Insisto:
a venda da Eletrobras, como anunciada, é uma negociata, provavelmente a maior
da história; e trará consequências pesadas sobre o sistema elétrico brasileiro.
Nem
se fale do Ministro de fato, Paulo Pedrosa, secretário executivo do Ministério
de Minas e Energia (MME), indicado para a ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica), presidente de duas associações do mercado privado de energia – a dos
Comercializadores e dos Grandes Consumidores – também diretor da Equatorial e
da Light Rio.
Seu
perfil foi sempre ligado ao setor privado. Sua preocupação nunca foi com a
atividade-fim – os consumidores -, nem com os objetivos de uma política
energética – universalização do acesso e modicidade tarifária -, mas em
eliminar qualquer obstáculo ao desenvolvimento do mercado privado de
comercialização.
Na
privatização do governo FHC, a análise de preços se baseava no fluxo futuro de
resultados da empresa, trazidas a valor presente mediante determinada taxa de
juros. As espertezas consistiam em considerar o fluxo de caixa histórico, com
todas as amarras a que as empresas estavam submetidas enquanto estatais, e
manipular a taxa interna de retorno – colocada em níveis extremamente elevados
para depreciar o preço.
Agora,
não: é manipulação na veia.
Os
cálculos e projeções apresentados para avaliar o preço se baseiam nos valores
contábeis dos ATIVOS e PASSIVOS de balanço. Trata-se de um engodo
monumental, uma metodologia que a 3G – que elaborou os estudos – jamais
utilizou em qualquer processo de fusão e aquisição de mercado, porque não tem
valor nenhum. O que sempre valeu é a projeção de resultados, ajustados por
fatores como risco e volatilidade das ações.
O
engodo está no fato da Eletrobras ter 184 usinas e produzir 42.000 MW de
energia. E o valor das concessões não entra em seu balanço.
Para
efeito de comparação, a Usina São Simão, da CEMIG, antiga, com 1.710 MW de
potência instalada, teve uma concessão vendida há três meses por R$ 7,1
bilhões. Esse valor não estava em nenhum balanço. Por uma regra de três
simples, apenas as concessões da Eletrobras deveriam valer R$ 289 bilhões.
Esses valores não entram nas projeções do valor da privatização. Como se não
existem economicamente.
A
Espanha não é nenhuma potência hidrelétrica. No entanto, a Iberdrola, segunda
empresa elétrica da Espanha, tem valor de mercado equivalente a R$ 138 bilhões.
Contra R$ 12 a 15 bilhões da Eletrobras.
A
privatização da Eletrobrás será o maior negocio da privatização
da historia brasileira, maior do que o da Vale e da telefonia. Quem
representa o interesse publico nesse processo se quem vende e quem compra estão
do mesmo lado?
Os
especialistas do setor estão abismados com a leviandade e falta de debate
com que se conduz esse mega processo.
Na
Era das privatizações de FHC o debate foi muito maior, as discussões mais
aprofundadas, havia consultorias internacionais para avaliar os valores, o
BNDES foi o agente financeiro das vendas, o que mesmo formalmente é mais
um filtro no processo. Agora o BNDES sequer aparece.
Consumada
a privatização, além do golpe monumental no erário público, haverá o
comprometimento do equilíbrio do mercado de energia, dos investimentos futuros
na integração da energia na América Latina.
GGN
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