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sábado, 13 de abril de 2019

POUCO ANTES DA LAVA JATO RIO, MARCELO BRETAS FEZ CURSO NO DOJ E NO FBI, POR LUIS NASSIF

As relações entre o Judiciário brasileiro e o Departamento de Justiça resultou na Lava Jato, conforme já mostramos aqui, inclusive mencionando documentos do Wikileaks.
Desde 2015 havia indícios claros dessa cooperação e da maneira como juízes e procuradores do Paraná se valeram do álibi do combate à corrupção para destruir a engenharia nacional, especialmente as empresas que competiam com grupos americanos na América Latina e África.
No Rio, a Lava Jato teve igualmente um viés econômico nítido, que não pode ser atribuído unicamente à ignorância e exibicionismo de procuradores e juiz despreparados. A maneira como investiram contra o BNDES, contra o financiamento da exportação de serviços, seguiu a mesma lógica de desmonte da economia do grupo do Paraná.
Agora, documentos divulgados mostram que o juiz Marcelo Bretas – o Sérgio Moro do Rio de Janeiro – participou de cursos nos Estados Unidos, inclusive no FBI, nas vésperas de estourar a Lava Jato no Rio de Janeiro.
De janeiro a março de 2105, Bretas frequentou o programa Visiting Foreign Judicial Fellows do Centro Judiciário Federal. Teria trabalhado em um artigo sobre o sistema legal dos EUA, e a maneira como equilibra as necessidades da aplicação da lei com os direitos individuais de privacidade. 
Pouco depois, explodia a Lava Jato carioca. 
https://www.fjc.gov/sites/default/files/2014/About_FJC_Portuguese_2007_Aug.pdf
Confira AQUI.
Do GGN

quinta-feira, 1 de março de 2018

A teia da AS/COA, organização americana que está por trás da palestra de Moro em Nova York


Moro na capa da Americas Quarterly, revista bancada pela AS/COA
O site Brazil Wire fez uma reportagem extensa e detalhadasobre a entidade americana que está patrocinando uma palestra de Sergio Moro em Nova York nesta semana — e a revista editada por ela. 
Uma excelente, elucidativa, leitura. *
Na sexta, dia 2, a Americas Society/Council of the Americas (AS/COA), um think tank e lobby de Wall Street, realizará em Nova York um evento sobre um suposto “movimento anticorrupção” na América Latina. O principal palestrante, o juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, será em seguida nomeado homem do ano em outro evento especial patrocinado pelas maiores instituições bancárias.
Este artigo publicado pela Brazil Wire em 28 de janeiro deste ano explica a história dos EUA na “guerra contra a corrupção”, na qual a AS/COA atuou como uma agência de relações públicas, em parte através de sua revista, a Americas Quarterly, autodenominada “diário de políticas para o Hemisfério Ocidental”, mas também via outros de seus tentáculos, que se estendem à política, judiciário, mídia e academia.
A organização AS/COA, além de suas conexões com o governo dos EUA – organiza um evento anual no próprio Departamento de Estado –, é a editora da Americas Quarterly e abriga não somente os principais bancos, corporações extrativistas e gigantes do setor de tecnologia, mas também as mais importantes plataformas para a divulgação dos interesses de seus clientes na América Latina, como a Bloomberg.
Tem, ainda, ligações com importantes agências de notícias como a Reuters. Sua própria Americas Quarterly ridiculamente se apresenta como “a América Latina real, e não a que você vê no Twitter”, o que é irônico, considerando não apenas que seus funcionários são extremamente ativos na plataforma, mas pelo fato de o próprio Twitter ser membro corporativo do Council of the Americas (COA).
Sua presidente e CEO Susan Segal, chamada por alguns como “a mulher mais influente das Américas”, sustenta comandar uma organização hemisférica, que pretende expandir-se ainda mais, triplicando seu alcance na próxima década. É um estudo sobre como políticos, políticas e a própria democracia são capturados através de relações diretas e incentivos do poder corporativo transnacional.
Brian Winter, atual editor-chefe da Americas Quarterly e vice-presidente de políticas da AS/COA, escreve também para agências de notícias como a Newsweek & CNN na qualidade de especialista em Brasil. Outros funcionários do COA são convidados pelas redes de notícias para discutirem política latinoamericana, como se fossem observadores neutros.
Em agosto de 2016, por ocasião do golpe que afastou Dilma Rousseff, Brian previu que a vitória da equipe brasileira de futebol nas Olimpíadas do Rio poderia ser um momento catártico, permitindo que o país seguisse adiante frente à crise política e econômica pela qual passava. Naquela mesma época, os manifestantes antigolpe enfrentavam uma brutal repressão da Polícia Militar.
Brian, que já havia atuado como ghost writer de biografias de líderes alinhados aos EUA, como Avaro Uribe, da Colômbia, e o próprio Fernando Henrique Cardoso, trocou a Reuters Brasil pela AS/COA em 2015, com o golpe já em andamento, algumas semanas depois de censurar o papel de Fernando Henrique no escândalo de corrupção da Petrobras – envolvimento que precedeu a presidência de Lula. Seus colegas insistiram que sua saída era uma simples coincidência. [Era o caso do “podemos tirar se achar melhor”, frase publicada inadvertidamente numa reportagem da Reuters]
Apesar das constantes manobras públicas de seus editores, a AQ é a plataforma mais evidente do modelo narrativa do Norte para a América Latina.
Originalmente chamado de “Grupo Empresarial para a América Latina”, a COA foi criado por David Rockefeller, então presidente do Chase Manhattan Bank, a pedido do presidente Kennedy, nos anos que se seguiram à Revolução Cubana em 1959, para ajudar a combater a propagação dos governos de esquerda no hemisfério.
Rockefeller permaneceu na liderança do grupo até sua morte em 2017. Outros funcionários notáveis incluem o ex-Secretário de Estado dos EUA, primeiro Diretor de Inteligência Nacional, conspirador-chave do fracassado golpe da Venezuela de 2002 e supervisor de crimes de guerra na América Central, John D. Negroponte.
O slogan da Americas Society/Council of the Americas é “unir líderes de opinião para trocar idéias e criar soluções para os desafios das Américas hoje”. Sua biografia online afirma: “A Americas Society (AS) é o principal fórum dedicado à educação, debate e diálogo nas Américas”. Sua missão é “promover uma compreensão das questões políticas, sociais e econômicas contemporâneas enfrentadas pela América Latina, o Caribe e o Canadá, e aumentar a conscientização pública e a valorização da diversidade do patrimônio cultural da região e a importância do intercâmbio interamericano”.
“O Council of the Americas (COA) é a principal organização empresarial internacional cujos membros compartilham um compromisso comum com o desenvolvimento econômico e social, os mercados abertos, o Estado de Direito e a democracia em todo o Hemisfério Ocidental. Os membros do Conselho são constituídos por empresas líderes internacionais, que representam um amplo espectro de setores, incluindo bancos e finanças, serviços de consultoria, produtos de consumo, energia e mineração, indústria, mídia, tecnologia e transportes”.
A organização se baseia na “crença fundamental de que os mercados livres e a iniciativa privada oferecem o meio mais eficaz para alcançar o crescimento econômico regional e a prosperidade”. A adesão ao COA cresceu para mais de 200 empresas, que respondem pela maioria do investimento privado dos EUA na América Latina. O COA acolhe presidentes, ministros, chefes de bancos centrais, funcionários do governo e especialistas em economia, política, negócios e finanças, o que lhe dá acesso exclusivo a informação sobre a região.
O COA defende acordos de livre comércio e tem sido fundamental na concepção do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e do Tratado de Livre Comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana (CAFTA)… além da área de livre comércio das Americas (Free Trade Area of the Americas – FTAA), ainda a ser implementada – uma antiga e duradoura ambição do próprio David Rockefeller.
A elite do COA inclui: Bloomberg, Blackrock, Bank of America, Barings, Barrick Gold Corporation, Boeing, Bombardier, Banco Bradesco, Banco do Brasil, Banco Santander, Cisco, Citigroup, Coca Cola, ExxonMobil, Ford, General Electric, General Motors Google, Itaú Unibanco, IBM, Johnson & Johnson, JP Morgan Chase, Lockheed Martin, McDonalds, Moody’s, Morgan Stanley, Microsoft, News Corp / Fox, Pearson, Pfizer, Philip Morris, Raytheon, Shell, Television Association Of Programmers Latin America (Associação de Programadores de TV da América Latina), Time Warner/Turner, Toyota, Viacom, Wal-Mart.
Uma das empresas sucessoras da Standard Oil, a Chevron Corporation, é listada como Patron Corporate Member (Membro Corporativo Benfeitor), e há tempos tem especial interesse em quem governa o Brasil. Em 2010, a Chevron foi desmascarada ao recrutar jornalistas para espionar a América Latina.
Os membros do Council of the Americas muito se beneficiaram do golpe de Estado de 2016 no Brasil. Os mercados estarão assistindo muito de perto as eleições presidenciais do país deste ano, prevê a Bloomberg, membro do COA, quando os eleitores do país terão seus votos contados pela Smartmatic, membro do COA.
Brian Winter, editor chefe da Americas Quarterly, propagandeia o evento com Moro
Membros do Council of Americas, Chevron e ExxonMobil estão aproveitando os frutos de suas aquisições dos campos de petróleo em alto mar do Brasil a preços reduzidos, livres agora da exigência de incluir a Petrobras nas explorações.
Monsanto, membro do COA, conseguiu aprovação do governo Temer, controlado por lobistas ruralistas, para vender mais do que nunca seus pesticidas tóxicos, enquanto a Microsoft, membro do COA, tem um acordo multibilionário para substituir o moderno software de código aberto do Brasil pelo Windows. A Coca-Cola está em negociações com o governo Temer para a privatização do Aquífero Guarani, um dos principais recursos hídricos do mundo.
Os benefícios para as empresas estrangeiras resultantes do golpe de 2016 ecoam os de 1964. Em seu livro A Penetração dos Estados Unidos no Brasil, Jan K. Black explica como o ex-agente da CIA, Philip Agee, confirmou muitas das descobertas e suspeitas de uma comissão do Congresso brasileiro sobre a interferência estrangeira na eleição de 1962 do país. A investigação revelou que das principais operações de ação política (CIA), o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), e uma organização afins, a Ação Democrática Popular (ADEP), gastaram entre 12 e 20 milhões de dólares para financiar ações anti-Goulart e anticandidatos comunistas durante a campanha eleitoral de 1962.
A comissão de investigação parlamentar era mais ou menos controlada – cinco de seus nove membros foram beneficiados com os fundos da IBAD e do ADEP. Mas foi somente a recusa do First National City Bank, do Banco de Boston e do Royal Bank do Canada em revelar a fonte estrangeira dos fundos depositados para a IBAD e a ADEP que impediram que a operação viesse à tona. Os beneficiários do IBAD foram proeminentes entre os conspiradores no golpe de 1o de abril, e alguns, particularmente os militares favorecidos, estavam entre os que ganharam o poder como conseqüência disso: Standard Oil of New Jersey, US Steel, Texas Oil, Gulf Oil, Hanna Corporation, Bethlehem Steel, General Motors e Willys Overland estavam entre os depositantes nas contas do IBAD-ADEP.
O economista e ambientalista Jean Marc von der Weid sustentou que “mais de cem empresas estrangeiras e algumas nacionais estavam envolvidas no financiamento do instituto”, e que o Grupo Rockefeller IBEC foi um dos principais benfeitores.
Desafie qualquer um dos funcionários da sombria história da organização e você provavelmente não conseguirá resposta alguma. Sua autopromoção como organização benigna, amigável e mesmo inclusiva é absurda.
A revista Americas Quarterly atua nas sombras entre jornalismo e propaganda transnacional corporativa/política em tempos reconhecidamente precários para o primeiro. Se há uma Organização Não Governamental mais empenhada em influenciar como o mundo de língua inglesa percebe as realidades políticas/econômicas da América Latina é indiscutivelmente a AS/ COA.
Seu objetivo é impulsionar a política na direção de estruturas como a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e, portanto, tem uma participação em quem governa na região. É, também, inegavelmente, bem financiada e conectada.
Transformar a anticorrupção em uma arma é tão antigo quanto a política, e a AS/COA defendeu esse conceito na América Latina, muitas vezes seletivo e espúrio, ignorando qualquer dano colateral – social, constitucional ou econômico. É uma ferramenta de conveniência, que acaba por permitir a remoção de opositores políticos à sua visão particular de “livre comércio”, em especial aqueles que desejam soberania econômica e de recursos, e política externa independente.
A operação Lava Jato foi chamada de “lawfare” pelos críticos e, ao ajudar a criar um pretexto à mídia para que Temer assumisse o poder (apesar de estar pessoalmente envolvido na investigação), ofereceu uma série de benefícios ao capital transnacional, incluindo uma austeridade radical e um programa de privatização –  uma ponte para um futuro que nunca teria ganhado nas urnas. Com a perda da soberania e o retorno à dependência, os brasileiros são agora parecidos com o lado derrotado de uma guerra, uma guerra que a maioria da população nem sequer sabe que ocorreu.
O alcance e a influência da AS/COA sobre os jornalistas se estende além da própria revista, funcionando como um ecossistema. Em particular, há uma grande sobreposição e interação entre AS/COA, Reuters, Washington Post e Bloomberg. A organização alcançou e construiu redes de patrocínio não só com jornalistas, mas também com universitários em instituições como a FGV.
O incentivo prático é raramente ideológico, simplesmente voltado para a autopreservação profissional e a recompensa financeira. Em 2015, a Americas Quarterly defendeu um relatório que afirmava que a pobreza não tinha correlação com o crime e a segurança pública. Isso não é surpreendente quando o inimigo do capital transnacional na América Latina (ou em qualquer lugar) é um aumento do salário mínimo.
Em outros lugares, a AS/COA emplacou artigos contra programas de cotas destinados a melhorar a igualdade racial nas universidades. Há também uma ironia trágica na ênfase da AS/COA ao “feminismo corporativo”, quando tacitamente apoiou a expulsão ilegítima da primeira mulher presidente do Brasil e a ascensão do presidente do pós-golpe, Michel Temer, um retorno profundamente chauvinista: dissolveu o Ministério Nacional dos Direitos da Mulher durante os primeiros dias de mandato, criou o primeiro gabinete só de homens desde o ditador Geisel e proferiu um discurso surpreendente no Dia Internacional da Mulher, minimizando seu papel na organização doméstica e educação de crianças.
Pior ainda, em outubro de 2017, a AS/COA realizou uma reunião estritamente privada em Nova York com o notório misógino e fascista, o candidato presidencial Jair Bolsonaro, que por duas vezes fez ameaças e observações relacionadas a estupro à colega deputada Maria do Rosario, pelas quais foi processado.
Ele é, também, um famoso racista e homofóbico – em dissonância com as recentes afirmações de inclusão e diversidade na Americas Quarterly e na Americas Society/Council of the Americas. O encontro com o COA evidentemente transcorreu bem, já que foi seguido por uma aparição na capa da Americas Quarterly, que apresentou Bolsonaro, eleitoralmente, como um “populista” no estilo do socialista mexicano Andrés Manuel López Obrador.
​A AS/COA até agora se recusou a divulgar o conteúdo de seu encontro com Bolsonaro.
Bolsonaro, um Pinochet mela cueca, também palestrou lá
O capital favorecendo um autoritário de extrema-direita que protegerá seus investimentos em um país rico em recursos? Não seria a primeira vez, nem a última, em que o Council of the Americas apoia esse tipo de líder: Pinochet no Chile é o melhor exemplo. Em “Price of Power” (“O Preço do Poder”), Seymour Hersh escreveu sobre a campanha de uma década do COA para controlar a democracia do Chile: “O candidato de 1964, Eduardo Frei Montalva, que estava plenamente consciente da fonte de seu financiamento, também recebeu ajuda secreta de um grupo de corporações americanas conhecido como Business Group for Latin America… Ele incluiu em seu comitê executivo corporativos proeminentes como C Jay Parkinson, presidente do conselho da Anaconda; Harold S. Geneen, chefe da International Telephone and Telegraph Corporation, que possuía e operava as instalações telefônicas no Chile; e Donald M. Kendall, presidente da PepsiCo, a empresa de refrigerantes com amplas atividades comerciais na América Latina. A CIA e o Business Group, que em 1970 foram reorganizados no Council of the Americas, dependeram fortemente de Eduardo para usar sua organização e seus contatos para canalizar seus recursos para a campanha política de 1964. Muitos dos laços entre o Business Group e a CIA em 1964 permaneceram em vigor muito depois das eleições. Por exemplo, Enno Hobbing, um funcionário da CIA inicialmente designado como um negociador para o Business Group, finalmente deixou a CIA e tornou-se o principal oficial de operações do COA”.
Realmente, para uma organização focada na América Latina, ela está dizendo que nenhum de seus funcionários escolheu comemorar publicamente, como fariam em outras datas históricas, o próprio 11 de setembro do Chile, o golpe de 1973, que acabou com a morte do presidente eleito Salvador Allende. Brian Winter prefere descrever seu inimigo, general Augusto Pinochet, não como um ditador genocida, mas como um “revolucionário”.
A região entende talvez mais do que qualquer outra que não há distinção entre o poder norteamericano governamental e o corporativo; política externa serve monopólios e o cartel dos credores. Enquanto isso, a classe de compradores quer a proteção de seus privilégios de elite contra a concorrência – a hegemonia provê isso – e a AS/COA é a coisa mais próxima de um concubinato direto com ele. Qualquer lado dessa barganha vem sendo historicamente confortável com governos fascistas, se ele proteger seus interesses.
Se você trabalha com eles, se escreve para eles, está participando consciente ou inconscientemente de um programa neocolonial de décadas, projetado para destruir a participação popular e a soberania na América Latina, se você puder viver com isso.
*Tradução de Sonia Maia
DCM

terça-feira, 27 de junho de 2017

Xadrez de como a Globo tornou-se ameaça à soberania nacional, por Luis Nassif do GGN

A título de introdução – o que estava em jogo

Como abordamos em vários Xadrez, havia um mundo em transformação, a China e os BRICs irrompendo como poderes alternativos, a crise de 2008 comprometendo o modelo neoliberal. Ao mesmo tempo, uma acomodação da socialdemocracia nos anos de liberalismo, queimando-a como alternativa econômica.

Por seu lado, os Estados Unidos garantiam seu papel hegemônico no campo financeiro e nas novas tecnologias de informação, já que a manufatura se mudou para a Ásia.

É nesse contexto que, a partir de 2002, monta-se uma nova estratégia geopolítica fundada no combate à corrupção. Envolvem-se nela o Departamento de Estado, as instituições de espionagem (CIA e NSA), os órgãos policiais (FBI e Departamento de Justiça) e as ONGs ambientais e anticorrupção.

Para consumo externo, a intenção meritória de melhorar o mundo. No plano estratégico, a tentativa de impedir as potências emergentes de percorrer o caminho trilhado pelas potências atuais: no campo político, a promiscuidade inevitável entre campeões nacionais e partidos políticos; na expansão externa, o uso inevitável do suborno para penetrar em nações menores.

Por outro lado, o avanço da espionagem eletrônica conferiu um poder imbatível aos órgãos norte-americanos. A pretexto de combater o crime organizado, amplia-se a cooperação internacional, entre MPs e policias federais dos diversos países. Através desse duto, os EUA passam a levantar seletivamente informações contra políticos não-alinhados em diversos países, como Brasil, Portugal, Alemanha, França, Espanha, Coreia do Sul.

O impeachment de Dilma Roussef teve três personagens centrais com laços estreitos com os Estados Unidos:
·       Juiz Sérgio Moro
·       A Globo
·       Movimentos de rua.
Na última 5a, foi publicado o post “Xadrez de como a Globo caiu nas mãos do FBI”.

Vamos avançar com mais informações que surgiram nos últimos dias.

Peça 1 – Sérgio Moro e o FBI
No GGN há um amplo levantamento sobre a cooperação internacional, o sistema de cooperação penal entre países, dos quais o Brasil é signatário. A cooperação deve ser formalizada através do Ministério da Justiça, Itamaraty ou Procuradoria Geral da República.

No caso Banestado, houve uma aproximação informal entre o juiz Sérgio Moro, procuradores e delegados da PF com o FBI, NSA e Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Havia vários indícios dessa ligação e da maneira como Moro foi abastecido por informações das autoridades norte-americanas, para, mais tarde, conseguir transformar um processo contra uma lavadora de carros em um escândalo nacional.

Na semana passada, o Jornalistas Livres apresentou a evidência mais forte dessa cumplicidade, um caso de 2007, no qual Moro autorizou um agente do FBI criasse um CNPJ falso para uma ação controlada contra um falsário. Não informou sequer o Ministério Público, denotando uma cumplicidade muito mais ampla e mais antiga do que até então se imaginava.

O fato revelado reforça as suspeitas sobre a ação deliberada de Moro e dos procuradores de Curitiba de destruição de empresas brasileiras que competiam globalmente com multinacionais norte-americanas e de imposição da agenda liberal da Ponte para o Futuro.

Peça 2 – a Globo e o FBI
Por volta de 2014, o patriarca da Odebrecht, Emilio, indicava a impossibilidade de qualquer forma de negociação com a Globo: ela estaria refém do FBI. À medida que foram revelados detalhes da Operação Rimet - conduzida pelo Ministério Público espanhol e pelo FBI - sua previsão fez sentido.

Há vários anos, os escândalos da FIFA eram tratados por um grupo restrito de jornalistas, correspondentes internacionais, entre os quais o britânico Andrew Jennings e o correspondente do Estadão em Genebra, Jamil Chade.

Em 2014, o jornalista-empresário brasileiro J. Hawilla foi preso nos Estados Unidos e negociou um acordo de delação. Era o principal contato da Globo com a CBF.

Uma pequena cronologia para se entender o quadro atual:
18 de setembro de 2014 – entrevistado pelo GGN, o jornalista Andrew Jennings desafiava: brasileiros, cadê vocês? Forcem a CBF a abrir as contas”. Crítico da copa do Mundo no Brasil, Jennings afirmou que “há muito o que a democracia brasileira poderia ter feito que não fez. Legalmente, cuidar dos interesses do próprio país e do interesse no futebol. O governo falhou, foram covardes contra um exército desarmado”.


No acordo, devolveu US$ 151 milhões de dólares, sendo US$ 25 milhões foram pagos no momento do acordo, segundo o documento divulgado pela Justiça dos Estados Unidos. Segundo a Justiça americana, Hawilla foi indiciado e culpado por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça.

O teor da delação tornado público não mencionava a Globo e pouco se referia aos contratos da CBF. Concentrava-se mais nas operações com a FIFA e nos Estados Unidos.

27 de maio de 2015 – o FBI cerca um hotel em Zurique e prende vários executivos da FIFA. Explode o escândalo tendo como epicentro da brasileira Traffic, de J. Hawilla, principal instrumento da Globo para garantir a primazia nas transmissões de futebol no país, além de dono de várias afiliadas da rede.

Globo Esporte noticia as investigações do FBI sobre a CBD (Justiça dos EUA: contrato da CBF com fornecedora é investigado por propina).  Mas se refere exclusivamente aos contratos de fornecedores.
2 de julho de 2015 –Segundo informou o colunista Ricardo Feltrin, da UOL,  a pedido do FBI, a Polícia Federal passou a investigar os contratos da Globo com a CBF.

“A reportagem do UOL apurou que contratos assinados entre a TV e a entidade em anos passados serão submetidos ao escrutínio de especialistas da PF. Trata-se, inclusive, de parte da colaboração que o país vem fazendo com as investigações do FBI (...) A PF quer entender como funcionou a relação entre a gestão do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o Departamento de Esportes da Globo. Na TV aberta a Globo detém o monopólio de transmissão dos principais torneios de futebol há quase 40 anos”.

10 de fevereiro de 2016 – em entrevista ao GGN, Jamil Chade traz duas informações relevantes. A primeira, a de que o FBI se deu conta de que o Brasil já estaria preparado para encarar seus grandes escândalos a partir das manifestações de junho de 2013. Um deles, foi o que resultou na Lava Jato. O segundo, o da FIFA. Mas as autoridades norte-americanas não entendiam a razão do Ministério Público brasileiro ser o mais refratário a colaborar com as investigações.

Durante as próprias manifestações de 2013, a Globo fechara o acordo tácito com o MPF (Ministério Público Federal), transformando em tema nacional o veto à PEC 37 (que reduzia os poderes de iinvestigação do MPF) passando a partir de então a avalizar todas suas ações, incentivando o jogo político. Dessa parceria, monta-se a divulgação maciça de escândalos, com o MPF e a PF alimentando a mídia com vazamentos diários, gerando o clima de catarse que leva multidões às ruas pedindo o impeachment de Dilma Rousseff.

Peça 3 – a mão estrangeira nos movimentos de rua
O aparecimento de organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) colocou no foco os irmãos Kock, bilionários norte-americanos que resolveram investir na mobilização política nos Estados Unidos e em outros países, como templários do livre mercado. Seguem uma antiga tradição de grupos empresariais fundamentalistas, como o W.R.Grace, católicos de origem irlandesa que, nos anos 60, bancavam o padre Peyton e sua cruzada pelo “rearmamento moral”. No Brasil, também surgiram organizações bancadas com recursos de grandes grupos.

Hoje em dia, com os avanços do big data, tornou-se relativamente simples viralizar bandeiras, protestos, principalmente quando se cria o caldo de cultura adequado, através dos grandes veículos de comunicação.

Conclusão
Até agora, a concentração de mídia era vista como instrumento que desequilibrava o jogo político e social, impedindo as manifestações plurais, especialmente das faixas de menor renda.

A crise que culminou no impeachment de Dilma - e que poderá levar ao impeachment de Temer - tem desdobramentos muitos mais sérios: a destruição da engenharia nacional, os acordos de mercado com uma quadrilha que assume o poder, atacando as reservas de pré-sal, promovendo vendas de empresas estatais na bacia das almas, se propondo a autorizar a venda maciça de terras para estrangeiros.

Claramente o monopólio de mídia torna-se uma ameaça real à soberania nacional.

Nesses tempos de redes sociais, big datas e cooperação internacional, bastou a cumplicidade de um juiz de 1a instância junto com procuradores e delegados de um estado interiorano – , a cooptação do maior grupo de mídia do país,  e a organização, via redes sociais, de movimentos de rua, para implodir o sistema político, proceder a uma queima irresponsável de ativos nacionais e impor uma agenda econômica sem negociação e sem aprovação da opinião pública.

A partir da reorganização política brasileira, em que base se der, a questão da regulação da mídia e das concessões, assim como o enquadramento do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, ao lado de formas modernas de combate à corrupção, terão que se converter em bandeiras prioritárias para a consolidação da democracia.

Do GGN

domingo, 28 de maio de 2017

007: o espião que não gostava do neoliberalismo

Na estrutura profunda deste filme que suavizou a estética da Guerra Fria vemos um conflito entre público e privado.

The Spy Who Loved Me (1977) é sem dúvida o melhor filme de 007 com Roger Moore. Com locações na Áustria, Egito, Sardenha e outros países, o filme tem belas cenas de ação em terra, no ar e no mar, apresentando uma curiosa cooperação entre James Bond e a agente soviética XXX. O vilão do filme é  Stromberg, um bilionário que financiou o desenvolvimento de um equipamento que lhe permite rastrear e destruir submarinos da Inglaterra e da URSS.

As relações entre os dois agentes ficam tensas quando XXX descobre que 007 matou o amante dela na Áustria. Todavia, o charme de James Bond salva a vida do espião inglês depois que ele e sua companheira soviética conseguem destruir a arma secreta e a base submarina de Stromberg.

Na estrutura profunda deste filme que suavizou a estética da Guerra Fria vemos um conflito entre público e privado. O bilionário Stromberg, que age com absoluta liberdade como se não fosse obrigado a respeitar a autoridade de nenhum Estado, consegue desafiar o poder de duas potências obrigando-as a agir deixando de lado suas diferenças ideológicas, economicas e militares.

Quando The Spy Who Loved Me foi lançado em 1977 as idéias neoliberais começaram a ganhar força nos EUA e na Inglaterra. Elas se tornaram hegemonicas após Margaret H. Thatcher ser nomeada Primeira Ministra da Inglaterra (1979) e Ronald Reagan vencer a eleição presidencial nos EUA (1981). Desde então, o neoliberalismo segue sendo a força ideológica mais importante nos EUA, na Europa, Japão e Coréia do Sul.

A promessa de abundância para todos não foi realizada. O neoliberalismo afundou dezenas de milhões de norte-americanos e europeus na miséria para produzir bilionários que tem capacidade econômica para destruir economias nacionais inteiras. A fome voltou a ser um problema na Europa e nos EUA. Na fase atual, apoiados pelos Economic Hit Men dos EUA eles estão destruindo os direitos trabalhistas, previdenciários e sociais dos cidadãos de países vulneráveis como Brasil.

Em The Spy Who Loved Me o inglês 007 e a soviética XXX derrotam o neoliberal Stromberg. Na vida real os Strombergs criados pelo neoliberalismo agem com absoluta liberdade e nenhum agente estatal parece capaz de destruí-los. Um bom filme de um tempo em que preservar a natureza pública e inclusiva do Estado ainda podia ser alimentada inclusive nos países capitalistas.

Apreciem o filme AQUI.

Do GGN, Fábio de Oliveira Ribeiro