A Avenida Calógeras, região Central
do Rio, é conhecida pelo Vilariño, bar e delicatessen onde, em 1956, Tom Jobim
foi apresentado a Vinicius de Moraes pelo crítico de música Lúcio Rangel, um
encontro histórico. Mas outra dupla fez história dez anos antes. A uns cem
metros dali, o advogado cearense Humberto Teixeira e o sanfoneiro pernambucano
Luiz Gonzaga se conheceram. Gonzaga já havia falado com ele por telefone e
combinaram o encontro no escritório de Teixeira.
Numa artéria
curta e muito movimentada, na então capital da República, a partir daquele dia,
criaram algumas músicas que desencadeariam a febre do baião no Brasil, entre
elas Baião, No Meu Pé de Serra, Juazeiro e Aza Branca (assim, com
"z", na época). A gravação de Asa Branca, o hino não oficial do
Nordeste, e um dos maiores clássicos de todos os tempos da MPB, completa nesta
sexta-feira (3) 70 anos. A toada, que tem versões em dezenas de idiomas,
inclusive em japonês e coreano, e é familiar a brasileiros de qualquer região,
naquele tempo soava tão estranha que foi motivo de gozação em cima de Gonzaga,
pelos músicos do Regional de Canhoto, que participaram da gravação, em 3 de
março de 1947.
Cantiga de Cego
Para eles,
Asa Branca era a mesma coisa que cantiga de cegos nordestinos, pedindo esmola
na rua. Fizeram uma fila, um deles com uma vela acesa, cantando a música. O
episódio foi contado por Humberto Teixeira numa célebre entrevista ao conhecido
pesquisador cearense Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez. Assim como
Juazeiro ou No Meu Pé de Serra, e várias das parcerias iniciais de Humberto
Teixeira e Luiz Gonzaga, Asa Branca era cantada pelo Sertão nordestino, com
letras diferentes, e fazia parte da bagagem que os dois levaram consigo para o
Rio.
Pelo visto,
o pessoal da RCA não fez muita fé na música, uma vez que ela está no lado B do
78 rotações original, com a hoje esquecida marcha junina Vou pra Roça (Luiz
Gonzaga/Zé Ferreira), na face principal do disco. Poucas canções da MPB têm
tantas versões. Asa Branca vem voando há décadas, indiferente aos modismos
musicais, tendo sido gravada tanto pelo pessoal do iêiêiê quanto pelos
tropicalistas. Neste momento, mundo afora, alguém está cantando ou escutando
Asa Branca.
Do GGN, por
José Teles
0 comments:
Postar um comentário