Peça 1 – a última cartada de Temer
A
tentativa de colocar na cena o fator militar foi o último blefe de Michel
Temer. A reação imediata de um oficial legalista, o respeitado general Villas
Boas Correa, de parlamentares, de porta-vozes responsáveis da sociedade civil,
abortou a tentativa de aprofundamento da crise política, impedindo o Brasil se
reeditar o Panamá de Rafael Noriega.
O
que se tem, é simples. No comando, um governo reconhecidamente corrupto,
comprando parlamentares para aprovar um conjunto de medidas que afeta direitos
de trabalhadores e contribuintes. Esse é o combustível maior da indignação que
começa a se generalizar no país.
Uma,
do deputado Rodrigo Loures (PMDB-PR), o homem da mala de R$ 500 mil. Pelas
informações que circulam, é pessoa de pouca resistência emocional que
apresentou à própria PF a prova definitiva: a sacola e os R$ 500 mil recebidos
de Joesley Bastista, depois da reunião sugerida por Temer.
O
segundo, Eduardo Cunha. A extrema simpatia de Sérgio Moro em relação à senhora
Cunha tem duas explicações: ou é o fascínio que acomete os membros da Lava Jato
paranaense ante qualquer celebridade (ela já foi locutora e repórter da Rede
Globo) ou estratégia de negociação com Cunha.
Não
menospreze o provincianismo do grupo curitibano da Lava Jato. O deslumbramento
explica muitas de suas atitudes.
O
que interessa para a nossa analise é que qualquer uma das delações terá o poder
de jogar definitivamente Temer – e seu grupo – atrás das grades. Ou seja, a
presidência já é baixa contábil. O que se discute é se irão para trás das
grades ou não.
Esse fator explica a resistência de Temer a
qualquer tentativa de desalojá-lo. Outros grampos com Loures já abriram as
portas para um dos esquemas mais notórios de corrupção de Temer, no porto de
Santos (https://goo.gl/esbqH6).
Peça 2 – a transição política
A
estratégia de se promover um desarranjo total na política – através um golpe
parlamentar ou clássico – visando empurrar goela abaixo reformas não aceitas
pela maioria da população, é conhecida como Teoria do Choque. Em geral,
avalia-se em seis meses, depois do choque, o tempo que leva para a sociedade se
reorganizar. No andar de baixo, a explosão das manifestações populares; no
andar de cima, os protestos atravessando até a pesada blindagem da mídia,
sinalizam que o o golpe plutocrata-liberal perdeu prazo de validade.
Qualquer
tentativa de insistir nessa estratégia significará levar o caos e os conflitos
para todos os cantos do país.
Esses
momentos de espanto são propícios para a aparição do grande estadista nacional,
o único capaz de romper com a inércia e abrir espaço para os novos rumos, o Sr.
Crise. A única dúvida é se já se alcançou o fundo o poço ou não. A resposta
virá nos próximos dias.
Haverá
um crescimento da campanha pelas diretas mas, provavelmente, a saída da crise
será através da queda de Temer e sua substituição por um presidente eleito
indiretamente, que conduza o país até as eleições de 2018.
Peça
3 – as alternativas políticas
Há
um conjunto de nomes de presidenciáveis circulando. Alguns significarão a
continuidade do esquema de Temer e da JBS.
1. Henrique Meirelles
Joesley
Batista grampeou Michel Temer. Logo, de sua parte, os diálogos foram encenados.
E o que faz o delator? Reclama do presidente a pouca atenção que seu
ex-funcionário, Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, dedica aos seus
pleitos. Um grampo consagrador para Meirelles.
Aparentemente
faz parte do know how dos goianos, depois do famoso grampo sem arquivo de
Gilmar Mendes e Demóstenes Torres – ambos se elogiando durante a gravação.
É
possível que os 5% da opinião pública que apoiam Temer acreditem na sinceridade
do desabafo de Joesley.
2. Rodrigo Maia
Filho
de César Maia, genro de Moreira Franco e súdito de Michel Temer, seria a maior
garantia da continuidade do esquema de corrupção que se implantou na parceria
Executivo-Congresso.
Depois,
há nomes como Nelson Jobim – do PMDB, mas com trânsito no PSDB e interlocução
no PT -, Tasso Jereissatti – um templário tucano.
Ontem,
o Ministro da Defesa Raul Jungman, confrontado com seu primeiro desafio
promoveu um vexame, radicalizando com o chamamento das Forças Armadas, seguido
do recuo humilhante. E do gesto intolerante de cassar a Ordem do Mérito da
Defesa concedida ao ex-deputado federal José Genoíno.
Poderia ter exercitado sua seletividade com
vários outros personagens, mas levaria o troco. A Ordem do Mérito da Defesa já
agraciou Edison Lobão, o ex-governador capixaba Élcio Álvares, Fernando Collor,
Gilberto Kassab, Heráclito Fortes, José Serra, Leônidas Pires Gonçalves
(envolvido em acusações de tortura), Márcio Fortes (tesoureiro do caixa 2 de
Serra), Paulo Skaf, Aécio Neves, os ex-governadores paraense Almir Gabriel e
Jader Barbalho, o notório Egberto Batista, Aroldo Cedrez do TCU, Delcídio do
Amaral, Irapuan Costa Júnior, João Nardes do TCU.
Mas
Jungman escolheu Genoíno, sabendo que não teria condições de reagir. Uma
atitude vil, mostrando a verdadeira estatura pública de Jungman:
insignificante.
No
dia seguinte, ele e o general Sérgio Etchegoyen foram obrigados a convocar a
imprensa para voltar atrás na convocação das Forças Armadas, ambos com ar de
quem soltou pum na sala.
Peça 4 – os caminhos do
entendimento
Ponto 1 – A descontaminação da
máquina pública.
Não
bastará tirar o esquema Temer do poder. Será preciso desinfetar o Estado do
profundo processo de aparelhamento que jogou por todos os poros da máquina
pública, da EBC à Funai, da Funasa à Eletronuclear, os integrantes das
quadrilhas de Eduardo Cunha, Aécio, Padilha e da horda dos 120 hunos eleitos
pela maior máquina de corrupção da história, no bojo dos campeões nacionais.
Aliás,
a literatura desenvolvimentista terá que mergulhar em profunda autocrítica
sobre os desmandos desse modelo de criação de campeões nacionais.
Ponto 2 – limites ao poder do
Ministério Público, Polícia Federal e da Lava Jato
Obviamente só será possível com um governo de
conciliação acima de qualquer suspeita.
Ponto 3 – a reabertura dos canais
de negociação em torno das reformas
Um
interino conciliador providenciar a imediata suspensão das reformas em
andamento e a convocação de conselho – com representantes de todas as partes –
para abrir um processo de negociação.
D
GGN, Nassif
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