sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

XADREZ DO INACREDITÁVEL MUNDO DOS BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – os núcleos de poder
Conforme já descrevemos em outros Xadrez, há quatro grupos iniciais de poder do futuro governo Bolsonaro.
A corte familiar, englobando os três filhos, mais os ministros ideológicos.
A núcleo militar, ocupando a infraestrutura e monitorando as ações de Bolsonaro, corrigindo cada declaração estapafúrdia.
Paulo Guedes e seus chicagos boys.
Correndo por fora, Sérgio Moro tentando fincar uma torre fora do alcance de Bolsonaro.
Peça 2 – sobre a a família Bolsonaro
Trata-se de um jogo de fácil previsão:
Bolsonaro, o Jair, é emocionalmente frágil, intelectual e socialmente dependente dos filhos.
Os filhos têm a agressividade dos toscos. Não se trata meramente de grossura. Grosso por grosso, ACM era, assim como Gilmar Mendes e outros personagens da política, mas que sabem utilizar a grossura como recurso político. Os Bolsonaro são grossos de graça, primários, valentões de rede social.
Agora, as revelações do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) comprovam que a família compartilha hábitos comuns ao baixo clero político, de receber mesadas e dinheiro de fontes desconhecidas. Não têm escrúpulos, mas também não têm a sofisticação para as grandes tacadas.
O caso COAF foi apenas um aperitivo. A rapidez com que Carlos Bolsonaro e o futuro governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, correram a anunciar negócios milionários com Israel, na área de segurança, mostra um apetite e uma imprudência que atropelam qualquer noção de autopreservação.
Há pistas que surgiram ao longo dos últimos tempos, mostrando ligações dos Bolsonaro com policiais ligados a milícias. Pode ser que sejam apenas apoiadores da família. Mas, com a total falta de noção dos irmãos, e com dinheiro brotando nas contas dos seguranças, reforçam as suspeitas de seu envolvimento com as milícias.
A maneira como reagiram às denúncias demonstra falta de malícia a toda prova. Indagado sobre o dinheiro recebido pelo segurança, Carlos Bolsonaro limitou-se a responder que ele é de sua estrita confiança e não há nada que o desabone. Claro que é de sua estrita confiança! Como o contador de Al Capone era de sua estrita confiança. Só faltava terceirizar operações dessa natureza para alguém que não merecesse sua confiança.
Indagado sobre o tema, Onyx Lorenzoni, o porta-voz político, limitou-se a perguntar “onde estava a COAF” nos escândalos petistas. Recorreu ao álibi universal – de se defender mencionando o PT -, sem saber que a COAF foi peça central no rastreamento do dinheiro pela Lava Jato.
O pai Jair teve comportamento pior. Depois de segurar a taça do campeonato do Palmeira com total desenvoltura, alegou recomendação médica para fugir do primeiro evento público após a divulgação da denúncia. Bateu em retirada mesmo.
Tem-se aí, portanto, um quadro de ampla vulnerabilidade para a governabilidade do futuro governo.
Peça 3 – a esperteza de Sérgio Moro
O abre-te Sésamo de Sérgio Moro continua sendo a cooperação internacional. Sua última tacada é a tentativa de induzir o Congresso a aprovar uma legislação tendo por base a resolução 1373, de 2001, do Conselho de Segurança da ONU, sobre lavagem de dinheiro e terrorismo.
Hoje a CBN diz que se o Brasil não adotar essa legislação irá para as catacumbas do inferno, perderá investimentos, dinheiro sairá do Brasil.
Explica nosso colunista André Araújo:
Resoluções da ONU são milhares, e de valor sempre RELATIVO. Alguns países cumprem, muitos nem tomam conhecimento. Os EUA usam essas resoluções quando lhes convém, quando não ignoraram completamente. Israel nem se fala, a Rússia e a China descumprem a maioria.
Essa Resolução veio no rescaldo do 11 de Setembro nos EUA e seu foco é muito mais o terrorismo do que o tráfico, corrupção, crimes financeiros. Mas como é um balaio onde cabe tudo o que se quiser colocar.
A Resolução já está rondando há mais de 15 anos, e o Brasil até agora não tomou conhecimento. A própria consultoria jurídica da ONU opinou que a resolução 1273 é ilegal dentro do direito internacional. Lia aqui: “Medidas do Conselho de Segurança contra terrorismo não têm base legal, afirma especialista independente da ONU
O Ministro Moro joga com a bandeira da ONU, na verdade ele quer  mais poder. O Brasil não está sendo pressionado pela ONU. Esse modo de usar a mão da ONU, do FMI, da OCDE, do Banco de Liquidações Internacionais como arma interna de poder é esperteza antiga.
Nos próximos meses Moro terá que enfrentar desafios bem mais complexos do que como juiz da Lava Jato. Estará sob exposição constante. E terá que demonstrar uma desenvoltura muito maior do que nos interrogatórios de réus e testemunhas.
Além disso, terá pela frente as denúncias contra aliados. Na Lava Jato havia o álibi de que o alvo único era o PT por ser ele o partido que estava no poder.
Será difícil encontrar outra narrativa para eximi-lo de atuar nas denúncias envolvendo o governo Bolsonaro.
Peça 4 – Paulo Guedes e seus chicagos boys
Paulo Guedes continua preso ao dogma de que um ajuste fiscal imediato e radical trará imediatamente os investimentos de volta. A ideologia cega o impede de pensar qualquer política anticíclica.
Esta semana, Michel Temer divulgou a relação das heranças virtuosas que deixará para o sucessor, provavelmente antes de ser preso por corrupção. Entre elas, investimentos de ordem de R$ 300 bilhões prontos para serem deflagrados.
Na verdade, a carteira de financiamentos aprovados pelo BNDES é bem maior do que essa quantia. Mas está tudo paralisado pelas loucuras cometidas pela Lava Jato do Rio de Janeiro, os atos atrabiliários contra funcionários do banco, criminalizando operações normais. O governo Temer não teve sequer a competência de destravar esses financiamentos. E, agora, os apresenta como se tivessem sido preparados em sua gestão.
Nesse ponto, a entrega da infraestrutura para os militares facilitará esse destravamento.
Mas as expectativas fantasiosas do mercado – como a de uma reforma radical da Previdência – não sairão do papel.
Tem-se, hoje em dia, um quadro complexo:
A recessão continua derrubando a arrecadação fiscal. A nova lei trabalhista, ao desestimular o emprego formal, está reduzindo drasticamente as contribuições previdenciárias e a arrecadação fiscal.
A ideia de instituir um regime de capitalização é totalmente fantasiosa. Hoje em dia o sistema é de repartição simples: isto é, a arrecadação de hoje paga os benefícios de hoje. Se a arrecadação está sendo insuficiente para a repartição simples, de onde tirará recursos para a capitalização? Por acaso irá reduzir os benefícios aos militares ou ao funcionalismo público?
A reforma ocorrida anos atrás, instituindo um regime de capitalização para novos funcionários, é a maneira correta, com os benefícios aparecendo gradativamente. Não há milagres que tragam resultados instantâneos.
As únicas medidas de resultado imediato seriam um encontro de contas com os estados, visando resolver a questão da previdência estadual. Mas dificilmente a equipe de Guedes terá imaginação criadora e convicção cartesiana para superar o ideologismo rotundo que a domina.
Peça 5 – o fator militar
A cada dia que passa, a cada declaração dos filhos, dos Ministros da cota dos Bolsonaros, mais nítido fica a falta absoluta de condições de governabilidade. Já se abriram as comportas do escândalo, apesar de todo antipetismo da mídia e do tempo de carência que, geralmente, se trata um novo governo.
Dependendo do ritmo dos escândalos, será inevitável o enquadramento final de Bolsonaro, obrigando-o a afastar os filhos e a reduzir a máquina de falar besteiras. E, pelo fato de ser o único centro de racionalidade do governo, cada vez mais os militares assumirão poder.
GGN

KENNEDY ALENCAR ENTREVISTA LULA NA PRISÃO POLÍTICA AO QUAL PURGA PARA A BBC DO REINO UNIDO

O site britânico de notícias BBC publicou nesta quinta-feira, 6 de dezembro, a primeira entrevista feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde sua prisão, no dia sete de abril. Lula denuncia Moro à BBC em sua primeira entrevista desde a prisão.
Proibido de conceder entrevistas ao vivo ou por telefone, o obstáculo foi contornado pelo jornalista Kennedy Alencar usando uma troca de correspondências. O material será parte de um documentário que será transmitido no Reino Unido em janeiro pela BBC, entitulado What Happened to Brazil? (O Que Aconteceu Com O Brasil?, em tradução livre). 
Nas cartas escritas de sua cela na sede da Polícia Federal em Curitiba, Lula denunciou o juiz Sérgio Moro como seu perseguidor, com o objetivo claro de alija-lo da disputa eleitoral desde ano. O ex-presidente disse que Jair Bolsonaro venceu o pleito em outubro "apenas porque não concorreu comigo".  
"Fui condenado por ser o presidente da República mais bem sucedido e o que mais fez pelos pobres. Moro sabia que, se agisse dentro da Lei, teria que me absolver e eu seria eleito presidente. Ele então fez política e não justiça, colhendo agora os benefícios", escreveu Lula, que ainda disse que os cidadãos brasileiros correm perigo, visto que "isso pode ser feito com um ex-presidente". 
Moro respondeu as acusações afirmando à BBC que Lula foi condenado não apenas por ele, mas também outros tribunais. Ele disse que o ex-presidente seria o chefe do escândalo da Petrobrás, que teria movimentado dois bilhões de reais em propinas. 
GGN

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

WHATSAPP DISTORCEU A ELEIÇÃO BRASILEIRA, PROVANDO O PERIGO DA MÍDIA SOCIAL PARA A DEMOCRACIA

Foto: Reuters 
A desinformação através da mídia social desempenhou um papel preocupante em impulsionar o congressista de extrema direita Jair Bolsonaro para a presidência brasileira. 
Bolsonaro não ganhou 55% dos votos graças à falta de informação sozinha. Um forte desejo de mudança política no Brasil depois de um escândalo de corrupção de muitos anos e uma decisão judicial que obrigou o líder favorito Luis Inácio Lula da Silva a se retirar da disputa abriram as portas para sua vitória. 
Mas a candidatura de Bolsonaro se beneficiou de uma poderosa e coordenada campanha de desinformação destinada a desacreditar seus rivais, segundo o jornal brasileiro Folha. 
Dias antes do segundo turno entre Bolsonaro e o esquerdista Fernando Haddad, em 28 de outubro, uma investigação da Folha revelou que um lobby conservador de empresas brasileiras havia financiado a campanha de difamação multimilionária - atividades que podem ter constituído uma contribuição ilegal à campanha. 
Precipitação de escândalo de eleição 
Usando o WhatsApp, um serviço de mensagens de propriedade do Facebook, os apoiadores do Bolsonaro fizeram um ataque de desinformação diária direto a milhões de telefones de brasileiros. 
Eles incluíram fotos manipuladas retratando membros veteranos do Partido dos Trabalhadores celebrando com o comunista Fidel Castro depois da Revolução Cubana, clipes de áudio manipulados para deturpar as políticas de Haddad e falsas verificações de fatos, desacreditando as notícias autênticas. 
A estratégia de desinformação foi eficaz porque o WhatsApp é uma ferramenta de comunicação essencial no Brasil, utilizada por 120 milhões de seus 210 milhões de cidadãos. Desde que as mensagens de texto do WhatsApp são encaminhadas e compartilhadas por amigos e familiares, a informação parece mais credível. 
As consequências da reportagem de primeira página da Folha obrigaram o WhatsApp a publicar um artigo de opinião apologético. 
“Todos os dias, milhões de brasileiros confiam no WhatsApp com suas conversas mais particulares”, escreveu o vice-presidente do WhatsApp, Chris Daniels, na Folha. “Como as informações boas e ruins podem se tornar virais no WhatsApp, temos a responsabilidade de ampliar o bem e mitigar o dano.” 
A empresa anunciou que limparia milhares de contas de spam no Brasil, rotulará claramente as mensagens para mostrar que elas foram encaminhadas, apertar regras sobre mensagens de grupo e se associar a organizações brasileiras de checagem de fatos para identificar notícias falsas. 
O mais alto tribunal eleitoral do Brasil também criou um "conselho consultivo na internet e eleições" para investigar a desinformação nas eleições de 2018 no Brasil e propor regulamentações para limitar seu impacto em futuros processos políticos. 
É um mundo definido pelo WhatsApp 
O Brasil é o último país a saber que as mídias sociais podem minar o processo democrático. 
Inúmeros estudos confirmaram que uma mistura tóxica de má administração de dados, propaganda direcionada e desinformação on-line também influenciaram os resultados da votação do Brexit no Reino Unido e da corrida presidencial dos EUA em 2016. 
O escândalo eleitoral do Brasil no WhatsApp deve ser um alerta particularmente para outras democracias do mundo em desenvolvimento, como revelado em pesquisa que apresentei recentemente no Fórum de Governança da Internet das Nações Unidas. 
Isso porque as condições que permitiram que notícias falsas prosperem no Brasil existem em muitos países da América Latina, África e Ásia. 
O acesso à Internet é muito caro no Brasil. Uma conexão de banda larga pode custar até 15% da renda familiar e planos móveis com dados ilimitados, comuns em países ricos, são raros. 
Em vez disso, as operadoras de celular atraem os usuários oferecendo planos de "classificação zero" com acesso gratuito a aplicativos específicos, como Facebook, WhatsApp e Twitter. Quase três quartos dos internautas brasileiros tinham esses planos de internet móvel pré-pagos em 2016, segundo o centro de pesquisa tecnológica CETIC.br. 
A maioria dos brasileiros, portanto, tem acesso ilimitado à mídia social, mas muito pouco acesso ao resto da internet. Isso provavelmente explica por que 95% de todos os internautas brasileiros dizem que acessam principalmente aplicativos de mensagens e redes sociais. 
No entanto, o “resto da internet” é precisamente onde os brasileiros poderiam ter verificado as notícias políticas enviadas para eles no WhatsApp durante a eleição de 2018. Essencialmente, a checagem de fatos é muito cara para o brasileiro médio. 
Preocupação com as eleições na África 
As democracias na África, onde mais de uma dúzia de países realizarão eleições em 2019, são vulneráveis ​​ao mesmo tipo de acesso desigual à informação que influenciou o voto presidencial do Brasil. 
Como no Brasil, muitos africanos obtêm acesso à Internet despojado através das plataformas Internet.org e Free Basics do Facebook. Mas, preocupantemente, a maioria dos países africanos tem pouca ou nenhuma proteção de dados e nenhum requisito de neutralidade da rede para que os provedores de internet tratem todos os conteúdos digitais da mesma forma, sem favorecer aplicativos específicos. 
Na minha análise, o Facebook e um punhado de empresas de tecnologia estão agora correndo para coletar e monetizar os dados coletados através de aplicativos patrocinados, permitindo-lhes fazer o perfil de milhões de africanos. A supervisão negligente do governo significa que as pessoas nunca podem ser informadas de que pagam por esses aplicativos "gratuitos" ao expor suas informações pessoais à mineração de dados por empresas privadas. 
Tais informações pessoais são extremamente lucrativas para os anunciantes na África, onde as pesquisas de opinião pública e os inquéritos aos consumidores ao estilo ocidental ainda são raras. É fácil imaginar quão valiosa seria a propaganda direcionada para candidatos políticos e lobbies no período que antecedeu as eleições africanas de 2019. 
Mova-se rapidamente e rompa a democracia 
A democracia não pode prosperar quando o eleitorado é intencionalmente mal informado sobre candidatos, partidos e políticas. 
O debate político impulsionado por gostos, ações e comentários irados nas mídias sociais aumenta a polarização e distorce o discurso público saudável. No entanto, as evidências mostram que insultos, mentiras e polêmicas são o que melhor impulsionam o engajamento do usuário que gera esses preciosos dados pessoais. 
Por mais de uma década, as redes sociais têm sido associadas à comunicação livre, livre de gatekeepers, como editores de notícias ou verificadores de fatos. Muitos no Vale do Silício e além viram essa ruptura inovadora como amplamente benéfica para a sociedade. 
Isso pode ser verdade quando as redes sociais são apenas uma das muitas maneiras pelas quais as pessoas podem se engajar em debates abertos e pluralistas. Mas quando apenas um punhado de aplicativos está disponível para a maioria dos usuários, servindo como o único canal para o diálogo democrático, as mídias sociais podem ser facilmente manipuladas para fins venenosos. 
O lema de longa data de Mark Zuckerberg era: “Mexa-se e quebre as coisas”. Esse slogan foi retirado em abril de 2018 , talvez porque é cada vez mais evidente que a democracia está entre as coisas que o Facebook e os amigos deixaram rompidos. 
Luca Belli é Professor de Governança e Regulação da Internet, Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas
GGN

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

DNA IDENTIFICA HOMEM TORTURADO E MORTO SOB COMANDO DE USTRA, O HERÓI DE BOLSONARO

Foto: EBC 
O Grupo de Trabalho Perus divulgou nesta segunda-feira (3), em Brasília, a confirmação da identidade de um homem torturado e morto sob o regime militar. A identificação do bancário Aluízo Palhano Pedreira Ferreira, que esteve preso no departamento comandando por Carlos Brilha Ustra - o herói de Jair Bolsonaro - nos anos 1970, foi possível por conta de exame de DNA. Ele foi assassinado por volta dos 49 anos.  
O Ministério Público Federal denunciou Ustra e mais um agente da ditadura pelo feito em 2012, mas após a morte do coronel, seu nome foi retirado da ação. À época, a Justiça Federal rejeitou a denúncia argumentando que ela violava os fundamentos da Lei da Anistia. O MPF recorreu e o caso está aguardando análise do Superior Tribunal de Justiça. 
Ferreira foi funcionário do Banco do Brasil e um dos principais líderes sindicais do País. Em 1970, segundo dados da Folha de S. Paulo, Ferreira integrou a organização clandestina de luta armada contra a ditadura VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), do ex-capitão Carlos Lamarca. Ele foi foi preso em 9 de maio, em São Paulo, e torturado em instalações do Cenimar, o centro de inteligência da Marinha.
Depois, foi transferido para o DOI-Codi (Departamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, órgão do Exército sob comando de Ustra, onde Ferreira morreu após novas torturas, possivelmente em 21 de maio de 1971. 
O Grupo de Trabalho Perus tem o objetivo de identificar os corpos encontrados na vala de Perus, em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o Ministério dos Direitos Humanos, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos da Prefeitura e a CEMDP (Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos), além do Ministério Público Federal. 
O caso de Ferreira é o segundo identificado pelo Grupo, o quinto relacionado à vala de Perus, onde cerca de outras mil ossadas foram localizadas nos anos 1990 em Perus, durante a gestão de Luiza Erundina, no Paço paulistano. O cemitério Dom Bosco fica na periferia da capital.
GGN

domingo, 2 de dezembro de 2018

EX-FUNCIONÁRIO REVELA FRAUDE COM CPFs ALHEIOS PARA DISPAROS EM MASSA NO WHATSAPP

Matéria da Folha revela uso fraudulento de dados de idosos para garantir disparo em massa em benefício de políticos.
Imagem divulgada por ex-funcionário da Yacows. Reprodução.
Uma ação movida na Justiça do Trabalho pelo ex-funcionário da Yacows, Hans River do Rio Nascimento, revela que empresas de envio de mensagens em massa pelo WhatsApp, que atuaram nestas eleições, recorreram ao uso fraudulento de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular. A informação é da Folha de S.Paulo, em reportagem assinada por Artur Rodrigues e Patrícia Campos Mello. 
Os repórteres entraram em contato com Nascimento por diversas vezes. As primeiras conversas aconteceram em 19 de novembro e foram "sempre gravadas". Ele foi ex-funcionário de uma das empresas dos irmãos Lindolfo Alves Neto e Flávia Alves, responsáveis pelas agências Yacows, Deep Marketing e Kiplix, todas localizadas no mesmo endereço em Santana, zona norte de São Paulo. 
A ação movida por Nascimento é de causa trabalhista por uma contratação que durou de 9 de agosto a 29 de setembro, com salário de R$ 1.500, alegando não ter recebido horas extras, por diversas vezes não ter feito pausa para almoço, além de não ter sido registrado. 
À Folha, ele afirmou que as empresas usaram nomes de CPFs e datas de nascimento de pessoas na faixa dos 65 a 86 anos, nascidas entre 1932 a 1953, e que ignoravam o uso de seus dados para cadastrar chips de celulares. Uma lista de 10 mil nomes dessas pessoas foi enviada à reportagem do jornal, que teria sido distribuída pela Yacows com a finalidade de aumentar o número de telefones para disparos de mensagens. Por lei, cada chip em uso deve ser cadastrado a um CPF existente. E a necessidade de um grande número de CPFs se dava porque o WhatsApp barra números que enviam grande volume de mensagens, evitando spam.
Em outubro, dias antes do segundo turno da eleição, a Folha divulgou uma matéria mostrando que empresários pagavam para impulsionar mensagens anti-PT na disputa eleitoral. A publicação levou o WhastApp a bloquear contas ligadas às agências Quickmobile, Croc Services, SMS Market e Yacows, citadas na reportagem. 
Além da lista com os 10 mil nomes de dados de idosos utilizados para o cadastro de CPF, a Folha conta que Nascimento compartilhou com os repórteres fotos de caixas com chips e salas cheias de computadores ligados a diversos celulares e chipeiras, equipamento que usa chip de celulares para imitar o WhatsApp e fazer disparos. 
"Uma vez ativados com os dados usurpados, os chips eram usados em plataformas de disparos em massa no WhatsApp", destaca a matéria, acrescentando a informação do ex-funcionário de que "cerca de 99%" do trabalho que faziam eram para campanhas políticas e 1% para a marca de cosméticos Jequiti. 
A matéria ressalta que, no último dia 25, Nascimento voltou atrás e pediu para a Folha retirar seus depoimentos das publicações. A solicitação foi feita, após fazer um acordo com a antiga empregadora, registrado no processo. 
"Pensei melhor, estou pedindo pra você retirar tudo que falei até agora, não contem mais comigo" disse em mensagem de texto para o jornal. Para ler a matéria da Folha a íntegra, clique aqui.  
GGN

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

"JAIR BOLSONARO É O PIOR REPRESENTANTE DESSE SISTEMA", DIZ LULA

Foto: Ricardo Stuckert
"Esta não foi uma eleição normal", escreveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de dentro da prisão na sede da Polícia Federal em Curitiba. A nova carta de Lula alerta para todos os riscos, contra avanços do país, do novo governo a partir de janeiro de 2019. E conclama a população a "manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa".
"Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016", lembrou.
"Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer."
Leia a íntegra da carta de Lula:
Companheiras e companheiros,
Do fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a cada militante do nosso partido, pela generosidade e coragem diante da mais sórdida campanha que já se fez contra um partido político neste país.
Agradeço à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado minha candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado totalmente, com muita força, na candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à missão que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência e o preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.
Saúdo os quatro governadores que elegemos, em especial a companheira Fátima Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição, mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram candidatos, fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47 milhões de votos no segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de imensas responsabilidades. 
O povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa. Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa farsa judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me afastar do processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em tratado internacional, para impedir minha candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no submundo da internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova da seletividade de um sistema judicial que persegue o PT.
Se alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sérgio Moro contra mim e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou no político que dizia não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira natureza.
Eu não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições.
Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos, as políticas sociais, a política externa. E vai executar um programa ultraliberal, de entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos eleitores e muito menos aprovado nas urnas.
Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a indignação com a corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem respostas concretas para nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para segurança é armar as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo, porque Sérgio Moro e a Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da Petrobras. A maioria está solta ou em prisão domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato, o representante do sistema político tradicional, que controla a economia e as instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de estar preparados para continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras soluções para o Brasil, pois acredito que, por mais que queiram, não vão conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os direitos do povo, em tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos, com a responsabilidade de sermos o maior partido político do país.
E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos atuar em conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível não existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva.
GGN

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

AVANÇA A CRIMINALIZAÇÃO DA ATIVIDADE POLÍTICA E O ESTADO EXCEÇÃO, POR DANIEL SAMAM

A prisão do governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), a 30 dias do fim do seu mandato, é mais um capítulo do ativismo político do Poder Judiciário. 
Baseada numa delação de 8 meses atrás que, como de praxe, não foi confirmada por qualquer tipo de prova, acusando o governador de um crime da época em que este era vice-governador. O delator, Carlos Miranda, depois de dizer aquilo que o Judiciário queria ouvir, está em prisão domiciliar. 
Que fique claro, tais acusações não passam de mero pretexto pra pirotecnia do ato da prisão cumprir o propósito de criminalizar a atividade política. 
Essa ação de hoje (29) tem como consequência o fortalecimento da narrativa para a sociedade chancelar uma solução de recorte autoritário que hoje no Estado do Rio tem nome e sobrenome: Wilson Witzel. 
Pra quem ainda tergiversa com o estado de exceção promovido pelos ativistas do Judiciário que se concentram na Operação Lava Jato, cuidado. Lembrem-se que depois do A, vem o B, o C, o D e assim por diante. O próximo pode ser você. 
Daniel Samam é músico e educador. É membro do Instituto Casa Grande e do Coletivo Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores. 
GGN

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

SUÍÇA ENVIA DOCUMENTOS DE R$ 43,2 MILHÕES DE TUCANO SOBRE CAMPANHA DE SERRA EM 2010

Campanha de José Serra em 2010 - Foto: Arquivo/Divulgação 
Não era apenas o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), Paulo Vieira de Souza, reconhecido como o operador de propinas do PSDB e também chamado de Paulo Preto, o único tucano que mantinha milhões em contas ocultas na Suíça. O ex-deputado, ex-presidente do PSDB do Rio de Janeiro (1993) e empresário Ronaldo Cezar Coelho admitiu que recebeu 6,5 milhões de euros para atuar na campanha de José Serra à Presidência em 2010. Mas os montantes de todo o esquema poderiam ultrapassar R$ 43,2 milhões. 
A informação não é de agora, mas o nome do empresário estava mantido em sigilo. O correspondente Jamil Chade, do Estadão, revelou ainda em abril o teor do depoimento do empresário à Polícia Federal, admitindo o recebimento da quantia. Agora, as autoridades suíças repassaram todos os documentos e detalhes sobre as contas do empresário para integrar a investigação, que avança em segredo de Justiça, contra o financiamento da campanha de José Serra em 2010. 
Essa cooperação do Brasil com a Suíça vem sendo mantida desde 2014, a comando do procurador-geral do país europeu, Michael Lauber. Em um primeiro momento, estava na mira o ex-diretor da Dersa. No caso relacionado a Paulo preto, provas bancárias também foram enviadas pelos investigadores suíços, apontando R$ 113 milhões em contas ocultas no país.  
Na investigação do considerado operador do PSDB a entrega das provas ocorreu de maneira espontânea pela Suíça, não partindo de um pedido do Ministério Público Federal brasileiro. Até então, Paulo Preto tentava evitar esse envio de comprovantes, desde 2017, o que foi negado pela Suprema Corte da Suíça há dois meses. 
Por outro lado, os investigadores suíços informaram ao repórter Jamil Chade que ambos casos não são uma continuidade, mas apurações separadas. Apesar da relação de Paulo Preto com caciques tucanos, como o próprio José Serra, a investigação do empresário Ronaldo Coelho é direta para acusar irregularidades e esquema de corrupção envolvendo o financiamento de campanha de Serra ao Planalto, em 2010. 
De acordo com os cálculos dos suíços, que bloquearam ativos em contas identificados no país desde 2017, as quantias chegariam a R$ 43,2 milhões, o "equivalente a mais de 10 milhões de francos suíços, valor total pago em uma base de corrupção entre 2006 e 2012", informaram as autoridades daquele país. 
Deste total, alguns repasses ocorreram no valor de R$ 6,25 milhões e outros atingindo 3,75 milhões de euros, entre os anos de 2009 e 2010. A resposta dada pelo empresário sobre essas quantias foi que estes depósitos teriam relação aos gastos de aviões que ele emprestou para a campanha do PSDB à Presidência há oito anos. E o dinheiro seria um "reembolso" do partido pelas viagens a jatos.  
Mas os todos os documentos e comprovantes das quantias foram enviadas agora pela Suíça ao Brasil, para que os procuradores brasileiros prossigam com a investigação sobre o financiamento supostamente ilegal da campanha de José Serra. Ao repórter, o tucano não respondeu. 
GGN

terça-feira, 27 de novembro de 2018

O PREFEITO DOMINGOS DUTRA DE PASSO DO LUMIAR OBTÉM VITÓRIA NO TER/MA POR UNANIMIDADE E SEGUE NO CARGO


Foi encerrado há pouco nesta terça-feira (27), no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o julgamento do processo da Ação de Investigação Judicial Eleitoral que buscava a cassação da chapa do prefeito Domingos Dutra (PCdoB) e da vice Maria Paula Azevedo (SD). Por unanimidade, o pleno do TRE maranhense seguiu o voto do relator e deu o resultado de 6 x 0 pela permanência de Domingos Dutra no mandato de prefeito de Paço do Lumiar.

domingo, 25 de novembro de 2018

ASCENSÃO E QUEDA DA ESCOLA DE CHICAGO, POR ANDRÉ ARAÚJO


Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
“Eles são as trevas do pensamento econômico”, Paul Krugman.
“Chicago economics” ou Escola de Economia da Universidade de Chicago é uma linha de pensamento econômico que acredita que os mercados são resultado da “competição perfeita” e, portanto, é o “mercado” deixado operar livremente o melhor modelo de gestão da economia em qualquer lugar. Acreditam também no rígido controle da moeda, quanto menos moeda em circulação melhor será para o funcionamento da economia. Mercados livres e moeda escassa são os mandamentos da Escola de Chicago, o resto se encaixa como consequência.
A História econômica se encarregou de derrubar essa ficção que é obra de fé, mas os adoradores desse modelo insistem em considerá-lo sagrado, não importa em que lugar, país, região, sob que condições ou estágio, como se o modelo fosse algo cientifico, da física.
Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, da Universidade de Princeton, é um dos maiores críticos atuais do “Chicago economics”, a quem denominou de “Era das Trevas” do pensamento econômico.
Nos próprios Estados Unidos a Escola de Chicago nunca foi uma unanimidade, as escolas de economia da Costa Leste como Harvard, MIT, Columbia, Yale, Princeton tem visão e angulações bem diferenciadas de Chicago, sem falar na New School de Nova York, que é a antítese de Chicago. Hoje, o Institute of New Economic Thinking de Nova York, onde estão Paul Krugman e Joseph Stiglitz, contestam frontalmente toda a filosofia de Chicago.
Os “new keyneisians”, corrente moderna de seguidores da visão de Lord Keynes, em economia, abominam os pressupostos da Escola de Chicago. Na Universidade da Califórnia em Berkeley, Brad DeLong, diz que a escola de Chicago chegou a um colapso intelectual, significando que parou no tempo e nada mais tem a contribuir no pensamento econômico.
O que restou de crença na Escola de Chicago desabou por completo na crise financeira de 2008, quando o capitalismo americano do “mercado perfeito” ruiu e implodiu, sendo salvo nada mais, nada menos pelo execrado ESTADO. O Tesouro dos EUA despejou US$ 708 bilhões em dinheiro público para salvar o coração desse capitalismo, tanto financeiro, quanto industrial. Salvou o CITIGROUP, a seguradora AIG, maior do mundo, e a GENERAL MOTORS, maior empresa industrial dos EUA e mais outra 200 empresas e bancos.
Foi a segunda vez que o ESTADO salvou a economia americana. A primeira foi em 1933 quando a Reconstruction Finance Corporation, estatal criada por Roosevelt, emprestou dinheiro para resgatar 8.000 bancos e empresas na esteira da Grande Depressão, quando o “crash” da Bolsa de Nova York quase liquidou para sempre a economia americana e mundial.
Em 1929 e 2008 o ESTADO mostrou que é infinitamente maior como instrumento da economia do que o “mercado perfeito”, mas nem isso mudou as mentes dos fanáticos de Chicago. 
O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Financiado desde seu início pelo magnata do petróleo John Rockefeller, em torno de 1890, a escola de economia da Universidade de Chicago tem longa história baseada em dois eixos: a competição perfeita que vem dos mercados livres do Estado e o rígido controle do fluxo de moeda, teoria que teve duas fases. A primeira, de Irving Fisher, desaparecida com a crise de 29, quando Fisher, um economista de reputação nacional disse em entrevista que a “economia americana nunca esteve tão sólida”, isso duas semanas antes da implosão da Bolsa em 24 de outubro de 1929. Com essa profecia furada foi-se embora também o monetarismo de Fisher que renasceu nos anos 60 com Milton Friedman, nova onda nascida nos cofres do CITIBANK, que financiou as palestras e a revista de Friedman, história que descrevo com detalhes em vários capítulos de meu livro de 2005, MOEDA E PROSPERIDADE, edição Top Books, 900 paginas, hoje esgotado, é um romance, como se constrói uma teoria econômica de interesses.
No livro de Lanny Eberstein, uma monografia sobre a Escola de Chicago, de 2015, ele destaca um fenômeno muito perceptível, a “apropriação” que economistas medíocres formados em Chicago fazem de seu credo que NÃO é exatamente o neoliberalismo político que se prega em alguns países. Friedman, por exemplo, inventou o conceito de “bolsa família”, ele achava que os muito pobres tinham sim que ser amparados pelo Estado, algo que os seguidores preferem esquecer. No livro, Eberstein fala das preocupações sociais de Friedman e Hayek, esquecidas pelos seus seguidores, que selecionam na teoria o que lhes interessa.
O livro é “CHICAGO ECONOMICS : THE EVOLUTION OF CHICAGO FREE MARKET ECONOMCS”.
O fato é que a “escola de Chicago” criou uma visão de economia para o mundo anglo-americano, inaplicável para países de estrutura econômica onde o Estado historicamente tem um papel muito maior do que na Inglaterra e Estados Unidos. Países de raiz mercantilista, como França e Alemanha e mais ainda países com outras culturas econômicas como Rússia, Índia e China. A loucura é pretender, como alguns sectários, aplicar o “Chicagonomics” em países de outra tradição, sociedade e formação, como o Brasil, onde desde o nascimento do País, o Estado tem um papel central na economia, que nunca teve na Inglaterra ou nos EUA.
Mas mesmo no seu berço de origem, o modelo de Chicago já foi sepultado. No último enterro o coveiro foi o banco Lehman Brothers. O estranho é que, com todos esses resultados à vista de qualquer indivíduo de mediana inteligência, ainda há fanáticos da privatização e da moeda escassa, mesmo depois de tantos desmontes desse modelo fracassado. Como muito bem expõe o livro de Eberstein, o “quantitative easing” acabou com o monetarismo na Europa e nos EUA, ele sobrevive apenas no Banco Central do Brasil, tão atual como Templo Positivista de São Lourenço, em Minas Gerais, onde a filosofia Positivista desaparecida da França há cem anos ainda é cultivada com carinho. Os saudosos do monetarismo de Friedman são convidados a visitar o museu do Banco Central em Brasília, onde se lembrarão do mestre e reverenciarão o único lugar do mundo onde se pratica o culto à moeda escassa como religião.
Os visitantes aproveitarão a viagem para conhecer o país do mundo onde se pratica o “monetarismo” religioso de Friedman, sob a regência do Banco Central. É isso que garante aos bancos brasileiros o maior lucro do planeta sobre ativos, graças exatamente à escassez de moeda que, ao mesmo tempo, garante os lucros extraordinários do sistema financeiro e proporciona uma recessão que dura quatro anos e uma monumental taxa de desocupação de um terço da população economicamente ativa, maior índice desde a Grande Depressão de 1929 na Europa e os EUA. No Brasil, a Grande Depressão mundial provocou muito menos desemprego do que a recessão de 2014, sob a regência de Joaquim Levy.
Desocupação, desemprego e recessão não preocupam minimamente os seguidores de Chicago nos Estados Unidos e muito menos no Brasil. Esses fenômenos nem fazem parte de seus manuais. Milton Friedman teria mais sensibilidade do que seus alunos, era um monetarista com algumas preocupações sociais, de visão mais ampla que seus seguidores e com a capacidade da verdadeira inteligência, a de reconhecer erros e voltar atrás, fez isso no fim da vida em conversas com Alan Greenspan, seu amigo mas adversário intelectual.
Como é comum em tantas filosofias, ideologias, religiões, crenças e teorias, os seguidores fora de seu berço são mais fanáticos e radicais, enquanto no ninho original a crença morre ou se recicla, na sua projeção para fora a seita se estratifica, se mumifica no túmulo do fracasso.
Hoje nos EUA, até na própria Universidade de Chicago, os preceitos do “Chicagonomics” têm menor fidelidade. O legado de Friedman foi desmoralizado pela crise de 2008 e se mudou para a Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh, onde seu herdeiro intelectual Alan Meltzler, falecido no ano passado, lecionava. Agora o Brasil pode ser a nova rampa de re-relançamento do “Chicagonomics” embalsamado, o único dos grandes países emergentes outrora conhecidos como BRICS onde essa seita pode caminhar fora do merecido túmulo, enquanto Rússia, Índia e China crescem longe de teorias anglo-americanas e praticando o dia a dia da politica econômica de circunstância, sem metas de inflação, privatizações, preocupação com dívida em moeda nacional e com bancos centrais a serviço do crescimento e não da estagnação. O Brasil sai dos BRICS e vira área de serviço de Washington, é a História.
GGN

sábado, 24 de novembro de 2018

XADREZ DA CONFORMAÇÃO DA REPÚBLICA FUNDAMENTALISTA DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

As peças do jogo
Não se iluda com a bateção de cabeça na equipe de transição de Bolsonaro. Como um caminhão carregado de abóboras, a cada tranco as abóboras vão se ajeitando e redefinindo a nova conformação.
Das mensagens de Twitter, entrevistas, declarações algo caóticas do governo de transição, extraem-se os seguintes elementos sobre os grupos de poder.
Núcleo 1 – o grupo religioso
A afirmação de Jair Bolsonaro de que o maior problema do Brasil não é a corrupção, mas os vermelhos; as indicações de Ernesto Araújo para Ministro das Relações Exteriores, e de Ricardo Velez Rodrigues para Ministro da Educação, confirmam a influência do núcleo religioso do governo, centrada nos três primeiros-filhos e em Olavo de Carvalho e seus seguidores. Haverá um fundamentalismo religioso que terá em Bolsonaro o grande animador.
Núcleo 2 – A entrevista do general Hamilton Mourão à Folha de S. Paulo, reforçando a imagem de âncora do núcleo racional do governo.
Núcleo 3 – o controle de Paulo Guedes sobre a área econômica, com algumas posições que entram em conflito com as noções de segurança nacional do general Mourão.
Núcleo 4 – Sérgio Moro montando as bases do estado policial, com uma variante mais sútil da guerra ideológica, o chamado direito penal do inimigo.
A partir dessas peças, é possível compor melhor o que poderá ser o jogo no governo Bolsonaro.
Peça 1 – a República fundamentalista
Havia duas expectativas de abreviar o governo Bolsonaro:
Loucuras na economia, decorrentes da falta de senso de Bolsonaro, passando a sensação de destruição econômica do país.
A reversão de expectativas dos eleitores, fato que poderia ser acelerado pelas declarações continuadas de Bolsonaro, revelando seu baixíssimo preparo intelectual e sua incapacidade de articulação política ou midiática.
As asneiras ideológicas de Bolsonaro, com repercussões econômicas, foram contidas. Ele voltou atrás nas declarações sobre a China, sobre a mudança da embaixada de Israel para Jerusalém, nos ataques ao Mercosul, no alinhamento automático com Donald Trump etc.
Parece ter caído a ficha de sua total incapacidade de se manifestar sobre qualquer tema relevante. E terceirizou esse trabalho para o vice-presidente general Hamilton Mourão.
Declarações como a de que “precisamos dar certo, se não eles voltam”, indicam qual foi a argumentação de Mourão. Deixe o trabalho pesado por nossa conta e faça o que você sabe fazer: a guerra moral-ideológica. Com isso libera Bolsonaro para se concentrar no discurso tatibitate que ele domina como poucos.
Por isso mesmo, a reversão de expectativas da opinião pública será enfrentada no melhor modelo da guerra fria: o combate sem tréguas ao inimigo vermelho, aquele que não permite que esta terra cumpra seu ideal.
Fica cada vez mais nítida a tentativa de implantação de uma república fundamentalista. E há condições objetivas de se montar uma estrutura nacional superior a de qualquer outro partido, explorando os baixos instintos que explodiram em todo o país durante a campanha eleitoral e a expansão fulminante das igrejas evangélicas conservadoras. A eclosão da direita radical tornou-se fenômeno nacional e o agente aglutinador simbólico é o próprio Bolsonaro.
O gabinete inicial para a guerra ideológica está fincado no Planalto, nas Relações Exteriores, com o alinhamento com a ultradireita mundial; e na Educação, em torno do tema escola sem partido.  A eles se agregarão as secretarias e ministérios comandadas por ruralistas e evangélicos com implicações em questões de terra, meio ambiente e movimentos sociais.
É um novo modelo, no qual o papel do Estado será se abster de qualquer ação moderadora, e de liberar as tropas na base.
No movimento estudantil, a estratégia delineada consiste em se valer das adesões ao MBL e à Escola Sem Partido para atacar o modelo UNE de organização.
No plano educacional, a ideia será fragmentar a supervisão educacional, jogando o controle das escolas para os municípios. E, aí, insuflar os grupos conservadores e as igrejas fundamentalistas a fazer pressão na ponta. Na campanha, foi o maior fator de mobilização da tropa bolsonariana.
Junto aos movimentos sociais, e setores recalcitrantes, haverá uma guerra surda envolvendo os setores partidarizados do Judiciário e do Ministério Público, sufocando os inimigos com montanhas de denúncias . No caso dos movimentos sociais, a polícia se valendo também da coerção física.
Peça 2 – as vacinas contra as loucuras
Um fator de vulnerabilidade do governo Bolsonaro, como já se disse, é o conjunto de declarações estapafúrdias.
Essa vulnerabilidade está sendo trabalhada pelo vice-presidente, general Mourão. Pela entrevista dada à Folha, Mourão se consolida como a voz da razão no grupo Bolsonaro ou, como alguém mencionou, no único adulto no playground. Aparentemente, ele convenceu Bolsonaro a se abster de temas de peso, com o argumento de que a não abertura de frentes de desgaste é essencial para a grande missão de salvar o país da sanha dos vermelhos.
Não se trata de uma estratégia de unificação do país. Fosse assim, Mourão entenderia a importância do MST (Movimento dos Sem Terra) e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para a paz interna, suprindo o papel do Estado e abrindo oportunidades de trabalho e renda para seus integrantes.
O combate incessante aos movimentos sociais e ao pensamento crítico é peça central da estratégia política da nova república fundamentalista. Essa estratégia não prescindirá da manutenção da figura do inimigo interno. O maior fator de fortalecimento de Bolsonaro, quando começar a decepção, será a reação dos grupos depois de expropriados de seus direitos políticos e de organização, fornecendo o álibi para uma radicalização da barbárie.
Peça 3 – a preservação da economia
Em um dos primeiros Xadrez sobre o governo Bolsonaro, antecipei uma mudança nos discursos neoliberais dos militares – especialmente do militar que se pronunciava mais, o general Hamilton Mourão.
Antes de ser poder, limitava-se a repetir bordões da Globonews. Com a expectativa de poder, muda a lógica da analise. Sai dos bordões dos “bem-pensantes” – a mixórdia de slogans econômicos superficiais – para análise efetiva de cada caso. E, aí, impõe-se o ponto central do pensamento militar, que muda toda a lógica da analise de caso:  a segurança e o interesse nacional.
O pensamento militar fica muito mais à vontade tendo os diversos fatores políticos e econômicos sob controle, ao contrário do pensamento do mercado e, em particular, da escola de Chicago, que abomina qualquer forma de regulação.
Além disso, o pensamento de mercado não tem o menor prurido com processos de destruição de valores, ao contrário do pensamento militar que valoriza o chamado patrimônio público.
Na entrevista à Folha, Mourão demonstrou pragmatismo não apenas em relação às questões internacionais, mas ao  próprio Programa Nuclear Brasileiro. E deixou claro que cada passo será precedido de estudos e analises sob sua responsabilidade, colocando-se como um filtro contra eventuais arroubos de privatização selvagem de Paulo Guedes.
Peça 4 – o objetivo maior
Não se iludam com eventuais descompassos entre Mourão e Bolsonaro. Ambos estão tomados pelo mesmo destino manifesto, de guerra total aos inimigos, de resistência ampla ao contraditório, especialmente em temas morais e políticos.
Pela primeira vez na história, o país experimentará o que significa a verdadeira teocracia, a visão moral-religiosa se impondo sobre o pluralismo e as liberdades individuais.
Ao mesmo tempo, há o risco de uma explosão incontrolável da violência, com o conceito de guerra ao inimigo contaminando definitivamente a segurança pública, as Polícias Militares, especialmente depois do incentivo que recebeu dos futuros governador João Dória Jr, de São Paulo, Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e Romeu Zema, de Minas Gerais.
O busílis da questão é que estratégias de guerra, como a que desponta, só comportam dois desfechos: ou a radicalização final; ou o esgarçamento, pelo cansaço da nação.
Ainda é cedo para saber qual prevalecerá. De qualquer modo, a extensão e profundidade do pensamento conservador no país impede visões mais otimistas.
GGN

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A HORA DOS COVARDES


O sr. Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, aceitou denúncia do Ministério Público e tornou os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff réus por “por suposta organização criminosa envolvendo integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores”.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A ARTE DE NÃO LER, POR ÂNGELO ROMAN


"No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante".
Senso comum: "Quem lê escreve bem". "Quem lê sabe das coisas".
Contraponto (de Schopenhauer): "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis". 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HADDAD ANUNCIA 2 FRENTES POR DIREITOS E COGITA PROCESSO CONTRA WHATSAPP NOS EUA

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) anunciou em Brasília, nesta quarta (21), a formação de duas frentes suprapartidárias para atuar em defesa dos direitos civis e direitos sociais a partir de 2019, com apoio de congressistas eleitos para a próxima legislatura, que vai até 2022. Além disso, Haddad afirmou que viajará o mundo em busca de forças internacionais contra o autoritarismo, que "muitas vezes se vale do mau uso das tecnologias para solapar as bases da democracia".
"Pretendemos explorar a possibilidade de entrar com ação contra o WhatsApp nos Estados Unidos, para que lá eles prestem conta do que fizeram aqui na eleição. Eles estão se recusando a abrir os dados sobre a onda de fake news na eleição, então com a ação em solo americano, eles podem dizer a que se prestaram. É importante para que não se repita no mundo", disse Haddad. Vídeo AQUI.
"A Europa, tudo indica, que possa ser a próxima vítima desse processo. (...) O Brexit já foi a consequência desse processo do mau uso das redes sociais. Ninguém é contra rede social, mas como todo instrumento, tem de ser usado em benefício das pessoas, não em prejuízo da democracia."
Segundo Haddad, partidos de esquerda se reuniram e entenderam que os direitos civis e sociais são complementares e podem congregar a maiora dos parlamentares eleitos se defendidos em frentes separadas. 
"São duas trincheiras", uma mais restrita, a defesa de direitos sociais, que terá um recorte menor de alianças, com pautas como a defesa da livre organização dos movimentos sociais; e outra mais ampla, que flerta com os partidos de centro-direita mais liberais, com agendas como a defesa da "escola pública laica", em contraponto ao projeto de lei Escola Sem Partido.
Haddad defendeu que "não é apenas equivocada a criminalização dos movimentos sociais, como ela fere princípios constitucionais de livre organização e expressão."
Nesta semana, a Câmara discutiu alterar a lei de combate ao terrorismo sancionada no governo Dilma Rousseff, para qualificar atos de caráter político ou ideológico como ações terroristas, em caso de episódios de depredação de patrimônio público ou privado.
Bolsonaro, por sua vez, foi eleito afirmando que vai enquadrar movimentos sociais e de esquerda como criminosos.
Nesta quarta (21), o Painel da Folha de S. Paulo informou que Haddad foi convidado pelo grupo do senador Bernie Sanders para compor uma internacional progressista contra regime autoritários. Vídeo AQUI.
GGN

terça-feira, 20 de novembro de 2018

XADREZ DO REINADO DOS BRONTOSAUROS, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – a falência das democracias representativas
Até alguns anos atrás, cabia à esquerda a defesa da democracia direta, em lugar da democracia representativa. Sua estrutura complexa, seus ritos, suas limitações, faziam com que os avanços sociais e a modernização política, na democracia direta, ocorressem em ritmo muito lento.
Com as redes sociais, esse descompasso se acentuou. As redes sociais passaram a refletir e a multiplicar, de forma imediata, expectativas e anseios da sociedade. E a democracia representativa continuou presa a modelos estáticos e, em todos os países, contaminada pelo financiamento de campanha e pelas formas de imbricação com o capital privado.
Lá por volta de 2008, 2009, o GGN divulgou os primeiros trabalhos mostrando a decadência e a crise próxima das democracias representativas. De um lado, as ONGs começaram a tomar o lugar dos parlamentares, na representação de setores. De outro, os blogs (antes da explosão das redes sociais) tomando o lugar da mídia convencional e acentuando o desarranjo nos sistemas de opinião pública.
Estava em xeque não apenas o sistema partidário, como os partidos políticos, o modelo sindical, os modelos convencionais de mídia. Hoje em dia, há uma destruição de tudo o que representa a velha ordem ou signifique poder: partidos políticos, Justiça, universo de celebridades, grupos de mídia, modelo sindical, em uma autêntica rebelião das massas e de advento do imbecil coletivo.
Peça 2 – os casos internacionais
Dois episódios recentes mostram essa tendência destrutiva.
Na França, a rebelião contra o reajuste dos combustíveis, paralisando o país em manifestações espontâneas que, por isso mesmo, não dispõem de lideranças para negociar. É uma onda que tende a se espalhar pelo país.
No Japão, a destruição do mito Carlos Ghosn, o mitológico libanês-brasileiro que revolucionou a indústria automobilística do país.
Ghosn conquistou feitos notáveis, como salvar a Nissan da falência, transformando-a na mais lucrativa grande indústria automobilística do mundo. Agora, estava trabalhando na recuperação da terceira grande montadora japonesa, a Mitsubishi Motors.
Conseguiu se impor em ambientes com culturas totalmente diversas, como a Michelin no Brasil e nos EUA, a Renault, na França. E, seu maior feito, recuperar a Nissan e a Mitsubishi em um país impenetrável para ocidentais de qualquer nível.
Tornou-se uma lenda no Japão. Mesmo assim, foi preso, acusado de sonegação e de se valer das mordomias da empresa.
Mesmo sendo graves, os pecados de Ghosn não eram capitais. Em vez de uma condenação pecuniária, procuradores japoneses optaram por destruir o personagem, com a mesma sanha punitivista com que procuradores brasileiros destruíram empresas, setores inteiros e milhões de empregos.
Quanto vale um Ghosn ativo e quanto vale um Ghosn preso? É uma conta fácil de fazer.  A onda punitivista não fecha a conta do custo e beneficio. O prazer da vingança custa caro. Um executivo é um ativo real, tem valor de mercado, custa décadas para formar.
Se no Japão e na França o espírito persecutório se impõe na opinião pública, o que não dizer de um país coalhado de instituições toscas, como o Brasil?
Peça 3 – a ditadura brasileira
As manifestações do novo Ministro das Relações Exteriores – um gnomo ameaçando devassar a gestão do gigante Celso Amorim -, as manifestações dos três príncipes-herdeiros de Jair Bolsonaro, o festival de mentiras que cercou a saída dos cubanos do Mais Médicos, o indiciamento de Fernando Haddad, são indícios veementes do caminho em direção à ditadura.
Se vai ser bem sucedido ou não, a história dirá. Mas, com esse risco no caminho, fica clara a estratégia do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli, de propor um pacto dos três poderes.
Esta semana, ele recebeu Bolsonaro, Sérgio Moro, enfatizou a legalidade no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. A exemplo do episódio da ditadura – justificando o golpe de 64 como culpa dos radicais de esquerda e direita -, a ideia é flexibilizar os conceitos de democracia e de direito, para evitar chacinas maiores do estado de direito.
Ou seja, na democracia mitigada aceitam-se abusos contra Lula, o endosso ao golpe do impeachment, a reinterpretação da história do país, para evitar possíveis Noites de São Bartolomeu que estão no radar dos conquistadores.
Vale conferir qual será a atitude do STF quando o estado de exceção se ampliar e ultrapassar os limites desse novo normal. Vai se encolher novamente, ou a linha de defsa irá funcionar?
Peça 4 – o novo normal
A grande questão é que, no quadro de selvageria atual, a velha mídia perdeu totalmente a condição de mediadora dos conflitos em que se envolve o poder público.
Antes uma extravagância qualquer era combatida com o uso da razão, argumentos razoáveis, e a divulgação de manifestações de intelectuais e celebridades – que ajudavam a definir os limites dos atos e manifestações de poder.
Agora, tudo isso foi por água abaixo. Qualquer argumento racional é derrubado com um zurro dessa nova elite troglodita.
Os novos influenciadores não são jornalistas, atores de novelas, cantores populares, mas Youtubers valendo-se de pantomimas e slogans simplórios como formas de comunicação. E apelando, sempre, para os dois instintos mais primitivos: o ódio contra o medo.
A maneira como esse novo normal se insere no dia-a-dia fica mais clara nas especulações sobre quem serão os novos ministros de Bolsonaro.
Falta um apanhado hilário (não fosse trágico) da maneira como se apresentam os candidatos. Só faltou se vestirem de dançarinas do cancan e rebolarem frente às câmeras das redes sociais. Mais curioso ainda é a maneira como suas extravagâncias são interpretadas pela mídia.
No Twitter, Xico Graziano, ex-assessor pessoal de Fernando Henrique Cardoso, radicaliza a cada dia suas mensagens, na esperança de encontrar um lugar na Arca de Bolsonaro. Chegou a deblaterar contra a influência esquerdista nas escolas. Imediatamente um jornal o apresentou como favorito para o Ministério do Meio Ambiente. Ou seja, basta um besteirol preconceituoso qualquer, para, na leitura torta dos repórteres, o sujeito se habilitar a um cargo relevante.
Aí, a impávida Maitê Proença entra em cena, para dizer que o povo não quer direitos não: quer comida. E ganha uma manchete como nova favorita ao Meio Ambiente. Toca o pobre Xico Graziano e empunhar a clava do preconceito, marretando sem dó a cabeça de algum MST, para recuperar o espeço perdido.
Até que um dos príncipes herdeiros entra em cena, e tuita uma mensagem para pararem com especulações bestas sobre futuros Ministros.
Esse quadro já estava desenhado anos atrás, quando ficou clara a maior eficiência das igrejas sobre partidos políticos e sindicatos. Grande parte delas se vale apenas da pauta moral e da autoajuda. Não há um conjunto de valores consolidados, como nos partidos políticos e sindicatos, com mudanças lentas de conduta, dependendo do aval de assembleias ou maiores parlamentares.
Peça 5 – a recuperação da racionalidade
Em um ponto qualquer do futuro, é possível que se defina um novo modelo capaz de domar a bestificação das ruas.
No momento, há sinais de que a pauta moral se espalhou por todos os poros do país, da classe média ao Judiciário, do Ministério Público às Polícias Militares.
Não há consenso sobre nada além do punitivismo contra os |inimigos|. Entrou-se em uma espiral que induzirá, a cada dia, a mais retórica, mais incontinência verbal, mais fanfarronice inútil – como a desse inacreditável futuro chanceler.
Em outros momentos, seria possível prever o esgotamento da barbárie e a volta do pêndulo. Hoje em dia, não. Apesar dos alertas do general Mourão, que atuará como espécie de preceptor de adultos imprevisíveis.
 racionalidade está conseguindo se impor em duas decisões solitárias.
A primeira, do indicado para a Controladoria Gral da União, Wagner de Campos Rosário, propondo isenção de punição a empresas que revelarem corrupção. E a obrigação de empresários denunciados de vender a empresa, punindo a pessoa física, mas preservando a empresa.
A segunda, a indicação de Ivan Monteiro para presidente do Banco do Brasil. Funcionário de carreira do banco, ele estava na diretoria financeira da Petrobras. Monteiro é considerado funcionário exemplar e técnico competente.
 GGN