Luís Nassif
Autos da
Delação de Candinha Mexericos na ação promovida no ano de graça de 2027 pela
Procuradoria Geral da República contra Persigo Janota, Egrégio Mouro e os
ex-procuradores da Lava Rápido por crime de lesa-pátria.
Dona
Candinha foi interrogada de acordo com os métodos desenvolvidos pela Lava
Rápido em 2017, a partir do relevante depoimento de Crônica Moura, esposa do
marqueteiro de Dilma -- "´Dilma não confia em ninguém e acha todo mundo
burro´, diz delatora”" (https://goo.gl/L0srs1)
– que definiu um novo padrão de delação, aprimorando em muito a adaptação dos
ritos judiciais às pautas da imprensa da época.
Naquele
momento, redefiniu-se toda a jurisprudência e os inquéritos ganharam,
finalmente, a área nobre de onde nunca deveriam ter saído: as páginas de
celebridades e de fofocas dos jornais.
Delação de
Candinha Mexericos
Senhores
procuradores,
Posso
assegurar que é verdadeira na essência, a possível, suposta e eventual
existência dos mexericos que passo a relatar, embora não possa garantir que
sejam verdadeiros.
Mas como me
ensinou meu advogado René Ariel Trote, os mexericos são importantes para
mostrar a alma oculta dos réus. E ele falou de um modo tão peremptório, que
soltei o palavrório seguindo a sua lição.
Como não há
necessidade de jurar por mexericos, sigo a regra criada pela gloriosa equipe da
Lava Rápido e pelo insigne Perseguidor Geral: todo exagero é venial, se é para
nos livrar do mal.
(Estou lendo
muito depressa, doutores?)
(Continue e
pare de lengalenga, fofoqueira).
Continuando
Segundo os
mexericos que ouvi, o dr. Pinhossol queria incluir na delação da dona Crônica a
história da sapatada que a presidente deu na empregada. Mas ficaram com receio
de aparecer a empregada e dizer que era mentira e devolver-lhes a sapatada.
Então falaram
para a dona Crônica mexericar sobre o temperamento da dona Dilma. Os
procuradores saíram da sala coçando o saco, gargalhando esmurrando o ar e
gritando yesss, isso eu vi, mas como estávamos só eles e eu naquele momento,
não tenho como apresentar provas.
Um colega
perguntou porque essa alegria? E eles disseram, imaginamos uma nova sacanagem
contra a Dilma. E, nos seus grupos de WhatsApp, espalharam a mensagem com um
kkkkkkkkk no meio, que eles aprenderam com seus colegas de Harvard. E os
colegas comemoravam, dá-lhe machão kkkkkkkk.
(Tem provas?)
Isso eu não
sei, doutor. Só sei que foi assim.
Eu ouvi
muito mais mexericos naqueles tempos.
Me disseram
que o dr. Persigo Janota tinha lautos jantares com o Ministro dr. Zé Resguardo.
No jantar, falavam da vida, de vinhos e de raparigas. Persigo se jactava de sua
casa no lago e da filha com doutorado nos States. Depois da quarta garrafa
falavam muita besteira , mas que recuso a contar.
(É bom
mesmo, senão sua delação já era).
As risadas
era tão ostensivas – e, cá para nós, tão fesceninas – que uma insigne Ministra
da Suprema Corte foi indagar da presidente Dilma mexericos sobre as aventuras
de Zé Resguardo. Dona Dilma dizia que nada disse e nada diria nem sob tortura.
E resistiu mesmo quando a ameaçaram 4 horas trancada ouvindo as pregações
religiosas do Dr. Pinhossol.
Ouvi muito
mais, que não posso dizer, doutor . Mas como a condição para a aceitação da
delação é revelar mexericos, me vejo na obrigação de, mesmo filtrando,
mexericar, pois quem não conta o mexerico nunca mais mexericará, nem no ninho
dos mafagafos.
Ouvi também
que o dr. Memorial de Ayres ligou para a dra. Mefitângela, e disse doutora, em
nome de nossa velha relação jurídica, e do presente que nos deu Mefistófeles,
diga ao dr. Egrégio que consegui ser contratado como advogado de defesa
de várias delações. Agradeço ao casal. A comemoração vai ser no sábado em casa.
Vinhos de primeira.
No jantar,
antes de celebrar o vinho, Memorial recitou a oração, com a credibilidade que
lhe foi conferida pelos admiráveis religiosos de sua genealogia : "Ao PAE,
ao Filho e ao Espírito Santo e ao Egrégio e ao Tio Flávio , que me trouxeram a
prosperidade e a pax".
Também
diziam na época que venderam para a doutora Mefitângela um aplicativo de
espelho mágico, desenvolvido especialmente para os interrogatórios na Justiça
de Curitiba.
Toda manhã,
o dr. Egrégio levantava, ligava o aplicativo e perguntava:
"Aplicativo meu, tem algum juiz mais durão que eu?".
Um dia o
espelho vacilou, porque apareceu em Brasilia um juiz dono de um cursinho – que
empregava juizes, procuradores e desembargadores para cursos in Company –
e, necessitando de marketing para o curso -- e não há melhor marketing do que
convencer recalcitrantes que não se deve dizer não a um juiz armado de raios
--, resolveu promover-se fechando o Instituto Crustáceo. O aplicativo ousou
dizer que talvez o tal juiz fosse mais durão que o Egrégio.
Imediatamente
foi despachado para a cela do Eduardo Mumunha que, toda manhã, perguntava:
"Aplicativo, aplicativo meu, tem ego maior que o meu?". E o
aplicativo, sem poder fugir da verdade: "O dr. Egrégio".
E vocês me
perguntam: como o deputado Mumunha conseguiu um celular?
Isso eu não
sei, doutor. Só sei que foi assim. A gente aumenta, mas não inventa.
Ouvi mais,
doutor.
Diziam que
descobriram que o escritório do dr. Faquinha continuava atuando em ações contra
o estado. E que o dr. Glamouroso continuou à frente do seu escritório, ou
melhor por trás porque na frente estavam parentes seus.
E tem mais.
Me contaram que viram o dr. Vilmar Dentes sair no corredor da Alta Corte e
bater os sapatos no chão, para tirar o barro da sola. O dr. Faquinha saiu em
desabalada carreira, pensando que era com ele e gritando por socorro.
Repito,
doutor, era verdade que havia esses mexericos, embora não possa garantir que
nenhum mexerico fosse verdadeiro.
O que? Os
senhores estão achando que minha delação não trata a Operação Lava Rápido com a
solenidade devida? Mas foram vocês que começaram. E está aí a dona Crônica
que não me deixa mentir.
Do GGN