Para o cientista político e historiador
José Murilo de Carvalho, presidentes eleitos no País têm sido normalmente
vulneráveis desde 1930; a instabilidade, segundo ele, decorre da
incapacidade dos governantes de lidar com a ascensão do povo como ator relevante
e portador de demandas novas num país marcado pela desigualdade; "Passados
87 anos de 1930, ainda estamos lutando com o problema de construir uma
democracia inclusiva, capaz de sustentar governos representativos que possam
combinar estabilidade institucional com implementação de políticas públicas
voltadas para as necessidades da maioria dos representados", afirma.
Os presidentes eleitos no Brasil têm sido
normalmente vulneráveis desde 1930. Essa instabilidade decorre da
incapacidade dos governantes de lidar com a ascensão do povo como ator
relevante e portador de demandas novas num país marcado pela desigualdade, avalia o
cientista político e historiador José Murilo de Carvalho.
As informações são de artigo do próprio Carvalho na Folha de S.Paulo.
Confira abaixo alguns trechos do texto:
"A crise atual, em sua dimensão
política, foi deslanchada pela substituição do chefe de Estado sem a
intervenção de eleições. Não que se trate de novidade entre nós. Desde 1930,
por dentro da Constituição ou à revelia dela, tem sido frequente esse tipo de
substituição.
Uma simples estatística demonstra a
mudança havida depois de 1930, ano a partir do qual a vulnerabilidade da
Presidência em eleições diretas virou o feijão com arroz de nossa política.
Nesse período de 87 anos, somente cinco
presidentes eleitos pelo voto popular, excluídos os vices, completaram seus
mandatos: Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), Juscelino Kubitschek (1956-1961),
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e
Dilma Rousseff (2011-2014).
O que mais chama a atenção, embutido na
própria Revolução de 1930, é a entrada do povo na vida política, deixando de
ser o bestializado de Aristides Lobo (em 1889, a respeito da Proclamação da
República, o jornalista escreveu: "O povo assistiu àquilo bestializado,
atônito, surpreso, sem conhecer o que significava").
A Primeira República não tinha povo. Nela,
apenas 5% da população votava; a participação popular se dava à margem do
sistema representativo, em revoltas urbanas, como a da Vacina, messiânicas,
como as de Canudos e do Contestado, ou greves operárias nas grandes cidades.
Hoje, não há um povo eleitoral, há
vários povos.
Há o povão das políticas sociais,
sobretudo do Bolsa Família, que não se manifesta enquanto essas políticas são
mantidas. Há o povo muito aguerrido formado por operários e setores da classe
média, organizado em sindicatos e associações. Há o povo que foi à rua em 2013,
de comportamento errático, composto de setores da classe média. E há o povo das
redes sociais, de impacto crescente na política, mas ainda de difícil
avaliação.
A diversificação da sociedade, a
democratização da política e a fragmentação dos partidos estão na base da crise
atual."
Do 247
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