O esquisito
imbróglio jurídico-midiático envolvendo Aécio Neves e Michel Temer suscitou
declarações aliviadas em torno do suposto caráter apartidário da Cruzada
Anticorrupção. Bobagem da grossa. E é curioso verificar o recurso a ela quando
o viés tendencioso (para não dizer conspiratório) do aparato judicial se faz
tão presente.
Um simples
passeio pelas páginas sociais dos membros da Lava Jato bastaria para dirimir
qualquer dúvida quanto à isenção de suas autoridades bravateiras. O uso de
ferramentas de promoção ideológica revela o conceito que têm de suas
responsabilidades e o tipo de ética profissional que adotam.
Mas poderíamos
citar outras evidências. O recorte cronológico de Sérgio Moro na apuração do
escândalo da Petrobrás, livrando FHC. A manipulação dos depoimentos,
impedindo-os de chegar a tucanos graúdos. A exclusão de uma testemunha-chave na
petição contra Geraldo Alckmin. O número irrisório de políticos do PSDB
indiciados pelo STF. O incrível desprezo pelas suspeitas envolvendo José Serra.
Até Aécio Neves
vinha desfrutando tal maleabilidade. Ele teve processo anulado no STF por
prescrição. Moro ignorou seu envolvimento em pelo menos uma delação da Lava
Jato. A PF livrou-o do caso do helicóptero com meia tonelada de cocaína. E o
mineiro não foi preso, como Delcídio Amaral e alguns outros.
Também salta aos
olhos a diferença de rigor nos inquéritos envolvendo petistas e tucanos.
Enquanto os artífices do golpe desfrutam de afagos garantistas, apesar dos
flagrantes incontornáveis, Lula é tratado como bandido, levado à força para
depor, responsabilizado pela própria falta de provas contra si. E é sempre bom
lembrar que José Dirceu passou anos na cadeia por “domínio do fato”.
Poderíamos
atentar ainda para o curioso timing dos vazamentos incriminadores. Note que
eles jamais são contextualizados, como se aparecessem num encadeamento natural
das coisas. Investigando um pouco, entretanto, descobrimos que os de Aécio e
Temer estavam disponíveis há meses. Por que não apareceram antes? Ou depois?
Resposta
simples: o Judiciário só atingiu-os agora porque precisa de um factoide para
aliviar a suspeita generalizada contra a iminente condenação de Lula. Desde o
início alertamos que Aécio, Temer e Eduardo Cunha seriam bodes expiatórios do
objetivo maior da Lava Jato.
A destruição de
Aécio e Temer interessa tanto ao PSDB que talvez tenha mesmo sido engendrada
nas catacumbas tucanas – o que explicaria, aliás, o apoio unânime da imprensa.
O partido livra-se de um quadro inviável eleitoralmente, desmoralizado, indócil,
e ganha a chance de evitar o contágio do governante mais impopular da História.
À parte
escancarar o que todos já sabiam, o Judiciário apoiou um golpe mercenário,
queimou os arquivos humanos que o engendraram, preservou o projeto de poder do
tucanato paulista e busca aniquilar a candidatura adversária, favorita para as
eleições de 2018. Ninguém chama isso de imparcialidade sem algum grau de
cinismo.
Do GGN
0 comments:
Postar um comentário