Depois
do “Caso Aécio”, quem me chamou de doutrinado virou pó. Este seria o título
daquilo que seria o texto de hoje, movido por mais um controvertido capítulo
daquela que, não se sabe a razão, ainda chamam de Corte Suprema. Seria sobre o
retorno de Aécio Neves (PSDB) ao senado, de onde, por princípio constitucional,
não deveria ter saído. Pelo menos no que diz respeito à forma, devido à clara
invasão de poderes. Bom lembrar que há pouco tempo, a mesa diretora do Senado
ignorou ordem do ministro Marco Aurélio Melo e não afastou Renan Calheiro
(PSDB), que não arredou o pé e nem foi arredado de onde estava. Sim, Marco
Aurélio, que monocraticamente queria afastar Renan, mandou monocraticamente
Aécio voltar, porque a decisão de afastar foi monocrática, entre outros
argumentos.
Em
que pese Renan, a exemplo de Aécio, seja “brasileiro nato, chefe de
família, carreira elogiável”, aquele ministro não quis saber de nada. Mandou
afastar o político alagoano. Mas, no dia em que seria notificado pelo meirinho
de Aurélio, Renan chegou cedo ao Senado e foi direto para o seu gabinete. Jorge
Viana (PT), substituto de Renan, assumiu a tribuna vazia e disse que não
haveria sessão. Disse não ser hora de votar nada, pois “nós estamos vivendo uma
situação absolutamente grave aqui no Congresso Nacional". A tal gravidade
era a quebra do princípio constitucional da separação dos poderes. O STF, como
guardião do Golpe de 2016, depois da lambança de mandar prender o senador
Delcídio Amaral (PT), tomou gosto pela interferência no Poder Legislativo.
Isto, sem contar que invadiu também o Poder Executivo, quando impediu monocraticamente
a posse de Lula como ministro. Mas, contra o PT tudo vale e Aurélio se esqueceu
disso.
O
golpe escancarado já assumiu tons pornográficos. Não foi à toa que senador
Romero Jucá (PMDB-RR) se referiu a palavra suruba para todos. Uma frase solta
que ilustra o teatrinho imoral do golpe. As personagens não sabem bem a quem
querem seduzir. Os discursos jurídicos estão fartos de indícios, ilações,
perorações pseudo doutrinárias e fluem das messiânicas cabeças de Curitiba –
principal usina de contorcionismo jurídicos. Por conta disso, deixando de lado
o que possa ser tratado como prova naquela cidadela, o respeitável jurista
Lênio Streck compara os métodos curitibanos às teorias esdrúxulas adotadas nos
concursos públicos. “O juiz da causa poderá até acatá-las. Mas, com certeza, se
perguntadas em concurso público, haverá a anulação das questões”. De tão
estranhas e com ares de fórmulas matemáticas, Streck ironizou: ”Condeno o
réu Mévio porque o Pr(A), na conjunção com o Pr(AB) deu 0,1. Isso porque a probabilidade
a posteriori indicava que Pr(B-A) era inferior a Pr (B+). Perdeu. A casa caiu;
a pena aplicada é de X anos”.
Na
vida real, instância superior anulou sentença de Sérgio Moro, que foi baseada
em disse-me-disse contra João Vaccari Neto. Um delator disse, o outro também
disse, outro confirmou e, contra a lei, veio a condenação. Invalidada a
sentença, mais uma peça de roupa foi tirada no striptease do golpe. Em mais um
jogo de luz amarela, até o STF vem dizendo, via Gilmar Mendes, que o que
vale para Lula e PT não vale para outros. Gilmar até já disse que tem que ficar
claro “quem é supremo”.
Entre
jogos de cenas e olhares lânguidos é preciso manter as aparências do que, com
cara de show, se tentou passar para a sociedade como combate à corrupção. Moro,
em seu cantinho, vestido com as cores do Tio Sam, aguarda a deixa para voltar à
cena novamente. A revista Istoé, lá na coxia do golpe, até tentou facilitar o
trabalho, antecipando a condenação de Lula, prevista para semana pretérita,
inclusive com cálculos de pena.
Como
no teatro pornô do golpe tem gente querendo roubar a cena do outro, tem sido
melhor guardar holofotes e purpurinas para mais tarde. Há mais sinais de nudez
no antro golpista e a TV Globo já alardeia o que chama de “fim da Farsa Jato”,
com o corte de verba na PF. Mas, lá dentro da PF tem gente conversando com seus
próprios botões. Dizem que a Farsa Jato, que nunca foi séria, sempre foi pega
“Lula/PT e fora Dilma”, de quebra servia como boquinha de diárias para
delegados fazerem “poupancinha”. Além disso, era usada para chantagear a
Presidenta golpeada. O corte de verba para a PF não é único, pois a PRF também
foi solapada. Mas o que significa isso diante de saúde e educação? Enquanto a
mídia alimenta a Farsa Jato, cinco mil inquéritos que mexem com os pilares do
sistema estão paralisados, abafados, alguns concluídos e sem denúncia.
Portanto, a preocupação de Rodrigo Janot quanto ao fim do grupo da Farsa Jato
também é duvidoso e isso está longe de lhe provocar “ânsia de vômito”.
Coisas
de república de bananas, na qual aliados e filhotes de uma mesma cultura
colonial fazem teatrinho em conluio, depois de cassar o voto do povo. O pau que
bate em Chico não bate em Francisco e quem fala grosso com Maria desafina com
João, pois afinal, nossos corruptos são menos corruptos, vêm de família
tradicional e usam mesóclises. Por conta de tudo isso, aquela gente toda que me
tratava como doutrinado, depois do caso do Aécio virou pó. Na mesma linha, as
contradições nos casos Delcídio, Renan, Aécio, Temer, Dilma, Lula mostram
isso claramente. Desse modo, enquanto o enredo avança incerto para o grande
público, no streaptease do golpe muitos já estão nus. Mas, com o devido
respeito e perdão pela metáfora, Sérgio Moro e Deltam Dallagnol, ao que tudo
indica, ainda permanecem de bermudas...
GGN
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