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sexta-feira, 7 de julho de 2017

Não tenho pena das náuseas de Sua Excelência; ao governo legítimo, nem sonrisal o PGR ofereceu, diz Aragão a Janot

Sobre náuseas e ânsia de vômito

Em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, da Globonews (quem mais poderia ser?), o PGR contou que sentiu náuseas e ânsia de vômito ao ouvir a agora célebre gravação da conversa noturna entre Joesley e Temer.

Não consegui ter pena da indisposição digestiva de Sua Excelência.

Gostaria que fosse capaz de um mínimo de empatia e talvez imaginasse o tamanho das náuseas e das ânsias de vômito de muitas brasileiras e brasileiros que, desde 2014, assistem à crise política causada por aqueles que só agora despertaram sua curiosidade.

A ânsia, quando às escâncaras, Temer trabalhou para fazer de Eduardo Cunha o presidente da Câmara, conhecedor de seus métodos suínos de lidar com o interesse público; quando Eduardo Cunha inviabilizava o governo da Presidenta eleita porque não o deixava roubar; quando apanhado com a mão na cumbuca, Eduardo Cunha chantageava o PT para inviabilizar sua cassação na comissão de ética; quando, por não aceitar a chantagem, o PT e a Presidenta foram alvos de covarde ataque de um centrão de deputadinhos de baixo clero e, com reforço dos perdedores das eleições de 2014 e assessoramento de ministro do STF, abriram fogo contra o mandato da candidata eleita, para impedi-la; quando, em 17 de abril de 2016, uma cambada de interesseiros acolheu na Câmara dos Deputados o impedimento por trinta moedas de prata; quando, a despeito da completa ausência de prova do cometimento de crime de responsabilidade, destituíram Dilma Rousseff e colocaram no poder uma turba de rapina; e, quando no poder, essa malta se apressou em destruir as conquistas da grande maioria das brasileiras e dos brasileiros vulneráveis.

Nenhum Sonrisal, nem Graviscom, o Senhor PGR nos ofereceu.

Pelo contrário, foi nos socando goela abaixo acusações torpes e inconsistentes contra Dilma Rousseff, dando uma forcinha àqueles que lhe causam náuseas hoje.

Agora, Senhor PGR? Só agora sua ficha caiu?

Muito tarde, pois as flechas que lhe sobraram são de bambu verde e maleável. As mais duras e pontudas foram gastas com o PT e a Presidenta Dilma Rousseff.

Oxalá consiga consertar um pouquinho do enorme estrago que o senhor e sua turma causaram ao País.

Só um pouquinho, pois a reconstrução da economia, da institucionalidade e das políticas sociais são muita areia para sua caçamba de fim de mandato.

Vamos precisar de brasileiras e brasileiros que merecem essa qualificação pelo amor ao país vilipendiado pela irresponsabilidade de tantos que foram atirando bambu a esmo sem se importar de atingir inocentes.

Só posso lhe recomendar que use umas boas doses de Plasil e, para dormir com o barulho que causou, uns comprimidos de Frontal funcionam bem.

Procure um médico! Para mim, tem funcionado a ponto de não perder o sentido do que é ético é antiético na política.

Eugênio Aragão aposentou-se do Ministério Público Federal (MPF), onde era sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

Viomundo

quinta-feira, 18 de maio de 2017

A unidade da coalizão golpista ruiu não há mais governança

Foto: Beto Barata/PR
​O agravamento da crise mostra que a coalizão golpista se tornou incapaz de sustentar sua própria unidade. A despeito dos muitos interesses em comum, empresários, políticos das diversas facções da direita, procuradores e juízes se engalfinham numa disputa que é sobre os limites da Lava Jato e também pelo exercício do poder.

A esperança de Michel Temer, para continuar na presidência, é que o país volte subitamente aos tempos de José Sarney ou de Fernando Henrique Cardoso - ou que se torne um grande São Paulo dos governos tucanos. Tempos e lugar em que escândalos são enterrados com desprezo absoluto pelo público, graças à cumplicidade ativa da maioria do legislativo e da quase totalidade do judiciário. Mas esse cenário não é fácil de ser produzido. Há um clima de salve-se quem puder na elite política. E Temer se viu subitamente jogado na condição a que reduziu Dilma no segundo mandato: um governo na corda bamba, portanto um governo cujas benesses, desvalorizadas pela incerteza de sua permanência, tornam-se menos capazes de comprar lealdades.

A situação no PSDB é grave. As declarações gravadas de Aécio são as mais chocantes de toda a novela e representam a pá de cal na hipocrisia tucana. Imagino que um oportunista como João Doria terá fortes incentivos para trocar seu discurso de bom moço ("sou um soldado do partido") por um distanciamento maior - afinal, o PSDB é o partido que lançou um criminoso comum à presidência da República em 2014, não será fácil se libertar desse carma. Doria, no entanto, parece ainda verde para esse voo solo. E a natureza e a gravidade da crise, que exigem grande liderança política para superá-la, trabalham contra seu discurso planamente gerencial.

O PT foi atingido lateralmente - mas, uma vez mais, com denúncias sem provas materiais que as sustentem. Não tenho condição de avaliar qual o grau e a natureza do envolvimento do ex-ministro Guido Mantega, mas é muito implausível que, dentre todos os grandes partidos brasileiros, o PT fosse o único que não se nutrisse das verbas carnudas da JBS. Cumpre observar que Lula fica preservado e o sentido geral do depoimento de Joesley Batista reforça o que já se percebia (e que não ajuda para produzir uma condenação em Curitiba): que o ex-presidente sempre foi muito zeloso de não se envolver nos esquemas de corrupção que vicejavam à sua volta. O risco é que Lula se sinta tentado a aceitar o papel de tábua de salvação da elite política sob ameaça.

A bandeira das eleições gerais, que já começa a tomar as ruas, retira das instituições que se acumpliciaram no golpe - Congresso e Supremo - a legitimidade para encaminhar a solução da crise. Tem o mérito de enfatizar que qualquer solução deve passar pelo apoio da maioria. Sintetiza graficamente a exigência de democracia.

Ao mesmo tempo, é necessário não descuidar da luta contra o retrocesso nos direitos. Para os interesses dominantes, o nome do ocupante da presidência é o de menos. A bomba que atingiu o planalto paralisa, ao menos por enquanto, o avanço da reforma da previdência e da reforma trabalhista. Mas elas serão retomadas assim que possível. Por isso a nossa resistência não pode cochilar. A luta por eleições gerais não pode se desgarrar da luta contra o fim da aposentadoria e o fim da CLT.

Por fim, ainda que a bandeira das diretas, com o potencial que tem para angariar apoio popular, permita colocar os donos do poder na defensiva, é bom lembrar que o chamamento às urnas não é solução milagrosa. Numa situação com traços de anomia, que eleições serão essas? Quem controlará o uso do poder econômico? Quem controlará a mídia corporativa? Quem controlará a violência política? Quem controlará um tribunal eleitoral presidido por ninguém menos que Gilmar Mendes? Caso a proposta das diretas ganhe factibilidade, é importante tentar gerar salvaguardas para que elas ocorram com um mínimo de lisura.

Do GGN