O PT hoje enfrenta alguns dilemas, mas apesar de todos
os percalços, continua sendo o partido de esquerda mais estruturado, mais
popular e com maior penetração no sindicalismo e nos movimentos sociais. E
possui a maior liderança popular do país, Lula.
A prisão de Lula promoveu um pacto inédito entre os partidos
de esquerda. Por outro lado, cada qual procura se viabilizar. E aí, se esbarra
na grande incógnita: a candidatura de Lula a presidente.
Do lado do arco do golpe há um esforço ingente para isolar o
PT e Lula. Do lado dos aliados, a dúvida: ficar com o PT, caso a candidatura
Lula se viabilize; ou montar estratégias visando se apropriar da herança
petista?
A candidatura de Lula será mantida a ferro e fogo por vários
motivos.
O primeiro, é que qualquer movimento gera ataques
especulativos ao PT e exposição desnecessária não só do PT mas dos movimentos
em geral.
O segundo, porque a saída de Lula deflagraria uma guerra
interna, no próprio PT, de consequências imprevisíveis, por não haver consenso
nem sobre o nome do partido que segurará o bastão, nem sobre o nome fora do
partido que vier a ser apoiado.
O terceiro, porque reforçaria a tentativa dos aliados de
tentar tirar do PT qualquer protagonismo, inclusive com exigências de abrir mão
da cabeça de chapa, além de significar a desmobilização dos movimentos sociais
e de todos os grupos inspirados pelo lulismo.
A ideia básica é inscrever Lula candidato e levar a
candidatura até o fim, mantendo a mobilização e o seu cacife eleitoral.
Candidato, Lula poderá participar do horário gratuito, ou com seu discurso
atual ou, na impossibilidade, com vídeos já gravados e depoimentos de
terceiros. Nessa hipótese, seria eleito e caberia ao STF (Supremo Tribunal
Federal) o ônus de impedir a posse.
Há confiança na vitória de Lula, baseados nos três vetores
principais para a definição do votos.
O primeiro vetor é o econômico, talvez a principal dimensão
do voto. Ali, Lula e PT nadam de braçadas graças aos anos de ouro da economia.
O segundo vetor é a dimensão dos valores. O PT e Lula já
estiveram em situação bem pior. Com a perseguição a Lula, e a blindagem dos
adversários, houve uma comoção que reverteu parte do desgaste. Nesse campo, a
direita não ganha mais.
Finalmente, na dimensão política, o PT avançou nas coligações
e frentes.
Por outro lado, há a possibilidade de que a candidatura de
Lula seja inviabilizada. E, aí, haveria um tempo exíguo para montar uma segunda
estratégia.
Há convicção interna de que o PT não se isolou da frente de
esquerdas. Com o centro, não há espaço para conversa. Mas com a esquerda, sim,
inclusive passando por cima de mágoas recentes, com o PDT, que teve vários
deputados votando a favor do impeachment, e com o PSB, que fechou questão
pró-impeachment.
Por outro lado, a Fundação Perseu Abramo conseguiu convencer
fundações dos partidos aliados a esboçar um mini-programa com ideias
consensuais. Só não se transformou em manifesto mais expressivo porque o PSB
ponderou que acordos não deveriam ser apenas programáticos, mas políticos,
conduzidos pelos partidos.
GGN