segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Pra não dizer que não falei do Moro, por Armando Rodrigues Coelho Neto*

Quadro ilustrativo

Parem a Lava Jato! Vamos todos para o tanque. Vamos lavar peça por peça, tirar mancha por mancha e até, quem sabe, tentar ver de onde vem e como começou a sujeira. Afinal, posso imaginar que por US$ 100 milhões, nos quais figura como aparente beneficiada a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é possível retomar o mote de Aécio Neves, durante campanha presidencial de 2014: “vamos conversar?”

Por um descuido qualquer, seja da Polícia ou Justiça Federal, quem sabe do Ministério Público Federal, furou a “seletividade de vazamento”. Não deu mais pra segurar, o que, aliás, nunca foi novidade: a corrupção na Petrobras é antiga, antecede a gestão petista e, Paulo Francis que o diga, sabe-se lá como, ainda que por psicografia.

Agora, e não tão agora assim, que pelo menos temos uma cifra, quem sabe será possível conversar sobre corrupção, sem que nos acusem de estar defendendo ladrões; sem que nossos opositores nos mandem para Cuba, o que aliás nunca foi má ideia – dizem que Cuba é linda! Uma conversa com menos rótulos, onde termos como bolivariano, venezuelação, lulopetismo, comunização fiquem fora do debate.

Agora, quem sabe, fique claro, que não existe combate à corrupção. Existe guerra contra o Partido dos Trabalhadores, por razões que não podemos especular, posto que vão desde bravatas sobre o tal “Fórum de São Paulo” à tentativa de transformar o Brasil numa Venezuela. Percorrem a trilha do quem roubou mais ou menos (quando se admite que antes se roubava). Aliás, sempre causou perplexidade ouvir que a “corrupção passou de todos os limites”, sem que alguém explique esse limite supostamente aceitável.

Quem sabe eu possa explicar que não sou filiado ao PT, que tenho severas críticas à sigla, ainda que de há muito tenha reconhecido na legenda a única força política organizada, capaz de enfrentar a cultura vira-lata e entreguista das supostas elites brasileiras. Aliás, uma elite que namora e financia forças políticas que saqueiam alguns estados brasileiros há décadas. A propósito, saques sem investigações, denúncias, cobertura da dita “grande mídia” -  que de grande só tem mesmo o poder de enganar, de manipular.

Dito isso, recorro ao mais alienado dos chavões políticos para dizer que, agora que sabemos “que é tudo farinha do mesmo saco”, quem sabe possa ser possível aprofundar o debate, sem fulanizar, sem partidarizar, sem reverberar o cinismo dos jornalões, dos panfletos políticos disfarçados de revistas ou das criminosas vozes difundidas por emissoras de rádio e televisão de significativa audiência.

“Vamos conversar?”

Permitam-me, pois, ser repetitivo nos bordões: bolivarismo, venezuelação, lulopetismo, comunização, nunca se roubou tanto, a corrupção passou dos limites.

Tudo bem. Ouvir ou ler isso de pessoas sem formação escolar, de pessoas sem educação doméstica, desapetrechada de educação formal qualquer é tolerável. Que tais chavões partam de políticos entreguistas oportunistas, armados para retomar as rédeas da Nação para por em prática seus projetos pessoais, também é incômodo, mas aceitável. Do mesmo modo, seria ou é suportável digerir a leitura distorcida dos veículos de comunicação, cujos donos vivem atrelados a interesses inconfessáveis. Do mesmo benefício gozam os jornalistas que se venderam por alguns dólares para fomentar a discórdia e disseminar ódio.

O que nos incomoda é quando esses chavões reverberam dentro da Polícia Federal, Ministério Público Federal, Justiça Federal, entre outros. Sejamos econômicos da lista. Causa perplexidade a precariedade de visão reinante em parte dos integrantes dessas instituições, pois além de não especificarem o limite da corrupção e ou violência, ficam a reverberar que tais anomalias “passaram dos limites”, reverberando às turras os chavões de políticos ladrões não investigados ou “não investigáveis” (blindados).

Costumo dizer que o Partido dos Trabalhadores ganhou eleições sem nunca ter chegado ao poder. Reservo-me a visão de que quem tem poder, pode. Ganhar o direito de gerir normas (escritas, não escritas, com “por foras” e ressalvas) preestabelecidas num país, sem poder nada transformar, não é poder. Portanto, o poder está nas mãos de quem sempre esteve. No caso, o capital nacional e estrangeiro que financiou a campanha do gestor de plantão. O resto é acreditar em capitalismo samaritano.

Nos doze anos de gestão petista, o partido não conseguiu fazer uma reforma tributária; não conseguiu fazer uma reforma política; não conseguiu fazer uma significativa reforma no ensino; não conseguiu tributar grandes fortunas; não conseguiu regulamentar de forma livre e democrática os pequenos veículos de comunicação – tratados vergonhosamente por “piratas”; não conseguiu fazer o básico que é a democratização dos meios de comunicação - no mínimo a exemplo das que existe nos Estados Unidos, Inglaterra, Dinamarca, Japão e até Argentina.

Pois bem. Como que um partido que não fez sequer isso, pode transformar, por decreto, o Brasil num país comunista? Como poderia transformar o Brasil numa Cuba ou Venezuela por simples decreto? Como poderia fazer isso, tendo instituições como o Exército, cujas escolas de formação são regidas por ideias medievais? Um simples exame dos currículos das Escolas Superiores de Guerra ou suas congêneres como Associações de Diplomados da Escola Superior de Guerra revela quão conservadores são seus princípios. Como poderia isso acontecer diante do poder de entidades igualmente medievais (até nos ritos) como as Lojas Maçônicas? Como fazer isso numa sociedade cuja “elite” não assimilou a Lei Áurea e reclama das migalhas capitais jogadas aos miseráveis? Sem contar com as entidades ligadas a entidades da indústria e do comércio... Também aqui, é conveniente encurtar a lista.

Entretanto, respeitadas as exceções, integrantes da Polícia Federal, Ministério Público, Justiça Federal repetem como qualquer ser precariamente informado o refrão “bolivariano”, termo aqui empregado como sinônimo dos demais “mantras da desinformação ou do golpismo”. No caso específico da Polícia Federal, exaustivas vezes ouviu-se falar do aparelhamento da instituição, sem que um único cargo expressivo fosse ocupado por qualquer petista até a presente data.

Na condição de operador do direito, certamente dos menos preparados, devo limitar-me a obviedades do gênero: “o atentado de 11 de setembro/2001 nos Estados Unidos mudou o mundo”. Mas, desde então, a indiferença para com os paraísos fiscais era gritante. Eram responsáveis não apenas pela guarda do dinheiro do tráfico, sonegação, contrabando, corrupção, mas também o dinheiro que financiava aquilo que os financiadores das mais sangrentas guerras do mundo chamam de terrorismo. E foi daí que a leitura mudou: hoje, até bancos da Suíça estariam notificando seus clientes “sem nome”, de que não têm mais interesse “nesse tipo de conta”. A recente lei de repatriação de capitais, sancionada pela Presidência da República fala por si.

Um pouco antes, sabe-se, em que pese criada em 1948, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi reformulada em 1961, tinha princípios rigorosos, mas queixou-se mais tarde de que, até 1998, apenas 14 países seus associados negavam a possibilidade de dedução de impostos relacionados ao suborno de autoridades em diversos países. Leia-se, suborno pago a países como o Brasil eram deduzidos do imposto de renda. A Alemanha, por exemplo, a duras penas, só interrompeu a prática em 1999.

Até onde se sabe, a Alemanha é grande parceira econômica do Brasil e tem aqui larga prática comercial. Sem alongar a lista, países como Suécia não permitia a dedução no imposto de renda, mas aceitava tais despesas desde que a corrupção fosse prática institucional no país. Enquanto isso, o Japão aceitava essas mesmas despesas, desde que figurassem como “gastos de viagens”. A rigor, o Brasil era, do ponto de vista econômico, atrelado a um bloco de países corruptores e isso era “consenso”, consentido, tolerado. Havia corruptores e não havia corruptos. E quem eram os governantes de até  então?

Aceitemos, pois, que os operadores do direito da PF, MPF e JF, ainda que ignorassem o jargão de que “a corrupção no Brasil é endêmica”, não tivessem conhecimento desse consenso global, nem conseguissem cruzar dados e constatar que comunismo não se faz por decreto. Por desconhecerem a realidade, por partidarismo (?), repetiam os mantras da ignorância e do oportunismo político. Pelo mesmo motivo, no caso especial a PF, alguns delegados sobem em palanques de manifestações para alardear a suposta corrupção inusitada. Outros passaram a usar as redes sociais para postagens agressivas contra a presidenta Dilma Rousseff. A propósito, o jornal O Estado de S. Paulo chegou a acusar delegados federais de fazer comitê eletrônico contra a então candidata.

Nessa trilha, sendo igualmente generoso, aceitemos que integrantes da PF, MPF e JF também desconheçam que os principais instrumentos de combate à corrupção, entre eles o Portal da Transparência e a Controladoria Geral da União foram criadas nos doze últimos anos.

O grande problema é aceitar que esses operadores do direito ignorem a autoria da Lei nº 12.850, (Colaboração Premiada, tratada pela mídia como “delação”), editada em 2013. Que além dessa norma, foram aprovadas as Leis 12.403/2011, 12.683/2012, 12.694/ 2012, 12.737/2012, 12.830/2013, 12.855/2013, 12.878/2013, 12.961/2014, Lei Complementar 144/2014, 13.047/ 2014. Tratam-se de normas  que deram outra dinâmica ao combate à corrupção e, de forma especial fortaleceram a PF, que teve até alguns “mimos”. Serve de exemplo o afago ao ego dos delegados federais, que por lei passaram a serem tratados por excelência. As policiais tiveram a aposentadoria reduzida e o comando da instituição tornou-se privativo do cargo de delegado federal.

Colocados esses pontos, tomando por referência os apregoados US$  100 milhões pró governo FHC, quem sabe dá pra conversar, sem que digam que estou defendendo a corrupção ou que sou comunista. De todo modo, que fique claro: quero passear em Cuba e visitar a Venezuela, pois segundo a Wikipédia, a terra do Chávez tem mulheres lindíssimas e já conquistou sete vezes o concurso de Miss Universo.

*Armando Rodrigues Coelho Neto é delegado aposentado da Policia Federal e jornalista
Do GGN

sábado, 2 de janeiro de 2016

Nova menção a Aécio na Lava Jato testa critério de Janot ou "não vem ao caso"

Bis de Aécio na Lava Jato testará critério de Janot.
Aécio e Janot

Nesta quarta-feira (30), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) apareceu pela segunda vez na Operação Lava Jato; na primeira, quando foi citado pelo doleiro Alberto Youssef como responsável pela montagem de um 'mensalão' em Furnas, durante o governo FHC, o procurador-geral Rodrigo Janot pediu o arquivamento do seu caso; agora, a denúncia é mais recente: um entregador de dinheiro de Youssef diz ter levado R$ 300 mil a um diretor da UTC, para que este depois repassasse a propina ao senador tucano, em 2013; agora, Janot, que prometeu bater "tanto em Chico como em Francisco", poderá pedir um segundo arquivamento ou terá a oportunidade de esclarecer o caso ouvindo o "Miranda da UTC", que mencionou o presidente nacional do PSDB,

Numa de suas delações premiadas, feitas em 2014, o doleiro Alberto Youssef, afirmou que seu padrinho na política, o ex-deputado José Janene, do PP, dividiu uma diretoria em Furnas com o senador Aécio Neves. Por meio dessa diretoria, ocupada pelo tucano Dimas Toledo, pagou-se, durante o governo FHC, um mensalão a diversos deputados federais.

Na delação, Youssef afirmou que ia constantemente a Bauru (SP) receber recursos da ordem de US$ 100 mil mensais em nome de Janene – o dinheiro era pago por meio da Bauruense, uma fornecedora de Furnas. Ele afirmou ainda que Aécio seria beneficiário desse esquema. As afirmações foram feitas tanto na delação (leiaaqui) como no Congresso (leia aqui).

Essa denúncia só veio a público quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu pediu o arquivamento da investigação relacionada a Aécio. Nela, Janot fez uma ressalva. Disse que o caso poderia ser reaberto se surgissem novas evidências relacionadas ao tucano.

Nesta quarta-feira, o nome de Aécio apareceu numa segunda delação. Desta vez, do maleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, que entregaria dinheiro em nome de Youssef. Rocha afirmou ter levado um pacote de R$ 300 mil para um diretor da empreiteira UTC no Rio de Janeiro, chamado de "Miranda", que teria como destinatário final o senador tucano.

Chico e Francisco

Diante da nova acusação, que Aécio diz ser "fantasiosa", o procurador Janot será pressionado por parlamentares governistas a reabrir o caso sobre o tucano. Até porque ele próprio sinalizou que seu lema, no comando do Ministério Público seria "pau que bate em Chico também bate em Francisco".

Um caminho óbvio e natural de investigação foi indicado pelo jornalista Fernando Brito, editor do Tijolaço. "Miranda, que é apontado pelo próprio Ministério Público como o responsável pelos “acertos” de propina com o PMDB na obra de Angra 3, seria, por óbvio, o próximo passo de qualquer investigação séria. Mas Miranda, ao que se saiba, não foi preso nem deixado mofar na cadeia até que entregasse os chamados 'agentes políticos', é claro", diz ele.

Ontem, em seu Facebook, Aécio postou a seguinte mensagem: “O que vai nos tirar dessa crise é a solidez das nossas instituições. O PSDB está ao lado da Justiça brasileira, do Ministério Público, da Polícia Federal e do Congresso Nacional, na defesa da democracia e do retorno da ética como instrumento de ação política”.

A bola, agora, está com Janot.

Do GGn

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Feliz Ano Novo a todos os brasileiros


Viara-se uma página abre-se outra, rogamos para que a hipocrisia dos homens que mandam no país sentados nas poltronas dos poderes constituídos e pagos pelo povo (Legislativo, parte do Executivo, Judiciário, MPF e a grande mídia irresponsável e gananciosa) permaneça apenas no registro na página virada. É querer demais num pais que isso virou cultura, Feliz Ano Novo. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

“Dilma não vai cair”, Diz Frei Beto

Frei Betto

Em entrevista ao jornalista Alex Solnik, do Brasil 247, o escritor best-seller Frei Betto afirma que, com a decisão de aceitar o pedido de impeachment, "Eduardo Cunha tentou chantagear o PT e quebrou a cara"; para ele, o processo de impedimento da presidente Dilma "não tem futuro"; apesar de tecer críticas aos governos petistas, de um dos quais participou diretamente, o religioso acredita que na mesa da Santa Ceia, "Lula é o Messias", "Dilma é a discípula que deveria ouvir mais o Mestre" e "Cunha é o Judas"; Frei Betto também disse que, apesar de o impeachment ser uma página virada, enquanto Cunha não for afastado da presidência da Câmara "a turbulência não cessará"

Por Alex Solnik, para o 247 - Escritor best-seller – "Fidel e a religião" vendeu mais de 3 milhões de exemplares em todo o mundo e foi o presente de Fidel ao Papa Francisco na visita a Cuba – Frei Betto poderia ter sido diretor de teatro ou político, mas preferiu, ao contrário de seus conterrâneos Betinho e Henfil que também como ele ingressaram na JEC –Juventude de Esquerda Católica – continuar cumprindo os votos de pobreza e de castidade exigidos por sua Ordem, a dos Dominicanos. Nunca se arrependeu, ao contrário, como revela nessa entrevista exclusiva a 247. Apesar de tecer críticas aos governos petistas, de um dos quais participou diretamente, ele acredita que na mesa da Santa Ceia, "Lula é o Messias", "Dilma é a discípula que deveria ouvir mais o Mestre" e "Cunha é o Judas". Ele também disse que, apesar de o impeachment ser uma página virada, enquanto Cunha não for afastado da presidência da Câmara dos Deputados "a turbulência não cessará". Frei Betto afirmou também que tanto o Papa Francisco quanto Jesus "são de esquerda".

O que achou da decisão de Cunha de deflagrar o impeachment?
Eduardo Cunha tentou chantagear o PT e quebrou a cara. Acredito que o processo de impeachment a Dilma não tem futuro. Impeachment é mero revanchismo de quem não assume a derrota.

O que diz a tua bola de cristal sobre os próximos dias?
Acho que haverá manifestações pró e contra o impeachment. Já o Eduardo Cunha, que só tem apoio de quem tem rabo preso com ele, vai dançar. Mas enquanto ele não for afastado da presidência da Câmara dos Deputados haverá turbulência.

Na Santa Ceia, quem seriam Dilma, Lula, Michel Temer, Cunha, Renan Calheiros?
Lula ainda é o Messias que, na esperança de muitos, poderia salvar o Brasil do retrocesso, e promover a partilha do pão e do vinho, da comida e da bebida. Dilma, a discípula que deveria dar ouvidos ao Mestre. Temer, o apóstolo que aguarda pacientemente a oportunidade de ocupar o lugar do Mestre. Renan, o discípulo que ora fica ao lado do Mestre, ora de Caifás. E Cunha, o Judas, que se vendeu por 30 dinheiros...

Por que e como Cunha se aguenta no poder apesar de ser o Judas?
Porque muitos deputados e senadores têm o rabo preso nas mãos dele.

Havia luta pelo poder entre os discípulos de Cristo?
Basta ler a Carta dos Gálatas, do apóstolo Paulo, para constatar a disputa pelo poder entre ele e Pedro. Onde há poder sempre haverá disputa.

Como era a disputa entre Pedro e Paulo?
Paulo acusou Pedro, na Carta aos Gálatas, de ser cínico, comportar-se como judeu, embora fosse discípulo de Jesus, e ainda discriminar os pagãos. Para Paulo, judeu que passara a ser cristão não tinha mais que observar os preceitos judaicos.

Que analogia pode ser feita entre o momento político brasileiro e o Natal?
Natal significa nascimento e o momento político brasileiro é fúnebre, de morte de um modelo desenvolvimentista-consumista que chegou ao seu limite.

Então é o caso de trocar o ministro da Fazenda?
Não adianta mudar o ministro da Fazenda se não for modificado o projeto político rentista, mais voltado ao mercado externo do que ao interno, dependente de investimentos externos. O Brasil só renascerá, e viverá seu novo Natal, se promover reformas estruturais profundas, como a agrária e a tributária, priorizando o mercado interno e a redução das desigualdades sociais.

Que presente o Papai Noel deveria dar para Dilma?
A ousadia de fazer o que Evo Morales fez na Bolívia: priorizar, em seu arco de alianças, os movimentos sociais – raiz e razão de ser do PT.

De que forma o governo Dilma poderá chegar a 2018?
Como um carro atolado em suas próprias contradições. Quais são as contradições do governo Dilma? Como ela é vista nos movimentos populares?
Dilma não mantém diálogo permanente com nenhum setor da sociedade brasileira, nem com os movimentos sociais, nem com o Congresso. Parece ter terceirizado a política para o PMDB e a economia em mãos de Joaquim Levy. Os movimentos sociais são críticos ao governo dela, sobretudo devido ao ajuste fiscal que penaliza principalmente os mais pobres.

Você vê semelhança entre o momento atual e algum outro da história recente do Brasil?
Sim, após o fracassado governo Sarney, quando o país entrou em crise aguda, com recessão e inflação altíssima, e o poder foi disputado por Collor, Lula e Brizola.

Lula é o novo Getúlio ou o novo Fidel?
Ele tem, dos dois, o talento oratório, a capacidade de argumentar, o carisma de empatia com o povão, e a opção preferencial por políticas sociais.

Você continua próximo a Lula, conversa com ele ou está afastado?
Continuamos amigos. Tivemos uma boa e longa conversa no Instituto Lula dia 23 de julho. E sobre isso não falo.

Acredita que Lula fez tudo certo no governo e sofre campanha moralista ou tem alguma culpa no cartório?
Os governos Lula foram os melhores de nossa história republicana. Os que mais tiraram pessoas da miséria e da fome. No entanto, cometeram muitos equívocos que aponto em dois livros sobre o período, ambos da editora Rocco: "A mosca azul - reflexão sobre o poder" e "Calendário do poder", meu diário de dois anos de Planalto (2003-2004).

Quais foram os equívocos dos governos Lula?
Entre muitos acertos, os governos Lula cometeram os equívocos de facilitar à população acesso aos bens pessoais (linha branca, carro, crédito etc) e não aos bens sociais (educação, saúde, segurança, transporte, saneamento etc); não complementaram a inclusão econômica com a política; não fortaleceram o protagonismo dos movimentos sociais e da imprensa alternativa.

O fato de ele ter ganho muito dinheiro o desqualifica como interlocutor do povo brasileiro ou não muda nada?
Ganhou honestamente, e isso não é ilegal nem é pecado. Os acusadores que apresentem o ônus das provas.

Muita gente acha que Lula e FHC deveriam fumar o cachimbo da paz para pacificar petistas e tucanos pois a agitação política provoca a instabilidade econômica. Você concorda?
Não. A crise brasileira não se resolve com diálogo entre caciques. O diálogo deve ser entre Dilma e movimentos sociais, que estão na origem do PT e garantiram a vitória dela em 2014. Mas ela prefere dialogar com o Congresso, aquela casa na qual Lula denunciou "300 picaretas"...

Você conversou muito com Fidel, o que ele pensa sobre o Brasil, sobre Lula, sobre Fernando Henrique?
Ele é um gênio da política. Por isso, apenas faz perguntas. E nunca manifesta o que pensa quando há o risco de afetar suas relações políticas.

Que perguntas ele te fez?
Não trato publicamente de conversas pessoais.

Você conhece bem Fidel e Lula. Quais são as semelhanças entre os dois?
Eu acho que os dois são pessoas carismáticas. Os dois têm uma relação cordial com as pessoas. Não são racionalistas, raciocinam mais com o coração que com a cabeça. São pessoas afetuosas no contato pessoal, é isso que cativa muita gente. Fidel é uma pessoa que sabe escutar. Ele jamais encontra alguém para conversar por dez minutos. Por isso ele não dá audiência para ninguém. Ele é que escolhe com quem vai conversar e no mínimo ele fica uma hora com a pessoa. E Lula é um pouco assim também. É alguém que, você conversando com ele, fica amigo de infância dele em cinco minutos. Tem essa coisa afetuosa sem prepotência, sem achar que é o dono da verdade.

O que acha da participação cada vez maior dos evangélicos na política? É legítima?
Qualquer participação é legítima, desde que não queira impor ao conjunto da sociedade valores e preceitos que são próprios de um determinado segmento religioso. Isso é fundamentalismo. Evangélicos e católicos, entre os quais me incluo, precisam passar da fé em Jesus para a fé de Jesus!

Me explica uma coisa como é possível haver tantas demonstrações de ódio entre petistas e não-petistas como vemos principalmente na internet se o Brasil é um país muito religioso e as religiões pregam o amor e não o ódio?
Uma coisa é crer, outra, viver o que se crê. Não esqueça que as maiores atrocidades da história foram cometidas por países predominantemente cristãos - Inquisição, nazismo, colonialismo, bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, duas grandes guerras etc. E essa gente "religiosa" não presta atenção no que Shakespeare disse magistralmente: "O ódio é um veneno que você toma esperando que o outro morra."

Durante a ditadura os artistas e a sociedade civil estavam unidos na luta por eleições diretas. Por que agora os artistas estão desunidos? Ou silenciosos em relação às tentativas de derrubar a presidente?
Em geral, os artistas são inteligentes. E sabem que Dilma não vai cair.

Por que você nunca quis ser deputado ou senador?
Porque não tenho vocação para funções políticas institucionais. Sou um feliz ING - Indivíduo Não Governamental.

Você recebeu algum retorno do papa depois que ele ganhou do Fidel um exemplar de "Fidel e a religião"?
Não. Uma nova edição brasileira do livro sairá em 2016 pela Companhia das Letras.

Há papas "de direita" e "de esquerda"? O atual é de direita ou de esquerda?
Se ser de esquerda é indignar-se com a desigualdade social, Francisco é de esquerda. Graças a Deus!

Numa licença poética poderíamos dizer que Deus é de esquerda?
Jesus sim, sem dúvida. E por isso morreu como prisioneiro político: preso, torturado, julgado por dois poderes políticos e condenado à pena de morte dos romanos, a cruz.

O principal problema da Igreja Católica é a pedofilia como diz a mídia?
Não, embora seja um grave problema, que deve ser rigorosamente coibido e punido. O principal problema é o clericalismo, padres e bispos convencidos de que suas funções os promovem acima do comum dos mortais, e não terem a mesma sensibilidade de Jesus diante da miséria e da opressão.

Você é um padre?
Não, eu sou um religioso. Veja bem: nos dominicanos você tem os frades que se ordenam sacerdotes e continuam sendo chamados de frei e tem os frades que são só religiosos, que têm os votos, mas não são ordenados. Eu não posso celebrar missa. Por opção. Mas eu sou um pregador, um evangelizador, um homem da palavra. Eu tenho voto de pobreza e voto de castidade.

É melhor viver sem mulher?
Olha, é difícil dizer isso, mas partindo da minha experiência, eu te falo sinceramente: eu não tenho saudade da família que não constituí... Eu não generalizo isso, nem quero estabelecer comparações, mas, a vida religiosa, a minha vida celibatária me dá uma liberdade muito grande! E eu me sinto muito amado. Sabe, na vida, a questão é afeto. Então, isso realmente me dá uma saúde e uma felicidade muito grande. Além do que, eu não vivo mergulhado numa cultura nem de pornografia nem de erotismo, então, essa questão, também, eu acho que tem muito a ver com qual é o meu alimento interior. E uma das coisas que além de escrever... as duas coisas que eu mais gosto de fazer são: escrever e orar. Não posso passar um dia sem pelo menos meia hora de meditação. Porque é como se eu pulasse o almoço, pulasse o café da manhã, deixasse de tomar banho naquele dia.

Você nunca teve mulher?
Não, eu namorei quando era adolescente...

Antes dos votos? Com quantos anos você fez voto de castidade?
Eu fiz com 20 anos...
Quer dizer: não é que você não tenha tido experiência sexual... você teve, antes dos votos...
Ah, tive namoradas... como adolescente comum que viveu em Belo Horizonte, depois no Rio...

Mas você nunca namorou pensando em se casar?
Não.

Por que? Não te atraía o sexo?
Aos 16 anos já começou a me inquietar essa coisa da vocação. Eu achava que Deus queria isso, que meu projeto no mundo era esse, por causa do contato que a gente tinha com os dominicanos. Eu era da JEC-Juventude de Esquerda Católica. Betinho também... o Henriquinho, que depois virou o Henfil. Muitos entraram para o convento. Muitos saíram depois. Mas toda uma geração da JEC resolveu ser frade dominicano empolgado pelo estilo de vida, pela cabeça. Eu entrei para sair, não entrei para ficar. Eu não queria chegar aos 40 anos falando: pô, acho que Deus queria que eu fosse padre, mas eu não tive coragem. Falei: então vou entrar, porque aí eu tiro a limpo. E me empolguei, me encontrei, sou feliz. A única crise de vocação que eu tive foi quando eu trabalhei no Teatro Oficina – fui assistente de direção do Zé Celso no Rei da Vela... Disso sim, tenho saudades. Foi um período de muita efervescência cultural e criatividade. Não sei como conseguia dormir em 1967: aulas de filosofia pela manhã, repórter da Folha da Tarde no período vespertino, Teatro Oficina em seguida e, em meio a tudo isso, subversão via ALN de Marighella... O "Rei da Vela" é um marco histórico no teatro brasileiro e criou o tropicalismo. Foi um privilégio viver a empolgação pelo espetáculo. E fiquei muito tentado em me tornar diretor de teatro.

Mas aquilo era uma esbórnia! Por isso você saiu...
Não, não foi pela esbórnia. O pessoal até brincava muito comigo. Mas era muito mais sadio do que aparentava. Mas o que aconteceu é que eu descobri que tinha vocação para diretor de teatro. E aí eu vi que era incompatível. Os dominicanos procuram ao máximo viver do seu trabalho. Não temos fazenda, gráfica, prédios alugados. Outras congregações e ordens têm, nós não temos. Por opção. Vivemos do próprio trabalho. E eu sempre vivi do jornalismo e da literatura. Isso é compatível. Mas o teatro não é: o teatro é um sacerdócio...
Ahhh....

A dedicação é total. Durante cinco meses, é dia e noite...naquilo... você não pode pensar em outra coisa. Zé Celso foi meu mestre, mas muitas vezes ele deixava nas minhas mãos o trabalho com os atores. E eu descobri que tinha muita facilidade para aquilo.
No teatro certamente você não iria cumprir o voto de castidade...
Eu não sei...

O apelo seria muito forte...
Eu não sei... mas não é uma questão relevante, realmente não é. Eu me lembro que o Narciso Kalili, da Realidade veio fazer uma matéria aqui. Ele era completamente agnóstico. "Vou ficar 15 dias aqui dentro junto com vocês vivendo como vocês". No terceiro dia, ele andava para um lado e para o outro. Eu perguntei: o que que está havendo? "Ô, cara, eu estou pirado! Não tenho dormido. Porque não é possível que vocês vivam felizes! Eu pensei que ia encontrar gente pulando o muro de madrugada, mulheres... vocês conseguem ser felizes assim?!" Foi preciso Roberto Freire, que também era da Realidade e psicanalista, dar um apoio clínico para o Narciso porque ele estava pirado, literalmente pirado.

Mas você não sente atração sexual?
Claro que sinto, é normal, como qualquer ser humano. Padre não é assexuado.

E o que você faz nessa hora?
Eu canalizo para Deus...
Tem mulheres que assediam você?
Isso tem, é comum. Aconteceu uma vez mais forte, mas não foi tão difícil escapar porque ela era muito feia.

Mas teve alguma mulher que literalmente atacou você sexualmente?
Não, assim também não. O que é mais comum, o que tem mais são mulheres que tentam se aproximar para tomar conta de mim. Mas eu prezo muito a minha liberdade.

Você concorda com o celibato na igreja?
A minha posição é muito clara: eu acho que o celibato deve acabar na igreja como medida obrigatória. Então você terá aqueles que têm vocação, continuarão celibatários, como na igreja primitiva e aqueles que são casados, e são ordenados sacerdotes, como os pastores da igreja evangélica. Além do que, eu também defendo a ordenação de mulheres. Solteiras e casadas. Eu acho que não há nenhum fundamento teológico, bíblico, que impeça isso. Se Jesus não teve uma apóstola, foi pela mesma razão que ele não condenou a energia nuclear. Seria uma extrapolação total da cultura em que ele vivia. Mas Pedro era casado. Tanto que Jesus curou a sogra de Pedro. Se Pedro gostou ou não, não sei, não vou entrar nesses detalhes da intimidade dele. Mas se Jesus curou a sogra de Pedro é porque Pedro era casado. E Jesus não só o escolheu como apóstolo como o escolheu como líder do grupo. Ou seja: preconceito em relação ao sacerdócio do homem casado Jesus certamente não tinha.

Se houvesse essa opção, você se casaria?
Não, eu continuaria na minha. Continuaria porque a essa altura da vida...
Mas pode namorar. Não precisa casar...
Não... não...Já esquento a cabeça com muita coisa. A gente se mete muito - no bom sentido - a gente se envolve muito na vida das pessoas... família... amigos... separações...Eu falo para o meu irmão, que é psicanalista: a diferença entre nós dois é que você marca hora e eu não; você cobra, e eu não. Você não sabe os dramas que eu ouço aqui nessa sala.

De tanto ouvir esses dramas, você preferiu o celibato...
É a minha opção. Tem uma coisa muito clara para mim: a minha luta, hoje, é por ter mais tempo para me dedicar à literatura. E a literatura é um ato solitário. Eu me sinto muito feliz quando chegam aqueles dias que eu tiro só para escrever. Então, vou para o sítio de um amigo, fico rezando, faço minha ginástica, leio, escrevo, sou dono do horário, eu mesmo cozinho, eu não sou um gourmet, sou um "gourmãe"...Minha mãe, Maria Stella Libânio Christo é a maior especialista em culinária mineira. E eu herdei essa vocação, tenho um livro de culinária – Comer como frade, divinas receitas para quem sabe porque temos o céu na boca... O que eu queria da vida, a vida me deu...

Você nunca quis ter filho?
Não, nunca quis ter filho, nunca quis ter poder, nunca quis ter mandato, nunca quis ter dinheiro. A maior tentação não é a tentação do sexo, nem do dinheiro; é a tentação do poder. Realmente, não quis, porque tive várias oportunidades de ter tudo isso, mas não tenho a menor veleidade...

E não se arrepende?
Nem me arrependo. Pelo contrário: me regozijo por ter dito não a situações que me teriam levado a poder, a dinheiro, não sei o que. Agradeço a Deus por ter dito não a essas situações.

Você acha que dinheiro dá confusão?
Não é confusão. Eu vejo muitos amigos que são escravos dessa coisa de dinheiro. Vira uma bola de neve. O cara tem dinheiro, aí já quer fazer uma casa na praia, tem que manter a casa e tem que ter um outro carro, sabe, começa um negócio de que o cara tem que estar num certo padrão de vida e se reduz ele fica humilhado, se sente mal. Eu não quero que bens materiais determinem a oscilação do meu estado de humor, meu temperamento, meu estado psíquico. Eu tenho o meu Golzinho que ao mesmo tempo serve à comunidade, eu estou muito feliz, preciso de muito pouco para viver, às vezes com o dinheiro que eu ganho de palestras e direitos autorais eu ajudo os movimentos pastorais que eu acompanho...

Agora, como é que você, um religioso, amante da paz, um cara preocupado em ajudar, foi se envolver na luta armada em 1968?
Naquele momento nós achávamos que não havia outra forma de luta, de resistência, todos os meios pacíficos estavam esgotados. E há um princípio na teologia, um princípio medieval nosso do confrade Tomás de Aquino. Chama-se Princípio do Tiranicídio. São Tomás diz o seguinte: em caso do tirano que oprime o povo causando a morte de muitas pessoas se a morte desse tirano significar o bem do povo é legitimo esse combate. Com base nesse princípio, nós colaboramos – nunca pegamos em armas, mas colaboramos – com a ALN, a VPR, a VAR-Palmares, com uma série de organizações, com o Partidão, muito, com a Ação Popular. Eles se abrigavam aqui no convento...

O convento foi invadido pelo Exército?
Foi invadido na nossa prisão. Eu fui preso no Rio Grande do Sul, depois de passar pela fronteira 11 militantes ligados ao Marighela, inclusive o braço-direito dele, Joaquim Câmara Ferreira, que foi quem teve a ideia de sequestrar o embaixador americano. Mas quando prenderam Ivo e Fernando invadiram o convento aqui e prenderam vários frades. Então, esse era o princípio de que era um recurso legal e teologicamente aceito pela igreja até hoje. Mas veja bem: eu sou contra o terrorismo em qualquer circunstância. Mesmo que seja praticado pela esquerda. Por uma razão simples: o terrorismo nunca favoreceu a causa dos pobres. Sempre favorece a extrema-direita. Sempre é um prato cheio para justificar o terrorismo de extrema-direita.

Você conheceu bem Marighela? Você acha que ele seria o líder se a luta armada tivesse vencido?
Prefiro não raciocinar sobre hipóteses, sobretudo hipóteses "achistas". Sim, conheci Marighella e o tenho na conta de um dos principais heróis brasileiros, que entregou sua vida para que tivessem uma nação mais livre e justa. Os detalhes de minha relação com ele estão em meu livro "Batismo de Sangue" (Rocco).

Os superiores de vocês sabiam que vocês estavam escondendo o pessoal da luta armada? Vocês esconderam só eles ou armas também?
Nunca pegamos em armas. Sim, conforme descrevo no meu livro "Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco) e em "Batismo de Sangue", nossos superiores sabiam de nossa participação na resistência à ditadura militar.

Como foi a história da morte do Marighela? Ele ia se encontrar com algum frade? É verdade que quem deu a pista para a polícia foi um dos frades presos?
Todos os detalhes estão em "Batismo de Sangue" e no livro de biografia de Mario Magalhâes, "Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo" (Companhia das Letras). Nenhum frade foi responsável pela cilada na qual Marighella foi assassinado pela polícia.

Você estava preparado para ser preso? Para resistir à tortura? Quanto tempo você foi torturado?
Ninguém está preparado para ser preso e muito menos torturado. Fui torturado em minha primeira prisao, no CENIMAR, no Rio, em junho de 1964. Em 1969, ao see preso pela segunda vez após 7 dias foragido, me livrei da tortura graças à intervenção de um tio general.

Como foi o fim do Frei Tito?
Devido às torturas que sofreu, foi levado ao suicídio em agosto de 1974, quando se encontrava exilado na França. Os detalhes estão em "Batismo de Sangue" e na biografia dele, "Um homem torturado - nos passos de frei Tito de Alencar Lima", de Leneide Duarte (Civilização Brasileira).

O que vai acontecer com a vitória de Macri na Argentina? Podemos prever turbulências na América Latina?
Temo ser o começo do fim da fase de governos progressistas na América Latina. Agora Brasil e Venezuela estão no alvo dos neoliberais. Os governos progressistas, com todos os avanços, como a redução da miséria, e conquistas, como integração continental, cometeram o erro de não complementar a inclusão econômica que propiciaram com a inclusão política. Formaram consumistas e não protagonistas políticos.


Do Brasil 247

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O mito de polícia independente

O mito dos pretorianos independentes, por André Araújo (título original)
Imagem de ilustração

O Ministro da Justiça na capa da revista IstoÉ desta semana disse que a lei é igual para todos. Como ao que se saiba ninguém disse o contrário, sua fala é uma fuga de um problema real maior de controle republicano da Polícia Federal, acusação esta que é verdadeira crítica que a ele se faz. A que se refere?

Polícias são braços do governo, na ordem democrática são um ramo do Poder Executivo. Não são um poder e nem independente. A tarefa de Polícia é uma das principais de um governo. Mas e a independência? Esta existe na administração operacional do dia a dia da instituição, como se faz em qualquer órgão importante do Estado, na gestão dos processos e tarefas mas não da macro direção desse orgão tão importante.

O Federal Bureau of Investigations, o FBI, criado em 1908, é um oraganismo diretamente ligado à Administração, seu diretor é nomeado diretamente pelo Presidente da República apesar de estar no organograma do Departamento de Justiça. O diretor até 2003 tinha obrigação de fazer um relatório semanal ao Presidente, depois da Homeland Security Act se reporta ao Diretor Nacional de Inteligência da Casa Branca, seria inconcebível uma operação de caráter político decidida sem consulta ao poder hierarquicamente superior.

Na França a Sureté Nationale, equivalente à nossa Polícia Federal, com 145 mil homens, é uma dependência do Ministério da Justiça. Na Alemanha, a Bundes Polizei, literalmente Polícia Federal, com 30.000 homens fardados e 10.000 civis tem a mesma estrutura hierárquica, com ligeiras diferenças, por exempo na Alemanha os Estados tem cada qual sua polícia judiciário, como acontece no Brasil, ficando a Bundes Polizei com atarefas de alcance nacional, muito similar ao Brasil.

 Todas as Polícias de jurisdição nacional costumam ser estritamente controladas pelo Poder Central.
O controle se dá pela mesma razão que o Poder Central controla as Forças Armadas, se dá especialmente pelo estabelecimento das prioridades, do orçamento, da doutrina, da nomeação dos principais comandantes.

Essa é tarefa do Ministro da Justiça no Brasil, nada tem a ver com a "Lei é para todos" mas o controle também é para todos, não há poder independente numa democracia, todos são mutuamente controlados um pelo outro e dentro de cada poder há uma hierarquia piramidal de controle onde a responsabilidade final é do Ministro da área ou do Chefe de Governo.

Na História uma polícia independente, em qualquer regime, é algo extremamente arriscado. Napoleão dizia que sem o controle da polícia seu governo cairia em um dia. Joseph Fouché, seu chefe de polícia, reportava-se a ele quase que diariamente e a polícia napoleonica foi a primeira moderna, com mais de 100.000 fichas de cidadãos.

Recuando no tempo histórico, a Castra Praetoria, a Guarda Pretoriana romana, criada por Lucius Aecius Sejanus em 14 depois de Cristo, sobre uma estrutura anterior menos ostensiva, mostra o desdobramento de uma polícia se envolvendo cada vez mais na política para se tornar um poder independente e incontrolado. Quando o Imperador Tibério se retirou para Capri no ano 20, Sejanus tornou o poder de fato, a tal ponto que o Senato prendou-o no ano 31 por abuso de poder e o condenou a morte por estrangulamento mas a Guarda se manteve com novos comandantes. Em 41 assassinou o Imperador Calígula e em 69 o Imperador Galba. Sucedido por Otho, todos temiam a Guarda. Vitélio nomeou seu próprio filho Titus como Prefeito da Guarda para se garantir. Em 193 após a Guarda assassinar Pertinax, Didius Julianus comprou  o trono do Império por alta soma, o trono foi colocado em leilão pela Guarda que passou a ser o poder de fato por longo período.

O exemplo de Roma de certa forma se deu no FBI. Seu diretor legendario J.Edgar Hoover passou a representar um perigo para a própria Presidência. Hoover tinha dossiês inclusive sobre Roosevelt, seu fanatismo anti-comunista mirava a maioria dos auxiliares de Roosevelt que eram de esquerda. Quando Hoover morreu a Presidência tratou de nunca mais deixar solto o FBI, estipulando severas regras de controle pela Presidência, incluindo também supervisão pelo Senado.

No geral, no caso do FBI, da Suretê, da BundesPolizei , qualquer operação que tenha repercussão politica séria ou do mesmo modo, que interfira no ambiente econômico SÓ pode ser tomada após liberação pela autoridade superior, que faz o julgamento da pertinencia da operação. Da mesma forma é inadmissível vazamentos de qualquer tipo, escracho com TV junto com a equipe, modus operandi com aparato excessivo, exibição de poder e excessos em geral. A operação do FBI que prendeu dirigentes da FIFA foi um exemplo, nenhuma imagem dos presos, antes, durante ou depois das prisões, nenhum vazamento de informações, escracho zero.

Este Governo já perdeu inteiramente o controle, um futuro governo não governará com esse caos institucional inventado pelo  Ministro Márcio Thomas Bastos porque antes de 2003 nunca foi assim desde que fundada a atual PF, em 1944, com o nome de Departamento Federal de Segurança Publica sempre foi um órgão do poder central.

Quanto a Lei ser para todos não há dúvida nenhuma, nem para helicópteros transportando cargas pesadas de drogas.

Do GGN

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Justiça manda prender ex-Secretário de Roseana Sarney na Lava Jato, confira

João Abreu, sob suspeita de receber propina de R$ 3 milhões, já é dado como foragido pela polícia do Maranhão; doleiro Alberto Youssef também é investigado. João Abre era chefe da Casa Civil do governo Roseana Sarney.

Roseana Sarney, foto de Márcio Fernandes/Estadão

A Justiça do Maranhão decretou nesta quinta-feira, 24, a prisão preventiva e bloqueio de bens no valor de R$ 3 milhões do ex-secretário estadual da Casa Civil no governo Roseana Sarney João Abreu. Segundo o delegado-geral de polícia do Maranhão, Augusto Barros, Abreu foi procurado em todos seus endereços conhecidos mas não foi localizado. “Ele está oficialmente na condição de foragido”, disse o delegado.

Abreu é suspeito de ter recebido R$ 3 milhões em propinas para garantir que o governo maranhense pagaria um precatório de R$ 134 milhões à empresa Constran-UTC. O pagamento teria sido intermediado pelo doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato. As investigações do caso começaram na sede da Força-Tarefa da Lava Jato, em Curitiba, mas a defesa recorreu e conseguiu que o caso fosse encaminhado para a Justiça estadual no Maranhão.

O ex-secretário responde a inquérito ao lado do doleiro Alberto Youssef, Rafael Ângulo Lopes e Adarico Negromonte Filho, suspeitos de operar os pagamentos e o corretor Marco Antonio Ziegert, o Marcão, suposto elo entre Yousseff e o governo do Maranhão.

O indiciamento se baseia em depoimentos e delações premiadas colhidas pela Lava Jato e testemunhos da contadora de Youssef, Meire Poza, e do sócio do doleiro no laboratório Labogen, Leonardo Meirelles, feitas pela própria Polícia Civil do Maranhão.

Segundo os depoimentos, Negromonte e Ângulo fizeram ao menos três viagens a São Luís a mando de Yousseff nas quais levaram a propina em dinheiro vivo escondido no próprio corpo mas, de acordo com a Polícia Civil maranhense, o secretário reclamou da falta de R$ 1 milhão no montante da propina. Isso teria levado o próprio Youssef a ir até São Luís para resolver pessoalmente o problema.

Youssef foi preso em um hotel de luxo na capital maranhense no dia 17 de março de 2014. A prisão desencadeou a Lava Jato. De acordo com a Polícia Civil, enquanto Yousseff era preso Marcão saiu do hotel com a propina que seria entregue a integrantes do governo.

“Na oportunidade da prisão de Youssef, Marcão não teria sido abordado pela Polícia Federal, embora estivesse no mesmo hotel, e conseguiu efetivamente levar o dinheiro da propina para membros do governo”, diz o relatório.

Em março deste ano, diante das revelações feitas pela Lava Jato, a juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública do Maranhão, Luiza Nepomucena, desobrigou o governo a pagar as parcelas restantes do precatório. Na mesma época a Constran rescindiu o acordo feito com a administração Roseana para quitação da dívida.

O governador do Maranhão, Flavio Dino (PC do B), que sucedeu Roseana no Palácio dos Leões, determinou a criação de uma comissão para apurar o caso.

O advogado de João Abreu, Carlos Seabra, foi procurado por telefone mas disse que não podia atender à ligação e retornaria em seguida. No ato do indiciamento ele negou veementemente que seu cliente tenha recebido propina.

Do Estadão