terça-feira, 9 de outubro de 2018

CONHEÇA AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE BOLSONARO E HADDAD


Foto: Arquivo/Agência Brasil
Programas de governo dos presidenciáveis têm raízes distintas, especialmente para a economia e os direitos humanos. 
O Brasil viverá, no próximo dia 28, a segunda etapa da corrida eleitoral rumo ao Palácio do Planalto, com a realização do segundo turno. Pelos resultados das urnas nesse domingo (7), a escolha dos eleitores é entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que atualmente tem mandato de deputado federal.
O petista tem como candidata a vice à deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela d’Ávila (PCdoB), enquanto o líder do PSL conta com o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB) na disputa. O primeiro tem como slogan de campanha “O Brasil feliz de novo”, e o segundo, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
As duas chapas se situam em espectros distintos do cenário político: Haddad é um dos expoentes da esquerda e, portanto, liderança do campo progressista; já Bolsonaro, conhecido pelas ideias reacionárias, representa um projeto político de extrema-direita. Como consequência, os programas de governo dos dois presidenciáveis guardam diferenças fundamentais. Veja a seguir algumas delas.
Economia e emprego
Haddad, que é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (DCP-USP), propõe medidas de valorização do Estado. Entre elas estão a revogação do Teto de Gastos, que limita por vinte anos os investimentos nas áreas sociais, e da reforma trabalhista, ambos de iniciativa do governo Michel Temer (MDB).
Além disso, o ex-prefeito defende o fim do atual processo de privatizações; o equilíbrio das contas da Previdência por meio da geração de empregos e do combate à sonegação; e uma reforma tributária que compreenda, entre outras medidas, isenção de Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos (cerca de R$ 4.770).
No que se refere ao mercado de trabalho, Haddad propõe a criação de novos postos por meio do programa Meu Emprego Novo; o retorno imediato de 2.800 grandes obras que estão paradas em todo o país; e a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida. O petista também defende o fortalecimento da Petrobras.
Já o programa econômico de Bolsonaro prevê a redução da máquina do Estado e faz acenos ao mercado com propostas como: reforma da Previdência; independência do Banco Central; privatização da maioria das estatais, concessões e venda imóveis da União.
Além disso, o candidato defende o fim do monopólio da Petrobras no que se refere ao gás natural e uma tabela de preços da estatal baseada no mercado internacional.
Para o mercado de trabalho, Bolsonaro propõe a criação de uma nova carteira de trabalho, que também terá o contrato individual prevalecendo sobre as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Para sindicatos e outros setores populares, a medida fragiliza ainda mais os direitos da classe trabalhadora.
Segurança
Bolsonaro propõe medidas como flexibilização da legislação sobre o porte de armas; redução da maioridade penal para 16 anos; e tipificação de “invasões de propriedades rurais e urbanas” como terrorismo.
Já Haddad defende mudanças na atual política de drogas, com observação das experiências internacionais de descriminalização e regulação do comércio de entorpecentes; aprimoramento da política de controle de armas; e integração dos serviços de inteligência.
Educação e direitos reprodutivos
Com discurso conservador, o candidato do PSL critica a educação sexual, com referência a uma suposta tentativa de “doutrinação e sexualização precoce” por parte de setores progressistas.
O programa não menciona, por exemplo, a temática do aborto, mas Bolsonaro é conhecido defensor do impedimento de alterações na atual legislação, que libera a prática apenas em casos de estupro e gravidez de anencéfalos. Ele também não faz referência aos direitos do público LGBT, mas por diversas vezes já se pronunciou publicamente com posicionamentos homofóbicos.
Haddad também não faz referência ao aborto, mas destaca a defesa do Estado laico e propõe a promoção da saúde integral da mulher para o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, além do fortalecimento de uma perspectiva “inclusiva, não sexista, não racista e sem discriminação e violência contra o LGBTI+ na educação e nas demais políticas públicas”.  
O petista defende a promoção da cidadania LGBT, a criminalização da LGBTfobia e a inserção desse  público no mercado de trabalho.
Outros
Haddad defende ainda medidas que favoreçam as soberanias nacional e popular; o retorno a uma “política externa altiva e ativa”, com base, por exemplo, na integração latino-americana; reformas do Estado e do sistema de Justiça; promoção da diversidade na mídia; promoção dos direitos dos idosos e das pessoas com deficiência; além da defesa dos direitos dos povos do campo, das florestas e das águas.  
Já o programa de governo de Bolsonaro se manifesta em defesa da aproximação diplomática do Brasil com países como Estados Unidos e Israel, critica países como a Venezuela e não menciona, por exemplo, o Mercosul. Ao contrário, defende “acordos bilaterais”.
O candidato do PSL também não menciona, por exemplo, em seu programa de governo, os direitos das pessoas com deficiência.
Além disso, fala em “imprensa livre e independente” sem mencionar, no entanto, a pluralidade midiática. Ao mesmo tempo, o candidato defende, em discursos e entrevistas, práticas da ditadura militar, conhecida, entre outras coisas, pelo cerceamento da liberdade de imprensa.
GGN

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

SUA TIA NÃO É FASCISTA, ELA ESTÁ SENDO MANIPULADA, POR RAFAEL AZZI

Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população? 
Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade? 
Até sua tia, que sempre gostou de você, agora ataca seus posts sobre política no facebook? 
Pois bem, vou contar uma história. 
O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia, etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo. 
Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos. 
Tais perfis seriam então utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual. 
A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age. 
Posts no facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários. 
Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “o governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais. 
Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem. 
Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade. 
Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fakenews. 
Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos? 
Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política. 
Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do facebook no período que antecede as eleições. 
Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de whatsapp. Whatsapp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fakenews, portanto. Fazer um perfil fake no whatsapp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado. 
Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos? 
Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, por compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política. 
Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato. 
Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de whatsapp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #elenão entre as mais conservadoras. 
Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro. 
Agora é possível compreender porque é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “o que fazer?” 
Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva. 
Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas; elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua. 
Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa. 
Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder. 
Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você aprova?” 
Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater. 
Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?” 
Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim. 
Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável. 
P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e, como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias.Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada.
GGN

O ÓDIO NÃO ESPERA, CAPOEIRISTA É MORTO NA BAHIA POR ADEPTO DE BOLSONARO

Como já se advertia, não ia demorar. Transcrito a reportagem do jornal A Tarde, o maior de Salvador, publicada minutos atrás:
O mestre de capoeira e compositor Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, conhecido como Moa do Katendê, foi morto a facadas na madrugada desta segunda-feira, 8, após uma discussão política no Bar do João, na comunidade do Dique Pequeno, no Dique do Tororó, em Salvador. 
Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), o autor do crime, que não teve o nome revelado, não concordou com a posição política de Moa, contrária ao candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), e desferiu 12 facadas na vítima.
O suspeito foi preso e confessou o crime à polícia. Segundo a SSP-BA, ele teria se aproximado do grupo em que Moa estava e afirmado que era eleitor de Bolsonaro. O homem reagiu com violência após o mestre de capoeira afirmar que o grupo votava no PT. 
Não é uma “amostra grátis” porque custou a vida de um ser humano, mas um alerta para a loucura do ódio que se despertou e que até ao próprio Bolsonaro atingiu, em Juiz de Fora.
Oxalá possa servir, ao menos, para salvar a vida de muitos.

Tijolaço

domingo, 7 de outubro de 2018

É OFICIAL, O SEGUNDO TURNO SERÁ BATALHA DE CIVILIZAÇÃO CONTRA BARBÁRIE

É definitivo, haverá segundo turno; e será da civilização contra a barbárie; com 95,57% dos votos apurados, o segundo turno está definido; Jair Bolsonaro chegará ao segundo turno com aproximadamente 46% dos votos contra 28% de Haddad; será um segundo turno em condições duríssimas para as forças democráticas, pela força acumulada pelo candidato fascista e pela performance da ultradireita nas urnas.
O PT perdeu o governo de Minas, com o candidato do Partido Novo, Romeu Zema, de extrema-direita, indo ao segundo turno com mais 43% dos votos contra o candidato de direita, Antonio Anastasia, do PSDB. Nomes importantes ficaram fora do Senado, como Dilma Roussef, Eduardo Suplicy, Roberto Requião e Lindbergh Farias. Candidatos de extrema-direita lideram votações para a Câmara dos Deputados em diversos Estados, como Eduardo Bolsonaro, Joice Hasselmann, Celso Russomanno e Kim Kataguiri. O PSL torna-se, de partido inexistente, numa legenda com uma bancada expressiva no Congresso Nacional -pela primeira vez na história do país uma agremiação de corte fascista terá representação organizada na Câmara dos Deputados e Senado.
Ciro Gomes terminará a apuração ao redor de 12% dos votos e a direita (alcunhada de "centro" pela mídia conservadora) dizimada, com Alckmin abaixo de 5% dos votos, Marina e Meirelles com 1%. Outro candidato de extrema-direita, João Amôedo, do Partido Novo, saiu fortalecido do processo, com o candidato do partido como favorito ao governo de Minas. 
A partir desta segunda começam as articulações e as campanhas Bolsonaro e Haddad, com o candidato do PT aconselhando-se com o ex-presidente Lula sobre o cenário de política de alianças para o segundo turno. Ciro Gomes, Boulos e o PSB devem marchar com Haddad, com possibilidade de conversações com líderes regionais do MDB, Rede e PSDB.
247

sábado, 6 de outubro de 2018

PRIMEIRA PESQUISA VOX/247 HADDAD E BOLSONARO FARÃO SEGUNDO TURNO

Pesquisa Vox Populi/Brasil 247, a primeira financiada pelos eleitores, aponta, na véspera do primeiro turno das eleições: Bolsonaro tem 34% das intenções de voto e Haddad, 27%; em votos válidos, 40% a 31%; no segundo turno, por enquanto há projeção de empate, com ligeira vantagem numérica para Bolsonaro: 40% a 37%. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, a pesquisa é um evento "histórico" pela mobilização para seu financiamento e indica: "chance de não haver segundo turno e próxima a zero"  
Pesquisa Vox Populi/Brasil 247, a primeira financiada pelos eleitores, aponta, na véspera do primeiro turno das eleições: Bolsonaro tem 34% das intenções de voto e Haddad, 27%; em votos válidos, 40% a 31%; no segundo turno, por enquanto há projeção de empate, com ligeira vantagem numérica para Bolsonaro: 40% a 37%. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, a pesquisa é um evento "histórico" pela mobilização para seu financiamento e indica: "chance de não haver segundo turno e próxima a zero".
Votos estimulados totais
Bolsonaro 34%
Haddad 27%
Ciro 11%
Alckmin 5%
Marina 2%
Amoêdo 1%
Meirelles 1%
Cabo Daciolo 1%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%
Votos válidos
Bolsonaro 40%
Haddad 31%
Ciro 13%
Alckmin 6%
Marina 2%
Amoêdo 2%
Meirelles 2%
Cabo Daciolo 1%
Álvaro Dias 1%
Boulos 1%
Segundo turno:
Bolsonaro 40% x Haddad 37%
Bolsonaro 38% x Ciro 36%
Segundo turno votos válidos
Bolsonaro 52% x 48% Haddad
Bolsonaro 51% x 49% Ciro

A pesquisa é a única patrocinada pelos eleitores, em particular a comunidade reunida ao redor do 247. Todas as demais são patrocinadas por grandes grupos econômicos ou mídias comprometidas com o golpe de Estado e, nesta altura, marchando com Bolsonaro.
Os eleitores participaram da pesquisa contribuindo, além do patrocínio financeiro, com sugestões para o questionário que foi apresentado no dia de hoje. Nas próximas reportagens, serão apresentados os resultados dos temas do questionário.
A pesquisa Vox Populi/Brasil 247 foi registrada no TSE sob número 04071/2018. Foram realizadas 2 mil entrevistas neste sábado (6 de outubro) em xxx municípios. O nível de confiança da pesquisa é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem a realidade, considerando a margem de erro, que é de 2 pontos, para mais ou para menos. O Vox Populi cobrou preço de custo para a realização da pesquisa. Veja a pesquisa completa: AQUI.
247

25 ANOS ATRÁS, BOLSONARO DIZIA AO ‘NYT’ QUE QUERIA SER UM DITADOR, POR FERNANDO BRITO

O Uol presta um grande serviço à informação – infelizmente a poucos dias apenas da eleição – recuperando a entrevista dada por Jair Bolsonaro em 1993 ao The New York Times (cuja publicação original, em inglês, pode ser conferida aqui).
Nela, o ex-capitão já anuncia seus planos para a tomada do poder: a fujimorização do Brasil, com o fechamento do Congresso, demissão em massa de funcionários e várias medidas autoritárias sob o argumento – velhinho, não é? – de combater a corrupção.
Leia e tome consciência do perigo que este país enfrenta.
Aplicando à política a ousadia que certa vez demonstrou como paraquedista do Exército, o congressista Jair Bolsonaro mergulhou em um território inexplorado poucas semanas atrás, quando subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e pediu o fechamento do Congresso.
“Sou a favor de uma ditadura”, gritou em um discurso que sacudiu um país que só deixou o regime militar para trás em 1985. “Nós nunca iremos resolver os problemas nacionais sérios com essa democracia irresponsável.”
Falando mais tarde em seu escritório, um cubículo decorado com memorabilia militar e uma grande bandeira brasileira, o esguio congressista do Rio de Janeiro disse estar preparado para a reação que se seguiu: o maior jornal do Rio, o Globo, publicou cartuns na primeira página satirizando-o como um dinossauro de botas, e o presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio de Oliveira, exigiu que a Câmara o cassasse de seu mandato.
Mas duas semanas depois, algo ainda mais interessante aconteceu: o presidente da Câmara fez uma reviravolta abrupta e se reconciliou publicamente com Bolsonaro. Estudante de opinião pública, o líder do Congresso aparentemente leu as colunas de cartas dos jornais brasileiros.
“Em todo lugar que vou, as pessoas me abraçam e me tratam como um herói nacional”, afirmou Bolsonaro. “As pessoas nas ruas estão pedindo o retorno dos militares. Eles perguntam: ‘Quando você voltará?’ “
Ele recebeu, disse ele, centenas de telegramas e telefonemas de apoio, e disso ele extrai uma lição que obviamente acolhe. “As pessoas veem a possibilidade da disciplina militar tirar o país da lama”.
Para deixar tudo claro, os superiores comandantes militares reiteraram sua lealdade ao presidente Itamar Franco,um civil, e a maioria dos colunistas de jornais acredita que o Brasil manterá seu calendário político, que prevê eleições no próximo ano para presidente, representantes do Congresso, governadores estaduais e legisladores estaduais. Mas para muitos defensores da democracia brasileira, o fenômeno Bolsonaro representa uma luz amarela, um sinal de que as pessoas estão impacientes com o fracasso da democracia em conter a inflação e oferecer um estilo de vida melhor, e um aviso de que os políticos autoritários estão ansiosos por aproveitar esse estado de espírito e cultivá-lo.
O modelo de Fujimori
“Na época do regime militar, a economia crescia 6% ao ano, você poderia comprar um carro em 36 meses”, disse Bolsonaro durante a conversa em seu escritório. “Hoje, o país mal cresce 1% ao ano. A inflação é intolerável”. “A verdadeira democracia é a comida na mesa, a capacidade de planejar sua vida, de andar na rua sem ser assaltado”, continuou. De fato, uma recente pesquisa de opinião pública em Recife, uma das cidades costeiras mais pobres do Brasil, relatou que 70% dos entrevistados achavam que a comida era mais importante do que a democracia.
Bolsonaro, que se formou na escola militar em 1973 (o ponto central do último período do regime militar), tem agora 38 anos, um congressista de primeiro mandato com cabelos negros desobedientes que caem sobre a testa. De certa maneira, ele é apenas a mais recente encarnação da longa tentação autoritária do Brasil; no último século, o país viveu sob um regime democrático formal por apenas 25 anos. Mas há uma nova reviravolta. Hoje, um modelo novo e menos odioso para o autoritarismo latino-americano surgiu no presidente do Peru, Alberto Fujimori.
Diante do impasse no Congresso no ano passado, Fujimori, um civil, ordenou ao Exército do Peru que fechasse o Congresso do país e seus tribunais. Um ano depois, Fujimori governa apenas uma Câmara no Congresso, obediente. “Eu simpatizo com Fujimori”, continuou o congressista brasileiro.
Cirurgia política, continuou Bolsonaro, envolveria o fechamento do Congresso por um período de tempo definido e permitiria que o presidente do Brasil governasse por decreto. A justificativa para uma ruptura constitucional, disse ele, seria a “corrupção política” e a inflação do Brasil, que agora está em 30% ao mês.
Com o Congresso muitas vezes travado em batalhas entre seus 21 partidos, a imprensa do Brasil tem demonstrado um fascínio crescente com o modelo de Fujimori. No mês passado, jornais, revistas e programas de notícias televisivas brasileiros realizaram longas entrevistas com o líder peruano.
“Fujimori colocou 400 mil funcionários públicos na rua”, afirmou Bolsonaro. “Como poderíamos fazer isso aqui?”
Quando detiveram o poder nas décadas de 1960 e 1970, as Forças Armadas brasileiras expandiram vastamente o setor estatal do Brasil, implantando uma confusão de empresas estatais e monopólios. Hoje, disse Bolsonaro, os líderes das Forças Armadas preferem trazer o Estado de volta ao básico: defesa, educação e saúde.
“Eu voto em todas as leis de privatização que posso”, disse Bolsonaro. “É a esquerda que se opõe à privatização. Eles só querem preservar seus empregos no governo”.
A trilha da campanha
Sua campanha não se limita ao Congresso. Ele também circula de cidade em cidade, levando sua receita de mudança autoritária para públicos que são ostensivamente compostos por reservistas e aposentados militares. “Eu só viajo para cidades militares”, disse ele. “Não estamos conspirando, porque não há agentes ativos presentes.”
Defensores da democracia suspeitam que há algo mais sinistro acontecendo fora da vista do público. Essas viagens são anunciadas como simples esforços para lançar as candidaturas de um bloco de candidatos militares de reserva de 12 A Fujimorização é a saída para o Brasil. Estados nas eleições do próximo ano para o Congresso. Todos os candidatos concorrem em listas controladas pelo partido de Bolsonaro, o Partido Progressista Reformador (PPR).
Na conversa, Bolsonaro previu que a opinião popular apoiaria esmagadoramente a suspensão do Congresso. Nesse estágio, isso pode ser apenas uma ilusão –outros acham que o país está perto de um consenso para o regime militar– , mas reflete um fato básico da vida política: qualquer restauração do regime militar só seria possível com civis sólidos. Apoio, suporte. Isso porque as Forças Armadas brasileiras somam 300 mil membros, o que dificilmente é suficiente para controlar uma nação continental de 150 milhões de habitantes apenas pela força.
Até agora, o presidente Itamar Franco descartou categoricamente qualquer ambição de ser um Fujimori brasileiro e se refere a campanhas como a de Bolsonaro como golpes de Estado incipientes. No entatno, Bolsonaro pode se inspirar em reportagens de jornais sobre reuniões fechadas entre empresários de São Paulo e oficiais do Exército, e na publicação de outdoors em uma favela do Rio de Janeiro protestando contra a alta taxa de sequestro do Rio e terminando com o apelo direto: “Forças Armadas, assumam o Poder”.
Em outras palavras, se está certo ou não, Bolsonaro acredita que o tempo está agora do seu lado. Ele está convencido de que em outubro os brasileiros enfrentarão o fracasso dos esforços anti-inflacionários de Fernando Henrique Cardoso, o quarto ministro da Fazenda do Brasil em um ano.
Enquanto isso, ele diz: “Estou arando os campos”.
Tradutor: Thiago Varella
Tijolaço

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A MATILHAS JÁ ROSNAM, FERNANDO BRITO

Infelizmente, não estava errado.
A psicóloga Silvia Bellintani narra os episódio acontecidos com dois de seus pacientes.
Não há o que eu possa dizer para sublinhar esta monstruosidade, a não ser que ela está à beira de deixar de ser ameaça e se tornar fato.
Depende de cada um de nós exorcizar os demônios que nos rondam.
Ou soltar de vez as matilhas pelas ruas.
Não sejam cúmplices
Silvia Bellintani, no Facdebook
Eu poderia dizer que estou sem palavras pra descrever o que testemunhei no meu consultório. Mas tive o dever de encontrá-las pra não deixar que algo assim, gravíssimo, ficasse sem registro.
Foram duas situações, ambas na tarde de quarta-feira (3/10). Dois pacientes meus: um menino e uma menina. Ele, gay, 19 anos. Ela, hetero, feminista, 17.
Começo por ele, que entra sem dizer uma palavra e logo começa a chorar. Pergunto o que aconteceu e ele me diz, assustado, que foi abordado por um cara da faculdade com as seguintes palavras:
— E aí, seu viadinho de merda, já viu as pesquisas? Vai aproveitando até o dia 28 pra andar de mãozinha dada, porque quando o mito assumir, acabou essa putaria e você vai levar porrada até virar homem.
E depois a menina, que já entra chorando e me diz:
— Sil, me ajuda… não sei o que fazer… você não vai acreditar no que aconteceu comigo hoje… Eu tava na escola e fui pegar um livro no meu armário… Tinha uma folha de papel (e aí ela me mostra uma foto no celular, porque entregou a tal folha na diretoria) com esta mensagem aqui: “achou mesmo que era só sair gritando #elenão pra parar o bolsomito, feminazi??? perdeu, escrota!! e daqui a pouco você vai ter motivo pra gritar de verdade!!!”.
Perceber o pavor desses dois adolescentes me virou do avesso e despertou uma indignação difícil de descrever; escutei os relatos com a visão nublada pela fúria que senti, seguida por um desejo quase incontrolável de proteger os dois.
O cenário das eleições sequer foi definido, mas já encoraja o sadismo e promete ser palco do terror.
Fico imaginando o que vem pela frente.
A homofobia e a misoginia presentes nas ameaças sofridas por esses dois adolescentes são apenas duas amostras dentre tantas outras atrocidades que Bolsonaro, esse criminoso nazifascista, incentiva e legitima.
E, se você vota nele, é corresponsável: não apenas por essas, mas por todas as outras ameaças que ainda estão por vir.
Não há justificativa para um voto no Bolsonaro.
A menos que você seja fascista como ele — e aí OK, seu voto é compreensível, uma vez que você já é digno de abandono como projeto humano.
Agora, se esse não é o caso e você for apenas liberal ou conservador, tome vergonha nessa sua cara e escolha outro candidato. Ainda dá tempo de preservar alguma dignidade. Há várias opções interessantes que prometem a defesa do seu patrimônio sem contrapartidas humanas.
Um garoto de 19 e uma garota de 17.
Assustados, angustiados, ameaçados em sua integridade física e emocional.
E você, louvável cidadão de bem, subitamente politizado e que quer ver o Brasil “mudar de verdade”, será cúmplice do fascismo e de suas históricas atrocidades físicas e emocionais.
Hoje foram meus pacientes.
Amanhã poderão ser seus filhos.
Ou os filhos de parentes, os filhos de amigos ou amigos de seus filhos.
E tudo lindamente avalizado por vocês, honrados cidadãos de bem, heroicos defensores da pátria.
(*) Silvia Bellintani é psicanalista, psicóloga clínica e jornalista
Tijolaço

NOVA PESQUISA DATAPODER360 REDUZ A EUFORIA DO DATAFOLHA E DÁ 5% ENTRE HADDAD E BOLSONARO


Pesquisa que o  Datapoder360, site do jornalista Fernando Rodrigues, publica esta manhã, mantém como estava a diferença entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RESISTIR PARA VENCER. PESQUISA IBOPE/DATAFOLHA AGORA É SÓ PROPAGANDA, POR FERNANDO BRITO


Qualquer um percebe que se formou um “todos por Bolsonaro” no país, com a vergonhosa entrega da mídia, do Judiciário e de parte dos políticos convencionais ao favoritismo do candidato fascista.
O Datafolha de hoje segue nessa toada, mas sem conseguir, entretanto, dar ao candidato da direita o empuxo necessário para evitar que a decisão fique para o segundo turno.

XADREZ DO SEGUNDO TURNO E A COMUNIDADE AMISH DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Há algumas características a se observar nessas eleições:
Peça 1 – as ondas sucessivas no período eleitoral
Toda eleição prolongada é composta por ondas sucessivas, algumas pequenas, outra que ganham dimensão e refluem, outras que se tornam vitoriosas. Foi assim em quase todas as eleições pós-ditadura, embora o resultado final consolidasse a polarização PT x PSDB.
Nesses tempos todos observou-se o fenômeno breve de Mário Covas e Guilherme Afif em 1988, Garotinho, Ciro, Marina em outros momentos.
Essa eleição teve três ondas nítidas.
A primeira, pró-Bolsonaro após a facada.
A segunda, pró-Haddad depois de oficializado como candidato a presidente.
A terceira pró-Bolsonaro, provavelmente como reação à consolidação de Haddad, aos ataques dos demais candidatos, aos vazamentos da dupla Sérgio Moro-Globo, reavivando o clima da Lava Jato e as fantásticas passeatas das mulheres contra Bolsonaro.
Vamos tentar entender melhor esse motivo final.
Peça 2 –os porões da opinião pública
1.     Há um aspecto interessante nas denúncias. Denúncias de pessoas contra seu próprio campo são mais aceitas que contra o campo adversário. Um analista neutro ou progressista criticando o PT tem mais credibilidade que um Merval da vida. E vice-versa.
2.     Os bolsonaristas são essencialmente anti-sistema. O que seria o sistema? Os partidos políticos, incluindo PT, PSDB e PMDB, é claro. A Justiça, as instituições em geral, a mídia e os chamados leitores incluídos no mercado de opinião pública, aqueles nacos de público moderno, moralmente avançado, refletido nas novelas da Globo e nas manifestações de artistas. A TV Globo é sistema. Qualquer denúncia contra o sistema pega. Contra Bolsonaro, não.
Com ajuda profissional ou não, os bolsonaristas vem montando há tempos seu microssistema de informações através de grupos de WhatsApp, Telegram e Youtube. É um mundo novo, onde notícias falsas se misturam com verdadeiras, com teorias da conspiração, por mais inverossímveis que sejam. Quem define o que é verdade ou não é a própria comunidade. É uma imensa bolha que junta comunidades, tipo amish, apartadas do mundo moderno e vivendo de acordo com seus próprios códigos. Mas, ao contrário dos amish, alimentados em ódio permanente.
E nem se imagine apenas populações pouco instruídas dos sertões. Essa ignorância cívica pega desembargadores de tribunais, pequenos e médios empresários (os grandes estão de longe nos bons negócios que podem se abrir), e uma classe média que ainda acredita no mito do comunista-comendo-criancinha.
Seria apenas uma excrescência não tivesse envolvido metade do país. Tudo isso possível graças ao processo de degradação da notícia que ocorreu com o jornalismo de esgoto dos grandes veículos e os programas sensacionalistas da TV aberta e o caos que se instaurou no mercado de opinião com o advento das redes sociais. Mas, principalmente, pela falência das instituições.
É por isso que uma manifestação épica, como a das mulheres, provoca uma contrarreação maior nas profundezas do país. É bem possível que se encontre aí as explicações para o aumento da rejeição feminina a Haddad.
Mas aí já é tema para os cientistas sociais explicarem mais à frente
Peça 3 – as novas ondas
O que interessa é daqui para frente.
Hoje, a pesquisa IBOPE mostrou alguma estabilização na última onda, com Bolsonaro e Haddad mantendo-se na margem de erro e, no segundo turno, um empate técnico, mas com Haddad levemente na frente. Significa que a segunda onda Bolsonaro pode ter chegado ao pico sem garantir a vitória no 1º turno.
Partindo-se para o 2º turno, haverá  uma nova onda Haddad, juntando todos os atemorizados por Bolsonaro.
Haverá os seguintes atores políticos tentando brecá-la:
Sérgio Moro – não se tenha dúvida que vazará mais delações de Haddad. Moro se tornou o símbolo máximo da desmoralização do Judiciário, enquanto instituição. A cada abuso, a reação são algumas palavras de condenação. E só.
Status quo -  trata-se de um contingente que aderiu a Bolsonaro pensando nas possibilidades futuras. Entram aí bilionários. É curiosa a adesão de parte da comunidade judaica, já que os judeus são alvos históricos do fascismo. Até famílias de bom nível intelectual, como os irmãos Feffer, caíram de cabeça na defesa de Bolsonaro. Não são numericamente significativos, mas tem poder de indução sobre os veículos de comunicação. Mas entram também associações empresariais, comunidade jurídica e outros setores conservadores.
Rede Globo – o editorial de hoje do jornal O Globo confirmou o que antecipamos na 6ª. A decisão do Ministro Luiz Fux, de desautorizar seu colega Ricardo Lewandowski, contou com a cumplicidade de Dias Toffoli e o salvo-conduto da Globo. O editorial faz críticas leve a Moro e pesadas a Lewandowski. Nenhum pio sobre a decisão de Fuxque, além de ilegal, atentava contra a liberdade de expressão e defendia a censura prévia. A Globo incorre na mesma posição de Ministros do Supremo, como Luis Roberto Barroso, políticos, jornalistas, de não se guiar por princípios doutrinários, nem sequer pelos fundamentos da liberdade de imprensa. Aliás, este é o preço maior do subdesenvolvimento brasileiro, a praxi macunaímica de parte relevante da elite. Significa que continuará dando respaldo aos vazamentos de Moro ou à disseminação de factoides.
Por outro lado, haverá os seguintes fatores à favor:
Fim dos ataques de outros candidatos – No 2º turno, rasgam-se as fantasias. No 1º, Haddad foi alvo de vários candidatos, por motivos diversos. Ciro, para tentar substituí-lo como o algoz de Bolsonaro. Alckmin para substituir Bolsonaro como algoz do PT. Marina por ser um poço até aqui de mágoas. E Álvaro Dias por ser um político provinciano de baixíssimo nível.
Clareza sobre a disputa - No 2º turno, esse Brasil mais moderno, espalhado por parte do eleitorado de Alckmin, por Ciro e Marina terá que se decidir entre Bolsonaro e Haddad. Agora, não haverá mais zonas cinzas. A disputa será entre modernidade e atraso, civilização e barbárie.
Tete-a-tete nos debates – Bolsonaro terá que se mostrar, agora. E caberá a Haddad o desafio de domar o bruto, evitando a armadilha de se fixar em temas morais ou de desqualificar o oponente por sua ignorância. Qualquer dessas estratégias será considerada ofensa pessoal a cada bolsominion – já que o candidato tem a mesma dimensão de seu eleitor médio. O desafio será explicitar os efeitos nefastos do liberalismo selvagem de Bolsonaro sobre emprego e renda. Nesse campo, Haddad contará com o apoio inestimável do general Mourão. Espera-se que apenas esconda o Mourão do PT, o ex-Ministro José Dirceu. Terá também que afirmar sua personalidade, para cativar os anti-lulistas.
Serão três semanas de pau puro. Na primeira, será possível esperar o crescimento da onda Haddad. Depois, é torcer.
GGN

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

NOVO IBOPE BOLSONARO TEM 32%, HADDAD CRESCE E VAI A 23%, VENCENDO NO SEGUNDO TURNO DE 43% A 41%


O Ibope liberou hoje mais uma pesquisa de intenção de voto para a eleição presidencial. De acordo com a pesquisa, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, tem 32% das intenções de voto, seguido por Fernando Haddad, do PT, com 23%. Ciro Gomes (PDT) tem 10%, Geraldo Alckmin (PSDB) tem 7% e Marina Silva (Rede) manteve os 4%.

DESVENDANDO O MISTÉRIO FASCISTA, POR GILLIAM ATTIQ


Um relato
Fiquei com uma certeza após o Ibope de ontem (01/10): os analistas estão errando feio por não conhecerem o que ocorre no subterrâneo de muitos grupos de WhatsApp que apoiam Bolsonaro.
Nas últimas semanas fui incluída em três grupos e fiquei em todos com um objetivo: curiosidade sobre o que move as pessoas em favor dessa figura do mal.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O SISTEMA SE ENTREGA A BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

A lógica de Bolsonaro é ser anti-sistema, o representante do país sombrio, da maioria silenciosa que nunca se viu representada na política. No parlamento, é o baixo clero. Na mídia, é personagem secundário, restrito aos veículos regionais. Ou limitando-se a ver o país através das lentes dos programas policiais e do filtro dos jornais nacionais, sempre na posição passiva.
Os bolsonaristas são cidadãos de um país anacrônico, que acompanhava, passivamente, o cosmopolitismo provinciano do Rio e de São Paulo, mas não se sentia politicamente integrado.
É o valentão da moto, que só consegue se impor fisicamente sobre os nerds, esses moleques exibidos que querem falar chic. São os grupos, as gangs que se formaram em torno de temas não-políticos, colecionadores de motos, de veículos antigos, valentões de bar, grupos religiosos, colegas de bar, irmãos de maçonaria. Ou apenas cidadãos classe-média que escondiam preconceitos e ódios, comuns à pré e a pós-modernidade e que, graças às redes sociais, se descobriram maioria em seus redutos.
Junte-se a esse grupos empresários que aprenderam apenas a ganhar dinheiro, sendo submetidos dia após dia ao liberalismo superficialíssimo do sistema Globo, condenando qualquer forma de regulação e de atuação do Estado.
Quando a Globo decidiu levar o povo para as ruas, para atropelar a Constituição, e o STF (Supremo Tribunal Federal) convalidou o golpe, esse Brasil soturno emergiu com toda força. Pensaram repetir as maiorias silenciosas de 1964 que, depois de usadas, foram deixadas de lado. Não se deram conta do poder de aglutinação das redes sociais. Eles, agora, têm voz própria e se valem da desorganização total no sistema, da quebra de todas as regras e leis, para ocupar espaços, trazendo consigo agentes oportunistas de todas as espécies. -derrotados políticos, economistas, lideranças que foram sucessivamente derrotadas no jogo eleitoral e que, agora, se julgam em condições de cavalgar o leão sem ser devorado.
Tudo isso ocorre no país de Macunaíma. Aproveitam-se do jogo Ministros do Supremo, ministros de tribunais, economistas de mercado, mais abaixo um pouco, promotores liberados para prender, juízes liberados para condenar, fazendo acertos de contas em cada canto do país. Abrem a jaula achando que vão parlamentar com o leão faminto.
E aí acontece o paradoxo.
O Brasil que saiu às ruas no sábado, nas históricas manifestações das mulheres, é o país civilizado, defendendo bandeiras adequadas aos tempos modernos. O Brasil anacrônico dos grandes meios de comunicação, segura a informação. A reação da maioria silenciosa é aumentar a adesão a Bolsonaro – se a pesquisa IBOPE foi efetivamente séria, captando um soluço ou uma tendência.
A cada jogada de cena combinada, nos debates de presidenciáveis, mais se esboroa o Brasil institucional. A cada autodesmoralização do Supremo, mais gás para a besta.
O antipetismo desvairado da mídia, o oportunismo de presidenciáveis, de explorar o fantasma do suposto autoritarismo do PT tem efeito multiplicado nas redes sociais. Revive as maluquices do “comunista-comedor-de-criancinhas” e é tiro nos dois pés. Não demoniza apenas o PT, desmoraliza as instituições, o “sistema” – que Bolsonaro, mais uma vez, anunciou que irá destruir. E até Ciro Gomes, o presidenciável com melhores propostas, embarca nessa aventura que, em vez de levá-lo para o segundo turno, poderá levar Bolsonaro ao poder.
O PT tem defeitos enormes. Mas o oportunismo do país institucional, de atribuir ao partido propósitos ditatoriais, para navegar nas águas fáceis do anticomunismo mais primário, tem um efeito multiplicador terrível na base, nos escaninhos das redes sociais de onde se alimenta o bolsonarismo.
E fica o Brasil institucional aguardando o momento em que FHC descerá do seu ego e engrossará a frente contra o atraso. Sabe o que vai acontecer? Nada. Será anulado com um pum que Bolsonaro reteve no hospital.
GGN

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

MORO PROVOU QUE FAZ POLÍTICA E NÃO JUSTIÇA, DIZ ZANIN MARTINS

O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a decisão do juiz Sérgio Moro, que quebrou nesta segunda-feira, 1, o sigilo de parte do acordo de delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci a apenas seis dias das eleições presidenciais. 
"Palocci, por seu turno, mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova, sobre Lula para obter generosos benefícios que vão da redução substancial de sua pena – 2/3 com a possibilidade de 'perdão judicial' – e da manutenção de parte substancial dos valores encontrados em suas contas bancárias", acrescentou.
"A conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro na Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula", diz Zanin em nota. 
"Moro juntou ao processo, por iniciativa própria ('de ofício'), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais", acrescenta o advogado de Lula. 
Sérgio Moro incluiu as informações delatadas por Palocci na ação penal do Instituto Lula. No despacho, o juiz afirma que "examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade". A delação é Palocci é classificada pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais procuradores da Lava Jato, como um blefe. "Está mais para o acordo do fim da picada", disse ele (leia mais). 
Leia, abaixo, a nota na íntegra:
A conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro na Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula.
Moro juntou ao processo, por iniciativa própria ("de ofício"), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais.
Palocci, por seu turno, mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova, sobre Lula para obter generosos benefícios que vão da redução substancial de sua pena – 2/3 com a possibilidade de "perdão judicial" – e da manutenção de parte substancial dos valores encontrados em suas contas bancárias.
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LEWANDOWSKI REAFIRMA ENTREVISTAS COM LULA E AVISA NÃO TOLERAR DESACATO

Foto: Agência Brasil
O ministro Ricardo Lewandowski derrubou a decisão do colega de Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que havia censurado entrevistas da Folha de S. Paulo e do jornalista Florestan Fernandes Jr. com o ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba desde o dia 7 de abril. 
A nova ordem de Lewandowski tem caráter de mandado e o magistrado mandou avisar ao TRF-4 e à juíza Carolina Lebbos, que cuida da execução penal de Lula, que não será tolerante com desacato. Ou seja, o descumprimento será entendido como "configuração de crime de desobediência, com o imediato acionamento do Ministério Público para as providência cabíveis." 
Na decisão, Lewandowski deu um chacoalhão em Fux, expondo todos os erros que o vice-presidente do Supremo teria cometido, apenas para impedir o acesso de Lula à imprensa, numa estratégia deflagrada em velocidade descomunal. 
Lewandowski concluiu que "a teratológica decisão proferida" por Fux "é nula de pleno direito, pois vai de encontro à garantia constitucional da liberdade de imprensa e, além de afrontar as regras processuais vigentes, desrespeita todos os Ministros do Supremo Tribunal Federal ao ignorar a inexistência de hierarquia jurisdicional entre seus membros e a missão institucional da Corte." 
Segundo o ministro, o recurso contra a autorização para que Lula seja entrevistado foi questionada pelo Partido Novo na sexta-feira passada. Como Dias Toffoli, presidente do Supremo, não estava em Brasília, mas em São Paulo, a Secretaria da Presidência acabou endereçando o recurso para Fux julgar, por volta das 20h. Pouco depois das 22h, Fux já tinha a decisão formulada, atropelando Lewandowski na análise de um recurso que sequer era correto do ponto de vista técnico. 
Não suficiente, o Partido Novo não tem competência para questionar uma decisão de mérito de ministro do Supremo com um pedido de suspensão de liminar. Além disso, ainda que Fux não tivesse "usurpado" a função e avocado a ação para si, ele não poderia ter cassado decisão de outro ministro alegando ocupar momentaneamente o cargo de presidente da Corte. "O pronunciamento do referido Ministro, na suposta qualidade de 'Presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal', incorreu em vícios gravíssimos", escreveu nesta segunda (1/10). 
"As hipóteses de revisão de decisões proferidas monocraticamente pelos Ministros estão catalogadas exaustivamente no Regimento Interno e ocorrem sempre por um órgão colegiado (Turma ou Plenário), mas nunca por outro Ministro, sob pena de instaurar-se verdadeira guerra intestina, com a contraposição de decisões divergentes, o que, além de provocar enorme insegurança jurídica, retiraria a credibilidade da mais alta Corte do país." 
Ainda segundo Lewandowski, o recurso movido erroneamente pelo Novo, chamado de "Suspensão de Liminar", "abarca apenas pedido formulado ao Presidente do Supremo Tribunal Federal para que se impeça a execução de medida cautelar concedida por uma Corte inferior." 
Para o ministro, "a estratégia processual, a qual redundou na decisão aqui atacada, inteiramente tisnada por vícios insanáveis, foi arquitetada com o propósito de obstar, com motivações cujo caráter subalterno salta aos olhos, a liberdade de imprensa constitucionalmente assegurada a um dos mais prestigiosos órgãos da imprensa nacional." 
"Ainda que a decisão fosse convalidada pelo Presidente da Corte, reputo-a absolutamente ilegítima, uma vez que proferida não só em usurpação da competência deste como também ao arrepio da legislação processual." 
A decisão está em anexo, abaixo.
Arquivo:
GGN