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segunda-feira, 3 de julho de 2017
sexta-feira, 19 de maio de 2017
O Rescaldo de um terremoto Político, por Luís Nassif
O ponto
central do terremoto político é entender, na verdade, para onde a Rede Globo
pretende ir, e o pescoço de Lula e Dilma deve ser a contrapartida dos grupos de
mídias para endossar os crimes praticados pelo presidente e o senador Aécio
Neves.
Para
entender as últimas horas da política brasileira, tornando o jogo político
ainda mais complexo, vamos tentar compreender por que Michel Temer e Aécio
Neves foram pegos. Em primeiro lugar se trata de uma iniciativa do
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, levando o protagonismo político a
sair dos movimentos minúsculos da Lava Jato, com os seus coordenadores querendo
encontrar escândalos a partir de miudezas retiradas das delações declaratórias.
Com isso,
Janot conseguiu fazer as investigações políticas passarem para um jogo mais
pesado. Houve uma armação em cima de Temer e Aécio, obviamente, ou seja,
Joesley foi convencido a armar esse grampo pelo Procurador-Geral da
República.
O que leva
Janot a esse movimento? Ele está em final de mandato, haviam todos os sinais de
que Michel Temer não conduziria para a liderança da Procuradoria Geral alguém
do seu grupo, isso porque o sistema de lista tríplice está ameaçado, e a Lava
Jato entrando num descenso por conta dessa visão burocrática de apenas pegar um
delator e recolher suas falas nos processos, ainda que sem provas. Essa
iniciativa de Janot confere-lhe agora um protagonismo que ele não tinha até
então.
Foi uma
operação bem-feita, tem o modelo daquelas que, em geral, a Polícia Federal e o
Ministério Público armam para cima de traficantes. O delegado Protógenes
Queiroz usou dessa mesma estratégia contra os representantes do banqueiro
Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, inclusive usando cobertura da
Globo.
Janot então,
pega Aécio Neves, rompendo uma parceria mineira antiga, conferindo-lhe um
grande grau de credibilidade e, amanhã, quando for o segundo tempo do jogo,
certamente virá em cima de Lula e Dilma.
Porém, mais
importante é entender o que levou a rede Globo a endossar a tese do crime de
Aécio. No primeiro dia ela foi apanhada de surpresa, com seus repórteres
balbuciantes enquanto transmitiam as notícias, num alinhamento militar. Lembro
o Nelson Rodrigues, lá atrás, quando estava começando a carreira de jornalista,
e estava no Jornal da Tarde, e ele falava 'o único jornal que tem controle
total sobre os seus jornalistas é o Globo'. E, de fato é uma ordem unida,
pensada por um estrategista competente que é o Ali Kamel.
Mas o que
leva a Globo a endossar totalmente a tese dos crimes de Aécio e Temer? Tem a
contrapartida que é você liquidar, principalmente, Lula e, nem tanto, Dilma,
que está muito mais habilitada a algo como uma candidatura de deputada, embora
ela tenha se tornado um símbolo político muito relevante pelo seu heroísmo no
pós-impeachment e durante a campanha do impeachment. Então a destruição de Lula
é a contrapartida.
Por outro
lado, com relação à estratégia de Janot, ele já vinha carregando muitas
críticas sobre o modelo de trabalhos mal feitos por seu grupo, por exemplo, e
que vinha desde Teori Zavasck, ex-relator do processo da Lava Jato no STF,
morto em um acidente em janeiro. Com essa operação controlada ele recupera o
protagonismo e coloca o grupo paranaense na sua verdadeira dimensão pequena e
com um juiz extremamente parcial e cercado de holofotes.
Agora se
começa uma discussão se a gravação, da conversa de Joesley com o Temer, não tem
essa veracidade e o Temer agora reagindo, certamente orientado pelo ministro
Gilmar Mendes. Entra ainda, o ministro Celso de Mello, fazendo um manifesto em
favor da Constituição, legalidade e em prol do presidente, reforçando sua parcialidade
em relação ao jogo político. Por que ele não fez a defesa da Constituição no
período anterior, durante o julgamento de Dilma no Congresso? É essa
parcialidade que desmoraliza o Supremo.
Irmã de
Aécio, Andréia Neves
Para a rede
Globo jogar o Aécio ao mar não foi difícil, ele já estava naquilo que o mercado
fala de 'realizar um prejuízo', ou seja, não tem mais esperança de recuperar o
que eu investi naquela ação, então eu vendo pelo preço que vier. A pena é pela
irmã, a jornalista Andrea Neves. Tem muitas críticas em relação à ela, sobre
interferências nos jornais, mas ela é uma grande estrategista política. A
grande vocação política da família Neves é ela, e não Aécio.
Eu tive
alguns contatos com ela, por volta de 2013. Nós pretendíamos, no GGN, fazer uma
disputa entre propostas de governo, em áreas públicas. Durou pouco porque
Andrea tinha que sair catando especialistas pois o PSDB deixou de ser um centro
de pensamentos sistematizados.
Ela é uma
figura singular, inclusive, quando teve o atentado do RioCentro [1981], Andrea
foi a primeira pessoa que chegou ao local, no fusca onde a bomba explodiu no
colo dos militares. O único problema era a maneira como protegia o irmão. Ela
seria uma grande vocação política se não fosse esse patriarcado mineiro de
achar que tem que ser homem o representante da família.
Sobre a
forma como ela foi conduzida à prisão, me fez lembrar do sentimento de
linchamento induzido na sociedade, que traz a tona o que de pior existe na
natureza humana. Não sei o que há de mais animalesco, se o corrupto ou o
linchador. Teve todo um show midiático de xingamentos, exposição da foto dela
na delegacia, o processo comum de humilhação que vai em cima de todo o réu da
Lava Jato. Não tiro com isso a sua culpa. Ela é a grande articuladora de
Aécio.
A gravidade
das conversas entre Temer e Joesley
Outro ponto
importante dos recentes acontecimentos políticos é a tentativa de minimizar as
conversas do Joesley com Temer. Muita coisa realmente é prosa entre conhecidos,
mas tem coisas sérias, de suborno a um procurador, a maneira como o empresário
foi em cima de dois magistrados, o presidente ouvindo isso e segurando a
informação. E, mais que isso, quando Temer indica esse Loures para ser o
intermediário de Joesley e, segundo os dados - isso tem que ser apurado -, ele
teria a comprovação de que o sujeito fez uma proposta de suborno, falando em
nome de Temer. Isso não pode ser minimizado.
O que
devemos separar nos próximos momentos, quando vier o rojão em cima de Lula e
Dilma é: o que existe de provas? A prova é documental? São gravações? E o que
existe de prova testemunhal? A questão é que, certamente, deve haver algo grave
para a Globo ter endossado, inclusive hoje, pensadamente a campanha contra
Temer, que foi jogado ao mar, efetivamente.
Futuro das
eleições - PSDB - Temer
Há muitas
dúvidas, algumas delas tiramos hoje com o jurista Martonio Barreto Lima, da
Universidade de Fortaleza, que ajudou a entender quem poderão ser os candidatos
se ocorrer uma eleição direta. O PSDB é um partido sem rumo, quando começa o
tiroteio, uma parte quer se retirar do governo, outra parte, como Aloísio
Nunes, resolve ficar. Gilmar tenta minimizar o estrago. Assim, o PSDB se torna
pior que Cristóvão Buarque, parlamentar que se tornou o rei do Twitter, onde
colocou hoje o seguinte: O Temer disse que a imprensa está conspirando contra
ele. Eu não acho que seja verdade.
Veja também: O que acontece caso Temer renuncie? Aqui.
Não é achar
se é verdade. Esse tipo de posiconamento se trata em uma tentativa do político
de se equilibrar em dois pontos. Apostar no Temer hoje é um suicídio político,
ele se tornou o sujeito mais detestado do país, e o PSDB não percebe.
Fala-se
muito dos coronéis nordestinos, Sarney, Renan, mas eles têm muito mais visão de
país e dos procedimentos que tem que ser tomados que Temer. Ele deve ter
construído sua imagem positiva em cima do Manual Constitucionalista que
publicou e, segundo quem leu é uma coisa muito superficial, junto com seu jeito
empolado de falar. Talvez também pelo círculo de amigos que se envolveu, de
homens mais cultos. Mas a sua dimensão política é sofrível. É inacreditável
como o PT apostou em uma mediocridade dessa como vice-presidente. Depois de
tudo isso eu até duvido que ele tenha sido o articulador do Golpe, ele foi a
reboque do sócio dele, Eduardo Cunha.
Todo esse
cenário mostra, de fundo, a falta de grandeza dos grupos que dirigem o país,
cada qual pensando em seu próprio espaço. O preço do subdesenvolvimento é
exatamente isso, a incapacidade de se ter homens públicos, entre as gerações
mais novas, que coloquem os interesses do país acima dos interesses de grupo.
Do GGN