Moro
impede, de novo, que Lula use Rodrigo Tacla Duran como testemunha de
defesa. Duran virou desafeto pessoal do juiz depois que revelou que Carlos
Zucolotto, amigo pessoal de Moro, supostamente cobrou propina para facilitar um
acordo de delação premiada
O
juiz federal Sergio Moro impediu, de novo, que Rodrigo Tacla Duran seja ouvido
no processo em que Lula é acusado de receber vantagem indevida da Odebrecht.
Segundo informações do Uol, o juiz decidiu, na terça (28), que Tacla Dura
"não é digno de crédito."
Duran
virou desafeto de Moro quando decidiu divulgar na imprensa que Carlos
Zucolotto, advogado e amigo pessoal do juiz, supostamente cobrou propina para
facilitar o acordo de colaboração com a Lava Jato. O GGN e DCM
publicaram juntos uma série de reportagens especiais sobre a indústria da
delação em Curitiba, que inclui as evidências apresentadas por Duran para
sustentar sua denúncia. Entre elas, mensagens de texto trocadas com Zucolotto e
um e-mail dos procuradores, com a minuta do acordo.
Moro
decidiu não ouvir Duran sob o argumento de que palavra de criminoso não tem
valor.
"Rodrigo
Tacla Duran é acusado de lavagem de cerca de dezoito milhões de dólares, teve a
sua prisão preventiva decretada por este Juízo, fugiu, mesmo antes da
decretação da prisão, e está refugiado no exterior", disse Moro ao recusar
a oitiva em favor de Lula.
"A
palavra de pessoa envolvida, em cognição sumária, em graves crimes e
desacompanhada de quaisquer provas de corroboração não é digna de crédito, como
tem reiteradamente decidido este juízo e as demais Cortes de Justiça, ainda que
possa receber momentâneo crédito por matérias jornalísticas descuidades e
invocadas pela defesa", acrescentou.
A
decisão é contraditória justamente porque Moro já condenou Lula com base em
depoimentos de empresários que pagaram propina e decidiram ajudar a acusação em
busca de benefícios. Duran, por outro lado, desistiu do acordo e ainda revelou
os bastidores à imprensa, expondo o amigo de Moro e virando seu
desafeto.
Quem
apontou a contradição foi a defesa de Lula em resposta à reportagem do Uol.
"Negar sob o argumento de que a palavra dele não merece credibilidade por
estar sendo acusado da prática de crimes é absolutamente contraditório com a
própria condenação imposta pelo juiz ao ex-presidente Lula no caso triplex, que
está baseada na desconexa e frágil versão de um réu confesso, Léo
Pinheiro", disse o advogado Cristiano Zanin.
Zanin
também apontou que não há como Moro saber quais provas Duran poderia
acrescentar ao processo de Lula sem ouvi-lo antes. "Somente com a coleta
do depoimento da testemunha e dos elementos concretos que ela pode fornecer é
que será possível avaliar o valor provatório da sua palavra. Não há razão
jurídica para negar mais uma vez o depoimento de Tacla Duran."
A
decisão de Moro foi uma resposta a um segundo pedido da defesa de Lula para que
Duran explicasse documentos relacionados à Odebrecht que o Ministério Público
Federal juntou aos autos. Os advogados do ex-presidente contestaram a
veracidade de alguns deles e solicitaram o depoimento de Duran para ajudar a
esclarecer os fatos. Na primeira tentativa, Moro também havia rejeitado ouvir
Duran, sob o mesmo argumento.
Quando
Duran veio à tona com a denúncia envolvendo Zucolotto, Moro entrou em contato
com o amigo pessoal e divulgou na imprensa a sua defesa. Ela consistia em
apontar que Zucolotto é advogado trabalhista e não teria atuação em área
criminal, muito menos na Lava Jato. Ele também negou proximidade com os
procuradores de Curitiba, mas Mônica Bergamo revelou que seu escritório
representava Carlos Fernando dos Santos Lima em uma ação trabalhista.
Zucolotto
também tinha sociedade com Rosangela Moro, a esposa do juiz de Curitiba.
Documentos da Receita Federal mostraram pagamentos de Duran ao escritório. A
Lava Jato omitiu os papéis, possivelmente para não comprometer a jurisdição de
Moro sobre os assuntos da Lava Jato.
GGN
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