Em
artigo contundente, Janio de Freitas tenta resgatar o sentido de Brasil, de ser
brasileiro. Um país em que ninguém pensa no amanhã, em seu lugar no mundo. Um
país rico em recursos naturais que nunca teve política industrial, tornando-se
refém de latifundiários e fazendeiros em política de privilégios desordenada.
Torna-se difícil pensar o Brasil quando famílias se juntam para celebrar atos
anticorrupção e se lixam para uma Presidência ocupada por indíviduo acusado de
corrupção, formação de quadrilha e salvo por corrupção de deputados.
Janio,
na Folha, vai mais longe nesse não entender. Acha difícil uma contradição tão
corrosiva dormindo em berço esplêndido. Contradição que vai longe, quando
lembra do golpe de 64, em que militares americanófilos e a classe dominante
falaram em nome da democracia e instauraram a ditadura; quando esses mesmos
foram parte da derrubada de Getúlio em 1945 e impuseram uma ditadura.
Democracia
sempre foi sua pequena conveniência, diz Janio. Contradição sempre foi sua
marca. Mas o Brasil é mais, diz ele, o Brasil é você, somos nós.
Leia
o artigo a seguir na Folha: Este
Brasil, por Janio de Freitas
Ninguém,
parece mesmo que ninguém, tenta pensar o Brasil em seu pleno sentido e em seus
possíveis amanhãs. É um país sem estratégia, sem ideia do que é e conviria vir
a ser no mundo. Na grande tecitura internacional, não vive do que faça para uma
inserção desejada, mas do que cada dia lhe traz. Segue adiante porque os dias
se sucedem. Condicionado integralmente pelo mundo exterior, perplexo, lerdo,
segue.
Com
uma gama invejável de minérios, tantos outros recursos e grandes necessidades
de consumo, nunca teve uma política industrial. País de latifundiários e
fazendeiros, suas políticas agropecuaristas são mera distribuição
discricionária de dinheiro e privilégios, de uso à vontade. E nem isso, para
uma ciência coordenada com objetivos nacionais e contingências externas.
É
difícil pensar um país assim. É difícil pensar mesmo o Brasil atual, o país de
hoje. Já a partir do mais grotesco e rudimentar na situação imediata: como
explicar, por exemplo, o convívio familiar entre a empolgação generalizada com
os êxitos contra a corrupção e, de outra parte, a tolerância indiferente com a
Presidência da República ocupada e usada por um político acusado de corrupção,
formação de quadrilha, obstrução de justiça, e salvo de processos mediante a
corrupção de deputados com cargos e verbas do Orçamento?
Presidência
povoada por notórios como Moreira Franco, marginais como Geddel Vieira Lima,
acusados como Eliseu Padilha, e deputados, senadores e ministros com lastros
semelhantes na polícia e na Justiça?
É
difícil pensar um país assim, capaz de contradição tão corrosiva.
Mas
esse país é o da contradição em que militares americanófilos e a classe
dominante deram um golpe em nome da democracia e por 21 anos aprisionaram a
nação na ditadura. Muitos dos artífices dessa contradição ali completavam uma
outra, de que foram parte quando em 1945 derrubaram o Getúlio para o qual deram
um golpe e impuseram uma ditadura.
Convertidos
à democracia, como diziam, em sua pequena convivência com oficiais americanos
na Itália da Segunda Guerra, os derrubadores de Getúlio ajudaram a entrega do
poder, por via de "eleição democrática", ao general que sustentou a
ditadura até a queda. A vasta fraude que contribuiu para o resultado eleitoral,
movida pelos "coronéis" do interior, foi silenciada a pretexto de não
se desmoralizar a primeira eleição da "democracia".
Contradição
em cima de contradição. O normal no país em que os primeiros bafejos de
democracia vieram de uma ditadura, com a legislação social de Getúlio
–inclusive as Leis Trabalhistas agora estupradas.
É
difícil desenvolver a compreensão desse Brasil, tão inculto, tão controvertido,
tão amalucado. Esse Brasil exultante com as ações contra a corrupção e
indiferente à ocupação de sua Presidência por uma declarada quadrilha de
corruptos.
O
Brasil é você. O Brasil somos nós.
GGN
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