segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A INSTIGANTE HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO EM MINAS GERAIS, EM BRASILIANAS

É instigante o processo de desenvolvimento de Minas Gerais. Dispondo de matéria prima abundante, material humano, sendo precursora dos programas de desenvolvimento no país, Minas Gerais acabou ficando para trás no processo de industrialização. 
Nos últimos anos Minas exportou 1,6 milhão de pessoas formadas para São Paulo e outros estados, e recebeu apenas 600 mil, enquanto São Paulo recebeu 9 milhões de todo o país e cedeu apenas 800 mil. Tornou-se fundamentalmente um Estado produtor de commodities, profundamente afetado pela Lei Kandir. 
Depois de perder o bonde da industrialização, e das vantagens competitivas decorrentes do adensamento da cadeia industrial, como montar um projeto de desenvolvimento valendo-se das novas tecnologias? 
Este foi o desafio principal do seminário “As empresas públicas na promoção do desenvolvimento regional”, uma parceria da Plataforma Brasilianas com a Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais). 
O pioneirismo que não deu certo 
Como relatou o economista e historiador João Antônio de Paula – um dos palestrantes- , os Inconfidentes tinham um projeto. Propunham a construção de universidades, a mudança da capital, correio regular, sistema de comunicação entre as vilas. Discutia-se até a escravidão. A idéia era de um Estado com papel econômico relevante. 
Ao longo do século 19, essa precocidade se mantem com Teofilo Ottoni. Empresário, grande liberal, preso em 1842, se insurgiu contra a centralização do Segundo Reinado. Construiu a cidade de Nova Filadélfia, que depois se tornou Teófilo Ottoni, com projetos de ferrovia, canais, multimodal. Extremamente avançado para a época, se baseava no modelo norte-americano de federalismo, ao contrário da visão hispânica hegemônica. 
No final do século 19, outra figura fundamental foi João Pinheiro, dos mais relevantes personagens da história política do Brasil. Torna-se a principal liderança civil em Minas Gerais e teria sido o primeiro governador pós-República, não fossem as circunstâncias políticas da época. Mas foi o segundo governador de Minas, presidente do Congresso Agrícola-Industrial Mineiro de 1906, precursor dos projetos de desenvolvimento em políticas públicas, reunindo classes de produtores e empresariado mineiro, que formularam série de demandas de desenvolvimento. 
Morreu precocemente em 1908, aos 47 anos, quando era candidato certo à presidência da República. Poderia ter sido o mais inovador presidente na República Velha. 
Em 1906 inaugurou a reforma do ensino, precursora de uma inovação decisiva, com a criação dos grupos escolares, currículos estruturados, seriado, com professores qualificados. Essas sementes vão frutificar a partir dos anos 30, período típico do desenvolvimentismo, como espécie de ideologia do desenvolvimento. 
Minas foi o único Estado pós-1930 sem intervenção federal. O primeiro governador, Olegário Maciel montou um time que juntava Gustavo Capanema, Benedito Valadares. Morreu precocemente em 1933 e Getúlio Vargas indicou Benedito Valadares para sucessor. 
Ao contrário das lendas, Valadares foi um governador extremamente atuante e inovador. Escolheu para a Secretaria da Agricultura (que incluía indústria, comércio e trabalho) Israel Pinheiro que, de 1933 a 1942, fez uma gestão bastante profícua. 
Israel deixou a Secretaria para se tornar presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Em seu lugar assumiu Lucas Lopes, primeiro presidente da Cemig. Em 1944 ele criou o Instituto de Tecnologia Industrial, modelar, trabalhando com inovação tecnológica e formação de pessoal. Seu Secretário da Agricultura, América Gianetti, que depois se tornou prefeito de Belo Horizonte, em 1947 montou o primeiro plano de desenvolvimento regional do Brasil. Propôs novos impostos para custear investimento. Desse esforço sai um conjunto de companhias, entre as quais a Cemig, que ajudam a tornar o governo Juscelino Kubitschek (1951 - 1955) um dos mais inovadores do país. 
Com a queda de Getúlio, o udenista Milton Campos se tornou governador, mas manteve o olhar no futuro. No seu governo foi lançado o plano de eletrificação de Minas Gerais, coordenado por Lucas Lopes e entregue em 1950. 
JK se elegeu com o binômio energia-transporte, reorganiza o Departamento de Estradas e Rodagens e impulsiona as grandes empresas de engenharia nacionais. Em seu governo apareceu pela primeira vez a ideia de criação de um banco de desenvolvimento, o BDMG, funcionando de acordo com o modelo BNDES. 
Nas décadas seguintes, Minas inova com a criação do INDI (Instituto Integrado de Desenvolvimento Econômico), o esforço interno que permitiu a atração da Fiat, a expansão da Usiminas. 
Porque a industrialização não se espalhou por Minas? 
Na opinião de Marco Antônio Castello Branco, presidente da CODEMIG (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), ao longo de sua história Minas produziu áreas de excelência, mas atuando de forma desarticulada.  
Na definição de um dos estudiosos do fenômeno mineiro, Virgílio Almeida, Minas produz muitos cérebros, mas é zero em sinapses – a capacidade das células do cérebro interagirem com o corpo. 
Há problemas culturais, no conservadorismo do mineiro, muito fechado em seu canto. Há problemas na própria formação econômica do Estado, especialmente com a perda dos principais bancos para São Paulo. Todo o capital financeiro foi para São Paulo e as regras de aplicação do Banco Central permitem que os bancos possam captar de todo o país e concentrem seus empréstimos em São Paulo. 
Como planejar o desenvolvimento 
Sem a massa crítica acumulada por São Paulo no tecido industrial, financeiro e de serviços, como planejar um desenvolvimento sem que os avanços sejam sugados pelo vizinho poderoso? 
Há muitas Minas Gerais, a do Nordeste, no Vale de Jequitinhonha, a paulista, no sul de Minas e no triângulo, com enormes disparidades de renda. As regiões mais pobres têm 25% da população e 17% dos votos, enquanto as mais ricas possuem 58% da população e 66% dos votos. Portanto, a distribuição não se dará pela via legislativa. 
A tentativa de planejamento recente, no governo Fernando Pimentel, consistiu, inicialmente, em criar um projeto pensado na Cedeplar, o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, braço da Faculdade de Ciências Econômicas, que historicamente foi berço das melhores propostas de desenvolvimento do Estado desde os anos 50. 
Surgiu de lá a criação dos Territórios de Desenvolvimento, fóruns regionais com reuniões bianuais, juntando empresários, organizações sociais e representações diversas de cada região para discutir o seu próprio desenvolvimento. 
Depois, identificar as vantagens comparativas do Estado. De um lado, setores tradicionais já consolidados. De outro, centros de tecnologia de primeira, especialmente na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Finalmente, riquezas minerais estratégicas para as novas eras tecnológicas. 
A partir daí, a ideia foi criar ou fortalecer polos regionais, que funcionariam como sementes, permitindo alcançar novos atores. Com uma crise fiscal brava, houve um filtro rigoroso dos investimentos, de maneira a contemplar aqueles que garantissem um diferencial tecnológico.  
Castello Branco destaca que a estratégia para direcionar investimentos dentro do escopo de projetos apoiados pela CODEMIG foi enxergar os setores prioritários a partir de três lentes: vocação territorial, capacidade de atuação da companhia de investimentos e impacto econômico. Os setores que alcançam esse as três vertentes são chamados de "estratégicos". 
A partir dessa lógica, os planos de investimento são arranjados entre setores tradicionais e inovadores, sempre respeitando as características regionais.  
"Esse arranjo fundamentou a estruturação organizacional da companhia, anteriormente focada na execução de grandes obras de infraestrutura, agora está baseada em três eixos estratégicos - alta tecnologia, indústria criativa e mineração, energia e infraestrutura -, atuando assim no desenvolvimento social e fomento de novos negócio", completou em sua apresentação.
  
Hoje, a carteira de investimentos da CODEMIG é diversificada o suficiente para alcançar desde propostas para exploração de terras raras e produção de grafeno, passando por setores como aeroespacial, defesa, biotecnologia, semicondutores até gastronomia, moda e turismo, contemplando ao todo 21 áreas produtivas. 
Terras raras e outros investimentos  
O ideia central do planejamento foi aproveitar as riquezas minerais, os arranjos produtivos já existentes e a inovação que brota da UFMG e dos institutos tecnológicos. E apostar em indústrias-chave, com apoio financeiro e participação no capital. 
Foram feitas várias apostas. O programa de investimento em terras raras, insumo decisivo para a produção de eletroeletrônicos, induziu, por exemplo, a CODEMIG a buscar parcerias com centros de desenvolvimento tecnológico de fora do Estado, são eles: o Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI), a Universidade Federal de Santa Catarina e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A iniciativa é para viabilizar o primeiro laboratório-fábrica de Ligas e Ímãs de Terras Raras no Brasil (LabFabITR), incluindo acordos com empresas como a BRATs, Imag e CBMM.  
As terras raras também são matéria prima para craqueamento de óleo de soja. O que fez a CODEMIG investir também na produção de bioquerosene de aviação, juntando setor de ponta com agricultura. 
Minas é o maior produtor de grafite. O Estado criou a Neografeno, com 45 pessoas trabalhando e investiu em uma empresa de Oxford que desenvolveu tecnologia de bateria de lítio. Entrou também no capital da Companhia Brasileira de Lítio, uma empresa familiar em Araçoaí, que produz lítio metálico para baterias.  
Foram criados, ainda, fundos, entre os quais a Aerotec, que investiu em uma empresa de Uberaba que está desenvolvendo resina e software para impressoras 3D. 
Em relação às atividades tradicionais, implantou um programa de certificação, essencial para o aumento das exportações. E passou a trabalhar as riquezas culturais do Estado, das quais a mais relevante é a culinária. 
O programa lançado visa elevar a culinária de Minas ao mesmo patamar do Peru, por exemplo. 
Em resumo, a estratégia mineira de desenvolvimento contempla não apenas a interiorização, mas também a diversificação nos patrocínios de projetos e eventos.  
Editais com esse foco - ampliação do acesso aos recursos, diversificação da economia, descentralização de investimentos e interiorização do desenvolvimento -, são lançados pelo Governo do Estado e a CODEMIG desde 2015. De lá para cá foram lançados 3 pelo Governo, com investimentos de mais de R$ 3 milhões para 100 projetos. A própria companhia, completa Castello Branco, lançou 4 chamadas públicas de patrocínio com ofertas que totalizaram R$ 3,5 milhões para mais de 300 projetos. 
De qualquer modo, são quase projetos piloto, pelo valor investido e pelo número de empresas alcançadas, que só ganharão escala quando Minas Gerais resolver a grave crise fiscal decorrente da queda da atividade econômica e das pedaladas fiscais da gestão Antônio Anastasia - paradoxalmente, o relator das pedaladas fiscais de Dilma Rousseff no Senado. 
Case Voe Minas Gerais 
GGN

domingo, 12 de agosto de 2018

NO DIA DOS PAIS, A BUSCA INCESSANTE DO ENIGMA, POR LUIS NASSIF

É complexa essa relação de pais e filhos, especialmente os da nossa geração, presos a uma educação mais formal e a um fechamento maior entre as gerações.
Dia desses, ousei enxergar na essência da criação de Guinga uma relação não resolvida com o pai, especialmente depois do impressionante “Meu Pai”, letra e música dele, apresentado em uma sessão intimista no Bar do Alemão.
A permanente tensão da harmonia, que caminha na frente levando a melodia consigo, parecia uma decorrência desse conflito. O tema é a busca incessante para desvendar o enigma do pai, a tentativa permanente de entender cada gesto, cada atitude, um conhecimento gradativo e doloroso que vai se dando aos poucos quando, a cada nova etapa da vida, as experiências e semelhanças vão se acumulando.
Apenas no final do percurso é que se percebe que a busca, em si, acaba moldando nosso próprio destino, nos fazendo repetir a saga paterna, as cabeçadas, os desafios, os erros, os desafios, como maneira de ir internalizando o pai dentro de nós para conseguir as respostas. A melodia, o trajeto,  a vida, é mera decorrência.
Pela emoção de Guinga, uma semana depois, achei que tinha acertado no diagnóstico.
Em cada ida a Poços vou juntando as informações sobre seu Oscar, a saga inicial do jovem filho de imigrantes, arrimo de família desde a adolescência, que adquiriu a farmácia com vinte e poucos anos no momento em que, com o fim do jogo, Poços começava a se desenvolver. Era um grupo de jovens comerciantes que mudou o centro do comércio da rua Marechal Deodoro, que acompanhava o rio, para quatro quarteirões centrais da cidade.
Seu Oscar participou de todos os momentos, integrou todos os clubes de apoio à cidade, da Caldense, do qual foi diretor de futebol por 20 anos, ao Lyons, Rotary, Maçonaria – que deixou como pré-condição para casar na Igreja -, Associação Comercial e o que mais viesse em benefício da cidade. Acho que só não foi vicentino.
Não se metia em política partidária. Recentemente encontrei um artigo na Gazeta de Farmácia relatando seu estilo nas reuniões do Conselho Federal e do Conselho Regional. Ouvia a todos e, depois, tentava a síntese, harmonizando as posições em torno de princípios muito claros e sem jamais recorrer à retórica vazia, segundo o autor do artigo.
De certo modo repetia a saga do avô, espécie de prefeito da pequena Ain Aar, a vila que fica a poucos quilômetros de Beirute. E do próprio pai que, segundo minhas tias, era um mediador das disputas da colônia libanesa em Rosário.
Em casa, contrabalançava o radicalismo feroz do sogro, meu avô Issa Sarraf, udenista, lacerdista, com pitadas de moderação. Como quando me recomendou a leitura de uma revista liberal, Política & Negócios, se não me engano, em contraposição a um panfleto de nome Ação Democrática, que meu avô me mandava.
Dia desses, um psiquiatra escreveu um artigo instigante, identificando a família como centro de conservadorismo – da ideia de conservar valores. Em momentos de ruptura, dizia ele, famílias perdem influência nos mais jovens. Deve ser por isso que, na adolescência, envolvido em mil atividades em Poços e São João da Boa Vista, deixei de me aprofundar nas relações familiares e aproveitar as informações de minhas tias Marta e Rosita.
Descobri que não estava sozinho nessa busca quando visitei o primo Armando Bogus no Sírio Libanês e marcamos uma conversa sobre a família quando ele saísse de lá. Morreu pouco depois e a viúva me ligou dizendo que seus últimos momentos foram de expectativa para a conversa que nunca tivemos.
Os Schkair – nome de família – vieram de Aina Aar, vila próxima a Beirute e se espalharam por São Paulo, São João da Boa Vista, Vargem Grande do Sul, em uma infinidade de sobrenomes, Nassif, Constantino, Zogbi, Gebara, Salomão, Marun, Gióia, Aschkar (juro que um dia ainda conseguirei recuperar a árvore genealógica da família para desfazer a trapalhada dessa prática árabe do neto ter o nome do avô como sobrenome). No Facebook foi montado um grupo com todos esses sobrenomes, mas poucas informações sobre os ascendentes.
Mas, graças à Internet, descobri a certidão de casamento de meu avô, Luiz (Slaib) Nassif, com minha avó Carmen Abdalla Melaj, em 1907 em Mendoza, Argentina. Na certidão, o nome de meu bisavô, Nassif Schkair, o inverso do Schkair Nassif, de meu pai. E, no que restou dos arquivos do bisavô, indícios de que os conterrâneos se espalharam não apenas pelo Brasil, mas por Rosário e Mendoza, trazendo do Líbano relações comerciais que se mantiveram no Ocidente, especialmente para a importação de tecidos.
Dia desses estive em Buenos Aires em um primeiro contato com parentes, que descobri através desses serviços de árvore genealógica. Três simpáticos casais, mas refletindo a radicalização latino-americana. Havia um feroz defensor dos militares, outro defensor de Cristina Kirchner e um terceiro que, sempre que a conversa ameaçava chegar na política, ajudava a mudar de assunto. Mas pouca informação sobre os ascendentes mais longínquos.
Quando minhas tias falavam das terras no Líbano, na vila em que a família morava, sempre imaginava tendas árabes e beduínos. Depois de conseguir recuperar as fotos de família é que me dei conta de que, em fins do século 19, eram mais ocidentalizados que os fazendeiros brasileiros da época.
E fico me indagando a razão de jamais ter me aprofundado nessas investigações familiares. Pela simples razão, que me foi contada por Lindolfo Carvalho Dias, amigo de papai: “Com dez anos de idade seu pai era argentino. Com dez anos e um dia, tornou-se mineiro”.
A família que saiu de Ain Aar, passou pelo Brasil, foi para a Argentina, voltou para o Brasil, nada tinha de nômade. Havia uma necessidade tão grande de fincar raízes que Poços de Caldas jamais saiu da memória do seu Oscar. E o dia em que o vi mais exultante, feliz, foi quando reuniu dezenas de amigos em casa para celebrar o sonho alcançado: a naturalização como brasileiro.
Ser brasileiro foi o valor maior ensinado em casa, que se sobrepôs às raízes libanesas, à nostalgia porteña de minhas tias. O velho lutava em todos os momentos pelo Brasil civilizado.
Anos atrás recebi um e-mail de uma conterrânea, que morava no início da subida da rua Rio de Janeiro para o Largo de São Benedito, nossa rua. Quando a rua foi asfaltada, os carros passavam em velocidade imprudente.
Seu Oscar juntou os meninos do início da subida, explicou que a rua era deles e, por isso, deveriam zelar por ela e por sua segurança. E orientou-os a criar faixas alertando os motoristas a correrem menos.
GGN

sábado, 11 de agosto de 2018

TIRANDO AS TEIAS DE ARANHA DA SALA, POR PEDRO PINHO

O que precisamos no Brasil, para sair desta ditadura jurídico-midiática e da opressão financeira do neoliberalismo, é da efetiva renovação política.
Não para colocar os filhos da gerontocracia que domina há séculos nossa Nação, os "netos do poder".
A única vez que tivemos a possibilidade de mudar, verdadeiramente, o País, com nova economia, novos padrões de sociedade e cultura, foi na Revolução de 1930, dirigida pelo nosso maior estadista até agora, Getúlio Vargas.
Ele também foi deposto, exilado no próprio território nacional, atacado pela corrupta comunicação de massa, sempre a soldo dos interesses estrangeiros, e jamais saiu da alma do povo.
Getúlio encontra agora, igualmente perseguido pelas "forças e os interesses contra o povo", que "não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa", seu sucessor, estadista e popular, Luis Inácio Lula da Silva.
Mostrando mais do que um gênio político, a grandeza da alma que se preocupa com a nação e seu povo, como Vargas, em 1945, Lula disse: "Vote em Haddad!", "Vote em Manuela!".
Um dos aspectos do Brasil que Vargas queria construir está relatado em "América aracnídia", de Ana Luiza Beraba. Vemos ali o modo de colocar o Brasil como referência e projeção continental durante o Estado Novo. Na edição de um suplemento – Pensamento da América – contando com intelectuais melhor relacionados com as culturas e autores latino-americanos, caribenhos, estadunidenses e canadenses, formou-se no dizer de Ana Luiza as "teias culturais interamericanas".
Coloco este fato, pouco conhecido, para mostrar a dimensão de um estadista, acima de tudo interessado na construção de um País soberano, capaz de promover o desenvolvimento para seu povo, e conquistar respeito e projeção no exterior.
Lula com o Mercosul e com os BRICS agia na mesma linha de Getúlio. E, como é óbvio, aqueles que "não querem que o povo seja independente", promovem "campanha subterrânea dos grupos internacionais" aliados a "grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. Contra a justiça da revisão do salário mínimo" contra a "liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás" querem destruir as conquistas da Era Vargas e o Legado de Lula.
O mar de lama não corria no Catete de Vargas, como não corre nas lideranças do Partido dos Trabalhadores. Lá, como agora, o mar de lama corre nas hostes entreguistas, nos golpistas que querem entregar a Petrobrás, a Eletrobrás, as riquezas nacionais, a previdência social e o salário digno dos trabalhadores.
Precisamos de um governo que acabe com o monopólio midiático, com a entrega do patrimônio natural e o construído pela Nação, que nos devolva a dignidade e a garantia do trabalho, que leve nossa cultura a outros povos e nos dê a paz.
Poderemos ter Soberania e Paz com um Presidente que afirma: "Pobre não sabe fazer nada", segundo a Folha de São Paulo? Ou tem um vice para quem o Brasil herdou a "indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos", em evento na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS).
Ou de candidato que promete rever o papel do Estado, hoje, "caro, inchado e ineficiente" e "diminuir a máquina" nacional para que seja ocupada por empresas estrangeiras, pagando salários miseráveis, eliminando direitos trabalhistas e previdenciários, exportando a preços vis nossas riquezas naturais, nosso petróleo, nosso minério, a água de nossos aquíferos, para lucro dos fundos abutres, dos ricos investidores estadunidenses, europeus e asiáticos?
Estamos diante de um conjunto de candidatos que representam o passado, um passado de escravidão e de ódio.
O medo da mudança, por essas forças do passado, ficou claramente demonstrado pela Rede Bandeirantes censurando a presença de Haddad no debate dos presidenciáveis pela televisão.
Precisamos tirar estas teias de aranha da sala, de nossa porta.
Precisamos da juventude de idade e de ideias. Ele disse: Haddad e Manuela.
Pedro Augusto Pinho - é avô, administrador aposentado.
 GGN

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

XADREZ DA DITADURA DAS CORPORAÇÕES PÚBLICAS, POR LUIS NASSIF

Movimento 1 – o golpe
No começo, a elite civil prepara o campo para a desestabilização do sistema elegendo a figura do inimigo, o PT. Há o primeiro teste no mensalão. Depois, entra-se no jogo decisivo, adiado pelo bom momento da economia.
Quando a situação econômica piora, Judiciário e Ministério Público definem a melhor estratégia para tornar a Lava Jato uma operação irreversível. Consiste em investir sobre a linha de menor resistência, mirar um alvo que garanta a montagem de alianças com as estruturas de poder.
São varridos para baixo do tapete os indícios contra próceres tucanos, mercado financeiro, mídia e Ministros de tribunais superiores. O foco se concentra em Lula, no PT, em alguns peemedebistas mais notórios e no arco de alianças desenhado pelo projeto PT de poder, que tinha nas empreiteiras os maiores parceiros.
Movimento 2 – a falta de elite e de projetos
Monta-se uma verdadeira legião estrangeira em favor do golpe. Participam dela tropas das corporações públicas, do Judiciário, bilionários que saem às ruas como cidadãos comuns, cidadãos comuns que saem às ruas como linchadores habituais, e linchadores que saem às ruas armados de suas prerrogativas de magistrados e procuradores amparados por manchetes escandalosas. A bandeira única que os une é a eliminação definitiva dos inimigos.
A elite civil participa da conspiração, mas não assume a liderança, não conduz, é conduzida. Contenta-se com sua parte no butim, colocando na área econômica um gtupo de xiitas sem noção, disposto a mudar a realidade com a força da fé.
Conquistado o poder, o que fazer? Parte-se para o desmonte do modelo anterior sem nenhum projeto alternativo de país. Em vez de aprimoramentos necessários, liquida-se com a legislação trabalhista. Em vez de gestão fiscal responsável, monta-se o monstrengo inviável da Lei do Teto. Tenta-se a fórceps uma reforma da Previdência cuja conta recai inteiramente sobre os empregados do setor privado. Sufoca-se a economia com uma política fiscal irresponsável porque a guerra contra o inimigo não permite questionamentos intra-tropa e a fé não costuma falhar.
Mas e a ideia mobilizadora, e a voz de comando capaz de aglutinar a legião dos vencedores em torno de programas políticos viáveis, impondo um mínimo de ordem na bagunça? Nada. Porque a elite nacional é apenas um mito, desde os tempos mercantilistas aos anos da financeirização.
Movimento 3 – a Ditadura das corporações
Sem um general comandante, derrubada a cidadela adversária as tropas assumem o comando.
Sobre os escombros da economia, TCU, AGU, MPU, e todos os Us de Brasilia, negociam entre si a divisão do butim, quem pode punir, quem pode conceder, quem pode perdoar, quem negocia a delação, quem garante o acordo de leniência.
O Brasil improdutivo assume o controle do Brasil real, e tropas sem oficiais tomam as rédeas nos dentes enquanto um empresariado invertebrado, sem noção de projeto, paga a conta junto com seus trabalhadores.
O melhor exemplo desse comando difuso, aliás, é o Ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Aliado do golpe, Barroso preencheu o universo midiático com chavões sobre o empreendedorismo, sobre um Estado menor. Em nome desse sonho neliberal, avalizou a Lei do Teto, com todas as implicações sobre as políticas sociais e os direitos básicos do cidadão. Não se gasta mais do que no ano anterior corrigido pela inflação.
Na hora de discutir o reajuste dos proventos de Ministros do STF, não vacilou: votou a favor dos 16% de reajuste, mesmo sabendo do impacto sobre toda a cadeia de benefícios do serviço público. O que significa? Que as figuras públicas que, tal como as birutas de aeroporto, seguem o caminho dos ventos, estão identificando um vento mais favorável aos seus projetos pessoais: em vez do mercado, o Partido do Judiciário.
Movimento 4 – histórias de promotores
E aí se ingressa na pior das ditaduras, que é a o dos centros difusos de arbitrariedade. Em qualquer cidade do país, um promotor pode se dizer investido do poder divino e providenciar Justiça com as próprias mãos. E esse poder está sendo utilizado sem nenhum discernimento, inclusive contra membros das próprias corporações que não se alinham com o golpe.
Em Recife, o promotor da Vara de Execuções Penais Marcellus Uglete, considerado um garantista (solicitou a interdição de vários presídios), foi denunciado por colegas com base em indícios frágeis - grampos em advogados em que seu nome foi apenas citado - e se tornou alvo de uma operação de busca e apreensão. Os invasores – policiais civis comandados por um colega de Marcellus – sequer esperaram que ele abrisse a porta. Teve a casa arrombada na presença de três netos, dois filhos, a esposa e o irmão.
Em Niterói, um comentário em rede social feito pelo Policial Federal Sandro Araújo, criticando a operação que levou ao suicídio o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) motivou uma denuncia da Associação Nacional dos Delegados da Policia Federal.
Disse o policial: “Minha prece hoje é por Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Reitor da UFSC que tirou a própria vida após ser preso de forma INJUSTA, ARBITRÁRIA e EQUIVOCADA pela Polícia Federal. A responsável pelo ERRO CRASSO não foi tocada e segue com sua carreira”.
No Paraná, uma parceria entre juízes federais e PFs impõe uma sucessão de condenações pecuniárias contra blogs que ousam questionar a atuação de policiais.
E não se para nisso.
Em Belo Horizonte, o dono de uma rede de supermercados foi intimado por um jovem promotor de direitos do consumidor a dar explicações para os critérios utilizados em um concurso que premiou a melhor frase sobre o aniversário da empresa. A intervenção do promotor foi motivada por um competidor, que se sentiu lesado na competição e apresentou, em sua defesa, um livro de poesias de rimas mancas de sua autoria.
Abusos como este estão pipocando por todo o país. E a única resistência visível reside no contraditório porém destemido Ministro Gilmar Mendes.
Movimento 5 – um ciclo sem prazo
Vai piorar antes de melhorar, porque se trata de um processo sem objetivos, de uma tropa sem comando, de um arquipélago de poderes individuais sem a ação coordenadora das chefias e lideranças, e de um poder sem projeto. O que os move é apenas o exercício do poder individual pelo poder e a defesa dos interesses corporativos.
Há um cenário possível para as próximas eleições: uma final entre o candidato do PT e Bolsonaro. Nessa hipótese, o risco Bolsonaro seria um fator catalisador maior do que o medo PT da classe média. Portanto, havendo essa composição no segundo turno, há a probabilidade concreta de vitória do candidato de Lula.
Aí, talvez, o mercado se dê conta de que a fonte de todos os males não são as migalhas distribuídas aos mais necessitados, mas o cheque em branco entregue às corporações de Estado.
Do GGN

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

JUSTIÇA ELEITORAL SARNEYZISTA DECRETA INELEGIBILIDADE DO GOVERNADOR FLÁVIO DINO DO MARANHÃO

 A juíza eleitoral da 8ª Zona, Anelise Nogueira Reginato, decretou a inelegibilidade do governador Flávio Dino (PCdoB), do ex-secretário de Estado de Comunicação, Márcio Jerry (PCdoB), do prefeito de Coroatá, Luiz Mendes Ferreira Filho e do vice, Domingos Alberto Alves de Souza. A magistrada alega abuso de poder político nas eleições de 2016. Ainda cabe recurso.
A decisão é baseada em Ação de Investigação Judicial Eleitoral ajuizada pela coligação "Coroatá com a força de todos". A coligação é composta pelos partidos PMDB, PP, PTB, PTN, PSC, PR, DEM, PSDC, PRTB, PV, PT do B, PROS e PRP.
Esta coligação, na petição inicial, sustentou que os candidatos a prefeito e vice-prefeito de Coroatá "praticaram escancaradamente abuso de poder econômico, político e captação de sufrágio vedada por lei, mediante farta compra de votos e troca de bens e favores, dinheiro em espécie, promessa de motocicleta, promessa de empregos, doação de areia, tijolos, ferro, telha, tudo isso visando a obtenção de mandatos eletivos".
A magistrada, então, entendeu que a atuação do governador Flávio Dino e do secretário Márcio Jerry, usaram a estrutura do Governo do Estado do Maranhão para promover a eleição dos candidatos.
Ela sustentou que "o caso dos autos é, pois, de flagrante abuso de poder político" e que "é por demais grave a conduta do governador do Estado de utilizar a máquina pública para angariar votos para um candidato a prefeito (e seu vice-prefeito). Aliás, não é grave, é gravíssima".
Assim, com base nesses dados, decretou a inelegilidade de Flávio Dino e Márcio Jerry e cassou os mandatos do prefeito e do vice-prefeito do município de Coroatá.
Flávio Dino, governador do Maranhão, respondeu através de seu perfil em rede social. Dino tratou a sentença como "especulação" de adversários políticos e afirmou que irá pleitear sua candiatura no TRE-MA amanhã, dia 9.
"Amanhã irei pleitear normalmente meu registro ao TRE, que será deferido nos termos da lei. E semana que vem vamos começar mais uma bela campanha alegre, propositiva e vencedora", disse.
 GGN

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

LULA MANTÉM VITÓRIA OU TRANSFERE VOTOS, E BOLSONARO ESTANCA, SEGUNDO NOVA PESQUISA CNT/MDA

Lula registra 21,8% das intenções de votos dos paulistas, Bolsonaro fica com 18,4%. Pesquisa também revela capacidade de transferência de votos de Lula, quando Haddad ainda não era o vice.
Preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Lula segue como o favorito na disputa presidencial também entre os eleitores do estado de São Paulo, histórico reduto tucano. É o que mostra a pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta quarta-feira (08), registrando 21,8% das intenções de votos dos paulistas. 
No cenário em que foi testada a disputa com a participação do ex-presidente Lula, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) fica em segundo lugar com 18,4%, seguido do então governador do estado Geraldo Alckmin (PSDB), com 14%. 
Já sem Lula, Bolsonaro consegue a vitória, ainda que não em primeiro turno, com o mesmo resultado de 18,9%. Ou seja, a ausência de Lula na disputa não favorece o candidato da extrema direita. 
É possível perceber, ainda, que com a ausência de Lula, há uma transferência de votos, em maior e menor grau, para três candidatos: Marina Silva (Rede) sai de 6,7% para 8,4%; Fernando Haddad que não havia sido cogitado no cenário com Lula fica com 8,3%, em empate técnico com Marina; e Ciro Gomes (PDT) passa de 5% para 6%. 
Entretanto, a pesquisa entrevistou pouco mais de 2 mil paulistas antes das convenções partidárias deste final de semana, que definiram muitos rumos que ainda estavam incertos. A decisão, por exemplo, de indicar Haddad como vice de Lula ocorreu no final da noite de domingo (05), quando as entrevistas já estavam contabilizadas pelo CNT. 
Naquele momento, Bolsonaro iria para o segundo turno com Alckmin, em caso de impedimento de Lula participar da disputa presidencial, segundo os eleitores paulista. 
Por isso, a pesquisa absorveu as intenções do eleitorado de São Paulo em um momento de indecisões partidárias. Ainda assim, Haddad surge no segundo cenário com 8,3%, quando ainda não havia sido cotado oficialmente para disputar a chapa.  
GGN

terça-feira, 7 de agosto de 2018

XADREZ DA ESTRATÉGIA LULA PARA AS ELEIÇÕES, POR LUIS NASSIF

A estratégia da direita consiste em jogar vários candidatos no ventilador e apostar no que tiver a melhor largada. Confiam que a Justiça e o Ministério Público impeçam a corrida dos adversários.
Já a estratégia do PT é complicada pois tem que levar em conta diversos fatores.
Fator 1 – mídia e Judiciário
Basta se mencionar um candidato do PT, para o Ministério Público e a Polícia Federal sacarem do supermercado das delações premiadas uma delação qualquer, induzida ou espontânea, mas em geral apenas declaratória, para fuzilar o atrevimento.
Provavelmente foi o principal fator a definir a estratégia de Lula, de postergar ao máximo o anúncio da chapa do PT.
Lula sai candidato com Fernando Haddad de vice e Manoela D’Ávila de regra três. A tática política da mídia-Judiciário já se desgastou. E Lula continuou crescendo. Agora, terá que atirar em dois, Lula e Haddad. Até agora, foram disparados apenas balas de festim contra Haddad, sem nenhum significado jurídico e político maior.
Fator 2 – as coligações
A postergação da escolha, mais a prisão de Lula, afetaram as coligações. Mas o acordo firmado com o PSB comprovou que a candidatura Lula não seria apenas simbólica. A popularidade avassaladora de Lula no Nordeste facilitou os acordos e o alinhamento dos governadores em torno de seu nome.
Fator 3 – a transferência de votos
Faltava definir o ungido. O perfil do candidato, segundo a executiva do partido, deveria ser de alguém que fosse leal e suficientemente maduro para que a candidatura não subisse à cabeça.
Dentro do PT, dois nomes eram evidentes: o ex-governador da Bahia Jacques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
De Wagner, dizia-se da vantagem de trazer consigo o eleitorado nordestino e a facilidade em falar para as classes mais humildes, com seu jeito paternal.
De Haddad, o fato de representar a modernidade do partido.
Deu Haddad.
Tempos atrás, o próprio Haddad andou divulgando uma proposta de dobradinha com Ciro Gomes – que não teria sido aceita por Ciro. À luz dos últimos fatos, não se sabe o que havia de real ou de manobra do PT para não expor seu candidato às feras midiáticas.
Fator 4 – riscos e possibilidade de Haddad
Não fosse petista, Fernando Haddad simbolizaria todas as virtudes que a direita definiu para a política e que não encontra em nenhum dos seus candidatos. É um filho direto da Universidade de São Paulo, formado em filosofia, economia e direito.
Suas gestões– no Ministério e prefeitura- significaram o reencontro das políticas públicas com diagnósticos modernos e resultados efetivos, um banho de inovação inédito, uma tentativa de ir às raízes dos problemas que só tem paralelo nos anos 60, com as reformas de base de Jango e com as reformas institucionais do período Castelo Branco.
Por exemplo, a boa gestão sugere formas de recompensar a eficiência. O orçamento da educação impedia essas sofisticações. Haddad então criou fundos para beneficiar projetos, gestores que apresentassem resultados concretos.
Espalhados por todo o país, os vestibulares eram um desafio para a própria inclusão dos alunos. Transformou o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) em um vestibular nacional, vencendo desafios tecnológicos e o boicote sistemático da mídia, disposta a escandalizar qualquer problema normal na implantação de grandes sistemas.
Havia enorme desafio para a educação inclusiva, o maior dos quais a resistência da indústria das APAEs (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais) e das sociedades ditas beneficentes. Haddad criou um modelo pelo qual as APAEs seriam remuneradas por cada aluno que apoiassem nas escolas regulares – onde se dá a inclusão. O programa passou a atender um número crescente de alunos com deficiência, chegando aos 900 mil. Cada escola que aderiu ao sistema passou a contar com uma retaguarda de ferramentas tecnológicas do MEC para atender os alunos.
Trata-se, provavelmente, do maior feito público anônimo da história moderna do país. Tão anônimo que nem a presidente Dilma Rousseff tinha informações sobre o programa. A ponto de atender às pressões das APAEs para mudar a Meta 4 do Plano Nacional de Educação, que versava sobre o tema.
Reside nesse antipopulismo e pudor em mostrar o que faz a maior virtude e a maior vulnerabilidade de Haddad.
Fator 5 – o técnico e o político
Contra ele pesa a derrota acachapante na campanha de reeleição da prefeitura de São Paulo. No fundo, a derrota foi o antipetismo, que tem seu epicentro em São Paulo, com praticamente toda a mídia em ataques diários contra ele e com a Lava Jato do Paraná se incumbindo do trabalho sujo para João Dória Jr.
Por outro lado, sua falta de gana política – inversamente proporcional ao seu pique de gestor - impediu em diversos momentos que assumisse o protagonismo político em São Paulo.
Em dois episódios essa postura ficou nítida.
O primeiro, nas passeatas de 2013, em que ficou praticamente a reboque do governador Geraldo Alckmin. Não entendeu que a rapaziada que iniciou as passeatas poderia ser seu grande aliado.
O segundo, na crise da Cantareira. Alckmin literalmente travou em momento crucial para o Estado. Ficou catatônico enquanto a desgraça se aproximava. Era hora de Haddad juntar os prefeitos da Grande São Paulo e comandar a reação contra a seca.
Limitou-se a aconselhar Alckmin, a sugerir saídas, mas comportando-se com excesso de pruridos e de cavalheirismo, em um momento que poderia ter assumido a liderança política inconteste do estado.
De qualquer modo, dentro do PT Haddad representa a antítese dos estereótipos do petista tradicional, traçados pela mídia e pelo arco do golpe. O lado mais moderno do empresariado e das Organizações Sociais sempre teve portas abertas na Prefeitura.  E complicou-se com o PT municipal por não ceder às demandas de vereadores e lideranças.
Sem arroubos retóricos, comuns nos políticos tradicionais, jamais recuou em suas posições ou na lealdade a Lula.
Tem as opiniões fortes de Ciro Gomes, mas sem os escorregões retóricos que comprometem a carreira do primeiro.
Depois que deixou a Prefeitura, sua ida para o Insper, a universidade que concentra mais do que qualquer outra o chamado pensamento liberal, foi uma maneira de se aproximar dos liberais paulistas.
Enfim, jamais deixou de buscar espaços de mediação em um país contaminado pelos vídios da radicalização.
Fator 6 – a grande aposta
Nas próximas semanas se terá uma ideia melhor da estratégia Lula e do fator Haddad.
Até que ponto conseguirá diluir o antilulismo? Até que ponto conseguira galvanizar setores modernos para suas bandeiras civilizatórias? Até que ponto recriará espaços de mediação essenciais para interromper a marcha da insensatez no país?
E como os adversários irão se comportar?
A direita já iniciou seu festival de extravagâncias, com Alckmin e Bolsonaro disputando quem radicaliza mais o discurso. A indicação da deplorável Ana Amélia para vice de Alckmin demonstra que não há o menor risco de arejamento das ideias do ex-governador.
Por outro lado, Haddad disputará espaço com Ciro Gomes em setores social-democratas insatisfeitos com as alternativas atuais.
Enfim, é um movimento em que Lula radicaliza o discurso para as massas, mas acena para o lado moderno com a socialdemocracia de resultados de Haddad.
Do GGN

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

COMO CODORNA MAL CUIDADA, FARSA JATO AGONIZA NO QUE DESCOME, por Armando Coelho Neto


Estou com Lula e não abro. Vou com Lula até que o golpe aniquile por completo sua volta ao Planalto. Quero desmoralizar o processo eleitoral golpista. Quem tomou o país num golpe sujo não devolve no voto. Golpe com supremo e tudo, cá com meus botões, não vou legitimar uma farsa entre dois candidatos da direita suja e entreguista. Lula é meu candidato e sequer sei se esse era o sonho dele, se seu sonho mesmo seria pendurar a chuteira, ver sua obra continuada e ir tomar sua cachacinha no sítio de Atibaia que, por obra divina, deveria ser mesmo dele, até como prêmio.
Volto no tempo. Vejo meu irmão caçula ensaiando uma nanica criação de codornas. De forma pedagógica, começa a me explicar os cuidados que precisava ter, em virtude da forma precária como lidava com a questão. “Tenho que limpar todos os dias o cocô das codornas, devido à concentração de cálcio. Se não faço isso, as fezes se solidificam e prendem as patas das codornas. Presas às fezes, elas não andam, não se alimentam e morrem”. Leia-se, agonizam e morrem presas em suas próprias fezes. Obviamente, hoje, com manuais de tudo na internet, isso não mais acontece.
Algumas codornas de meu irmão morreram atoladas. Assim como elas, a classe média brasileira agoniza em seus próprios valores (fezes) e não necessariamente dela. Presa ao discurso coprológico produzido pela elite do atraso (Jessé de Souza), quer fazer omelete sem quebrar os ovos ou, noutras palavras, quer tudo limpinho e cheiroso, mas vive a síndrome da codorna mal cuidada. Sofre o intocável vício de raiz e não percebe que os males que pensa combater são frutos dos valores que defendem. Por exemplo, que valor tem para o miserável, a vida de um rico ou assemelhado, o qual valor algum atribui à vida dele?
Enquanto servidores públicos, não se enxergam como braço do estado - que deseja mínimo. Enquanto assalariado bem pago, não se enxerga como trabalhador. Enquanto comerciante, reproduz discurso do grande empresário que o engole na primeira curva, e reage como um taxista diante do UBER, enquanto defende a livre iniciativa.
Ignorantes absolutos, não decodificam conceitos sutis, como soberania, cidadania, dignidade humana, constituição, cláusula pétreas. Não enxerga direitos humanos como norma que o defenderá da tirania do Estado. Ao silenciar sobre o golpe, não vê desrespeito sequer ao seu próprio voto, ainda que contra o governo (não valeu o voto em Aécio ou Dilma). Por não alcançar, não apreende o significado soberano da liderança de Lula nas pesquisas. Vale o tapetão do TSE.  Exerce o ódio contra o pobre olhando para Lula, sob impulso da bolsopatia nazista. Não tem alcance mental além de marcas de roupa/tênis e ou do voyeurismo, sonhando com vida de artista. Prega o “sevirol” alheio, mas ela mesma não “se vira”, na melhor versão “aberração cognitiva” (Marilena Chauí).
Falo de classe média alta, média e baixa, que, alienada de tudo, foi pra rua bater panela, tirou uma presidenta honesta e hoje silencia quanto à quadrilha que ajudou a por no poder. Nega a política e vota em político que nega a política. Não distingue um estado com direitos de um estado sem direito algum, no qual, hoje, ela própria agoniza. Declara-se contra o aborto em nome da vida, mas só defende a vida durante nove meses. Depois disso, qualquer defesa da vida é demagógica, qualquer processo de inclusão é compra de voto. Vive engolfada de Globo/Veja/Estadão/Jovem Pan. Ignora que os tais veículos defendem seus próprios interesses e de seus patrocinadores e não os dela. Critica tudo o quanto mais quer: privilégios, status, luxúria, futilidade. Quer brilhar e humilhar o primeiro pobre que encontrar: você sabe com quem está falando?
Sempre que falo em classe média, tenho como grande referência a Polícia Federal onde vivi mais de três décadas. É chocante a alienação e a bolsopatia contaminou significativa parte de seu contingente (“O fascismo é fascinante deixa gente ignorante fascinada”, já o disse o roqueiro). Não à toa o discurso policialesco do bolsopata faz tanto sucesso lá. Parece unanimidade, apesar da suposta legião de delegados frustrados que queriam ser juízes e procuradores (a quem tanto criticam). Apesar do farfalhar dos que desejam ser delegado sem concurso, sob o argumento de que até formado em balé pode ser delegado. Especulação? O fato é que o nível de debate político é baixo, pobre, raivoso e precário. Classe média!
É de gente da PF, que tenho recebido vídeos de apoio ao mais medíocre candidato à presidência da República de nossa história. Lula, tão criticado, habita a sede da PF que inaugurou, para ser odiado mais de perto. Para não ser presidente, condenado numa farsa, Lula está sequestrado da PF. Está lá sob a guarda do inimigo, o homem que lhe deu salários, sedes, viaturas, lanchas, armamento, prerrogativas, instrumental legal. Estão soltos, ricos, premiados, homenageados. Mas, bom mesmo é a bolsopatia, que vai resolver tudo com frase feita. Afinal, atraídos por anúncios de jornais, os africanos se candidataram a escravos no Brasil. Eis o candidato que balança o coração de muitos na PF, da classe média. É a síndrome da codorna atolada.
Fora Dilma e leva o PT junto. Lula preso basta. Fetiche satisfeito (Chico Pinheiro?), as eleições estão próximas. Qual a grande mudança no processo eleitoral? Nenhum. Só mesmo o encurtamento dos prazos pelo Tribunal Eleitoral para tirar Lula da disputa. As campanhas serão financiadas pelo setor privado (capitalismo samaritano?). O caixa dois voltará à cena, as maquiagens nos programas eleitorais serão as mesmas, candidatos se exibirão beijando crianças e vomitarão solilóquios. Tal qual tudo igual, filminhos de maravilhas com fundo musical, mas a classe média é incapaz de perceber o terreno imundo e infectado no qual habita. Não se vê nutrindo o veneno do chão que pisa e sonha como nomes.
A classe média se prepara para uma farsa eleitoral como se eleição fosse, do mesmo modo que engoliu o golpe. Alheios ao terreno infectado pelo ideário que cultiva, aguarda a apresentação do antibiótico de seu candidato. O que pode brotar de uma terra infectada? Mas, mesmo assim aposta em nomes, não em programas. Basta não mexer no terreno. Debate política via memes e PowerPoint, tudo no melhor estilo ópera bufa República de Curitiba, do judiciário sujo homenageado em bordel, que também agoniza na síndrome da codorna mal cuidada.
Armando Rodrigues Coelho Neto - advogado e jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
GGN

domingo, 5 de agosto de 2018

ATÉ A INTERPOL JÁ DETECTOU A PARCIALIDADE DA CONDUTA DO JUIZ MORO E RETIRA DURAN DO ALERTA VERMELHO

A Interpol eliminou o nome de Rodrigo Tacla Duran da lista de procurados internacionais. Para justificar a retirada do alerta vermelho contra o advogado que trabalhou para a Odebrecht, a agência de investigação internacional apontou que a conduta do juiz Sérgio Moro viola a legislação da Interpol. 
Ao decidir, a Comissão da Interpol colocou em dúvidas a confiabilidade do julgamento de Moro sobre Durán. "A Comissão considerou toda a informação relevante para determinar se a defesa demonstrou de maneira confiável a probabilidade de que ocorreu a negação flagrante de um julgamento justo", publicou. 
"A Comissão considerou que as alegações apresentadas pela defesa que, diante da conduta do juiz responsável por presidir o processo no Brasil, seja suficiente para levantar dúvidas sobre o fato de que pode existir uma violação ao Artigo 2 da Constituição da Interpol", informou na decisão. 
O artigo 2 da legislação da agência refere-se à necessidade de que a instituição que busca trazer a cooperação entre as polícias de diferentes países deve trazer como prioridade, sempre, a Declaração Universal de Direitos Humanos. 
E seguiu sobre os indícios de parcialidade do juiz da Lava Jato no Paraná, Sergio Moro: 
"A defesa trouxe evidências, que podem ser facilmente verificadas em serviços de buscas abertos, para sustentar a controvérsia de que o juiz [Sergio Moro] falou sobre ele [Duran] publicamente em uma entrevista, quando ao negar movimentos para ele se apresentar como testemunha em outros casos, emitiu uma opnião sobre a veracidade de qualquer informação que ele [Duran] pudesse apresentar." 
A entrevista referida foi a participação de Moro no programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 27 de março, em que enquanto Duran estava foragido na Espanha, acusou o magistrado de participar de esquema ilegal com delatores da Lava Jato, recebendo valores indevidos. E durante o programa, o juiz opinou sobre o caso, tentando desmerecer as acusações do advogado. 
Leia a íntegra da decisão:

Do GGN

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

JAIR BOLSONARO: QUANTO MAIS O CONHECEM, MENOS VOTOS TEM

Duas pesquisas divulgadas esta semana mostram que os caminhos de intenção de votos para Jair Bolsonaro (PSL) são gradualmente pior a medida que o eleitorado passa a conhecer o candidato à disputa presidencial. Foi o que divulgaram os levantamentos do XP/Ipespe, realizado entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, e o DataPoder360, entre 25 a 28 de julho. 
A primeira delas foi realizada logo após a entrevista concedida pelo deputado federal ao programa Roda Viva, nesta segunda-feira (30). E mostrou que o candidato teve queda em todos os cenários de primeiro turno e atingiu o maior patamar de rejeição, 57%. 
Quando são apresentados os nomes dos candidatos, sem Lula, Bolsonaro tem 22% no mês de agosto, uma queda de 1 ponto percentual em comparação ao mês passado. O mesmo ocorre quando os candidatos incluem Lula e Fernando Haddad. Já quando o nome do ex-prefeito de São Paulo, Haddad, aparece com a menção de "apoiado por Lula", a queda de Bolsonaro é de dois pontos percentuais, de 22% a 20% das intenções. 
A pesquisa foi feita com mil entrevistados de diversas regiões do país, por meio de questionários feitos por telefone de rede fixa e celular, com 95,45% da taxa de confiança, sendo a margem de erro de 3,2 pontos percentuais para mais e para menos. 
A outra pesquisa, produzida pelo site Poder360, foi feita com 3 mil entrevistados, usando a mesma metodologia de ligações, entre os dias 25 e 28 de julho. O resultado surpreendente do levantamento foi com a pergunta de rejeição entre aqueles eleitores que conhecem o deputado.  
A resposta foi de 76% entre quem conhece Jair Bolsonaro que declaram não votar nele de nenhuma maneira. Em comparação, aqueles que dizem conhecer apenas "de ouvir falar", a rejeição é inferior, 55%. E apenas 33% rejeitam Bolsonaro não o conhecendo.  
Ao mesmo tempo, entre os que dizem conhecer Bolsonaro, apenas 6% votaria com certeza no candidato: 
A pesquisa do Poder360 foi feita em 182 cidades de todas as regiões do país e indica uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Do GGN

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

CÚPULA DO PT DIZ QUE ACORDO COM PSB "É O RECOMEÇO DA FRENTE DE ESQUERDA"

A cúpula do PT no plano nacional emitiu nota na tarde desta quinta (2) rebatendo as críticas em torno do acordo pela "neutralidade" do PSB na eleição presidencial, que acabou rifando a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco e isolando Ciro Gomes (PDT) na disputa presidencial. No informe, o partido admite que a aliança "formal" entre ambas as legendas não foi possível, mas avalia que os compromissos assumidos em alguns estados é o primeiro passo para o "recomeço da frente de esquerda".
A nota confirma que o PCdoB esperava esse gesto de aproximação do PT com o PSB como "condição" para construir a unidade no campo das esquerdas. Além disso, explica que o acordo foi feito com uma ala do PSB que tenta esvaziar o partido da influência dos que apoiaram o golpe em Dilma Rousseff e apoiaram Temer. 
O PT também ressalta que nunca escondeu de Marília Arraes e do PT em Pernambuco que vinha buscando entendimento com o PSB local.
Em troca da neutralidade do PSB na eleição presidencial, o PT prometeu tirar Marília da disputa pelo governo do Estado e apoiar Paulo Câmera à reeleição. Além disso, se comprometeu a subir no palanque do PSB em outros 3 estados: Amazonas, Amapá e Paraíba. Em troca, além de não apoiar a candidatura de Ciro ou outro presidenciável, o PSB não vai atrapalhar a tentativa de reeleição de Fernando Pimentel em Minas Gerais.
Em Pernambuco, o grupo de Marília Arraes, contudo, se reúne com o diretório do PT no Estado para decidir, hoje, se quer uma candidatura própria - contrariando a resolução da executiva nacional do PT.
Leia, abaixo, a nota da cúpula do PT.
1. É uma estrategia nacional resgatar aliança com o PSB, um partido em disputa. No Nordeste e Norte apoiarão Lula ou quem Lula Indicar.
2. Essa ala do PSB (Ricardo Coutinho, Paulo Câmara, Capiberibe) tirou a direita do partido, e colocou o PSB contra a reforma trabalhista, a EC 95, a entrega da Petrobras e a privatizacao da Eletrobras.
3. Recompor uma frente política de esquerda no país é condição para o enfrentamento ao golpe e para tirar o Brasil da crise com uma política econômica inclusiva
4. O PCdoB, um dos partidos que compõe essa frente, via o entendimento com o PSB como condição para construirmos uma unidade do campo
5. Desde o ano passado temos reforçado que nossas alianças ou acordos eleitorais se dariam no campo da centro esquerda. E listamos, e APROVAMOS, em resolução do PT que os partidos para construirmos isso eram PCdoB, PSB e PDT
6. Nunca escondemos do PT de Pernambuco, dos movimentos sociais e de Marília, nossas conversas e nossos movimentos. Lutamos por uma coligação formal, mas não foi possível. Esse movimento é o recomeço da frente de esquerda no país, buscando resgatar um partido q historicamente esteve do nosso lado
7. Sem a eleição de Lula e a construção de um campo político NACIONAL progressista e popular não recuperaremos o país. Não vamos perder o foco do nosso enfrentamento. Estamos numa batalha pela devolucao dos empregos, dos direitos dos trabalhadores e do povo, da nossa democracia e da nossa soberania.
GGN