De volta a
Hobbes
No mundo em
geral, os movimentos de direita avançam sobre as instituições. No Brasil,
especificamente, naquilo que se relaciona ao modus operandi, nada de novo. Uma
intervenção do sistema judiciário na política, um aparelhamento do estado a
serviço da elite, que, em muitos aspectos, retoma práticas políticas da velha
república. Práticas estas que nunca deixaram de se fazer presentes, mas cujo
grau se intensifica absurdamente. Interesses de natureza corporativos se
organizam no poder judiciário, tradicionalmente o menos aerado dos poderes, em
conchavos e conluios que alimentam os folhetins. Apresenta sua versão como fato
e, ao serem confrontados, adotam máximas do tipo: “Todo político é corrupto”
para justificar atitudes abusivas.
Nisto, o
sistema judiciário assume um papel semelhante ao dos antigos coronéis.
Interpõem-se entre os interesses da elite e a revolta do povo para servir de
uma forma muito mal disfarçada aos primeiros e conter à base de logro quando
possível, do porrete quando necessário, aos últimos.
Mas o país
hoje é muito mais complexo!
É fato. A
urbanização em particular alterou a estrutura social, acelerando a reação às
tramas da elite. Assim, a resposta tarda, mas não falha, haja visto a recente
greve geral.
A classe
política se vê, desta forma, emparedada. Atende o esquema que sustenta a
lava-jato, o povo reage. Atende o povo, o judiciário morde seu calcanhar.
Assim, o golpe é um movimento que somente se sustenta no curto prazo. Daí a
ferocidade com que avança sobre os direitos sociais.
Em algum
momento, é o que se espera, o lobo saciado, “estanca a sangria”. Já foi o
impeachment, cassação e prisão de Eduardo Cunha, prisão de Sérgio Cabral, uma
lei draconiana que congela os gastos públicos por vinte anos, Aécio Neves, o
governo Temer prestes a cair. Até mesmo a poderosa Rede Globo, com toda sua
estrutura e organização, se vê arrastada para o redemoinho, tendo que
improvisar uma mudança de rota, um verdadeiro “cavalo de pau” no programa do
golpe, que parecia tão bem encaminhado para o desmanche das estruturas sociais,
assumindo Temer para si o papel de carrasco e se dizendo satisfeito com a baixa
popularidade. Seria hilário, se não fosse trágico.
A classe
política tradicional esperava que, acendendo ao interesse da elite, estaria
abrindo portas para o “grande acordo nacional”. E realmente, esta seria a tese
mais ponderável seguindo a tradição política do país. Na velha república, por
exemplo, uma vez vencida a pauta progressista, o sistema se acomoda para manter
tudo como sempre foi. Hoje, ao contrário, o sistema cria o impasse sem formular
saídas, o que margeia o imponderável. É evidente que o imponderável é a
antítese da manutenção do status.
Toda esta
circunstância do momento político brasileiro faz lembrar um processo recente,
também inédito e surpreendente, a que se denominou primavera árabe. Naquela
oportunidade o que aconteceu? Nações ricas em recursos naturais, sociedades
caracterizadas pela injustiça social secular imposta à maioria de seus
cidadãos, se veem diante de uma revolta popular que desestabiliza o sistema
político tradicional. Como lá, existe aqui uma estrutura política frágil e uma
classe política corrompida e vulnerável. Até então a estabilidade era garantida
pela apatia. De uma hora pra outra somos transportados para uma realidade que
remete àquela vivida pela Inglaterra ainda do século XVII com duas grandes
diferenças:
1. Lá, tal circunstância correspondia a um
momento histórico típico, o fim da idade média, a ascensão da burguesia, etc...
Aqui não há como identificar tais relações.
2. Lá a ausência de um sentido de nação não
carregava como peso a pressão dos interesses externos com a organização e
ferocidade que vivenciamos aqui.
Conclui-se
que tal processo não é natural. É possível identifica-lo a partir de um novo
agente de natureza efêmera, característico da era digital. Este político sem
rosto, este partido sem partido, pode ser tudo, menos identitário do interesse
nacional. Seu DNA é externo e trata-se de um fenômeno internacional promovido
pela direita, haja vista a trama russa nas eleições americanas. Sua demanda é a
instabilidade política para apropriação das riquezas nacionais pelas potências
estrangeiras.
E, estando
correto este raciocínio, Síria, Afeganistão, Líbia, Egito e Iraque, são as
referências mais apropriadas para nosso futuro se algo não for feito de
imediato. Destruição, guerra civil, caos, ditaduras ferrenhas, e acima de tudo
a perda da soberania. E as potências externas fazendo a festa, é claro.
Ainda
preciso dizer quem, de fato, esta por trás de toda esta trama?
Do GGN
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