Para
escritora e colunista do El País, Bolsonaro não governa para a Nação, mas para
o próprio clã, formado por família e seguidores. E é para defender o clã que
quer aumentar o próprio poder.
Deve
ser “muito fundo e muito grave o que os investigadores poderão encontrar, caso
não forem impedidos”, no inquérito contra Flávio Bolsonaro. É possível que a
suposta corrupção do zeroum não tenha ficado restrita ao gabinete,
estendendo-se a outros membros do clã Bolsonaro. É o que explica o
“antipresidente” Jair querer colocar as tropas de “bolsocrentes” nas ruas. A
avaliação é da jornalista e escritora Eliane Brum, em artigo no El País.
“Bolsonaro
não é um presidente, mas sim um chefe de clã na presidência”, afirma a
jornalista. “O que o domingo mostrará é quantos crentes o clã Bolsonaro
conseguirá mover na tentativa de barrar as investigações do filho zeroum.”
Na
visão da escritora, Bolsonaro pode até tentar argumentar que não consegue
governar com instabilidades causadas pelas instituições, incluindo Congresso e
Judiciário. Mas a verdade é que apenas Bolsonaro impede Bolsonaro de governar
para a Nação. Em cinco meses no poder, fez gestos apenas em favor de seu clã,
que envolve familiares e seguidores.
“O
autogolpe está em andamento não porque o projeto de Bolsonaro para o país está
ameaçado. E sim porque o projeto de Bolsonaro para o seu próprio clã está
ameaçado. Primeiro pelas investigações que, se não forem barradas,
possivelmente alcançarão outros membros do clã. Como impedir então que as
investigações continuem? Pelo golpe. Botando os crentes na rua para, como eles
próprios gritam nas redes sociais, fechar o Congresso e fechar o STF, a
instância máxima do judiciário.”
“Não
há ninguém impedindo Bolsonaro de governar para o país, além dele mesmo e de
seu clã. A questão é que eles nunca quiseram governar para o país, porque a
nação não lhes interessa. O que eles sempre quiseram foi governar para o clã e,
assim, transformar o território da nação no território do clã. Agora o clã está
ameaçado porque as instituições democráticas funcionam mal, mas ainda
funcionam. Funcionam o suficiente para investigar se o filho zeroum cometeu os
crimes dos quais é suspeito e apurar quem mais está envolvido”, complementou.
As
acusações são de ter participado de reuniões informais e não documentadas
relacionadas à Lava Jato.
Procurador
Geral da Suiça Michael Lauber está sendo acusado de cumplicidade com os colegas
brasileiros da Operação Lava Jato. A
informação foi divulgada pelo jornal NZZ e repercutida pelo
Suwissinfo.
As
acusações são de ter participado de reuniões informais e não documentadas
relacionadas à Lava Jato.
Rolf
Schuler, advogado de Zurique que representa um réu da Lava Jato, afirmou que
Lauber, junto com outros membros do MP suíço, participou de runiões não
documentadas na Suiça e no Brasil com o objetivo de iniciar um processo de
lavagem de dinheiro. Mas não apresentou provas de tal reunião.
Um
pouco antes, Lauber
foi acusado de irregularidades, também por reuniões sigilosas no caso FIFA.
A corregedoria do MP suíço abriu uma investigação disciplinar para apurar essas
reuniões entre Lauber e o presidente da FIFA, Gianni Infantino. Lauber
admitiu as reuniões e alegou que visavam ajudar no avanço das investigações.
Em
relação à Petrobras, argumentou que as investigações não poderiam ser tocadas
de modo eficiente sem as conversas informais.
Com
as denúncias, Lauber corre o risco de não ser reconduzido ao cargo.
O
procurador que virou advogado
Antes
desse episódio, as suspeitas de reuniões informais com a Lava Jato provocaram
a demissão
do procurador suíço Stefan Lenz. O procurador abriu um escritório de advocacia, está
oferecendo serviços a clientes brasileiros, e há rumores de que tendo como parceiro
brasileiro parente de personagem influente na Lava Jato.
No
site do escritório, ao lado de páginas em que repete o mesmo discurso
anticorrupção de seus colegas da Lava Jato, Lenz oferece seus serviços para os
suspeitos de corrupção.
Para particulares
prejudicados ou acusados
Nós
somos altamente especializados na área do direito penal financeiro e da
cooperação jurídica internacional e nos aprimoramos cada vez mais nessa área.
a
condição de ex-persecutores penais nós sabemos o que realmente importa para uma
exitosa defesa penal ou representação dos prejudicados.
Nós
temos boas relações na área do direito penal financeiro e da cooperação
jurídica internacional.
Nós
temos experiência com a solução consensual de persecuções penais, no sentido de
um “Deal”, desde que haja previsão legal e seja possível.
Para particulares
Para empresas
Para Estados ou empresas
estatais
Os seus direitos na Suíça
Porque um advogado suíço
Vantagens para Estados ou
empresas estatais
Para empresas
prejudicadas ou acusadas
Nós
lhe auxiliamos em investigações internas, prestamos consultoria e representamos
perante autoridades e tribunais. Nós conduzimos investigações internas,
chamamos, se preciso for, os especialistas que se fizerem necessários,
realizamos tomadas de depoimento e análises de fluxo de dinheiro e reunimos os
fatos juridicamente relevantes num relatório de investigação.
A
desmoralização internacional do país, pelo governo Bolsonaro, não tem
implicações apenas morais. A respeitabilidade centenária do Itamarati está
sendo corroída por um Ministro aloprado. Há uma reorganização internacional da
economia, mudanças radicais no modelo de industrialização, o embate feroz entre
dois gigantes – Estados Unidos e China =, políticas protecionistas sendo
implementadas pelas maiores economias, e a única estratégia brasileira é um
acordo com Israel que unifique as religiões cristãs permitindo a volta do
Salvador.
As
definições de política comercial de um país começam pela análise dos
indicadores de comércio para, a partir deles, montar as estratégias comerciais,
que vão desde acordos bilaterais até a promoções comerciais. É uma política que
exige pleno conhecimento dos interesses nacionais e dos interesses dos
parceiros, para se obter os melhores acordos.
Quando
se compara a complexidade das políticas comerciais com as conversas de Jair
Bolsonaro com Donald Trump ou com os arrufos fundamentalistas do chanceler
Ernesto Araújo, percebe-se que o país está totalmente fora do jogo.
De
qualquer modo, uma análise da balança comercial permite identificar estratégias
óbvias, que serão retomadas assim que os fanáticos se apearem do poder.
O fator China
A
China é um parceiro comercial importante, país com quem o Brasil ostenta o
maior saldo comercial, de US$ 30 bilhões no acumulado de 12 meses até abril de
2019, e com crescimento consistente desde outubro de 2015.
É
de longe o maior saldo comercial e o maior destino das exportações brasileiras.
Confira o acumulado de 12 meses até abril.
Mesmo
assim, a pauta de exportações brasileiras para lá é extremamente pobre, sendo
basicamente de produtos primários. Enquanto as importações brasileiras da China
são de produtos de alto valor agregado.
Comparativamente,
a pauta de exportações brasileiras para os Estados Unidos é muito mais
diversificada, com preponderância de produtos semimanufaturados de ferro,
manufaturados, máquinas e aparelhos de terraplanagem. Enquanto as importações
brasileiras são de produtos de baixo valor agregado além de uma gama relevante
na categoria de “demais produtos”.
Aliás,
quando se analisa a pauta de exportações de manufaturas brasileiras (os
produtos de maior valor agregado) percebe-se a relevância dos mercados vizinhos
da América do Sul.
É
só conferir a pauta de exportações para a Argentina.
As estratégias
A
partir daí, governos inteligentes teriam um corredor pela frente para definir
as estratégias de políticas comerciais.
Com
os Estados Unidos, por exemplo, haveria a necessidade de acordos que blindassem
os produtos brasileiros da alta de tarifas de importação anunciadas pelo
governo Trump. Em vez disso, Bolsonaro se contentou com a promessa vaga,
talvez, quem sabe, de apoio de Trump ao ingresso do Brasil na OCDE. Qual o
ganho que o país teria com esse ingresso? Nenhum.
Em
relação à China, há um interesse estratégico pelas matérias primas brasileiras.
Mas que isso, pela exploração dos mercados de energia, de alimentos e minerais.
Em outros tempos, governos mais inteligentes se valeram da disputa de hegemonia
entre nações para conseguirem grandes saltos no desenvolvimento brasileiro.
Vargas conseguiu a Companhia Siderúrgica Nacional e os planos da Comissão Mista
Brasil-Estados Unidos.
Em
um momento de profundas transformações tecnológicas, com os gigantes chineses
de tecnologia buscando alianças no Ocidente, uma estratégia inteligente poderia
arrancar concessões relevantes, ou da China ou dos EUA. Em um mundo em que os
maiores países, como Estados Unidos, China e Alemanha, montam políticas
industriais visando fortalecer a produção interna, a burrice diplomática só tem
olhos para o acordo final com Israel, que abriria espaço para o fim do mundo e
a salvação das almas.
Não
se trata apenas de excentricidades de circo. Mas de um atraso que vai se
consolidando, enquanto se tolera a manutenção do imbecil coletivo no governo.
As
instituições de Justiça de nosso país, especialmente a Procuradoria Geral da
República e o Supremo Tribunal Federal, continuam ignorando as provas cabais
que surgiram neste ano de 2019 sobre as ilegalidades e abusos de poder que
fizeram de Lula um preso político.
Sempre
se soube que a condenação e a prisão desse cidadão brasileiro não observaram o
devido processo legal e nem qualquer princípio de isonomia ou de razoabilidade,
mas as provas disso nunca haviam sido tão explicitadas. Se a cúpula da Justiça tem
dificuldade de ordenar e ligar os pontos, eu posso fazer esse trabalho e
divulgar aqui. Fiquem à vontade para utilizá-lo, mas não aleguem que o fato não
é problema do STF.
O
último ato coator que manteve Lula preso, apesar de já serem públicas as provas
de nulidade e de abuso do poder, foi o acórdão do STJ, proferido em 23 de abril
de 2019. Portanto, cabe ao STF o poder de anulá-lo.
Nulidade
por “incompetência, suspeição ou suborno do juiz”
Todos
sabem que não havia suporte para a competência da Vara de Curitiba e do TRF4
para o julgamento de Lula e que foi absolutamente forçada a conexão da suposta
doação do tríplex com contratos celebrados pela OAS e a Petrobrás. Em sua
sentença (pág. 35), Moro diz explicitamente que os processos sob sua
presidência são conexos “porque têm por objeto o esquema criminoso que
vitimou a Petrobrás investigado no âmbito da assim denominada Operação Lava
Jato”. Não se tem conhecimento de nenhum caso com a competência determinada por
motivo tão amplo e indeterminado quanto um “esquema criminoso”. Mas isso não é
novidade.
Todos
também sabem que, em 2004, Sérgio Moro escreveu um artigo sobre a Operação
“Mãos limpas” na Itália. Muitas das artimanhas ali analisadas, nem sempre
éticas e nem jurídicas (manter preso o possível delator para forçá-lo a falar o
que a investigação precisa; soltá-lo rapidamente assim colaborar contando a
versão esperada; vazar como uma peneira; atuar contra o lado que a mídia não
gosta; etc.), tornaram-se o modo corriqueiro de atuação da Lava Jato. Ou seja,
Moro (amigo de Aécio Neves) preparou o caminho para ter Lula como o seu réu
favorito, condená-lo e prendê-lo, antes das eleições de 2018. Isto também não é
novidade.
Mesmo
praticando tantos absurdos, Moro ergueu uma imensa couraça de opinião pública
favorável a seus atos, tornando reféns todos os demais julgadores que
participaram do processo, nas instâncias acima, que confirmaram a fatídica
sentença. É claro que também contou a seu favor ter em sua defesa boa parte dos
desembargadores do TRF4 e de outros juristas movidos pelo desejo que uniu mais
de 50% do país, e quem sabe quase 80% do Judiciário: o ‘antipetismo’ e o
‘antilulismo’.
A
novidade chega apenas no final de 2018. Sérgio Moro deixou a toga para se
tornar ministro do presidente da República que venceu as eleições de 2018
graças à manutenção de Lula na prisão. Essa é a prova definitiva de que a
competência e a parcialidade do Juízo nunca existiram.
E
mais: nas últimas semanas, vieram a público informações de que o presidente
eleito (graças à prisão de Lula) prometeu ao desembargador João Pedro Gebran
Neto, do TRF 4, a primeira vaga que surgisse no STF, no caso, a de Celso de
Mello. Bolsonaro disse que prometeu a Sérgio Moro, a segunda vaga, de Marco
Aurélio de Mello. No dia 12 de maio, procurando agradar a Moro, Bolsonaro
anunciou que seria dele a primeira vaga no STF, e não mais a segunda.
Já
denunciei aqui (clique
aqui) a trama que fez com que a composição da 8ª Turma (criminal) do TRF 4
fosse alterada ainda em 2015 graças a um entendimento questionável sobre a
antiguidade de dois de seus membros, um deles aparentemente não favorável aos
métodos Lavajato. Também falei sobre o fato de que a ação contra Lula deveria
ter ido para a 7ª Vara, mas inusitadamente foi para a 8ª, tendo Gebran como
relator.
Pouco
tempo depois, em 2017, nova estratégia fez com que o decano fosse preterido e a
presidência do Tribunal fosse ocupada por Thompson Flores, nitidamente pró
Lavajato. Assim, o Tribunal pronto se preparou para receber os recursos contra
a sentença de Moro, proferida em meados de 2017.
O
caso de Lula foi julgado pela turma de Gebran em aproximadamente 06 meses, um
verdadeiro recorde. Casos graves e emblemáticos, como por exemplo o da Boate
Kiss, que deixou 242 mortos e 623 feridos, a maioria pessoas jovens, aguardam
julgamento no mesmo TRF4 há 04 anos.
Mas
Gebran e outros membros do Judiciário antilulistas e antpetistas estavam
empenhados em “salvar o Brasíl” da ameaça Lula. Moro, peça chave, recebeu e
aceitou como recompensa o cargo de Ministro da Justiça. E tanto ele como Gebran
agiram inspirados pelas promessas de virem a ser os próximos Ministros do STF.
A
selvageria que se instalou no Brasil tem que ser interrompida por atos de
coragem. E a maneira mais objetiva seria um HC de ofício – isto é, sem
ser provocado – que devolva ao STF a senioridade perdida nesses anos, acuado
pelo clamor das ruas. É obra do STF voltar a ser Supremo.
Tão
rapidamente quanto montou a monstruosa operação de fraude que levou a entrega
da presidência do Brasil a um grupo de aventureiros, a direita desiste de
transformar o capitão num presidente. Unanimemente os órgãos da velha mídia se
pronunciam no sentido de que com esse cara nao da mais. Que ao invés de
agregar, unir, somar forças, ele só desagrega, destrói, gera o caos. Alguns
deles falam de que o governo que eles mesmos elegeram está desmilinguindo. O
problema é que está arrastando o país.
Como
foi possível que um presidente eleito com mais de 50 milhões de votos, se
revele incapaz de dirigir o país? Simplesmente porque o único objetivo da
direita nas eleições era impedir que o PT voltasse a governar. Valia de tudo.
Da mesma forma que a fraude do impeachment, a fraude do processo, da prisão e
da condenação do Lula, manipularam as eleições, mediante outra fraude,
denunciada pela mídia, mas absolvida pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Os
resultados estão aí. Elegeram o único que tinha um certo caudal de votos, para
se prestar à manipulação que levou à sua vitória e à derrota do PT. Não
importava quão qualificado estava para governar. Agora a mesma mídia que o
apoiou diz que ele é um fracasso na economia, na educação, nas relações
internacionais, em tudo. Depois de uma carreira de quase trinta anos de
carreira política inócua e cheia de irregularidades, em que foi acompanhado
pelos filhos. Depois do Carlos ser um vereador notoriamente vinculado às
milícias, com os evidentes sinais de relação com a morte da Marielle.
Mas
preferiram isso, um personagem assim, qualquer coisa, contanto que garantisse,
com a derrota do PT, a manutenção do modelo neoliberal, o único projeto que a
direita tem para o Brasil. Não tem o direito de se surpreenderem com a política
de liberação geral do uso de armas, com a política de asfixia da educação com
os gigantescos cortes de recursos e de liquidação da autonomia universitária.
Tudo isso estava na campanha, com o gesto da arminha e com os ataques aos
professores.
Um
presidente fraudulento, que se negou a discutir e a explicitar o que iria fazer
no governo, o primeiro que nunca participou de debates públicos, eleito por uma
operação de manipulação da opinião pública com imagens forjadas difundidas por
milhões de robôs, só poderia dar num presidente fraudulento.
Quem
se diz decepcionado com ele, quem já manifestou disposição de substituí-lo, tem
que se perguntar como o elegeram, como o preferiram, como deixaram de lado tudo
o que sabiam dele, como toleram a operação de fraude eleitoral.
Podem
tentar uma operação de substituição, como se ele não tivesse cumprido com o que
prometia. Na verdade, a decepção da direita vem da incapacidade do governo
organizar uma maioria para aprovar a continuidade do programa neoliberal, a
reforma da previdência, no momento atual. Toleram tudo o resto, menos o que
desvia a atenção e as energias do governo, o que desgasta o apoio para aprovar
a medidas neoliberais do governo. Não importa que se dissemina o uso de armas,
que governos estaduais coloquem em prática políticas de genocídio da população,
que se destrua a educação pública no Brasil. Que a imagem do país no exterior
seja absolutamente degradada. Mas não perdoa o bloqueio na aprovação dos projetos
neoliberais.
A
oposição democrática não pode ficar apenas olhando os movimentos da direita,
não deve ficar opinando que alternativa seria menos ruim – a continuidade
desastrada do atual presidente, a posse do vice, o papel dos militares. Nada
disso interessa, nem ao país, nem à democracia, nem ao povo brasileiro. Nada
disso corrige a farsa eleitoral que impediu a expressão democrática do povo,
que teria levado à eleição do Lula ou do Haddad.
É
preciso voltar a denunciar a farsa eleitoral, a falsificação da vontade popular
pela monstruosa operação de whats’up e de robôs. A direita tem que pagar o
preço pela eleição de um candidato que ela mesma considera incapaz de governar
o país. Não pode simplesmente substituí-lo por quem o acompanhou nessa operação
criminosa.
É
preciso dar a voz ao povo, em condições transparentes, democráticas. É preciso
denunciar a operação que desviou o país do caminho que todas as pesquisas
mostravam que era o preferido, no primeiro turno. A esquerda tem que polarizar
contra todas as alternativas da direita e não ficar torcendo por alguma delas,
preferindo algum eventual mal menor. As contradições que se dão no seio da
direita ocuparam até aqui o centro do cenário político. E’ hora da esquerda
voltar a se apresentar como alternativa, mostrar que o país é viável, é
governável, que foi governado muito bem pela esquerda, quando as eleições se
deram de maneira democrática.
Era
previsível o lance de Jair Bolsonaro, conclamando suas milícias digitais a
enfrentar as instituições. Ontem mesmo previmos esse movimento. Aliás, não há
nada de mais previsível que Jair Bolsonaro, justamente por sua incapacidade de
planejar qualquer movimento.
Aliás,
o mesmo ocorre com seu guru Olavo de Carvalho. Ambos se assemelham a boxeadores
que lutam de cabeça baixa distribuindo murros a granel. Como deu certo até
agora, devido a imbecilização coletiva do país, continuaram acreditando no seu
toque de Midas-reverso – que transforma em merda tudo o que tocam – até toparem
pela frente com o muro da realidade.
Ontem,
Olavo recuou admitindo que exagerou nas suas invectivas contra militares. Bater
em militar é um pouquinho mais arriscado do que atacar Marilena Chauí.
Bolsonaro
baixou a cabeça e saiu esmurrando, difundindo em sua rede o tal manifesto.
Assim como no episódio Marielle, já se sabe quem é o assassino. Faltou saber
quem mandou, ou seja, quem foi o autor do manifesto. E aí entra o nosso Xadrez
Peça 1 – o fator mercado
É
evidente que o artigo compartilhado por Bolsonaro foi produzido por alguém
ligado ao mercado financeiro. É uma análise de cenário, mostrando um Bolsonaro
derrotado e a recomendação final de “vender” o Brasil.
É
nítido que o mercado financeiro se encantou com as possibilidades de negócios
abertas pela eleição de Bolsonaro.
É
o caso da Eletrobrás, alvo do G3, de Jorge Paulo Lehman. Ou a maluquice-mor de
Paulo Guedes, de promover a fusão do Banco do Brasil com o Bank of America
(BofA). Ou ainda, os acordos de leniência fechados entre Departamento de
Justiça e grandes empresas brasileiras, como a Petrobras, com a Lava Jato se
comportando como agente auxiliar do DoJ. E os contratos de compliance fechados
entre Petrobras, Eletrobras, Embraer com grandes escritórios norte-americanos,
em um lobby coordenado por Ellen Gracie, ex-Ministra do Supremo Tribunal
Federal. Definitivamente, com o aval da Lava Jato, o Brasil se tornou uma mina
de ouro para esses grupos.
Peça 2 – os grupos de
lobby
Prevendo
esse campo para grandes negócios, muitos centros de lobby norte-americanos
resolveram investir no grande negócio da parceria com Ministérios Públicos de
vários países e autoridades regulatórias. Foi o caso do Atlantic Council e suas
ligações com procuradores gerais latino-americanos. E de duas empresas
interligadas.
1. A
tal Câmara de Comércio Brasil-Estados
Unidos (Brazilian-American Chamber of Commerce) – não confundir com a
respeitada Amcham, a Câmara de Comércio Brasil-EUA sediada em São Paulo. Seu
presidente é Alexandre Bettamio, presidente do Bank of America (BofA) para a
América Latina.
Ambos
são amigos e trabalham na mesma linha de lobby: grandes eventos anuais, que
lhes permitem se aproximar de autoridades norte-americanas e de outros países.
E têm uma especial predileção pela Lava Jato.
Aqui,
um evento da Brazilian-American Chamber of Commerce com Sérgio Moro.
Aqui,
outro evento com o juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato carioca.
O
escritório tem um leque de produtos para
clientes brasileiros, desde assessoria em casos de denúncia até trabalhos
de compliance.
Já
o Milken Institute armou eventos com grandes players brasileiros, dentre os
quais Jorge Paulo Lehmann, Henrique Meirelles e o indefectível Betammio.
Aqui,
foto do evento da Brazilian-American Chamber que premiou Sérgio Moro e Mike
Bloomberg. Na foto, o próprio Bettamio com o casal Moro, Bloomberg e João
Dória.
Peça 3 – Bettamio, Guedes
e Bolsonaro
E,
assim, entramos no nosso personagem principal, Alexandre Bettamio.
Assim
que Bolsonaro foi eleito, foram empinados alguns balões de ensaio indicando Bettamio
para a presidência do Banco do Brasil. Ele declarou que havia recusado. Mas
passou a investir pesadamente no governo Bolsonaro e na parceria com Paulo
Guedes, com quem conviveu nos tempos em que trabalhou no USB-Pactual.
Á
frente da Câmara de Comércio, Bettamio tratou de aprofundar relações não só com
a Lava Jato como com Bolsonaro.
É
esse horizonte, propício para alguns dos maiores negócios da história, que
ficou coberto pelos raios e trovoadas da ingovernabilidade.
De
um lado, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro avançando nas
investigações sobre Flávio Bolsonaro, que inevitavelmente baterão no pai. As
ruas, tomadas por estudantes protestando contra os cortes do MEC. E, na
economia, o aprofundamento da crise, com os últimos dados sobre desemprego,
mostrando a total inoperância de Paulo Guedes, na política econômica, e de Onix
Lorenzoni, na articulação política.
Guedes
é incapaz de uma ideia criativa sequer. Todo seu talento, em outros tempos, se
resumia a montar cenários econômicos em momentos de grande inflexão da
economia. Mesmo como gestor de fundos de equity, jamais demonstrou visão
prospectiva. Limitava-se a ir atrás de empresas familiares em setores
tradicionais, demonstrando enorme aversão a risco. Além de cultivar uma relação
frutífera com fundos de pensão de estatais.
Levou
esse travamento para o Ministério da Economia. A crise se aprofunda e o
Ministério é incapaz de qualquer coisa além de prometer o céu se a reforma da
Previdência for aprovada, um blefe óbvio. A inércia chegou a tal a ponto que o
Congresso resolveu assumir para si a responsabilidade de definir políticas
anticíclicas – uma excrescência fruto exclusivo do desespero com a inoperância
de Guedes.
É
nesse quadro que surge o tal manifesto replicado por Bolsonaro, cuja última
linha manda “vender” Brasil.
Foi
um manifesto de mercado, que chegou a Bolsonaro em plena ida a Dallas,
provavelmente entregue a ele por seu anfitrião. E, com o manifesto, a
explicitação da intenção de Bolsonaro de insuflar suas milícias – digitais e
provavelmente as armadas – contra as instituições.
Não
poderia ter escolhido melhor cenário. Dallas foi local em que foi planejado e
executado o assassinato de John Kennedy, o presidente americano visto como de
esquerda pelos supremacistas brancos.
Não há que se surpreender com Paulo Guedes, assim
como não havia razões para esperar algo diferente de Jair Bolsonaro.
Desde o começo se sabia
que Guedes era um gestor atrapalhado. É muito mais fácil comandar uma equipe de
analistas, do que uma equipe multidisciplinar como o super-ministério que ele
assumiu. No caso do banco de investimento, o objeto é um só, assim como o
nível de conhecimento e de analise. Mesmo assim, Guedes foi um desastre,
criando conflitos desnecessários com seus sócios e suas equipes, não
demonstrando capacidade de convivência e de liderança. Sempre foi um grande
desorganizado – e nem se tome como ofensa, porque é a característica dos
intelectuais.
Se não dava certo em
ambientes de conhecimento homogêneo, no governo foi pior, ainda mais com essa
loucura do super-ministério colocado sob seu comando. O problema central é a
recessão continuada da economia, seus impactos sobre emprego, criminalidade e
contas públicas.
Hoje saiu a PNAD
Trimestral (Pesquisa Naciional de Amostra de Domicílios), mostrando o tamanho
da crise. Em geral, se mede o desemprego apenas no universo das pessoas que
estão trabalhando ou procuraram emprego no curto prazo. O PNADT vai além. Ele
investiga também aqueles que desistiram de buscar emprego e estão fora do
mercado de trabalho.
O quadro é dantesco.
Em Alagoas se somar
trabalhadores desocupados, mais os que estão fora do mercado, há 66% pessoas a
mais do que os trabalhadores ocupados. No total Brasil, essa relação é de 82%.
No penúltima PNADT,
mediu-se o tempo que dura esse desemprego. Os que buscam emprego há mais de 2
anos chegam a quase 20%
Hoje em dia, a crise
fiscal – que se aprofunda – é função direta da queda da atividade econômica. E
Guedes não tem a menor noção sobre políticas anticíclicas. Menos ainda sobre o
ferramental que tem à sua mão, bancos públicos, gastos públicos, destravamento
de concessões.
Ele está totalmente
travado. Não conseguiu desenvolver uma política setorial sequer. Foi incapaz de
definir estratégias de redução da inadimplência, melhorar a situação do
crédito, acelerar os processos de concessão. Todo seu trabalho consiste em
cumprir ao pé da letra as restrições fiscais, cujo buraco aumenta em função
direta da queda de receita – fruto da recessão.
Cria-se o moto contínuo
do desastre. Efetua cortes brutais no orçamento, a demanda cai mais ainda,
derrubando mais ainda as projeções de crescimento do PIB. A reação são mais
cortes, mais desaquecimento, mais queda da receita. E joga todas as
expectativas na tal reforma da Previdência que, mesmo saindo, não resolverá a
questão crônica da falta de demanda.
O país se aproxima
rapidamente de uma situação de impasse, com desfechos radicais no front político.