sábado, 8 de julho de 2017

Luis Nassif: As relações de Palocci e do BTG Pactual

Não tenho motivos pessoais para gostar de Guido Mantega. Pequeno, mesquinho, inseguro, foi o primeiro Ministro da Fazenda, desde que iniciei a carreira de jornalista econômico, a me colocar na lista negra. Ele e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central.

Mas não bate bem esta história de Antônio Pallocci, de que Mantega montara uma central de vazamento de informações financeiras.

Vamos entender um pouco mais esse jogo.

Desde que se criou o chamado Open Market brasileiro – venda diária de títulos públicos e privados – há vazamentos de informação. No governo Sarney, Maílson da Nóbrega tinha um esquema de vazamento de informações, não apenas no Banco Central, mas na Receita Federal – que dispunha de um índice de correção.

No governo Collor, era comum o presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, receber colegas de mercado fora do expediente.

No governo Fernando Henrique Cardoso, sempre questionei a história do vazamento de informações sobre os leilões cambiais para os bancos Marka e Cindam. Pouco antes do estouro, almocei com Salvatore Cacciola, o deslumbrado presidente do Marka. No almoço, ele se vangloriou da equipe de renda fixa que acertava praticamente todos os leilões do BC.

Quando explodiu o escândalo do câmbio, insisti para que analisassem probabilisticamente a participação do Marka nos leilões de títulos do BC: ali estava a jogada, não no câmbio. Para jogar no câmbio, Cacciola se valia de um contrato com a Tendência Consultorias, do próprio Maílson. Para entrar no mercado, o BC dava ordens de comando para a Gerof (Gerência de Operações Financeiras). Era de lá que vinha o insider da Tendências. No dia em que o BC decidiu sair do mercado, não houve ordem alguma. Por isso, Marka e Fonte-Cindam quebraram.

De nada adiantaram os alertas. O máximo que consegui foi um discurso do Eduardo Suplicy chamando a atenção para a denúncia.

No período Antônio Palocci-Henrique Meirelles na Fazenda e no Banco Central, os índices de acerto do então Banco Pactual chamaram a atenção do mercado. Basta o MPF (Ministério Público Federal) valer-se das técnicas probabilísticas onde elas cabem, e não no besteirol levantado por Deltan Dallagnol.

Não apenas isso. Na ocasião, o Pactual planejava comprar as operações brasileiras da Goldman Sachs. Mas tinha uma enorme pendência fiscal no âmbito do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Se as investigações caminharem na direção do CARF e dos acertos do antigo Pactual nos leilões do BC, encontrará o caminho das pedras.

Não boto a mão no fogo por Mantega-Tombini. Por diversas vezes critiquei o método Tombini, de manter reuniões a portas fechadas com o mercado em São Paulo. Mas se há suspeitos nesse jogo, é o próprio Palocci e o BTBG Pactual.

Nos arquivos da Folha devem estar, ainda, as diversas colunas que escrevi em 2005, até ser impedido de continuar.

GGN

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