Na condição de capitã do mato do golpe de 2016, a Polícia
Federal, que falava grosso com a legítima Presidenta Dilma Rousseff, hoje nem
fino consegue piar com o impostor Michel Temer. Tornou-se abrigo natural do
ideário que inspira em parte a obra “A Elite do Atraso” (de Jessé de Souza) e
por assim ser, era muito comum ouvir dentro da Corporação, em todas as suas
unidades Brasil afora, que o PT havia aparelhado a instituição. Neste GGN,
mostrei por A + B que não só a PF, mas todas as instituições brasileiras
estavam aparelhadas ao contrário, ou seja, cultural e instrumentalmente
organizada para trabalharem contra aquele partido (e para destruir o projeto
por ele representado). Um dos representantes de classe da PF chegou a emitir
comunicado dizendo que “estava vigilante quanto à infiltração petista na
entidade”. Só isso dá a ideia desse aparelhamento inverso.
O minoritário senso crítico remanescente na PF
- composto por delegados da mais alta competência, por vezes perseguidos,
e que por razões obvias não podem explicitar suas opiniões - encontra-se hoje
sequestrado pelas facções golpistas. Em consórcio de ideias com esse
minoritário grupo de policiais que ainda conserva noções de legalidade e
direitos humanos, e inspirado numa entrevista do Ex-ministro da Justiça
Eugenio Aragão, publiquei neste GGN o quanto membros do Ministério Público
Federal vivem mais a serviço do corporativismo do que mesmo a serviço da
sociedade. Nessa linha, ficou claro o alinhamento do MPF com a mesma elite do
atraso, fato, aliás, marcante no Judiciário, capaz de projetar figuras como
Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Bretas, Sejumoro, Carmens Lúcias. Engrossam a
lista o juiz que usava o carro apreendido de Eike Batista, o outro que foi
“desacatado” por uma guarda de trânsito e mais outro que mandou soltar o filho
de uma desembargadora do Mato Grosso - preso com 129 quilos de maconha...
Consolidado o golpe com participações de membros das facções
golpistas instaladas nas três instituições antes referidas, majoritariamente
composta pela elite do atraso, logo a seguir veio a notícia sobre o óbvio: “o
grande acordo nacional com o supremo e tudo”. Restou, nessa conjuntura, aos
integrantes das três armas militares verem-se forçados a prestar continência a
um usurpador, cujos crimes (acusações) estão congelados por um parlamento
predominantemente corrupto. Sim, faltavam eles, os militares. Ou não faltavam,
já que, segundo cochichos com Renan Calheiros, os militares estariam
“monitorando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)”. Tudo com o
apoio da horda de paneleiros que repetia os mantras de guia da mais cínica
sabotagem política da história, tendo a Farsa Jato como capitã do mato.
Noutras palavras, com a bênção da elite do atraso e a caterva
representante da dita grande mídia, as instituições brasileiras se uniram em
favor do golpe. Rasgaram a Constituição Federal e declararam guerra ao povo,
contra qualquer coisa que pudesse representar redistribuição de renda,
progresso econômico com inclusão e a redenção da sociedade a qual tais instituições
deveriam servir. No melhor estilo lugar de pobre é na sarjeta, promoveram a
destruição de governos progressistas, lideranças populares, indústria nacional,
setores econômicos estratégicos, grandes empresas públicas e privadas, bancos
oficiais, cultura e educação e seguem empenhados na extinção de direitos
sociais. Abriram mão de preciosidades que sequer são de direita ou esquerda,
tais como soberania, dignidade, nacionalidade.
Eis que revisitei uma entrevista do ministro do STF Dias
Tofolli. Sim, aquele que, segundo a imprensa, sua esposa (advogada Roberta
Rangel) teria recebido (?) pelo menos R$ 300 mil (2008 e 2011) da construtora
Queiróz Galvão (envolvida no Petrolão). Pois bem, ele disse que juízes
precisavam julgar de acordo ou em consonância ou com o anseio popular. Mas, ao
mesmo a TV Globo e seu rancho, alimentados por compinchas da Farsa Jato, se
encarregava de alimentar/formar a opinião pública conforme os interesses do
golpe de 2016. Algo assim, o juiz não tem prova e de soslaio ou de forma
escancarada, pede apoio da imprensa, dá a letra à sorrelfa e a mídia prepara o
povo para aceitar a ilegalidade. Fechou o circo.
Rememoro, ainda, outro barnabé do judiciário, um certo
ministro Barroso, que afirma que a “percepção social” sobre a corrupção e a
realidade nacional continua a mesma e que finalmente o judiciário deixou de ser
aquele que só pega menino pobre com cem gramas de maconha. A corrupção
tornou-se sistêmica e não se lida mais com falhas pontuais... Claro! Corrupção
é irmã siamesa da ganância, que é força motriz do capital, de um sistema no
qual 99% da riqueza do mundo está na mão de 1% e a cada um minuto nove crianças
morrem de desnutrição. E o mais grave: esse modelo é a grande referência da
elite do atraso, cujos representantes fervilham nas instituições que apoiaram o
golpe.
Hoje, o grande desafio é manter a aparência de democracia e
da legalidade. Ninguém entende que Gilmar Mendes, que desenterrou o processo de
cassação da chapa Dilma-Temer é o mesmo que salvou Temer. O que vale pra
Delcídio não vale pro Aécio, o que vale pra Aécio não vale para parlamentares
cariocas. Decisões monocráticas não servem para uns, mas valem para outros.
Contudo, a aparência democrática “sobrevive” porque lá está o vice da
Presidenta golpeada. Como outrora a ditadura se revestia de legitimidade
"democrática" com a dicotomia MDB - ARENA (duas faces da mesma moeda
golpista).
É, finalmente, nesse contexto que a grande imprensa
(associada ao golpe) tenta cooptar o Exército Nacional, afirmando que este
monitora o MST "com atenção", que as mobilizações populares
"acenderam o sinal amarelo" e outras notas venenosas. Claro, fazer
pressão sobre o Poder Judiciário é monopólio da imprensa golpista. Naquele que,
dentre os três poderes, é o menos controlado e impermeável às demandas
concretas do povo brasileiro (só tem olhos e ouvidos para as demandas da elite)
ninguém esconde a intenção de promover não um julgamento, mas o justiçamento do
ex-Presidente Lula.
A imprensa golpista sabe que o povo já tomou
consciência de que foi enganado. Agora, tenta impedir que a soberania
popular (revelada por pesquisas eleitorais) possa se aliar aos movimentos
sociais, aos democratas e aos que desejam um julgamento limpo, baseado em
provas, isento de ilações. Trata como “pressão” sobre o Judiciário. Mas,
quando essa era formulada pela mídia golpista, incentivada por Sejumoro era
legítima. E não havia quem exigisse/ sugerisse a atuação do Exército
Brasileiro...
Cuidado golpistas! Exército, Marinha e Aeronáutica são
corporações lastreadas na hierarquia e na disciplina e abrigam patriotas.
Embora as forças do atraso apostem alto no conservadorismo de tais estruturas,
é certo que as lideranças militares não compactuam com a entrega das riquezas
naturais do Brasil, nem com a venda a estrangeiros do controle da Embraer, a
aniquilação do projeto do submarino nuclear, a doação da base aérea de
Alcântara. E, finalmente, mas não menos importante, é certa a grande
insatisfação na caserna sua transformação paulatina de força de garantia da
soberana nacional numa polícia militar de reserva - o que consiste na mais
absoluta subversão do relevante papel que lhe foi conferido pela Constituição
Federal.
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado,
delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo
GGN
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