quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

BASTARAM 45 DIAS PARA BOLSONARO PROVAR QUE NÃO TEM CONDIÇÕES DE GOVERNAR O BRASIL. POR RICARDO KOTSCHO

Está na hora de falar português claro, com todas as letras: o capitão reformado Jair Messias Bolsonaro já provou, apenas 45 dias após a sua posse, que não tem a menor condição de governar o país por quatro anos.
O batalhão de  generais que ele levou para o governo já sabe disso.
Eleito presidente da República sem participar de debates, sem apresentar qualquer plano concreto de governo, apenas atacando os adversários e repetindo bordões imbecis nas redes sociais, era uma caixa preta levada pelo voto ao Palácio do Planalto para derrotar o PT.
Agora, que o país vai descobrindo, a cada dia mais assombrado, de quem se trata, não adianta repetir que “é preciso torcer para dar certo porque estamos todos no mesmo avião”.
Não tem como dar certo. Bolsonaro vai pilotando a esmo, sem qualquer plano de voo, desviando das nuvens pesadas em meio a tempestades que ele mesmo e seus celerados filhos não cansam de provocar.
Os militares que o apoiaram sabiam muito bem quem era o capitão reformado pelo Exército aos 33 anos por atos de indisciplina, não podem alegar inocência.
Bastava consultar seu prontuário no breve tempo em que serviu ao Exército.
Mesmo sabendo o risco que corriam, foi a forma encontrada pelos militares e seus aliados daqui e de fora para voltarem ao poder, apenas 34 anos após o fim da ditadura.
Definido pelo general Ernesto Geisel como “mau militar”, Bolsonaro passou sete mandatos escondido no baixo clero da Câmara, sem fazer nada que preste, e resolveu ser candidato apenas por capricho para combater seus inimigos reais ou imaginários.
Fez da campanha eleitoral uma guerra, imitando arminhas com as mãos, e ameaçando fuzilar a petralhada.
Uma vez no poder, continua sua guerrilha nas redes sociais, sob o comando do filho Carlos, mais conhecido por Carlucho, o 02, chamado pelo presidente de “meu pitbull”.
Ao retornar a Brasília nesta quarta-feira, depois de passar 17 dias internado num hospital em São Paulo, recuperando-se da terceira cirurgia, sem passar o cargo para o vice, em quem ele e os filhos não confiam, Bolsonaro encontrou um banzé armado no Palácio do Planalto.
O 02 resolveu detonar pelo twitter o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, dono do cofre da campanha do PSL, denunciado por variadas falcatruas com a verba do fundo eleitoral.
Em mais uma entrevista à Record, Bolsonaro apoiou o filho e resolveu carbonizar o seu ministro mais próximo, dando uma ideia do clima no Palácio do Planalto.
Bebianno, que deve saber demais, não pediu demissão nem foi demitido até a hora em que escrevo este texto.
Como devem se sentir agora os outros auxiliares do presidente, que nem conhecia a maioria deles, e foi montando seu ministério meio a olho, catando o que de pior encontrou em cada área?
Este já é de longe o pior ministério da história da República. E vai governar com o pior Congresso e o pior Supremo Tribunal Federal que já tivemos.
Com a revelação do laranjal de candidatos bancados com dinheiro público, desviado para gráficas fantasmas, sabemos agora como foi montado o esquema da “nova política”, que levou uma manada de cacarecos para Brasília.
Antes que se pudesse imaginar, eles já estão se engalfinhando por nacos de poder no governo e no Congresso, num clima de desconfiança generalizada, todos andando de costas para a parede.
Twitter, WhatsApp, Facebook, tudo isso pode ser muito bom e bonito para eleger um presidente pelas redes sociais, mas é impossível governar com um celular na mão, sem ter a menor ideia do que se pretende fazer para enfrentar os gravíssimos problemas sociais e econômicos do país.
A impressão que me dá é que Jair Bolsonaro não esperava ganhar a eleição quando se lançou candidato e agora já deve estar arrependido de ter vencido.
De crise em crise, de recuo em recuo, de trombada em trombada, a caixa preta desse circo de horrores vai sendo aberta para espanto do mundo civilizado.
Das duas uma: ou os generais vão tutelar o ex-capitão por mais quatro anos ou o país enfrentará uma crise institucional sem precedentes.
A primeira providência deveria ser tirar os celulares das mãos dos Bolsonaros.
Vida que segue.
Parte inferior do formulário
GGN

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

XADREZ DOS ALOPRADOS NO COMANDO DOTITANIC BRASIL, POR LUIS NASSIF

Depois  de um primeiro mês atabalhoado, começam a sair as primeiras medidas, uma sucessão infindável de propostas fundamentalistas
A economia mundial está sob influência dos seguintes fatores negativos, um desmanche em toda organização que vigorou no pós-guerra.
Peça 1 – desaceleração das economias
União Europeia
Nos últimos meses houve uma redução abrupta da oferta de crédito, com reflexos nas diversas economias. E uma obsessão por ajustes fiscais que derrubou as condições sociais estimulando partidos radicais em praticamente todos os países.
Alemanha – no final do ano passado mostrou os primeiros sinais de recessão, com queda brusca na produção industrial. A dívida alemã está sendo negociada com rendimentos negativos, sinal de que se aproxima uma deflação da economia. No segundo semestre de 2018 houve uma queda de 3,2% na produção industrial da Alemanha. Em dezembro, as encomendas caíram 7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A recessão começou com a indústria automobilística e já se espalhou para construção, produtos químicos e farmacêuticos.
Itália – A Comissão Europeia reviu o crescimento em 2019 para 0,2%. Além disso, o país corre o risco de uma nova crise da dívida, tendo que refinanciar 400 bilhões de euros em dívidas em 2019.
Inglaterra – presa às indefinições do Brexit, sem liderança e sem estratégia clara sobre as regras de saída. Em 2016 montou-se uma campanha a favor do Brexit sem nenhuma informação mais concreta sobre as implicações da decisão na vida das pessoas. Seque analisaram-se as implicações na política interna, como a manutenção do Acordo de Sexta Feita Santa de 1998, que celebrou a paz na Irlanda do Norte, após três décadas de guerras sangrentas. Além disso, os números da economia mostram o menor crescimento desde 2012.
EUA – o FED (Banco Central dos EUA) interrompeu momentaneamente a alta nas taxas básicas de juros. Mas ficou a dúvida no ar sobre os próximos passos.
Peça 2 – alto endividamento
Anos de juros perto de zero provocaram um megaprocesso de endividamento corporativo e de países. A tomada de empréstimos se baseia na relação entre a taxa de crescimento da economia e o volume de crédito tomado. Quando cai o crescimento, aumenta o peso dos juros. O mercado de taxas traz indicações preocupantes de deflação na zona do euro. O que significa redução do numerador.
Mais que isso. O excesso de crédito inflou os ativos internacionais. A manutenção das cotações depende, sempre, da expectativa de crescimento dos investimentos e da manutenção da liquidez internacional.
Com menos crédito, haverá menos expectativa de rentabilidade dos ativos – que já estão caros. Essa parada poderá deflagrar o chamado “overshooting” para baixo. Isto é, deflagração de ordens maciças de venda.
Além da queda da atividade econômica global, há um conjunto de crises latentes:
Guerra comercial entre EUA e China.
Confisco do ouro da Venezuela em bancos europeus, trazendo um fator adicional de insegurança jurídica.
Crise política se alastrando na França, inclusive com embates verbais com a Itália.
A indefinição em relação aos juros norte-americanos.
A indefinição em relação ao Brexit.
Peça 3 – o fator Bolsonaro
É nesse universo turbulento que o governo Bolsonaro começa a apresentar suas fichas. Tem-se um maremoto pela frente e no leme do país um governo mais preocupado em desmontar o barco movido por dois fundamentalismos: o religiosos e o econômico.
Depois  de um primeiro mês atabalhoado, começam a sair as primeiras medidas, uma sucessão infindável de propostas fundamentalistas, descoladas da realidade, e, especialmente a equipe da cota dos Bolsonaro, com um despreparo abismante.
Se a educação e as relações exteriores estão sob controle de fundamentalistas religiosos, a política econômica foi entregue a fundamentalistas econômicos. O Ministro da Economia Paulo Guedes não é uma pessoa racional, que se debruça sobre a realidade para encontrar soluções. É um ideólogo sem noção, que julga que destruindo a ordem econômica em vigor, irá brotar do caos uma nova ordem conduzida pela mão invisível do mercado.
Desde o governo Temer, vem sendo desmontadas peças centrais da economia, com reflexos terríveis nas próximas décadas.
O desmonte do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) começou com a mudança da taxa referencial de juros, procurando aproximar suas taxas de longo prazo das taxas de mercado através do expediente mais nocivo possível: elevando as taxas mais baixas do banco, em vez de trabalhar para reduzir as taxas do mercado.
O desmonte da legislação trabalhista criou duas bombas relógio.
A primeira, os impactos gradativos sobre a receita fiscal. O que a tolice guedesiana chama de “herança getulista”, nada mais é do que um engenhosos mecanismo implementado por Roberto Campos, que transformou o desconto em folha em peça central da arrecadação fiscal,  do financiamento da Previdência e do financiamento da infraestrutura, através do FGTS.
Com o desestímulo progressivo à formalização, haverá impactos de monta na receita fiscal e praticamente a inviabilização da previdência pública.
Sua proposta de reforma da Previdência – de impor a capitalização individual para os novos contribuintes – não tem pé nem cabeça. Existe um sistema em vigor, a chamada repartição simples, no qual a contribuição dos ativos banca a aposentadoria dos inativos. Se já há dificuldade em manter o sistema atual, como pretende incluir um novo sistema? Se os novos contribuintes deixarem de contribuir para a repartição simples, haverá um crescimento exponencial do déficit atuarial. Se acumular duas contribuições, o custo se tornará inviável para o empregado.
Portanto, há dois mega-rombos a caminho, caso passe a reforma: a redução da formalização do emprego; a interrupção do fluxo de contribuições ao sistema de repartição.
Tome-se a ausência completa de políticas contra cíclicas, para melhorar o nível de atividade, mais o desmonte das políticas sociais, o aumento da informalidade, um plano de segurança pública meramente bacharelesco, e a guerra religiosa que se prenuncia, para se ter um quadro complicado pela frente.
A guerra hoje não é entre centro-esquerda e centro-direita. É entre a irracionalidade mais delirante a os setores racionais do país, é entre a liberdade religiosa e o fundamentalismo mais canhestro, entre os direitos sociais e individuais e as milícias. Ou os setores formais e racionais se unem contra essa avalanche fundamentalista ou a reconstrução se tornará impossível.
GGN

domingo, 10 de fevereiro de 2019

RESGATANDO COISAS QUE O TEMPO LEVOU, POR LUCIANO HORTENCIO

Não deixo passar nada na azáfama de resgatar as coisas que o tempo levou. Dessa vez a amiga Andréia Oliveira disponibilizou no Grupo Facebook Fotos e vídeos Antigos esse maravilhoso rádio Semp, com direito a jarrinho de fulô e toalhinha de croché, igualzinha às que minha saudosa mãe Luzinha Hortencio fazia e distribuía com todos nós para não esquecermos dela. Como se precisasse disso… 
Achei a foto tão boa que deixei de lado a foto do compositor Onildo Almeida com o Rei do Baião, que estava preparada para ilustrar o vídeo abaixo. Em seu lugar coloquei o lindo radinho.
Tava terminando de postar o vídeo quando minha boa amiga, a editora Lourdes Nassif deu sinal de vida. Caí de pau em cima da dita cuja reclamando não ter aprendido a postar na nova roupagem do Blog do Nassif.
Ela caiu na besteira de dizer que mandasse o post por email que seria publicado.
Não me fiz de rogado e o resultado é esse…

QUEM MANDOU PROMETER?
Vocalistas Tupi – INGRATIDÃO – Onildo Almeida.
Disco Verdi 2.008.
Ano de 1954.
Foto ilustrativa disponibilizada pela amiga Andréia Oliveira, no Grupo Facebook Fotos e Vídeos Antigos.
Arquivo Nirez.
Coisas que o tempo levou.
GGN

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

IPHAN RECONHECE IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA YANOMAMI

Projeto financiado pelo Iphan e executado pelo ISA identifica nova língua yanomami e diagnostica ameaças às seis línguas deste povo
Xamãs durante a OR do PGTA no Xihopi, Terra Indígena Yanomami, município de Barcelos (AM). | Foto: Lucas Lima-ISA
do Instituto Socioambiental – ISA 
Projeto financiado pelo Iphan e executado pelo ISA identifica nova língua yanomami e diagnostica ameaças às seis línguas deste povo
Yanomamɨ, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë, yãnoma. Essas são as seis línguas faladas na maior Terra Indígena no Brasil, por um dos grupos mais relevantes ao patrimônio etnolinguístico nacional: os Yanomami. Em 2019, o Ano Internacional das Línguas Indígenas para a Unesco, o projeto “Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami” divulga os produtos de uma pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Hutukara e outras associações yanomami, que identificou uma nova língua falada por este povo no país: o yãnoma.
Financiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o projeto faz um perfil de cada língua da família yanomami, apresentando um panorama histórico e sociolinguístico dos grupos que as falam e apontando as semelhanças e diferenças gramaticais que as caracterizam. O projeto avaliou, ainda, como está a saúde dos idiomas dessa família linguística, identificando as principais ameaças a que estão submetidos, principalmente devido à intensificação do contato com a sociedade não indígena.
Segundo a antropóloga Ana Maria Machado, do ISA, “as línguas em maior contato com os brancos, seja por estarem em regiões de fronteira da Terra Indígena ou por terem um fluxo muito grande de relações com os não índios, são as mais ameaçadas”. O yanomamɨ falado no Alto Rio Negro, mas principalmente as três línguas do limite leste da Terra Indígena Yanomami – ninam, ỹaroamë e yãnoma – são as que mais intensamente lidam com essa ameaça: vilas, projetos de assentamentos do Incra e acampamentos de garimpeiros estão estabelecidos a poucos quilômetros das comunidades. A BR-210 (a Perimetral Norte), que avançou desastrosamente sobre a região leste da TIY nos anos 1970, provocando a morte de centenas de falantes de ỹaroamë, ainda hoje é uma fonte constante de problemas para as aldeias e uma via de acesso facilitado usada por invasores.
O diagnóstico linguístico, realizado por uma equipe multidisciplinar e multiétnica, com a colaboração de onze pesquisadores yanomami, analisou aspectos centrais para a vitalidade de um idioma, como a transmissão intergeracional, o número de falantes, o uso da língua nos diversos âmbitos sociais (espaços tradicionais, escola e posto de saúde, por exemplo), e a disponibilidade de material didático e para leitura. A pesquisa revelou alguns dados positivos, como o fato de quase a totalidade das crianças yanomami (99%) estarem aprendendo suas línguas originárias antes do português, e de que apenas professores falantes de línguas yanomami estarem trabalhando atualmente nas escolas da TIY.
“A alta taxa de transmissão intergeracional observada em todas as línguas da família é sem dúvida um indicativo alentador e muito favorável para o futuro imediato das línguas yanomami. Mas isso não garante nada a longo prazo. A vitalidade de uma língua é um sistema caótico, em que múltiplos fatores entram em jogo para determinar o resultado. Como a climatologia: você consegue prever o que vai acontecer daqui um ou dois dias. Depois disso, começa a ficar mais difícil fazer uma previsão precisa porque existem muitos fatores em jogo, que podem mudar o resultado”, explica o linguista do ISA, Helder Perri.
O diagnóstico também apontou alguns desses dados negativos sobre a situação sociolinguística das línguas yanomami e que podem influenciar seu futuro. O baixo número absoluto de falantes é um dado preocupante em todas as línguas, por exemplo. Nenhuma língua da família apresenta um estoque populacional suficiente para enfrentar com tranquilidade eventos de grande impacto sociodemográfico, como conflitos armados generalizados, epidemias ou invasões massivas de garimpeiros. A língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam e tem cerca 11.700 falantes, número alto para o padrão das línguas indígenas faladas atualmente no país – apenas outras 10 línguas têm um número maior de falantes no Brasil –, mas não o suficiente para garantir sua reprodução com plena vitalidade por décadas. Os casos do ỹaroamë, com 371 falantes, e yãnoma, com apenas 178, são os mais alarmantes.
O projeto levantou políticas que podem ser executadas para que as línguas yanomami continuem fortes. Essas ações incluem a produção de material didático nessas línguas, seu ensino nas escolas e a maior incorporação delas pelo serviços prestados pelo Estado, como saúde e educação. Para garantir a vitalidade desses idiomas, é importante que o Estado busque reconhecer e trabalhar o multilinguísmo yanomami, preparando seus profissionais e produzindo materiais nas línguas indígenas para atendê-los da melhor forma.
A pesquisa apontou ainda uma grande diversidade de dialetos dentro das seis línguas identificadas, com pelo menos dezesseis variações dialetais no total. Mas essa diversidade linguística não é estanque: nos mapas e publicações previstos como produto desse diagnóstico, foram detectadas nove zonas de bilinguismo no território. “Essas zonas são ilustrações eloquentes do intenso contato que os Yanomami têm entre si e a diferença linguística é só um elemento que dá cor para essa rede de relações de trocas, casamentos, alianças, que poderia estar sendo feita em uma única língua, mas no caso tem diversas tonalidades”, explica Perri.
Para o xamã Davi Kopenawa, é preciso cuidar dessa diversidade. As línguas yanomami, segundo ele, estão em risco há muito tempo, desde a chegada dos antepassados dos napëpë, os brancos. “Eles ensinaram aos jovens índios o que ensinavam aos napëpë: os escolarizaram e os proibiam, então diziam para essas crianças e jovens: ‘Aprenda minha língua, pegue de verdade, para você falar! Vamos fazer sua língua acabar!’”, relata Kopenawa.
Com a constante apropriação de meios e espaço de comunicação pós-contato pelos Yanomami, a escola, os celulares, as músicas e a radiofonia são, muitas vezes, portas de entrada para a língua portuguesa nas aldeias. Em vez de serem vistas apenas como ameaça para essas línguas, podem ser pensadas como aliadas. Ou seja: as línguas Yanomami devem ocupar também essas novas mídias, para que mantenham sua vitalidade.
Comunidade Watorikɨ, Terra Indígena Yanomami, município de Barcelos (AM). | Foto: Lucas Lima-ISA
Além da importância que tem dentro das aldeias, o financiamento do projeto pelo Iphan é um primeiro passo para o reconhecimento nacional da diversidade linguística que existe no Brasil. Os pesquisadores do ISA esperam que esse diagnóstico tenha mais reverberações futuramente, como a inscrição das línguas yanomami no Inventário Nacional da Diversidade Linguística, instituído pelo Decreto nº 7.387/10.
Até lá, Davi Kopenawa se preocupa: “Nossos diálogos cerimoniais, nossos cantos, nossas palavras resistem. Mas se os Yanomami das próximas gerações não ficarem atentos, essas palavras irão sumir. Se nossa língua for levada, nós iremos apenas falar assim: ‘bom dia, vamos almoçar, vamos tomar banho, vamos trabalhar, vamos viajar’, só vamos falar isso. Só vai sobrar a língua yanomami mais grosseira”.
Nas narrativas míticas deste povo, conta-se que aos napëpë foi transmitida uma língua pelo zumbido de Remori, o antepassado mítico de uma espécie de abelha-solitária comum nas praias dos rios. A dedicação dos Yanomami, com esse projeto, de produzir registros e assegurar a sobrevivência de suas línguas, é mais uma forma de manutenção e reprodução de seu modo de vida tradicional. Se a fala e o pensamento yanomami se dissolvem nas línguas napëpë, não se perde apenas universo linguístico, mas todo um sistema de conhecimentos e transmissão de saberes culturais, ecológicos, medicinais, artísticos e históricos.
GGN

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

CIRO, O COQUEIRO-ANÃO, VERGA-SE AOS VENTOS E VIRA ‘MINION’, POR FERNANDO BRITO

A volta de Ciro Gomes à política que ele abandonou no período decisivo para o país causa tristeza e constrangimento.
O povo brasileiro, derrotado por uma avalanche de histeria criada pela mídia e pela justiça, ameaçado por um governante que a todos inspira medo do autoritarismo, da perseguição política, do obscurantismo das ideias, não merecia ver uma de suas referências políticas reduzir-se ao comportamento de garoto birrento e mimado.
Ciro pode ter todas as divergências do mundo com o PT. É legítimo. Mas o que está fazendo com declarações estúpidas e grosseiras – como gritar, histericamente, que “Lula está preso, babaca”.
Houve e há muita gente presa sem que isso represente vergonha. A história da humanidade está mais cheia de heróis presos, talvez, do que reverenciados pelo poder.
Ciro oscila entre a mesquinhez e a burrice. Mas sempre dentro da sua pequenez, como quem não consegue entender a política como um processo social, muito mais que pessoal.
Ou como a austeridade não se confunde com moralismo barato.
Convivi, por mais de 20 anos, com um homem de práticas austeras como jamais vi na política e que nunca desceu a este udenismo de ocasião.
Ciro diz que o admira mas não tem o sentido da história e, por isso, jamais consegue pensar em ponto grande.
Infelizmente, isso não é tudo o que se pode dizer de suas atitudes.
Bater nos indefesos e perseguidos é coisa de gente mesquinha e deformada.
Comemorar, mesmo que indiretamente, a prisão e a nova condenação de um homem de 73 anos, virtualmente atirado a terminar seus dias numa cela, ainda mais quando este homem foi seu parceiro, seu chefe e que era – ou ao menos pensava ser- seu amigo,  é algo que não merece palavra menor que sórdido.
Não à toa veio pretender liderar o PDT após a morte de Brizola, não antes.
Tal como Cristovam Buarque tentou fazer, para tornar-se, hoje, uma figura melancólica.
Nenhum dos dois estava disposto a resistir à Síndrome de Estocolmo e sestrosos, apaixonarem-se pelos que nos sequestram a mente.
Ciro Gomes é também um homem condenado ao limbo da microscopia. Jamais será aceito pela direita, avança a passos para ser desprezado pela esquerda.
Mas o que é fatal é mesmo sua capacidade adquirida de ser entre as palmeiras que se vergam ao vento dominante, um coqueiro-anão.
Do Tijolaço

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

FLÁVIO BOLSONARO É INVESTIGADO POR LAVAGEM DE DINHEIRO ENVOLVENDO IMÓVEIS

Inquérito recebido da Polícia Federal apura transações relâmpagos que aumentaram o patrimônio do senador.
O senador Flávio Bolsonaro (PSL) é investigado pela Procuradoria Geral da República por ter aumentado seu patrimônio de maneira “exponencial” por meio de “negociações relâmpago de imóveis”. O inquérito, que era da Polícia Federal, foi noticiado pelo jornal O Globo nesta quarta (6). Flávio é investigado por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral.
“A possível conduta criminosa imputada ao senador está registrada em um despacho assinado pelo subprocurador Juliano Baiocchi. As suspeitas são de lavagem de dinheiro por meio da compra de imóveis e a declaração à Justiça Eleitoral do valor de um imóvel abaixo do seu preço real. Não há detalhes nos documentos sobre quais negociações de imóveis despertaram a suspeita de lavagem de dinheiro”, anotou o jornal.
A investigação corria em sigilo no Rio desde março do ano passado. Com a eleição de Flávio para o Senado, os documentos foram remetidos a Brasília pelo procurador regional eleitoral do Rio, Sidney Madruga, que também pediu que a PF interrogasse Flávio em até 60 dias.
Agora, o inquérito está com a procuradora Raquel Branquinho, que decidirá se submeterá o material à procuradora-geral da República Raquel Dodge ou se enviará o inquérito para a primeira instância. A tendência é que seja devolvido por ser relacionado a fatos anteriores ao mandato.
É o primeiro inquérito contra Flávio que chega à PGR.
GGN

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

MAIS DA METADE DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS COMEÇAM 2019 ENDIVIDADAS

Mais da metade das famílias brasileiras começaram o ano endividadas e esse número aumentou em comparação ao mês passado. É o que mostra a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada hoje, 5 de fevereiro, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 
O percentual de famílias endividadas no Brasil aumentou de 59,8% em dezembro de 2018 para 60,1% em janeiro deste ano. As pessoas que registram atrasos de pagamentos, a chamada inadimplência, também cresceu de 22,8% para 22,9%. 
Por outro lado, se a comparação é feita com o mesmo período do ano passado, ou seja, janeiro de 2018, houve uma pequena queda: famílias inadimplentes representavam 25% e endividadas 61,3%.  
O único dado que teve diminuição tanto em comparação ao mês anterior, de dezembro de 2018, quanto em relação a janeiro de 2018, é o total de famílias que afirmaram não ter condições de pagar as dívidas ou contas em atraso. Em janeiro de 2018 eram 9,5%, em dezembro passado 9,2% e agora 9,1%. 
De acordo com a economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Marianne Hanson, os números materializam a persistência de um "ritmo lento de recuperação do consumo e a cautela das famílias na contratação de novos empréstimos e financiamentos". 
Por outro, na visão de Hanson, juros mais baixos teriam favorecido para o pequeno aumento do endividamento, em comparação ao mês anterior. "As famílias brasileiras também se mostraram mais otimistas em relação à sua capacidade de pagamento, e o percentual de famílias que disseram não ter condições de pagar suas contas em atraso também recuou", acrescentou. 
As dívidas dos brasileiros se dão, principalmente, por meio do cartão de crédito. São 78,4% das famílias que têm dívidas por isso. Os números desse tipo de endividamento também são maiores em famílias que detêm de menos de dez salários mínimos (79,1%). 
Os dois segundos maiores endividamentos ocorrem por meio dos chamados carnês (14%) e o financiamento de carros (9,7%). Em seguida vem o financimento de casa (8,6%) e o crédito pessoal (8,4%).
Arquivo
GGN

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

XADREZ DO EIXO BOLSONARO-LAVA JATO, POR LUIS NASSIF


A derrota de Renan Calheiros nas eleições para a presidência do Senado é mais um passo na escalada da violência e na desestabilização do que resta de democracia no país. 
Peça 1 – os paradigmas da transparência e da fisiologia 
A eleição do inacreditável Davi Alcolumbre (DEM-AP) para presidente do Senado, expôs duas hipocrisias que, por força das redes sociais, se tornaram verdades. 
O pararadigma da transparência 
Porque o voto secreto foi considerado um avanço nas modernas democracia? 
Primeiro, por impedir a pressão dos mais fortes sobre os mais fracos. Dois exemplos simples:
·  a pressão das milícias sobre os eleitores dos territórios conquistados;
·  a pressão do Executivo sobre o parlamento, em todas suas instâncias.
Segundo, por reduzir as barganhas. Na votação em aberto, as barganhas são extremamente facilitadas, porque o alvo da pressão é obrigado a comprovar que entregou o combinado.
Houve uma intensa e maliciosa campanha pelo Twitter contra a votação secreta. Tendo sido instituída para impedir as barganhas e as pressões espúrias, nesse circo-hospício brasileiro, se transformou em atentado à transparência. 
Renan saiu da disputa quando o PSDB exigiu que seus senadores abrissem voto. Entre os tucanos, havia dois votos favoráveis a Renan. Com o voto em aberto, recuaram. E por que recuaram? Para não se expor a represálias do Executivo (através do braço armado da Lava Jato), é óbvio. 
O paradigma da fisiologia 
Há duas formas de apoiar o poderoso, visando benefícios: 
1. Defendendo o poderoso contra ataques de terceiros. 
2. Atacando os terceiros, sem explicitar o apoio ao poderoso. 
Peça 2 – o partido da Lava Jato 
E aí se entra no ativismo político e nas relações que se consolidam entre Lava Jato e o governo Bolsonaro.
Há duas formas de apoio: 
1. O apoio explícito, que consiste em defender o governo. 
2. O apoio envergonhado, que consiste em atacar os adversários do governo e se calar antes seus erros. 
A Lava Jato se encaixa como uma luva na segunda forma de apoio. 
Além do articulador político do governo, Onx Lorenzoni – “absolvido” por Sérgio Moro após um pedido de desculpas por financiamento ilícito de campanha – a Lava Jato caiu de cabeça na campanha pró-Alcollumbre. Seu papel consistiu em atacar Renan e defender o voto em aberto. 
E, assim como Sérgio Moro, não se pronunciar sobre as rumorosas ligações de Flávio Bolsonaro com as milícias, nem sobre o risco de se ter as milícias com linha direta com o sistema de poder. 
Além da Lava Jato, Alcolumbre teve o apoio de senadores da Rede, como Randolphe Rodrigues, mostrando que, assim como Aldo Rebelo, assimilou perfeitamente as janelas de oportunidade da política. A demagogia correu solta no Twitter. 
Finalmente, o papel do PSDB, obrigando seus senadores a votar compulsoriamente em Alcolumbre, mesmo sabendo que sua eleição cria um fator adicional de instabilidade no país.
Mais uma vez, o fígado se sobrepõe à lógica, mesmo sabendo que o caminho mais correto para reformas negociadas seria Renan. 
Com sua atitude, o PSDB fortalece a mistura de fundamentalismo religioso com milícias, que caracteriza o governo Bolsonaro, abre caminho para o populismo de direita, e para o mais desbragado fundamentalismo religioso, conforme o Twitter do pecador convertido Onix Lorenzoni.  
Peça 3 – o papel do Senado e o jogo democrático  
O Senado é o primeiro filtro para conter inconstitucionalidades do Executivo. É o algodão entre cristais, para evitar embates maiores com o STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente do Senado tem o papel de interlocução não apenas com o STF, mas com o governo. É função que exige experiência, conhecimento e capacidade de negociar. 
Cabe ao Senado aparar os exageros de projetos de lei draconianos, impedir o avanço de propostas inconstitucionais, fazer a interlocução com os demais poderes. Daí a importância do cargo de presidente do Senado. 
Pelo comportamento nas prévias, o senador eleito, Davi Alcolumbre (DEM-AP) parece do nível de Severino Cavalcanti. Já foi denunciado por incorrer em deslizes do baixo clero, como
falsificar notas fiscais com gastos de combustíveis, e por frequentar escritórios de doleiros.
Com o esquema Bolsonaro conquistando a cidadela do Senado, o próximo passo será a conquista da Procuradoria Geral da República e do Supremo. Essa função será assumida pela Lava Jato que, definitivamente escancarou seu ativismo político. 
Com a retaguarda de Sérgio Moro, a Lava Jato lançou as primeiras escaramuças contra a Procuradoria Geral da República e alimentou Lorenzoni com denúncias conta Renan no dia das eleições. E conta, no STF (Supremo Tribunal Federal), com o apoio de Luís Roberto Barroso, o homem que previu a “refundação” que jogou o país de volta à idade das trevas.  
Em um quadro ideal (para o Bolsonarismo) o desenho final é o de Sérgio Moro avançando na repressão política, tendo na Lava Jato e na Polícia Federal seu braço armado.
Faltou apenas combinar com os russos. E, por isso mesmo, tem a pedra das milícias no meio do caminho.  
Nas próximas semanas, o jogo ficará mais pesado. E ficará cada vez mais difícil à Lava Jato o álibi de que apenas combate a corrupção, sem nenhum viés político.  
Na sexta-feira passada, segundo os Jornalistas Livres, foi nomeado como Secretário Especial para a Câmara dos Deputados, representando a Casa Civil, o médico Carlos Humberto Manato, que fez parte da Scuderie le Coq, precursora das milícias e dos escritórios da morte. A nomeação foi assinada por Jair Bolsonaro e Onix Lorenzoni.
GGN

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

VIDEO MOSTRA QUE BASE DA BARRAGEM SE LIQUEFEZ. ASSISTA

As imagens que acabam de ser exibidas pela Rede Globo deixam bem claro que foi um processo de infiltração de líquido – água ou lama pouco densa – o que derrubou a barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho.
Não um transbordamento, não uma rachadura no aterro, mas uma imensa mancha de umidade que, durante alguns segundos, aparece bem na base da barragem, que tem 40 anos desde o início de sua construção. Em seguida, suas bordas viram um esguicho de lama, alimentado pela “descida” do copro da barragem, semelhante a um das “implosões” de prédios que assistimos tantas vezes.
Quase ao centro da construção, a impressão que se tem é que um lençol de água ou de rejeitos muito pouco densos, subterrâneo (a barragem estava seca na parte de cima, com vegetação, inclusive árvores de pequeno porte) liquefez a parede de terra do reservatório.
O fenômeno parece ser igual em outro ponto, à direita de quem a olha de frente, aproximadamente no mesmo nível do primeiro, ainda que ambos sejam praticamente simultâneos, até porque tudo é muito rápido.
Não foi, portanto, uma acumulação de água rápida, mas um processo de acumulação lento e progressivo.
Como se formou uma camada tão instável e potencialmente desastrosa sem que os instrumentos de detecção não tenham sinalizado parece ser o “mistério”.
O tão citados piezômetros, aparelhos usados no monitoramento de barragens, medem os níveis de acumulação de água em trechos profundos da barragem e não os detectaram.  Existiam, nessa profundidade, correspondente a períodos antigos? Ou foram negligenciados, em razão da barragem estar abandonada já há algum tempo?
O vídeo que registra a queda da barragem tem a importância equivalente à “caixa preta” de aviões acidentados.
Sabe-se o que aconteceu, falta saber por que aconteceu e por culpa de quem aconteceu.
E se querem responsabilizar a quem de direito.
Tijolaço