Luiz Augusto de
Barros (no topo, à direita), o Bidu, está sendo investigado junto com Oswaldo
Borges da Costa Filho (o do meio), o Oswaldinho, num processo aberto pelo
MP de Minas. Bidu foi arrolado como testemunha de defesa de Rogério Nora de Sá
(abaixo), um dos diretores da Andrade Gutierrez (AG) denunciados por
lavagem de dinheiro, corrupção, pagamento de propina.
Investigação do
MP tira o Bidu das sombras Ex-diretor da Andrade Gutierrez e da Codemig é alvo
de processo em Poços de Caldas.
Um processo
aberto pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em Poços de Caldas, no
Sul de Minas, por suspeita de superfaturamento em obra pública, tirou das
sombras um misterioso personagem dos bastidores da política mineira. A ação
judicial dá nome e sobrenome a Bidu, como era conhecido até então o ex-diretor
de Obras da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) Luiz Augusto
de Barros. Ele está sendo processado, junto com Oswaldo Borges da Costa Filho,
o Oswaldinho, por suspeita de pagamento acima do preço da reforma das Thermas
Antônio Carlos, na cidade.
Oswaldinho já
estava sob os holofotes da Lava Jato desde que foi delatado por executivos da
Odebrecht. Ele foi citado como auxiliar do então governador Aécio Neves (PSDB)
em um suposto esquema de cobrança de propina nas obras da Cidade Administrativa
– o que o atual senador e presidente nacional do PSDB nega. A Codemig financiou
os mais de R$ 1,2 bilhão gastos na construção da sede de Executivo do Estado.
O nome de Bidu
veio à tona em outubro do ano passado, pela voz do então candidato a prefeito
de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PHS), poucos dias antes de vencer nas urnas
seu adversário João Leite (PSDB), afilhado de Aécio. “Muito cuidado com o que
vocês estão fazendo, viu Bidu? O Oswaldinho já está morando em Miami.
Muito cuidado
com o que estão fazendo com o príncipe Aécio Neves. Eu avisei que não tenho
medo e não estou para brincadeira. Cuidado, que o príncipe vai para a gaiola.
Cuidado comigo!”, disparou Kalil em um vídeo intitulado “A hora da verdade”,
publicado em suas redes sociais. As ameaças pararam por ali e Kalil não deu
mais detalhes do que denunciava.
Em proporções
menores, em Poços de Caldas, o Ministério Público encontrou um esquema
semelhante ao da Cidade Administrativa. Ambas as obras estavam sob
responsabilidade de Oswaldinho e Bidu e nelas há suspeitas de favorecimento a
empreiteiras durante o processo licitatório e superfaturamento, através de
aditivos.
Recentemente, o
jornal “Folha de S. Paulo”, trouxe a informação de que o ex-presidente da
Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior afirmou ter se reunido com Aécio
Neves para tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade
Administrativa para favorecer as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e
OAS. O senador e presidente nacional do PSDB negou o conteúdo da colaboração.
O inquérito
sobre as obras de Poços de Caldas, aberto há cerca de dois anos, investiga o
contrato da Codemig com a construtora Perfil Engenharia, vencedora da licitação
aberta ainda em 2011. O valor da reforma nas thermas seria de R$ 10 milhões,
com previsão para durar dois anos. Após nove aditivos, o custo da obra subiu
para R$ 15 milhões, 50% a mais que o valor original. Já a Cidade Administrativa
foi anunciada por R$ 948 milhões em 2007. Com pelo menos 15 aditivos, foi
inaugurada em 4 de março de 2010, tendo custado R$ 2,1 bilhões, segundo
divulgou à época a assessoria de imprensa de Aécio. Na Codemig, a dupla
comandou também obras polêmicas em São João del Rei, Araxá e Entre Folhas.
EXECUTIVO
DEFENDEU CONDENADO
Enquanto
investigava um esquema criminoso nas obras da usina de Angra 3, executada pela
Eletronuclear, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) do Rio de
Janeiro convocaram o executivo Luiz Augusto de Barros, conhecido como Bidu, a
depor em 11 de março de 2016.
Barros foi
arrolado como testemunha de defesa de Rogério Nora de Sá, um dos diretores da
construtora Andrade Gutierrez (AG) denunciados por lavagem de dinheiro,
corrupção, pagamento de propina, entre outros crimes.
Por
videoconferência, Bidu foi ouvido por menos de cinco minutos pelo advogado de
Rogério Nora, Eduardo Dall Agnoll, que fez poucas e rápidas perguntas sobre o
comportamento social e profissional do cliente.
Ao iniciar o
depoimento, Bidu declarou-se amigo de Nora, tendo-o conhecido na construtora em
1975. “Nos conhecemos quando fui responsável pela grande obra da Ferrovia do
Aço, em Itabirito. Eu era responsável pelos viadutos e ele era um dos
engenheiros responsáveis pela construção dos túneis da ferrovia. Diria que é um
profissional de altíssima competência”, respondeu.
Conhecida como
“Ferrovia dos 1.000 dias”, a obra foi iniciada em 1973, durante o regime
militar. A ligação férrea entre Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro
jamais teve um vagão sequer circulando em muitos trechos, como o de Belo
Horizonte a Itabirito, passando por Sabará, ambas na região metropolitana. Só
nesse segmento, foi abandonada uma sequência de seis túneis e quatro viadutos.
Em seu breve
depoimento, Bidu disse desconhecer qualquer conduta que desabonasse o
profissionalismo e o caráter de Rogério Nora. “O conceito que tenho dele é de
uma pessoa de conduta ilibada, seja do ponto de vista profissional, seja do
ponto de vista como amigo, seja do ponto de vista como chefe de família, como
cidadão, sempre um elevadíssimo conceito”, finalizou a testemunha.
Reviravolta.
Poucos meses depois, Rogério Nora e outros executivos da Andrade Gutierrez
assinaram termo de colaboração premiada, onde revelaram os detalhes do esquema
criminoso que beneficiou diversos políticos, entre eles o ex-governador do Rio
Sérgio Cabral. Nora foi condenado em setembro a uma pena de 17 anos, cumprindo
18 meses em regime semiaberto. O ex-executivo pode ser reconvocado para
complementar a colaboração por supostos esquemas de corrupção em obras de
outros Estados, delatados pela Odebrecht. (AD)
CARREIRA INCLUIU
RELAÇÕES POLÍTICAS
Nem tão
conhecido no meio político, Bidu é figura de destaque no ramo da construção
pesada. Foi na Andrade Gutierrez que Luiz Augusto de Barros fez carreira, tendo
sido diretor da empreiteira durante 25 anos. O executivo representou a
construtora na África e em Portugal, onde atuou em importantes obras, como o
metrô de Lisboa. Bidu deixou a Andrade em 1997 e depois disso acumulou
importantes cargos na área. Foi sócio da Empa, empresa de médio porte do
segmento de obras rodoviárias; presidente da Camter Engenharia; presidente do
Sindicato da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG); diretor da
Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e vice-presidente da Câmara
Brasileira da Indústria de Construção (CBIC).
Na gestão tucana
em Minas, ele integrou o Conselho de Administração da Companhia Energética de
Minas Gerais (Cemig), onde permaneceu pelo menos até o fim de 2014, último ano
das gestões PSDB-PP.
Quando ainda era
prefeito de Belo Horizonte, em 2006, Fernando Pimentel (PT), atual governador
do Estado, manteve relações com Bidu, à época presidente da Camter Engenharia.
Naquele ano, a prefeitura contratou a empresa, com dispensa de licitação,
conforme o processo número 01.077158.0654.
Bidu havia sido
presidente do Conselho de Assuntos Legislativos da Fiemg na gestão Robson
Andrade. A entidade foi acusada de pagar R$ 1 milhão por palestras de Fernando
Pimentel, logo após este deixar a prefeitura e pouco antes de assumir o
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. (AD)
Do Viomundo
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