Foto de Francisco Proner
Lula, sem queremos incorrer na rasa pieguice, precisamos
dizê-lo hoje mais do que nunca: você fez muito para nós, brasileiras e
brasileiros. Você mostrou que há um Brasil inclusivo possível, um Brasil onde
todas e todos cabem, sem distinção de gênero, renda, origem, cor, credo ou
opção sexual. Um Brasil generoso que nem você, que a maioria de nós só
imaginava em sonho. Você tornou um pouco desse sonho real.
Você ensinou tolerância, respeito aos que pensam diferente,
amor aos que dele carecem. Onde passa, você cativa, abraça e beija. E o faz com
sinceridade, mostrando que a empatia não é uma mercadoria só encontradiça em
campanha eleitoral.
Você irradiou esperança, sem iludir ninguém. Nunca se perdeu
pelo caminho fácil dos rótulos e chavões. Foi sincero e verdadeiro, coisa que é
tão rara de se encontrar num meio onde o poder é disputado sorrateiramente, com
quimeras e mentiras. Você não hostilizou os hipócritas, mas não se rebaixou a
eles.
Acusaram-no de ter confiado demais nos políticos da tradição
patrimonialista, o que não é verdade. Você precisou de base para governar e
criou um consenso parlamentar inédito para isso. Só com ele foi possível
atender à dívida secular com a massa de excluídos deste país. Não pôde barrar
ninguém que se dispusesse a lhe dar apoio nessa empreitada, ainda que, depois,
muitos vieram a traí-lo.
Mesmo traído, nunca quis mal aos traidores. Estendeu-lhes a
mão, mostrando que o interesse do país é maior que as emoções pessoais. Não
cultivou ressentimentos e mostrou a nós que política se faz com a cabeça e o
coração, mas jamais com o fígado e a bílis.
Apesar de injustiçado, fez questão de honrar todas as vias
processuais, todas as instâncias decisórias para reverter uma sentença sórdida,
politiqueira, corporativa e meganhocrata. Mostrou paciência e respeito pelas
instituições, mesmo quando, irritadas e açodadas, não o respeitaram. Esgotou
todos os meios e mostrou uma fé inquebrantável na Constituição que jurou
cumprir como presidente da república.
Você é muito maior que os que o ousaram julgar, não pelos
cânones legais, mas por vaidade ou pusilanimidade, por preconceitos
falso-moralistas, por arrogância ou prepotência, por ambição e por interesse
político indisfarçável. E está firme, consolando a todas e todos que neste
momento de seu padecimento público querem-no prantear. Você não nos deixa cair
na autocomiseração e nem no pessimismo, mas nos levanta e ensina a aceitar a
eventual derrota como mero percalço no caminho da vitória inexorável.
Por tudo isso, Lula da Silva, nós agradecemos e assumimos o
dever de continuar sua luta, que é a luta de todos nós. Você voltará nos braços
das multidões e ensinará a seus detratores que não há força maior que a verdade
e a justiça, mesmo que estas não se encontram nas mãos de uns burocratas
regiamente pagos e, sim, na soberania popular em que, não pífias virtudes
concurseiras, mas o voto de confiança merecida do povo que o elegeu é que vale.
Obrigado, Lula da Silva!
DCM
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