Preparemo-nos
para as manifestações monstruosas que devem vir com bandeiras amplas como a de
plebiscitos revogatórios das Reformas.
Se
há algo nessa crise política que é uma chance para o Brasil é o fato de que as
decisões tomadas pelo governo golpista são a um tal ponto ilegítimas que, mesmo
que não venham a ser facilmente devolvidas ao lixo da história, deverão ser o
objeto de algum processo de legitimação futura por exigência do próprio
processo democrático.
Isso
é verdade pois o projeto que está sendo implantado não é o que foi aprovado nas
urnas, o processo de impeachment não sustenta cinco minutos de análise isenta,
os Poderes viraram covis de bandidos que agem à luz do dia, a imparcialidade
republicana virou uma piada, as Reformas prejudicam profundamente a maioria que
é explicitamente contrária e a base social do golpismo se desfez, o que só não
se manifesta mais explicitamente porque esses setores vivem do luto a fase da
negação. A inação desses setores é apenas o prelúdio de uma reação mais forte,
quando a realidade dos fatos lhes ceifar renda, emprego e oportunidades. Então
essa ilegitimidade latente se tornará, em algum momento, explosivamente
manifesta.
Dois
fatos do momento recente ilustram a dinâmica do processo: (1) em Natal um
movimento grevista de médicos aspira a “concursos públicos” num contexto de
Estado mínimo, de Reforma trabalhista e de terceirizações aprovadas e
vigentes... e (2) o aumento dos combustíveis, segundo informou uma liderança do
movimento dos caminhoneiros, só não gerou protestos para não beneficiar o PT
(talvez também para evitar o vexame...). A verdade é que há cada vez mais
setores que começam a suspeitar fortemente que foram feitos de otários.
Então
há na Sociedade como um todo, à direita e à esquerda do espectro político, uma
insatisfação profunda com o que está sendo feito com o país, porém em graus
diferentes de maturidade e de consciência; uma energia estática em dois
compartimentos (a base “traída” do golpe e a oposição democrática) que poderá
ser convertida num caudal único e produzir, uma descarga colossal enquanto
manifestação de caráter Nacional.
Sob
esse prisma enxergo que a pauta de consenso mais facilmente absorvível por esse
conjunto heterogêneo de forças será a da retomada do Estado Social, que
emergirá aos olhos da nação como incontornável.
Embora
tenhamos a tendência de desprezar os setores que por preconceito contra a
esquerda apoiaram o golpe, apesar dos inúmeros avisos de que iriam se dar mal,
eles hoje vivem uma orfandade política impossível de antever há apenas um ano e
devem ser politicamente convencidos a exprimir as suas reinvindicações por meio
da institucionalidade democrática e não contra ela.
Penso
também que seria benéfica para a democracia a existência no tabuleiro, do lado
de lá, mas compondo o campo democrático, de algum partido conservador que
pudesse exprimir indignação com o que está em andamento no Brasil e que abrace
o compromisso com a restauração do Estado Social. Há um cavalo selado passando
para quem possa, nesse espectro político e em nível nacional, assumir as
bandeiras do Estado Social, sem o alinhamento com a esquerda que produz a
alergia desses arrependidos, trazendo-os para a institucionalidade.
O
PSDB, apoiador de primeira hora dessas reformas caminha para uma campanha que
em muito se assemelha a um precipício e se vier a capitalizar algo em 2018 será
o sentimento difuso de traição nacional. É verdade que até aqui essa
insatisfação latente da direita “traída” pelo golpe está se avolumando em torno
da candidatura de Bolsonaro, mas essa candidatura não espelha as nossas
tradições de pluralidade e tolerância, que são valores nacionais e traria ainda
mais turbulência à vida nacional.
Ora,
é sobre o Estado Social que se ergue o Estado democrático e o que vemos é que
usurpado o segundo, perdemos também o primeiro. Se alguém na direita se
sublevar contra o golpe e as Reformas e der voz aos “arrependidos” e “traídos”
em nome da Restauração do Estado Social, é também o Estado democrático que
sairá ganhando. A ver se serão capazes.
Preparemo-nos,
de toda sorte, para as manifestações monstruosas que previsivelmente virão com
bandeiras amplas e supra partidárias que digam respeito aos interesses da nação
tais como a de realizarmos plebiscitos revogatórios da PEC55, das
terceirizações, da Reforma Trabalhista, em favor do uso dos royalties do
pré-sal para a Educação e a Saúde e dos setores econômicos que fortalecem a
Soberania Nacional, como a indústria naval e a de defesa.
Em
suma, como forças condutoras que devemos ser, ter foco no Estado Social e no
Brasil nos renderá uma capacidade de mobilização previsivelmente incalculável,
certamente muito maior do que a nossa base histórica.
Do
GGN