. A popularidade do computador, incrementado com facilidades de acesso à internet, tem conquistado uma enorme quantidade de profissionais, que o utilizam como ferramenta indispensável para o exercício de suas funções. Com isso, cada vez mais pessoas têm experimentado sintomas visuais associados ao uso excessivo de computadores.

A Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC) se refere a um grupo de sinais e sintomas diversos e variados, que podem ser atribuídos ao uso do computador. Os sintomas visuais são as principais queixas e motivos de consulta médica, dentre os problemas de saúde ocupacional nos usuários de computadores.

Os sintomas oculares mais frequentes da SVRC são cansaço, sensação de corpo estranho, ardência, dor, irritação, vermelhidão, ressecamento e turvação visual.

Estima-se que até 90% dos usuários de computador por mais de três horas diárias apresentem algum tipo de sintoma relacionado à SVRC. As principias causas estão relacionadas a mecanismos da superfície ocular, acomodativos e extraoculares.

Existem várias evidências que o uso de monitores causa astenopia. A condição do paciente pode contribuir para a sintomatologia e a análise individualizada do paciente quanto à refração, binocularidade e acomodação devem ser considerados. Evidências clínicas têm mostrado que o uso prolongado de monitores provoca diminuição no poder de acomodação e na capacidade de convergência, assim como leve indução de miopia transitória pelo esforço acomodativo.

A resolução da tela (medida em pontos por polegada), o contraste, assim como a iluminação ambiente podem ser fatores importantes no conforto visual e na melhora da SVRC. As telas de cristal líquido (LCD) geralmente apresentam melhor resolução e iluminação, assim como refletem menos a luz do ambiente.

A iluminação excessiva da sala, bem como luzes que incidem e refletem na tela do computador, geram imagens confusas e dificultam a focalização nela. Os filtros protetores, que são colocados na frente do monitor, podem contribuir diminuindo a reflexão de luzes que incidem na tela, já que as fontes de energia luminosa externas passam duas vezes pelo filtro enquanto as emitidas pelo monitor passam uma vez, aumentando o contraste entre as imagens. Outro papel destes filtros seria quanto à redução de energia eletromagnética e outras radiações emitidas pelo monitor.

A taxa de renovação (refresh rate) da tela se refere ao intervalo em minutos que a tela é preenchida para produzir uma imagem. Taxas muito baixas (8 a 14 Hz) podem contribuir para crises convulsivas. Taxas maiores (80 a 120 Hz) podem melhorar a sintomatologia ocular e o conforto do usuário e podem ser ajustadas nas configurações avançadas do vídeo no computador.

A posição do monitor também é importante quanto à ergonomia e conforto da musculatura cervical. Em geral, a tela deve estar entre 70 a 100 cm do usuário, num nível 10 a 20 graus abaixo dos olhos, proporcionando maior conforto e menor estresse postural.

Uma das principais causas do cansaço visual é o ressecamento ocular. A diminuição do piscar associada a outras condições ambientais, oculares e sistêmicas, como ar condicionado, ventiladores, disfunção meibomiana, pouca ingestão de líquidos, uso de medicamentos (diuréticos, betabloquea¬dores), fumo, podem contribuir para piorar esta sintomatologia na SVRC.

A maioria dos indivíduos pisca 10 a 15 vezes por minuto. Estudos mostram que esta taxa pode ser reduzida em até 60%, resultando em sintomas de olho seco. O uso frequente de lubrificantes oculares pode melhorar esta condição de forma significativa.

O tempo de uso do computador e o desgaste físico e visual estão diretamente relacionados. Sugere-se que pequenas pausas, de 5 a 10 minutos por hora, de preferência fixando a distância e sem olhar para o monitor, possam causar menor desgaste visual, com melhora do desempenho no trabalho. Além disso, os turnos de 4 horas no computador devem ser interrompidos por pausas maiores para evitar maior desconforto visual.

A correção visual adequada para o computador deve ser avaliada individualmente. Em geral, as opções de lentes que privilegiam a zona intermediária e de perto, com corredores mais amplos tendem a ser melhor aceitas do que as lentes multifocais tradicionais. Alguns usuários podem ter desconforto com a procura do foco, oscilando entre o monitor, texto de leitura e teclado, nas zonas de progressão da lente multifocal. As correções monofocais tendem a dificultar a obtenção de um foco ideal para as diferentes distâncias na mesa do computador e ambiente de trabalho. As lentes multifocais para adaptação em armações pequenas podem também comprometer a zona de visão intermediária e não serem a melhor escolha para este uso. De qualquer forma, médico e paciente devem discutir as opções disponíveis no mercado, visando atender as expectativas, que devem ser apresentadas durante a consulta.

Ainda não sabemos os efeitos deletérios que possam decorrer da exposição frequente aos diversos tipos de radiações, eletromagnéticas, de radiofrequência, dentre outras, dos computadores, celulares, fornos de micro-ondas e utensílios da vida moderna. Somente o tempo poderá mostrar o que alguns estudos tentam comprovar com evidências ainda pouco conclusivas a este respeito.

Como o uso destas poderosas máquinas faz-se imprescindível e em muito contribui para o desenvolvimento da medicina, o convívio harmonioso entre homens e máquinas deve ser regido pelo bom senso, em que os computadores nos sirvam, permitindo mais tempo livre para outras atividades de lazer e convívio humanos, fundamentais para a saúde e bem estar.

Palavras chave (keywords) para pesquisa no PubMed e Google: computer vision syndrome, computers and eye strain, computers and asthenopia, computers and ergonomics, computers and dry eye, video display terminals e liquid crystal display.

FONTE: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA  

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