A
delação de Joesley Batista, da JBS - divulgada pelo Globo - é a maior bomba
política da história.
Joesley
entregou gravações com Michel Temer e Aécio Neves, que revelam por completo o
que foi a aventura do impeachment e dos vazamentos da Lava Jato na véspera das
eleições.
Não
se trata mais de corrupção política, captando recursos de caixa 2 para
financiamento de campanha. As gravações mostram claramente duas organizações
criminosas no topo da política brasileira, uma liderada pelo presidente Michel
Temer, outra pelo presidente do PSDB Aécio Neves.
Peça 1 - o caso Temer
Não
houve limites para a desfaçatez de Temer. Mal empossado, levou para dentro do
governo seus principais operadores pessoais: José Yunes, Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR); mais Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima e Moreira Franco, conhecidos
pela enorme capacidade de sobrevivência aos escândalos mais variados.
As
gravações mostram ele avalizando a decisão dos Batista, de pagar pelo silêncio
de Cunha. E, mais ainda, indicando Loures para uma mega-propina de 20 anos de
prazo.
O
país ficou literalmente à mercê de uma quadrilha. Sob o comando de Temer e
Padilha, montou-se o maior leilão e o maior aparelhamento da história, com
parlamentares negociando emendas, colocando apaniguados em órgãos técnicos,
negociando projetos de alto interesse estratégico – como o pré-sal, o satélite
brasileiro, a nova lei geral de telecomunicações.
Não
há salvação para Temer: os crimes ocorreram em plena vigência de seu mandato de
presidente. Vai se livrar da prisão devido à idade.
No
Mutirão "O caso do primeiro amigo"
(https://goo.gl/FlcCEE) juntamos as matérias levantadas a partir dos
documentos enviados pelo Anonymous.
Peça 2 - o caso Aécio Neves
As
denúncias contra Aécio Neves, definitivas, porque acompanhadas não apenas de
gravações, mas de outras provas colhidas pela PF, como o rastreamento do
dinheiro, jogam no centro da notícia o chamado helicoca, e pode abrir caminho
para o levantamento das ligações do mundo político com os narcotraficantes.
O
dinheiro entregue ao primo não era para o advogado de defesa, conforme alegou Aécio
na conversa com Joesley. O dinheiro foi encaminhado para uma das empresas do
senador Zezé Perrela (PMDB-MG), justamente o dono do helicóptero encontrado com
os 500 quilos de cocaína.
Não
foi o primeiro episódio relacionando Aécio com o submundo.
O
aeroporto de Cláudio estava na rota do helicóptero (https://goo.gl/OmFYYc)
(https://goo.gl/XIoMdd). E seu primo,
Tancredo Tolentino (o único que herdou o nome do avô), e responsável pelas
chaves do aeroporto de Cláudio, foi denunciado por esquemas armados com
desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais visando libertar
traficantes. Cada habeas corpus saia por R$ 120 mil.
Toda
a blindagem montada ao longo dos últimos anos se esboroa com as denúncias dos
irmãos Batista.
Peça 3 – o incêndio
Agora,
se entra em um vazio complicado.
Os
vazamentos da Lava Jato, às vésperas das eleições de 2014, quase entregam o
país nas mãos do mais atrevido e inescrupuloso político brasileiro, Aécio
Neves. O impeachment e a posse de Michel Temer tiveram como padrinhos a mídia,
a Lava Jato, o juiz Sérgio Moro – autorizando a liberação das gravações de
Dilma e Lula -, o Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot –
avalizando o vazamento, provavelmente por fraqueza -, o Ministro Gilmar Mendes
– impedindo a posse de Lula -, os demais Ministros do STF, endossando todas as
arbitrariedades. Ou seja, todos são pais do bebê de Rosemary.
Ao
mesmo tempo, Aécio era blindado de todas as formas por Rodrigo Janot e Gilmar
Mendes, desafetos, mas aliados no trabalho de procrastinar as denúncias contra
ele.
A
delação dos irmãos Batista desmonta todo o castelo erigido em torno do golpe.
Haverá
muita especulação sobre as razões de O Globo – e o Jornal Nacional – terem dado
tanto destaque à denúncia. Não se pense em teorias conspiratórias. A notícia
viria de qualquer maneira à tona. E, se divulgada por outro meio, deixaria em
maus lençóis a própria Globo, principal madrinha de Temer e do golpe. Tiveram
pouco tempo para decidir, conforme se viu nos improvisos do JN.
Provavelmente
o fato das investigações terem sido tocadas a partir de Brasília, impediu a
blindagem de Aécio pela PF de Minas e pela força tarefa de Curitiba. Recorde-se
que o próprio juiz Sérgio Moro impediu Eduardo Cunha de encaminhar perguntas
incômodas a Temer. Foi necessário um juiz de Brasília para encaminhar as
perguntas.
Em
todo caso, foram as ameaças de Cunha – e provavelmente o escândalo da Carne
Fraca – que precipitaram a delação.
Nesse
episódio, PF e PGR mostraram como deve ser a verdadeira delação premiada,
tornando o delator agente direto no levantamento de provas, na chamada ação
controlada. PF e PGR atuaram em conjunto, documentando cada passo, rastreando o
dinheiro e, aparentemente, juntando provas definitivas para desmantelar as duas
organizações, em vez do rosário de irrelevâncias das delações tatibitates de
Curitiba.
O
ponto central é que, pela bomba apresentada – gravações com Temer e Aécio – nem
as muralhas de Itaipu poderiam conter a enchente.
Peça 4 – e agora?
Não
há a menor possibilidade da permanência do governo Temer. Definitivamente
acabou, assim como acabaram as tentativas de reformas articuladas no Congresso.
A
grande incógnita é o que virá pela frente. A delação pegou a todos de surpresa,
não dando tempo de articular uma saída. Até vazar a delação, o que se tinha era
um julgamento de cartas marcadas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
condenando Dilma e livrando Temer.
As alternativas pela frente são:
1. A renúncia de Temer e o presidente da
Câmara Rodrigo Maia assumindo interinamente a presidência. Mas haverá
resistência do Congresso. E como fica? Aparentemente não haverá resistência no
Congresso.
2. Se Temer não renunciar rapidamente, o
caminho mais razoável será a inelegibilidade de Temer pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
3. Não há a menor possibilidade de prolongar
o interinato de Rodrigo Maia. Maia é a síntese de Temer com seu sogro Moreira
Franco e seu pai César Maia.
4. Tentativa de emplacar uma eleição
indireta. Nesse caso, o nome de maior aceitação poderia ser o ex-Ministro
Nelson Jobim, aliado dos tucanos mas que, nos últimos tempos, buscou
aproximação com setores ligados a Lula.
5. Não existe possibilidade da presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal) Carmen Lúcia assumir a presidência. Não tem
estrutura emocional nem traquejo para administrar os terremotos que virão pela
frente até a terra se acomodar novamente.
6. A única maneira de recompor a legitimidade
do sistema político seriam eleições diretas em todos os níveis. Hoje à noite já
começaram as manifestações por eleições diretas. Mas como convencer o sistema a
convocar eleições sem inabilitar Lula? Por outro lado, como conseguir um mínimo
de pacificação sem se valer do potencial de negociação de Lula? Finalmente, o
que é o sistema, depois da implosão política de hoje?
Fosse
um país minimamente civilizado, a esta altura as principais lideranças estariam
amarrando um pacto em torno de pontos mínimos de consenso, permitindo que os
grupos políticos se comportassem como náufragos em um barco salva-vidas,
cuidando de não brigarem para o barco não virar.
Do GGN