"Acho
importante resolver a questão do triplex, porque o Ministério Público fez
acusação se baseando em denuncia da imprensa. Porque todo esse processo esteve
subordinado à Globo e Veja. Na verdade, o Ministério Público está prestando
contas a esse órgão de impensa", disse Lula a Sergio Moro
Jornal GGN
- Na segunda parte do depoimento de Lula a Sergio Moro, o juiz de Curitiba
entrou, novamente, em confronto com a banca de advogados do petista, porque
extrapolou o escopo da denúncia sobre o triplex tentado arrancar respostas
acerca do sítio de Atibaia. Enquanto isso, Lula desmoralizou a atuação dos
procuradores da Lava Jato, alegando que o caso nasceu de denúncia da Globo e a
ação penal virou mera "prestação de contas" por parte do Ministério
Público.
O embate
começou por volta dos 7 minutos no vídeo abaixo, quando Moro perguntou a Lula
sobre mensagens da OAS que falavam de reformas nas cozinhas do sítio e do
triplex no Guarujá.
Lula, que
foi orientado a esclarecer apenas o que realmente é objeto da ação penal do
triplex, respondeu a Moro: "Esse é outro processo, que quando chegar o
inquérito, eu falarei com o senhor, e terei muito prazer de falar sobre
isso." O inquérito do sítio não foi concluído.
Nesse
momento, o advogado Cristiano Zanin Martins chama a atenção de Moro porque o
juiz, mais uma vez, abordou assuntos que fogem de sua competência legal.
Para Moro,
contudo, a pergunta sobre o sítio se justifica porque o assunto está conectado
ao triplex graças às mensagens da OAS.
Mesmo diante
de protestos de outros advogados, Moro insistiu na pergunta.
Entre
13'25'' e 14''44'', Lula deu uma resposta a Moro com direito a uma bordoado no
Ministério Público Federal, taxando os procuradores da Lava Jato de
subordinados da grande mídia:
"Se tem
alguém que quer a verdade sobre isso, sou eu. Quando chegar o processo do sítio
de Atibaia, eu terei imenso prazer de estar aqui respondendo. Mas acho
importante resolver a questão do triplex, porque o Ministério Público fez
acusação se baseando em denuncia da imprensa. Porque todo esse processo esteve
subordinado à Globo e Veja. Na verdade, o Ministério Público está prestando
contas a esse órgão de impensa. E eu quero falar, porque tenho direito de falar
que não requisitei, não recebi e paguei um apartamento que dizem que é
meu."
Essa segunda
parte do vídeo termina com bate-boca entre Moro e os advogados de Lula.
As mensagens
da OAS usadas por Moro eram trocadas internamente. Por isso, Lula disse que não
poderia "responder por mensagens e e-mails entre terceiros".
SOBRE O TRIPLEX
Nessa
ação penal, Lula é acusado de receber da OAS benefícios na forma de um triplex
no Guarujá e recursos para a manutenção do acervo presidencial, por conta de
três contratos da empreiteira com a Petrobras.
Durante se
depoimento, Lula explicou que, em meados de 2005, dona Marisa comprou uma cota
da Bancoop que viria a ser vinculada a uma unidade comum do condomínio. Porém,
a Bancoop teve problemas financeiros e o empreendimento foi transferido, em
2009, à OAS.
Segundo
Lula, houve um hiato entre 2009 e 2013, ano em que Léo Pinheiro o procurou para
avisar que a unidade vinculada à cota de dona Marisa já havia sido vendida pela
OAS, e ofereceu uma visita numa unidade triplex, que estava vazia. Ela ocorreu
em fevereiro de 2014.
Lula disse
que encontrou "500 defeitos" no apartamento. Léo teria dito que iria
ver um "projeto" para o espaço, mas eles nunca mais se falaram sobre
isso. Quem voltou a fazer uma segunda visita foi dona Marisa, que não teria
ficado contente com o pouco avanço nas melhorias.
O
ex-presidente disse a Moro que, após a segunda visita, Marisa "não relatou
a reforma e lamentavelmente ela não está viva para perguntar". "Eu
não sei se tinha reforma, o que ela disse é que não tinha nada no apartamento,
estava do mesmo jeito que a gente quando a gente foi lá."
"A
falta de realização das reformas em agosto de 2014 foi um dos otivos para nao
ficar?", perguntou Moro. Ao que Lula rebateu: "Eu não ia ficar porque
não tinha ficar. Esse motivo foi que eu não solicitei e não queria o
apartamento."
Segundo
Lula, Marisa sabia, desde a primeira visita, que ele não queria o triplex
porque achá-lo inadequado para a família. E, se ela ainda pensava em comprar,
deveria ter a intenção de revenda. "O apartamento estava em nome da minha
mulher. Eu já tinha dito em fevereiro que não queria. Ela certamente pensava em
fazer negócios se fosse ficar com o apartamento."
Lula ainda
disse que depois da prisão de Léo Pinheiro, em agosto de 2014, o assunto não
teve desdobramentos.
E disse que
sabia que haveria uma diferença entre o valor da cota de dona Marisa, que valia
menos de R$ 300 mil, e a unidade triplex.
"Houve
[conversa sobre diferença de valores], na reunião de 2013, quando Léo foi no
Instituto conversar comigo, e estava junto o Paulo Okamotto, presidente do
Instituto. Léo começou a mostrar a ideia do apartamento, e o Okamotto perguntou
quanto que era o metro quadrado. Ele [Léo] respondeu: 'Nao sei, acho que 6, 7
mil reais'. E ele [Okamotto] respondeu: 'Entao você sabe que se o Lula comprar,
tem que ser por preço do mercado. Eu sou contra Lula comprar, mas se ele
comprar, tem que ser pelo preço de mercado.'
À Polícia
Federal, Lula já havia dito que pagaria pela reforma se fosse comprar o
apartamento. "Quero saber aonde está o maldito crime nisso?", disse
ao delegado, em março de 2016.
A Moro, Lula
ainda disse que considera "esse processo [do triplex] ilegítimo e a
denúncia, uma farsa. Eu tô aqui em respeito à lei e à Constituição, mas com
muitas ressalvas com o comportamento da Lava Jato."
SEM LIMITES
Não foi a
primeira tentativa de Moro, de ir além da acusação do triplex com Lula. Na
primeira parte do vídeo, o GGN mostrou que o juiz também afirmou que Lula é
acusado de comandar um esquema de corrupção na Petrobras quando, na verdade, o
Ministério Público Federal não ofertou essa tese para julgamento.
A limitação
do objeto da denúncia pelo próprio juiz Moro não foi problema quando, por
exemplo, a defesa de Lula solicitou milhares de documentos da Petrobras que
comprovariam que o petista não teve participação nas decisões da estatal e,
portanto, não tem vínculos com os 3 contratos da OAS e a Petrobras.
Para impedir
o acesso a essas provas, Moro estabeleceu que a denúncia era restrita aos 3
contratos entre OAS e Petrobras, que teriam gerado a propina que pagou
benefícios a Lula, como o triplex e a contratação da empresa Granero para
cuidar do acervo presidencial.
Do GGN
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