Eles
Crime de rico a
lei cobre,
O Estado esmaga
o oprimido.
Não há direitos
para o pobre,
Ao rico tudo é
permitido.
À opressão não
mais sujeitos!
Somos iguais
todos os seres.
Não mais deveres
sem direitos,
Não mais
direitos sem deveres!
(hino A
Internacional)
A
realidade histórica que nossa esquerda política parece não ter compreendido até
hoje é a da luta de classes. Não se trata necessariamente de um confronto
físico, como imaginam fascistas ignorantes, mas de um confronto de condições
políticas, econômicas e ideológicas. Há um antagonismo inexorável entre aqueles
que se apropriam da riqueza social e aqueles que a produzem e padecem sob a
tutela violenta dos apropriadores, ou, formulado de forma mais simples, entre
os parasitas do capital e os expropriados do produto de sua força de trabalho.
É
escandaloso que, enquanto a maioria das brasileiras e dos brasileiros vive com
salário mínimo ou até menos, devendo com ele cobrir suas despesas de habitação,
vestuário, alimentação e educação dos filhos, uma minoria abastada não se
contenta com seus polpudos ganhos do estado e exigem mesadas empresariais de
50, 500 mil ou até milhões, para garantir vantagens indevidas aos contratados
em obras e serviços para a administração.
É
preciso colocar a mão na cabeça e perguntar-se: que diabos alguém faz com uma
mesada dessas??? Para que tanto dinheiro? Para comprar SUVs, viver em
apartamentos de luxo, frequentar jantares e coquetéis em ambientes para poucos
e comprar roupas de custo imoral? Enquanto isso, nossos irmãos lascados se
abrigam em barracos e barracões, de lona, de madeira, de alvenaria e latão,
submetidos a todas intempéries possíveis, expostos a ratos, lacraias, baratas,
escorpiões e a uma polícia violenta que em nada perde para os bandidos em
crueldade.
Captam
água sem tratamento, convivem com esgoto a céu aberto e acessam a energia
elétrica por gambiarras. Não têm assistência efetiva à saúde e a educação que
lhes oferecem padece de permanente subinvestimento. Vestem-se com roupas velhas
doadas ou mais novas, compradas em brechós.
São
obrigados a sair de madrugada de casa para se espremerem em condução publica
cara e de péssima qualidade para chegar ao trabalho, onde abaixam a cabeça para
não perder o emprego e comem de suas matulas simples esquentadas, quando
possível, num microondas ou frias mesmo, quando o empregador não o disponibiliza.
Chegam em casa à noite, fugindo dos assaltos e, esgotados, ainda cuidam de seus
filhos e de suas filhas.
E
nossa esquerda política, dizendo defender os desapropriados, não consegue, em
nome de uma tal “governabilidade”, deixar de parlamentar com os apropriadores
aos sorrisos, fazendo-lhes concessões em troca de migalhas de poder. Migalhas,
diga-se de passagem, até bem-vindas, porque permitem um mínimo de ação
inclusiva e redistributiva. Mas são migalhas, nada mais do que migalhas, se
comparadas com a capacidade da apropriação criminosa do patrimônio público e
social.
Compreender
a luta de classes implica não aceitar arranjos de poder em detrimento do
esforço de empoderamento da classe trabalhadora e dos excluídos. É não aceitar
conchavos espúrios com o inimigo de classe. Acertos táticos eventuais com
setores reacionários são possíveis apenas quando não agravam o desequilíbrio de
forças no enfrentamento da profunda iniquidade.
Os
atores progressistas foram alvo de um ataque vil coordenado por políticos
golpistas inescrupulosos, com apoio das instituições judiciais e parajudiciais
e da mídia comercial. Seus objetivos são o completo aniquilamento do frágil
estado social brasileiro, piorando as condições de vida de milhões de
trabalhadores e excluídos, bem como a entrega barata dos ativos nacionais,
submetendo o Brasil aos interesses dos Estados Unidos da América.
Tudo
em prol de negociatas que constituem um assalto à Nação e nossa capitulação ao
crime organizado, incluído o tráfico internacional de drogas. Quaisquer
alianças que preservem os interesses e objetivos dos usurpadores corruptos da
soberania popular são incompatíveis com o projeto de um Brasil altivo,
independente e inclusivo, sendo, por isso, inaceitáveis para quem padece da
profunda desigualdade econômica e para quem tem consciência política.
Fala-se
que os partidos parceiros do golpe, PMDB e PSDB, afundados na lama das
megapropinas, procuram “uma solução” para a crise em que enfiaram o País com
auxílio da mídia e das agências persecutórias. Qual a solução? Desfazer o
golpe? Reinstituir a presidenta eleita arrebatada covardemente por quem lhe
devia lealdade de vice? Devolver o poder à soberania popular, para que escolha
o caminho a seguir? Não, nada disso. Isso seria coisa de esquerdista. Querem
aprofundar a agenda do golpe e, de preferência, com apoio do PT.
Como
assim? Os partidos do golpe estariam tentando convencer Temer a largar o osso o
mais rapidamente possível, com garantias de leniência na persecução penal, para
que possam manter o rumo das “reformas” com um sucessor escolhido por suas
bancadas de trombadinhas entre pessoas que não têm nenhum compromisso com os
interesses da maioria das brasileiras e dos brasileiros. E, segundo avaliação
dos golpistas, não poderiam perder tempo, pois, do contrário, impor-se-ia, na
contramão de seus planos anti-povo, a vontade das ruas.
Vencida
a hipocrisia, reina, agora, o cinismo absoluto. É evidente que esse Congresso
contaminado por práticas de gatunagem na sustentação de um governo golpista
ilegítimo não tem condições de escolher o futuro Presidente da República sem
contaminar, também, seu governo com sua extorsão criminosa de vantagens
materiais. Só a soberania popular manifestada em eleições diretas e livres
poderá restaurar a democracia e permitir a afirmação dos interesses
nacionais e da maioria das brasileiras e dos brasileiros.
Acordos
com as forças da reação e do golpe só podem ser estabelecidos dentro desse
objetivo: a realização imediata de novas eleições. Nada menos. Nossa
preocupação é precisamente impedir a aprovação de medidas anti-povo. Só o
restabelecimento de um governo legítimo conseguirá barrar as articulações
espúrias no Congresso. Exigimos respeito!
Enquanto
em Brasília o MPF leva à frente, sempre com métodos policialescos e num viés
moralista que nega a história, o desbaratamento de quadrilhas no poder
político, em Curitiba permanece a intenção de destruir as lideranças de
esquerda e, mais precisamente, do PT. A burguesia sabe cumprir seu papel. A
destruição da política como um todo é a afirmação absoluta do poder econômico e
do poder burocrático subserviente àquele. Na luta de classes, temos que
combater isso com toda nossa energia.
E,
para tanto, não é bom confiar no ministério público, na polícia e no
judiciário, instituições que fizeram papel sujo no golpe dos corruptos;
instituições que não passam de instrumentos dos apropriadores criminosos, a
quem sempre trataram com leniência que contrasta com a severidade do julgamento
público e escandaloso do PT e da esquerda.
Se
hoje essas instituições não têm outra opção que a de se afirmarem no combate às
forças corruptas, isso se dá porque foram atropeladas pelos fatos. Não o
fazem, porém, para preservar os interesses nacionais, promover justiça
social e proteger direitos dos mais fracos. Fazem-no na alavancagem corporativa
e privilegiam bandidos aquinhoados, dando-lhes imunidade judicial porque
expuseram seus comparsas. E ainda acham que isso é um prêmio para brasileiras e
brasileiros!
É
importante não nos iludirmos. A saída eventual de Temer não altera nada na
correlação de forças. Os golpistas mudam de cara mas não de tática e nem de
estratégia. As forças progressistas continuam a ser alvos de um ataque
destrutivo, com campanha de desmoralização midiática e com perseguição
implacável. E, nesse contexto, não pode haver concessão nenhuma.
A
luta de classes não desaparece num passo de mágica, num apelo demagógico à
união de todos as brasileiras e e todos os brasileiros. Aceitar esse apelo é
aceitar a aliança entre estuprador e estuprada. Precisam reconhecer o golpe que
deram e reconhecer, como força política legítima, os vencedores das eleições de
2014 e, só depois, conversaremos sobre acertos pontuais táticos que permitam o
avanço de nossa luta.
Com
inimigos de classe, só se negocia entre a capitulação deles e a vitória de
trabalhadores e excluídos.
Do
DCM
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