quinta-feira, 12 de março de 2020

VAZAJATO APRESENTA A PROVA FINAL DA CORRUPÇÃO DA LAVA JATO, POR LUIS NASSIF

Reportagens confirmam o que o GGN vinha alertando desde 2015: a Lava Jato ficou a Petrobras para atender seus interesses políticos
A última manipulação da Lava Jato, tirando do fundo do baú uma “delação espontânea” de Sérgio Cabral incriminando Lulinha, foi tão fora de prumo que não foi aceita até pelo principal desembargador aliado da operação, João Pedro Gebran Neto.
Como sempre acontece quando está sob ameaça, a Lava Jato tira da cartola uma acusação qualquer contra Lula, esperando recompor a blindagem junto à mídia.
A ameaça, no caso, veio das duas reportagens de APublica-The Intercept, sobre as negociações dos procuradores com o Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) visando se apropriar de parte das multas para a Fundação a ser administrada pelos próprios procuradores.
Trata-se da reportagem mais bem estruturada da Vazajato, e prova mais contundente, até agora, sobre a corrupção da operação. Até então, a palavra corrupção era empregada para descrever os métodos pouco ortodoxos de atuação da Lava Jato. Com a constituição da tal Fundação (cuja existência foi denunciada pelo GGN, em primeira mão), e das informações sobre a tentativa de Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Rosângela Moro, de montar empresas especializadas em palestras, ficou mais evidente ainda.
Agora, na melhor reportagem da série sobre a Vazajato, APublica e The Intercept revelam, com base nas conversas do Telegram, a prova definitiva da corrupção da Lava Jato: os acordos ocultos com o Departamento de Justiça e procuradores americanos, com o objetivo de negociar parte das multas, definir sua aplicação e receber sua parte na forma de palestras pagas.
As duas reportagens confirmam o que o Jornal GGN vinha alertando desde 2015, quando o Procurador Geral da República Rodrigo Janot desembarcou nos EUA com uma tropa de procuradores: a Lava Jato estava rifando a Petrobras para atender seus interesses políticos. Com a fundação, ficou claro que havia também interesses financeiros pessoais envolvidos.
Mas a cobertura transformou jornalistas dos grupos de mídia em meros repassadores de release da Lava Jato e, assim, as denúncias ficaram no ar, enquanto a Lava Jato completava os crimes de lesa-pátria.
Houve a intenção deliberada – da mídia e do STF – em inviabilizar as denúncias que vinham dos portais, para permitir a continuidade de uma ação claramente anti interesse nacional.
As revelações das reportagens
As duas reportagens do ARepublica-The Intercept, com base nas conversas dos procuradores, mostram, em resumo, o seguinte.
A Lava Jato sabia que, na Lei de Cooperação firmada entre governos brasileiro e americano, havia um capítulo que impedia um dos países processar empresas do outro país consideradas estratégicas.
Mas decide que a melhor maneira de aproveitar o acordo seria submeter a Petrobras à multa do Departamento de Justiça, negociando com ele a partilha para o Brasil, a ser administrada pelos próprios procuradores da Lava Jato.
Em outros trechos, já divulgados, Deltan Dallagnol e Roberto Pozzobon planejam criar uma ONG para palestras bancada por esse fundo. Segundo seu planejamento, a ONG receberia valores simbólicos, para não dar na vista. E o pagamento maior seria o cachê das palestras.
A denúncia do DoJ, que custou US$ 800 milhões à Petrobras (R$ 3,6 bilhões), mais as ações coletivas, que custaram mais US$ 3,8 bilhões (ou R$ 17 bi com o dólar a R$ 4,50) foram inteiramente montadas em cima das investigações da Lava Jato. Ao permitir o acesso do DoJ às provas, a Lava Jato foi diretamente responsável por multas que ascenderam a R$ 20,6 bilhões, contra R$ 4 bilhões que a operação trouxe de volta para a Petrobras.
Nos diálogos fica claro que os procuradores foram consultados sobre a possibilidade da Petrobras não ser processada pelo DoJ, mas concordaram com o processo devido à possibilidade de controlar as multas que seriam repassadas.
Pontos centrais das reportagens
A seguir, trechos das reportagens com informações relevantes. As citações estão em itálico.
A viagem de Janot e procuradores para os EUA
O marco no relacionamento entre a Lava Jato e o DoJ foi a visita do Procurador Geral Rodrigo Janot aos EUA, em 9 e 10 de fevereiro de 2015, acompanhado dos procuradores Vladimir Aras, Carlos Fernando dos Santos Lima, Marcelo Miller e Deltan Dallagnol.
Eles se reuniram com o DOJ, representantes da Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês), da Receita Federal americana (IRS, na sigla em inglês), do FBI e do Departamento de Segurança Interna (DHS). Foi a partir dessa visita que os procuradores passaram a discutir a vinda da comitiva a Curitiba.
O papel de Janot e Cardozo
Depois da visita de Janot, procuradores e delegados americanos vieram especificamente para acertar a delação premiada de brasileiros nos EUA. Rodrigo Janot sabia disso, mas escondeu a informação. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, disse que foi surpreendido pela informação e procurou mais detalhes sobre a história, mas “eu nunca tive uma resposta conclusiva sobre isso”. Ou seja, pediu informações sobre uma suposta ilegalidade, a Lava Jato não deu e ficou por isso mesmo.
Os americanos e a indústria do compliance
A delegação foi liderada por Patrick Stokes, chefe da divisão que cuidava de corrupção internacional no DOJ. Pouco depois, Stokes deixou a FCPA e se tornou sócio do escritório Gibson, Dunn & Crutcher’s – que atende a Petrobras nos Estados Unidos – uma posição cujo salário chegou a R$ 3,2 milhões em 2017.
Na série Lava Jato Lado B, GGN dedicou um capítulo à indústria do compliance, como o pedaço de queijo que unia os interesses dos procuradores de vários países, que passaram a oferecer seus serviços para empresas por eles mesmo investigadas.
Ao longo de todo esse período, fizemos uma cobertura intensiva sobre as jogadas entre procuradores e autoridades e os grandes escritórios de advocacia norte-americanos ligados ao DoJ.
Dallagnol burlando a lei
Há inúmeras passagens em que Deltan Dallagnol omite dados das autoridades brasileiras e da imprensa, para burlar a lei. Apesar dos alertas sobre as ilegalidades, especialmente por Vladimir Aras – que aparentava ser o mais centrado dos procuradores da Lava Jato – em nenhum momento se vê um recuo de Dallagnol.
DRCI (departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional) é o órgão do Ministério da Justiça incumbido da formalização dos acordos de cooperação. Quando o diretor fica sabendo da visita dos americanos e solicita informações, o que faz a Lava Jato?
“No mesmo email, enviado para o então chefe do DRCI, eles decidem amenizar o conteúdo da visita e dizer que ela se limita a “reuniões de trabalho”, como “apresentação de linhas investigativas adotadas pelo MPF e pela PF e pelos norte-americanos no caso Lava Jato”, e não “diligências de investigação no Brasil, o que seria irregular”.
Documentos oficiais do Itamaraty obtidos pelo The Intercept contradizem a versão defendida por Dallagnol na resposta ao Ministério da Justiça. Segundo esses documentos o DOJ pediu vistos para pelo menos dois de seus procuradores – Derek Ettinger e Lorinda Laryea – detalhando que eles planejavam viajar a Curitiba “para reuniões com autoridades brasileiras a respeito da investigação da Petrobras” e com advogados dos delatores da Lava Jato. “O objetivo das reuniões é levantar evidências adicionais sobre o caso e conversar com os advogados sobre a cooperação de seus clientes com a investigação em curso nos EUA”.
Ou seja, o Ministério da Justiça queria informações sobre a vista dos americanos. O Ministério das Relações Exteriores tinha em detalhes. E Cardozo se contentou com as não-explicações dadas pela Lava  Jato. E não era pouca coisa. O DoJ mandou o estado maior das investigações ao Brasil, além do chefe Patrick Stones.
Além dele, estavam presentes dois procuradores-chave nos casos da Petrobras e Odebrecht, Christopher Cestaro e Lorinda Laryea. Ambos continuam atuando na divisão de FCPA do DOJ. Em 2017, Cestaro foi nomeado chefe-assistente da divisão e, em julho do ano passado, tornou-se o chefe de FCPA, comandando todas as investigações de corrupção internacional contra empresas americanas e estrangeiras.
Do lado do FBI, George “Ren” McEachern liderou até dezembro de 2017 a Unidade de Corrupção Internacional do FBI em Washington, com mais de 40 agentes, supervisionando todas as investigações de corrupção ligadas à Lava Jato. A agente Leslie Backschies, que também esteve na comitiva, era supervisora da Divisão de Operações Internacionais do FBI no continente e acompanhou de perto todas as investigações no Brasil. Ela atualmente ocupa o antigo cargo de “Ren” e supervisiona os três esquadrões do FBI dedicados a investigar corrupção pelo mundo afora.
O roteiro completo para os norte-americanos
Os procuradores da Lava Jato trataram, então, de fornecer todas as informações necessárias para a equipe norte-americana. Explicaram o papel de cada delator. Falou-se de Alberto Youssef, de Paulo Roberto Costa, de Augusto Mendonça Neto, dono da empresa de construção Toyo Setal, de Pedro Barusco, ex-gerente de serviços na Petrobras, de Hamylton Padilha, lobista da Petrobras que atuava na área de aluguel de sondas para perfuração de poços; Ricardo Pessoa, ex-presidente da Construtora ETC Engenharia; e Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa.
Depois de ser “brifada” sobre vários alvos da Lava Jato, a delegação americana passou dois dias negociando com advogados de delatores-chave. Cada um deles teve meia hora para apresentar seus casos e conversar sobre os termos da colaboração com as autoridades americanas.
No dia 9 de outubro, de férias na Alemanha, Aras alerta Deltan que os americanos poderiam usar as informações em processos no seu país contra cidadãos e empresas brasileiras.
A preocupação demonstra como o chefe da Lava Jato em Curitiba explorou uma zona cinzenta, fazendo soar alarmes na própria PGR.
De nada adiantaram os alertas. Os próprios procuradores se incumbiram de pressionar brasileiros a delatar para o DoJ. Como se depreende da mensagem do procurador Orlando Martello:
“Foi muito interessante e útil para nós trabalhar com vocês e sua equipe na semana passada. Pudemos entender melhor os procedimentos nos EUA, assim como aprender sobre sua expertise em acordos. Com esse conhecimento, agora nós temos mais uma maneira de convencer empresas e indivíduos a revelar fatos: ameaçar informar ‘as autoridades Americanas’ sobre corrupção e delitos internacionais… (risos)”, escreveu Martello, em inglês.
Em seguida, informa os americanos sobre como passar por cima das restrições legais, que obrigam que interrogatórios de brasileiros sejam feitos por autoridades brasileiras.
Primeiro, eles poderiam ouvir os colaboradores da Lava Jato nos Estados Unidos – o que é, para ele (e para Stokes), a melhor ideia, embora parte deles pudesse não aceitar ir voluntariamente para os EUA. E então sugere: “Nós podemos pressioná-los um pouco para ir para os EUA, em especial aqueles que não têm problemas financeiros, dizendo que essa é uma boa oportunidade, porque, embora seja provável que autoridades dos EUA venham para o Brasil para conduzir as entrevistas, as coisas podem mudar no futuro”. Assim seria possível evitar as limitações impostas pela decisão do STF e novas decisões que poderiam se seguir.
A entrega das provas obtidas no Brasil
Em 30 de novembro de 2015, às 21:09:52, Dallagnol avisa a Aras que os americanos já “estão ouvindo colaboradores”. Aras reage com surpresa e Deltan responde: “Não temos controle sobre as oitivas porque são uns 10 colaboradores que já estão em tratativas de acordos, ou acordos feitos. EUA estão com faca e queijo na mão para ouvirem”.
Aras pergunta se os colaboradores estão sendo ouvidos nos Estados Unidos. “Onde estão ouvindo? Informaram ao DRCI?” Dallagnol responde que, por serem nos EUA, as oitivas ocorreriam “à revelia do DRCI”. E prossegue, referindo-se à visita dos americanos no mês anterior: “Nós estamos com pressa, porque o DOJ já veio e teve encontro formal com os advogados dos colaboradores, e a partir daí os advogados vão resolver a situação dos clientes lá… Isso atende o que os americanos precisam e não dependerão mais de nós. A partir daí, perderemos força para negociar divisão do dinheiro que recuperarem. Daí nossa pressa”.
“Mas eles só conseguirão isso se colaborarmos, não? Eles não têm provas. Ou têm?”, retruca Vladimir.
(…) “Eles podem pegar e usar tudo que está na web”, argumenta Dallagnol. Aras pergunta: “Quando eles farão pedido formal de oitivas?”.
“Não precisam fazer. Ouvirão nos EUA os que estão soltos e podem viajar.”
A resposta surpreende Aras: “Os advogados concordaram? Eles vão viajar sem salvo-conduto????? Loucura”.
(…) Dallagnol admite, então, que a força-tarefa pode ter errado ao não avaliar as consequências da parceria com os americanos durante a visita secreta a Curitiba. “Quando estavam aqui, e não tínhamos ainda restrições, mas estávamos operando no automático, sem conhecimento da dimensão das consequências e pensando em aplicar o tratado diretamente (o que ainda não está fora de cogitação, estamos todos refletindo, creio), dissemos que não haveria problema em os colaboradores, que pudessem, ir aos EUA para prestar as declarações.”
A divisão do dinheiro
Em agosto de 2015, o valor da possível multa foi vazado para a Agência Reuters por uma fonte interna da Petrobras, gerando intensa especulação.
A ideia do compartilhamento das multas partiu do procurador Januário Paludo. Inicialmente, os americanos ofereceram 25% do total das multas. A Lava Jato percebe a possibilidade e inicia um processo de negociação. Em determinado momento, para pressionar os americanos, decidem atrasar a entrega de provas.
No final de 2015, por exemplo, após o rápido avanço das negociações diretas entre o DOJ e os delatores, Dallagnol explica a Aras que pretendia atrasar interrogatórios diretos de delatores pelos americanos para ter melhores condições de negociar a partilha dos valores. “A razão pela qual seguramos até agora é porque estamos em dúvida ainda se vamos facilitar as coisas para eles e porque queríamos negociar a questão de assets sharing”, afirmou Dallagnol em 17 de dezembro.
“Vlad, entendemos a necessidade de gerar pressão nos americanos e que alguém tem que pagar o pato. Poderíamos colocar a ‘culpa’ em BSB. Contudo, tem algumas coisas que me preocupam muito nesse contexto específico da Petrobras, especialmente a divisão de valores do caso Petrobras. Em razão delas, acredito que seria um risco muito alto suspender nesse caso específico, neste momento”, afirma ele no chat.
Um ano depois, os procuradores de Curitiba foram informados que o DoJ repassaria 80% do total da multa ao Brasil.
Todas as informações do DoJ eram da Lava Jato
Dois meses depois, Dallagnol deixa claro que, na sua visão, toda a acusação do DOJ se baseava apenas na investigação brasileira – e os americanos não tinham sequer um “caso” contra a petroleira. Ele chega a questionar a cooperação de maneira eloquente aos seus colegas do chat “Filhos de Januario”.
“A multa imposta nos EUA a partir do trabalho brasileiro é injusta. Lugar dos crimes, lugar dos danos, lugar do trabalho, o que as evidências mostram, a estrita aplicação da lei, dano à imagem da investigação brasileira etc…”, afirma ele, explicando que naquela época falava-se de uma multa de US$ 3 bilhões.
Por R$ 2,5 bi, entregaram a Petrobras
No dia 15 de outubro de 2017, segundo a reportagem, o procurador Paulo Galvão informou que Cris Cestaro, do DoJ, indagou se deveriam ou não desistir do caso criminal contra a Petrobras. O motivo foi carta do embaixador brasileiro nos EUA, invocando a cláusula do acordo que permitia a um país impedir que outro investigasse empresas de interesse estratégico.
Segundo ele, embora não devesse opinar “a favor ou contra a Petrobras”, o maior problema, na visão dos procuradores, seria a opinião pública brasileira, “o que estaria mitigado pelos 80% ficando no Brasil”.
Segundo o contrato, caberia ao MPF no Paraná “buscar meios para a constituição da entidade privada, com sede em Curitiba”, assim como constituir um Comitê de Curadoria Social para supervisionar a constituição da fundação, pedindo indicação a organizações da sociedade civil. Além disso, tanto o MPF no Paraná quanto o MP estadual poderiam pedir um assento no órgão de deliberação superior da fundação.
Diálogos vazados mostram que Dallagnol agiu para fundar uma empresa ou um instituto com perfil semelhante às atividades descritas no contrato com a Petrobras – dois meses depois da assinatura do acordo da Petrobras com a Justiça americana e um mês antes da assinatura do acordo da empresa com a Lava Jato, no Brasil.
Deltan e Pozzobon se prepararam para colher os frutos
Em dezembro de 2018, Deltan e Pozzobon decidiram montar uma ONG para organizar palestras contra a corrupção.
Os dois criaram um grupo no Telegram naquele mês com suas esposas para cogitar a abertura de uma empresa de eventos, congressos e palestras. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok?”, escreveu Dallagnol em um bate-papo com a esposa. Para evitar questionamentos legais e críticas, os dois procuradores decidiram não aparecer como sócios, mas abrir a empresa no nome das esposas. “Só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs duas, por questão legal”, afirmou Dallagnol no grupo de Telegram em 14 de fevereiro de 2019. Administrar empresas é ilegal para procuradores.
Em duas ocasiões, Dallagnol sugeriu que criassem um instituto em vez de uma empresa. Em 3 de março, ao comentar um evento organizado por um instituto, ele escreveu: “Deu o nome de instituto, que dá uma ideia de conhecimento… não me surpreenderia se não tiver fins lucrativos e pagar seu administrador via valor da palestra. Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, escreveu no chat.
A reportagem do GGN, denunciando a Fundação, acabou com a festa,
A cobertura do GGN
Aqui, os alertas do GGN, sobre os acordos dos procuradores com o DoJ e, depois, sobre a criação da fundação que lhes conferiria o direito de administrar o dinheiro das multas.
08/02/2015 – O que vai fazer nos EUA a Procuradoria-Geral do Brasil? Acusar a Petrobras? (https://tinyurl.com/qnmluu6)
09/02/2015 – PGR explica ida de equipe de procuradores aos Estados Unidos (https://tinyurl.com/ueqdtth)
01/08/2015 – PGR encontrou-se nos EUA com ex-sócia de concorrentes da Eletronuclear (https://tinyurl.com/rgxxxh2),
05/10/2015 – Procuradores preparam-se para entregar a Petrobras aos EUA, por André Araújo (https://tinyurl.com/wb6ukgb)
05/03/2019 – Com 2,5 bi em caixa, a Lava Jato se prepara para substituir o bolsonarismo (https://tinyurl.com/yyv2qsn2)
08/03/2019 – Fundação Lava Jato: Confira a íntegra dos acordos entre Petrobras, EUA e MPF (https://tinyurl.com/y5hu4ezd).
10/03/2019 – Confira o que o GGN publicou sobre o fundo bilionário da Lava Jato na última semana (https://tinyurl.com/rdq79ft)
12/05/2019 – Xadrez do pacto que garantiu R$ 2,5 bi para a fundação da Lava Jato (https://tinyurl.com/s2v95f4)
Restou, parado no ar, o desabafo de André Araujo:
Pergunta-se: O que vai fazer nos EUA a Procuradoria-Geral da República do Brasil? Vai ajudar os americanos na acusação contra a Petrobras? Mas a Petrobras é parte do Estado que lhes paga os salários, está sendo atacada no estrangeiro, eles vão lá ajudar os autores das ações?
Quem deveria ir para os EUA é a Advocacia-Geral da União, orgão que funciona como defensora dos interesses do Estado brasileiro. A AGU poderia ir aos EUA para ser auxiliar da defesa dos advogados da Petrobras porque, salvo melhor juizo, um Estado não vai ao estrangeiro acusar a si mesmo ou ajudar outro Estado a lhe fazer acusações. Quem processa a Petrobras indiretamente está processando o Estado brasileiro.

Do GGN

domingo, 1 de março de 2020

BOLSONARO É MOVIDO A SORDIDEZ


O vagabundo que preside este país disse hoje que os torturados pelo regime militar não sofreram nada.


“É tudo cascata cascata para ganhar indenização”, disse aos aduladores do cercadinho na porta do Alvorada.
Pau-de-arara, cadeira o dragão – onde se aplicavam choques elétricos aos presos – farpas de bambu e agulhas enfiadas sob as unhas, tudo iso era, claro, para ganhar uma”graninha”.
Só uma mente podre como a de Jair Bolsonaro pode, gratuitamente, fazer a apologia da brutalidade covarde da tortura. Sua cabeça, seja lá o que tem dentro dela, é movida a sordidez.
Este é o tipo de “combate” que militares como ele gostam: o adversário amarrado, algemado, sangrando e indefeso como objeto de sua “valentia”.
O Brasil fez um imenso esforço para se pacificar e este sujeito vem ofender o mortos e debochar de quem passou por dores, sofrimentos e humilhações e, agora, no final da vida, ainda segue assombrado pelas sessões e horror pelas quais passou.
Muitos deles, militares honrados, que cometeram o “crime” de serem legalistas.
O general Ernesto Geisel tinha toda razão ao referir-se a Jair Bolsonaro como um “mau militar”.
E o que Geisel, então, iria dizer dos generais que, hoje, servem de escolta ao ex-capitão?
Que laurel para o fim de suas carreiras, não é? Virarem vovôs de miliciano e torturadores ad hoc.
Do Tijolaço.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

XADREZ DO APOIO DA MÍDIA A SÉRGIO MORO, POR LUIS NASSIF

A condescendência com que é tratado pela Rede Globo é a comprovação maior de que a defesa da democracia é apenas um instrumento de luta política, quando o déspota de plantão não satisfaz.
Cena 1 – a defesa dos valores democráticos
Nos últimos meses, houve um aumento da defesa da democracia, uma atoarda impulsionada pelos arroubos de Jair Bolsonaro, e pela convicção de que ele, efetivamente, aposta em um golpe, em um ponto qualquer do futuro.
Na parcela mais informada da população, da mídia, do Congresso e dos Tribunais superiores, não há mais dúvidas sobre as ameaças que pairam sobre a democracia.
As manifestações de apreço pela democracia são comoventes, sendo engrossadas por figuras que, até algum tempo atrás, eram os maiores arautos do discurso de ódio.
Até que ponto essas manifestações são sinceras, ou apenas expressam o desagrado com o candidato a ditador de plantão.
Para saber, é só fazer a prova do pudim: Sérgio Moro.
Cena 2 – Sérgio Moro é uma vocação autoritária
Cinco pontos para comprovar que Moro é uma ameaça à democracia muito mais grave do que Bolsonaro. É a maior vocação autoritária que chegou ao Ministério da Justiça, desde Felinto Miller e Armando Falcão.
Cinco cenas exemplares,
Lei de Segurança Nacional contra o porteiro do Condomínio de Bolsonaro.
Invocou a LSN para colocar a Polícia Federal no encalço do porteiro e obriga-lo a retificar o depoimento anterior, de que o motorista do carro que conduziu o assassino de Marielle Franco, tinha entrado no condomínio pedindo autorização para a casa 58, de Bolsonaro. Seria inconcebível esse tipo de atitude com o Ministro da Justiça de qualquer outro presidente do período democrático, de José Sarney a Dilma Rousseff.
Usou a LSN contra Lula, por críticas a Bolsonaro.
Valeu-se do mesmo expediente, de invocar a LSN, para obrigar Lula a depor na PF, por críticas endereçadas a Bolsonaro. Foi tão vexaminoso, que obrigou a própria PF a assumir o papel de juiz, em um comunicado em que dizia não ter identificado atentado à segurança nacional na declaração.
Lista dos bandidos mais procurados sem Adriano da Nóbrega
Mais uma vez colocou o Estado na defesa do presidente. O miliciano Adriano da Nóbrega já era procurador pelas polícias de vários estados, mas não entrou na lista de Moro, sob o argumento que não era crime da alçada federal.
Inação com milícias digitais
Não tomou nenhuma medida contra as agressões sofridas por jornalistas, incluindo ataques à reputação, ameaças de morte, exposição dos filhos menores. As milícias continuam agindo incólumes, apesar dos notórios atentados contra o Estado de Direito.
Lei de Segurança Nacional contra festa punk
Endossou a decisão de utilizar a LSN contra festa punk em Belém do Pará, por cartazes considerados ofensivos contra Bolsonaro. Em nenhum momento tomou qualquer medida contra cartazes insinuando morte de Lula e de outras lideranças da oposição.
Não condenação do motim dos policiais do Ceará
Foi ao Ceará, acompanhando a tropa convocado pela Garantia de Lei e Ordem, e minimizou o motim dos policiais, alegando que a GLO não foi feita para enfrentar motins, mas apenas para garantir a tranquilidade das ruas. Ora, o primeiro ponto de justificativa de uma GLO é justamente a possibilidade de motim das políticas estaduais.
Depois, não reagiu contra a ordem de Bolsonaro, de interromper a intervenção antes do final da greve. Só voltou atrás quando os governadores ameaçaram enviar suas tropas para conter os amotinados.
Ameaças a Glenn Greenwald
Mais um episódio em que invocou a LSN contra adversários, no caso um jornalista no exercício do seu trabalho profissional.
Cena 3 – por que é poupado pela Globo?
A condescendência com que é tratado pela Rede Globo é a comprovação maior de que a defesa da democracia é apenas um instrumento de luta política, quando o déspota de plantão não satisfaz.
Alguns poderiam interpretar que é uma prova de má consciência, pelo apoio dado a Moro, quando se tornou peça central da campanha do impeachment.
Mas, se houvesse intenção, haveria um episódio de corte, para justificar a mudança de posição: a própria indicação de Moro para Ministro da Justiça do governo que ele ajudou a eleger.
É evidente que Moro é tratado como exército de reserva político, em função do seu atual nível de popularidade, amplamente turbinado pelo Jornal Nacional.
Essa é a grande desgraça nacional. Não existe convicção democrática, mas uso oportunista do discurso, dependendo das circunstâncias. A mesma voz que estuprava a democracia passa a ser sua defensora. E, dependendo das circunstâncias, amanhã voltará de novo a namorar o estado de exceção. E a hipocrisia nacional fingirá que há sinceridade nos dois momentos.
Do GGN

domingo, 2 de fevereiro de 2020

JOSÉ LEVI FALECE AOS 79 ANOS DE IDADE


José Levi
O editor, por meio deste veículo de mídia, comunica, com profundo pesar, o falecimento de seu tio, aos 79 (setenta e nove) anos de idade, o senhor JOSÉ LEVI FERREIRA DA SILVA, conhecido apenas por LEVI, um dos maiores vaqueiros de seu tempo, ocorrido no Povoado SÃO FÉLIX, às 8:00h da manhã de hoje, 02 de fevereiro de 2020, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.
O velório está sendo realizado desde as 10:00h, na sua residência, no mesmo local do óbito. O corpo será sepultado amanhã dia 03/02/2020, às 7:30h, no cemitério do Povoado Pé da Ladeira.
 Reginaldo Veríssimo

domingo, 19 de janeiro de 2020

2019: O 1º ANO DE BOLSO, PERÍODO EM QUE FICAMOS MENORES

Então era isso, a modernidade, aquela que, desde Fernando Collor, dizem faltar em nosso pais?
Trocarmos os grandes debates nacionais por “tretas”? Discutirmos se a Terra é plana? Comemorarmos, como conta hoje o El País, a redução do desemprego feita com 905 mil pessoas, em 2019, terem se tornado entregadores, de moto ou de bicicleta?
É isso, é normal que, num país agoniado pela pobreza, onde os mais pobres cozinham o que têm na lenha, porque o botijão de gás ficou inacessível, as discussões de final do ano sejam a herança do Gugu e alguma outra bobagem de “celebridade”?
Em que “ter religião” é atirar coquetéis molotov em quem tem outra ou em quem não a têm?
Em que se comemora o emprego (?) em ‘bicos’ como faz-se hoje, em O Globo, com o aumento dos contratados “intermitentes”?
Ou será que ‘modernidade” em segurança e justiça seja armar-se mais, matar mais, prender mais e surrar mais?
Note que nem entrei no fato de termos um presidente idiota, grotesco, estúpido, alguém que não pode sequer, ao menos, comportar-se.
Nem no fato de ele empoderar, como príncipes, uma ninhada de energúmenos e boçais.
Isto sempre esteve aí, nas beiradas da sociedade civilizada e quem os colocou neste lugar foi gente muito bem situada, de bons modos e grandes apetites.
Este ano, como os mais recentes, fazem lembrar os selvagens que encolhem cabeças.
Os “cobradores de autocrítica” não praticam o que pregam, porque menos grave estes personagens que o embrutecimento geral a que levaram o Brasil. Reclamam dos exageros do imbecil presidente, mas não do processo que o construiu.
No fundo, acham que isso é um mal necessário para destruir dignidades, sonhos, país e, portanto, adequar o país a uma modernidade onde a única liberdade sagrada é a do dinheiro, seu verdadeiro Deus.
Do Tijolaço. Por Fernando Brito, 30/12/2019.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

IDIOTAS DOMINAM DE VEZ O PAÍS?, POR CLEITON LEITE COUTINHO


Em curto período conseguiu destruir parte considerável da Amazônia, armar ainda mais os ruralistas e milicianos, ampliar de forma considerável a violência nas suas diversas formas.
Foto: AFP
Ou disputamos os espaços de reflexão e opinião pública ou os idiotas dominam de vez o país.

Nelson Rodrigues certa feita disse que “os idiotas iriam tomar conta do mundo”, pela quantidade ao observar que eram muitos.

Infelizmente esse tempo chegou. Somos governados em todas as esferas por eles.

Em São Bernardo do Campo, por exemplo temos um prefeito idiota, que impõe forte pauta de retrocessos na cidade que vai da retirada de direitos dos servidores públicos municipais, como no caso da nefasta reforma da previdência aprovada à derrubada de casas de famílias, que residem em determinadas regiões da cidade há décadas, como é o caso dos moradores do Novo Parque e região.

A situação se repete no Estado de São Paulo, onde o também governo tucano liderado pelo governador, não menos idiota, João Dória impõe intenso sofrimento aos servidores públicos estadual, com a mesma fórmula da reforma da previdência, acompanhada de um alto índice de desemprego, desindustrialização, desaquecimento da economia e, por consequência, aprofunda à forte recessão econômica.

Em Brasília está o idiota mor. Não consegue passar um único dia, sem falar ou fazer algo que prejudique o nosso país.

Em curto período conseguiu destruir parte considerável da Amazônia, armar ainda mais os ruralistas e milicianos, ampliar de forma considerável a violência nas suas diversas formas, como: à violência doméstica, que já conta com o registro histórico de alta do feminicídio, passando pela homofobia e toda forma de crimes violentos, além de suprimir direitos trabalhistas que haviam sidos consagrados à preço de sangue e com muita luta, impondo nesse contexto uma forte depressão social no país.

Não bastasse tudo isso, ainda sanciona o famigerado pacote anticrime que tende a aumentar de forma considerável a população carcerária, na contramão de qualquer proposta que observe a causa do aumento da criminalidade que indiscutivelmente tem suas raízes na profunda e secular desigualdade social.

Diante do quadro que vivemos cabe a reflexão: como essas pessoas chegaram a esses postos de comando do país e como praticam tantas atrocidades sem que o povo passe a se indignar ao ponto de reagir e fazer cessar tamanho absurdo?

A resposta não exige grande esforço intelectual ou mesmo uma análise sociológica profunda sendo tão óbvia que custa até acreditar.

Culpar a população por ter votado nesses idiotas não basta. O povo vota na sua maioria, a partir da referência de alguma pessoa que o tem por “liderança”.

Essas pseudolideranças estão em várias partes: nos bares, salão de cabeleireiro do bairro, nos campos de futebol, nas igrejas, pontos de ônibus, festinhas de aniversários, churrascos…

Basta juntar duas ou três pessoas que elas já entram em ação. Parecem “isentos” à política e com isso penetram mais fácil nos espaços e a partir daí o estrago é enorme.

Com uma superficialidade incrível induzem um diálogo desprovido de dados, estatísticas ou qualquer base sólida de informação e sem qualquer aprofundamento começam a “formar opinião” na cabeça das pessoas em um processo degradante de despolitização social, situação que serve as redes sociais e WhatsApp também.

Gostam da abordagem genérica e já de cara fazem questão de dizer que todo o político é ladrão. A frase é irresistível de ter aceitação, o que se dá de forma quase unânime em qualuqer lugar, ainda mais considerado que os meios de comunicação já fizeram e seguem fazendo parte do trabalho de desinformar e deformar nesse sentido.

Contudo, na sequência induzem a conversa de forma direcionada, para atingir políticos e verdadeiras lideranças políticas, que de fato atuam ou podem atuar em prol da comunidade e do conjunto da sociedade.

A conversa então passa a ser direcionada e seletiva, com ataques a temas globais, porém, sempre sugerindo determinada figura ou partido que geralmente estão no campo da esquerda.

Então você deve estar se perguntando: por qual razão a esquerda não faz o mesmo?

Não faz e não fará! A esquerda sempre foi vocacionada a formar o cidadão crítico. Não aceita essa fórmula de ganhar eleições a todo custo, ainda mais apostando em despolitizar as pessoas.

A esquerda quer que essas pessoas entendam de economia, saúde, segurança e aprofunde nos temas participando de forma ativa da construção de uma sociedade justa, plural, fraterna e democrática.

Assim, parece óbvio que a mudança na estrutura política combalida de nosso país, impactando diretamente nos governos que iremos eleger nos próximos anos e o que farão ou não pelo nosso país, passa diretamente pela capacidade que teremos de conscientizar politicamente as pessoas.

Que a educação é importante isso é indubitável. Mas, o avanço ba politização da população nesse sentido, não passa necessariamente pelo grau de escolaridade e a formação acadêmica das mesmas, ao que esse padrão de formação produzida pelo Estado, não representa a libertação do nosso povo da alienação política. Contudo, não sejamos pretenciosos de afastar com isso à importância da formação em todos os graus, o que seria evidente equívoco.

Basta observar as pesquisas de opinião, onde as pessoas que atingiram maior grau de escolaridade, na sua grande maioria acabam por apoiar e votar nos piores governos e são avessos aos programas de governos mais avançados e de concepação política no mesmo sentido, ao mesmo tempo que acabam desconsiderando as liderancas produzidas e forjadas nas lutas populares ou nas camadas mais abastadas da nossa sociedade.

Precisamos politizar as pessoas, para que tenham compreensão da política de forma macro e deixem de serem alienados.

Isso não é possível em um papo de meia hora no bar, salão de cabeleireiro, igreja…, mas é possível em vários papos repetidos, por médio e longo períodos, nesses espaços.

Desta forma devemos disputar a narrativa dos temas que importam e impactam o conjunto da sociedade e só conseguiremos fazer isso estando efetivamente junto ao povo, pois é nessa ausência do diálogo direto com as pessoas que está o vácuo dos idiotas e eles estão prevalecendo. Tal fato, todavia, não deve ser restrito a população de baixa renda ou menos favorecida do nosso país, já que a consciência política deve atingir à todas as pessoas, momento em que nossa nação poderá ser realmente liberta dos idiotas.
Do GGN

Cleiton Leite Coutinho. Advogado. Presidente do Partido dos Trabalhadores de São Bernardo do Campo, Dirigente do SASP (Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo) e membro da ABJD (Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

OS 181 ANOS DA GUERRA DA BALAIADA OCORRIDA NO MARANHÃO


Hoje completa 181 anos a Guerra da Balaiada, chamada ainda Guerra dos Bem-te-vis, foi a mais longa e numerosa revolta popular ocorrida no Maranhão entre os anos de 1838 e 1841, com início em 13 de dezembro de 1838. Os primeiros indícios da revolta ecoaram de um lugarejo chamado Manga do Iguará, também conhecido simplesmente Manga, na região do Maranhão oriental.
A revolta foi liderada por homens pobres, mestiços e também escravos, devido ao sentimento de opressão que sentiam em relação aos prefeitos, cargo criado por uma administração conservadora do presidente da província Camargo. 
De um lado, grandes proprietários de terra e de escravos, autoridades provinciais e comerciantes; do outro, os balaios (vaqueiros, artesãos, lavradores, escravos, mestiços, mulatos, sertanejos, índios e negros), sem direito à cidadania e nem ao acesso à propriedade da terra, buscando o fim de novas arbitrariedades instituídas pelas oligarquias regionais que haviam subido ao poder após a proclamação da independência, além do fim de recrutamentos violentos.
Como em diversas revoltas camponesas, é comum dizerem não haver uma motivação revolucionária de questionamento do sistema político, conclusão equívoca e resultado de 150 anos de negação da legitimidade do movimento, além de ter sido considerada pela ordem monárquica uma anomalia e uma manifestação da barbárie contra a civilização.
 ANTECEDENTES
Apesar de uma implementação tardia, a economia escravista de plantation caracterizou-se no Maranhão pelo desenvolvimento e crescimento da importância de uma economia camponesa de forma diferenciada e autônoma, principalmente se comparada a outras regiões do Brasil onde também predominaram as grandes lavouras escravistas.
A economia camponesa assumia, então, uma função complementar à economia de plantation, criando assim um antagonismo entre os dois setores, gerando a base do conflito entre os autodenominados caboclos e os fazendeiros escravistas, e por fim, preparando o território para a eclosão da Balaiada.
O Maranhão era regido por dois partidos: os liberais (chamados de bem-te-vis, por causa do seu jornal, chamado O Bem-te-vi) e os conservadores (cabanos, por analogia com os cabanos do Pará, Pernambuco e Alagoas).
A articulação defasada entre o sertão maranhense e o litoral criou uma separação antagônica e consequentemente importante para a revolta, acentuando conflitos entre as camadas sociais no sertão e o poder provincial.
A REVOLTA DOS BALAIOS
Considerada uma das maiores insurreições populares da época Brasil-Império, a Balaiada chegou a mobilizar ao menos 12.000 homens ao longo de seus quatro anos de duração.
A revolta tomou o nome de Balaiada pois Balaio era o apelido de um de seus principais líderes, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira. Ele era um fabricante de balaios, e fora vítima da violência policial, que havia violentado uma de suas filhas, sem que houvesse punição nenhuma.
A principal causa da revolta foi a detenção do irmão do vaqueiro Raimundo Gomes, o Cara Preta, acusado pelo sub-prefeito da Vila da Manga (atual Nina Rodrigues), José Egito, um cabano. No dia 13 de dezembro de 1838, Raimundo Gomes, com nove outros homens, invadiu o edifício da cadeia pública da povoação e libertou-o, reforçando seu grupo com os prisioneiros soltos e vinte e dois soldados encarregados da segurança policial da Vila.
Raimundo Gomes conseguiu o apoio de Lívio Pedro MouraMulungueta, e Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, também conhecido como Manuel Balaio, o que deu nome ao movimento.
 Os revoltosos, após destruírem e saquearem fazendas e vilas do sertão maranhense por onde passaram, investiram contra a Vila de Caxias, que, sob a liderança civil de João Paulo Dias e do capitão militar Ricardo Leão Sabino, conseguiu resistir, inclusive com o apoio de mulheres, durante quarenta e seis dias sob o cerco do bando de Raimundo Gomes.
Quando não havia mais como defender a vila, o Capitão Sabino simulou haver aderido à revolta, mas disparou um canhão, causando pânico entre os balaios, resultando na evacuação da vila. Esta vitória animou o partido dos Bem-te-vi, que enviou emissários à capital São Luís, pedindo a rendição ao presidente do Maranhão.
 Os balaios, porém, eram desorganizados, sem unidade de comando, e perderam um de seus líderes, o Balaio, que foi atingido por um projétil atirado de seu próprio bando e morreu de gangrena.
A importância da revolta reside, por um lado, em seu pioneirismo, tamanho e grandeza, que envolvem seu impacto na formação do campesinato maranhense, se fixando como parte importante da história de resistência da população camponesa. Por outro lado, a Balaiada, como diversas outras revoltas da época da Regência, teve seu caráter multiclassista, contando com uma liderança popular desde o princípio, unindo fazendeiros, vaqueiros e escravos, compondo um exemplo atípico de aliança.
A REPRESSÃO
A região do Baixo Sertão, onde está localizada a cidade de Caxias, também foi atingida pela Balaiada. Saindo de Caxias, através do rio Itapecuru, os rebeldes atingiram o baixo Munim, ocupando a vila de Icatu, na baía de São José, em frente à ilha de São Luís, criando assim uma grande ameaça ao governo da capital. 
Para combater a situação, a Regência enviou ao Maranhão, como Presidente e Comandante das Armas da Província o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que tinha experiência militar por ter lutado na Guerra de Independência e na Guerra da Cisplatina, de 1825 a 1828. Ele recebeu o comando de todas as tropas em operação no Maranhão, Piauí e Ceará, e assumiu o comando em 7 de fevereiro de 1840.
Lima e Silva criou a Divisão Pacificadora, dividindo em três colunas, comandadas por Sérgio de Oliveira, que ocupou as comarcas de Caxias e Pastos Bons, João Thomaz Henrique, que atuou em Vargem Grande e Brejo, e Souza Pinto Magalhães, que ocupou a Vila de Icatu e as margens do rio Mearim.
A estratégia dos revoltosos era de guerrilha rural, atacando só os pontos fracos da defesa do governo; a resposta estratégica foi manter suficientemente guarnecidas todas as vilas e cidades importantes para os revoltosos. Destes pontos fixos, Lima e Silva combateu a Balaiada, usando muitas vezes o cerco contra grupos de rebeldes.
Os balaios ainda tiveram o apoio de três mil escravos, que fugiram das fazendas, se aquilombaram e depois ficaram sob a liderança do negro Cosme Bento das Chagas.
 BATALHA FINAL
Não sem esforço, o Coronel derrota Raimundo Gomes, o qual, cercado e isolado, se rende e entrega a Vila de Caxias às tropas oficiais. É o inicio do fim.
Em 1840, o recém coroado imperador Dom Pedro II, resolve anistiar os rebeldes que se entregarem. Imediatamente, mais de 2.500 balaios se rendem.
Com isso, Luís Alves de Lima e Silva esmaga definitivamente aqueles que continuavam lutando em 1841. Neste mesmo ano, Cosme Bento é capturado e enforcado. Por sua vez, o vaqueiro Raimundo Gomes é expulso da província e morre no caminho para São Paulo.
Ao retornar vitorioso à capital, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título de Barão de Caxias, por ter sufocado esta revolta social.

Fonte: Wikipédia & outros.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

XADREZ DO PACTO NACIONAL E DO PAPEL DE LULA, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – a barafunda ideológica
No Chile, Michelle Bachelet foi derrotada por Rafael Piñera. Agora, Piñera está sendo derrotado pelas ruas. Na Bolívia, Evo Morales produziu um milagre econômico; e está correndo riscos com Carlos Mesa. Na Argentina, Cristina Kirchner foi derrotada por Maurício Macri, que está prestes a ser derrotado por Alberto Fernandez. O Peru elegeu Matín Vizcarra, que está prestes a ser expelido do cargo pelo Congresso.
O grupo de Lima se esfarela, deixando o chanceler Ernesto perdido pelo caminho, depois de considerar que a direita tinha tomado o poder irreversivelmente na América Latina.
Qual a lógica disso tudo: o mundo caminho para a esquerda ou para a direita?
Esses movimentos têm apenas um ponto em comum: todos são contra o poder vigente. Se o poder é de direita, a oposição assume as bandeiras da esquerda; e vice-versa.
Essa confusão ocorre sempre que se sai de um quadro de estratificação política sem forças definidas. Quando a América Latina começou a sair das ditaduras militares dos anos 80, os primeiros tempos foram de caos e perda de rumo, com as ruas elegendo o liberalismo de Fernando Collor e Carlos Andres Perez para, em seguida, alijá-los do poder.
Peça 2 – as semelhanças com o início do século
Desde os anos 90, passei a acompanhar os movimentos cíclicos da política e da economia, comparando com o que ocorreu cem anos antes, das últimas três décadas do século 19 até a crise de 1929.
O modelo é o mesmo.
Há um ciclo de internacionalização do capital, com a cooptação de economistas, que vendem a ideia de que a plena liberdade de capitais promoverá o desenvolvimento global. Primeiro, desenvolvem os países centrais. Depois, vão se esparramando pelos países periféricos, levando o progresso. Para que o movimento seja bem-sucedido, é necessária a liberalização total dos fluxos de capital, a redução da influência das nações e a desregulação.
Montam-se alianças com financistas dos países periféricos, consegue-se força política.
Criam-se então fenômenos similares aos de cem anos depois. Uma enorme concentração de renda, bolhas especulativas sucessivas, até que o modelo de democracia mitigada se esboroa, criando um vácuo político que se espalha pelo mundo.
O descrédito em relação à democracia, os abusos das elites, e a falta de rumos faz com que se busquem soluções primárias, de apologia do ódio, de criação do inimigo interno e externo. Esses movimentos levam a dois modelos revolucionários, o leninismo, na Rússia, e o nazifascismo na Europa, em ambos os casos tendo nos financistas o inimigo a ser combatido – no caso do nazismo, com a manipulação trágica de personalizá-los em uma raça.
A salvação da democracia veio pelas mãos do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, propondo o grande pacto nacional, generoso e solidário. As maiores resistências eram internas, da Suprema Corte, dos grandes empresários, da mídia convencional, resistindo a ampliar os direitos dos trabalhadores.
Houve uma imensa guerra cultural, na qual entrou o cinema, com os filmes de Frank Capra, os novos meios de comunicação, com o avanço do rádio, e os empresários mais modernos. Nelson Rockefeller teve papel central, ao assinar um acordo trabalhista com os funcionários do Rockefeller Center. E entrou a visão de estadista de Roosevelt para enfrentar o boicote da Suprema Corte.
Roosevelt resistiu um mandato, entrou desgastado no segundo e morreu antes da queda. Suponha que, em lugar de um Roosevelt, assumisse o poder um Donald Trump. Encontraria eco amplo na sociedade americana. O que seria da humanidade?
A crise atual repete o ciclo de cem anos atrás. A desregulação levou a uma concentração de riqueza inédita, a uma sucessão de bolhas culminando na grande crise de 2008 e na desmoralização da ideia de democracia representativa.
Agora, o mundo balança entre movimentos pendulares de ultradireita, movimentos de centro-esquerda, mas com a bandeira da globalização representando o financismo desvairado do início dos anos 20. Em algum momento aparecerão os Coringas dos novos tempos.
Quem apresentará a fórmula vitoriosa: Roosevelt ou Trump, civilização ou barbárie, eis a questão.
Peça 3 – civilização ou barbárie
É nesse quadro que se insere o fenômeno Bolsonaro, a maior prova da falência do sistema política e institucional brasileiro.
Ele surfou na onda do salvacionismo mais primário, aquele que vê a fonte de todos os males no inimigo político (o PT), nos criminosos, nos de fora (imigrantes, minorias) e no marxismo cultural, seja lá isso o que for. Mesmo para um país atrasado, como o Brasil, a dose foi excessiva, despertando parte do país para a importância de se recuperar os chamados valores civilizatórios.
É em torno desse movimento que se articulam as forças políticas, especialmente os setores mais cosmopolitas. Nos últimos tempos, seus porta-vozes passaram a vocalizar conceitos politicamente corretos, a mencionar a importância da redução da desigualdade social, de políticas que atendam os mais necessitados. Obviamente, passam ao largo de modelos tributários mais progressistas, que taxem o capital, por exemplo.
As manifestações de Armínio Fraga, o discurso social de Luciano Huck, demonstram que o efeito Bolsonaro abriu duas brechas: crise e oportunidade.
Do lado do centro-direita, as apostas se concentram em Luciano Huck, e no desafio de transformá-lo de celebridade em líder político. É a aposta mais bem situada. João Dória Jr se perdeu na própria esperteza.
Do lado das esquerdas, o grande nome continua sendo Lula. Saindo da cadeia, poderá ocupar seu lugar de articulador político. Mas como ficará o antilulismo, que se transformou na segunda maior força política do país e só agora começa a ser superado pelo antibolsonarismo?
Ocorre que a imprensa criou uma armadilha para o país, com a demonização de Lula. Qualquer país civilizado considera ex-presidentes como ativos nacionais, relevantes para ajudar a solucionar momentos de impasse. Na crise do mensalão, foi esse o comportamento de José Sarney, Itamar Franco, Fernando Collor. A exceção sempre foi Fernando Henrique Cardoso, com seu imenso egocentrismo.
Lula tem uma tradição de conciliação e de articulação. Conseguirá exerce-la tendo o Sistema Globo a demonizá-lo em todos os momentos?
Tenho para mim, que o maior empecilho ao pacto nacional é a Globo, justamente o grupo mais ameaçado pelo avanço da ultradireita.
Peça 4 – as dificuldades do pacto
Pactos não dependem apenas da boa vontade, mas da definição de modelos de governabilidade, de um conjunto de ideias norteadoras, a partir das quais se cria o ambiente favorável, vão sendo reduzidas as desconfianças recíprocas e emergem as lideranças capazes de levar o projeto adiante.
Não será uma frente liberal fechada com Huck, ou uma frente de esquerda pura que resolverá os problemas do país. O pacto passa pela capacidade de todos os setores modernos de caminharem juntos.
Há inúmeros problemas a se considerar. De parte da esquerda, uma desconfiança profunda em relação ao mercado. Da parte da direita, uma resistência radical em relação ao protagonismo dos movimentos sociais. No máximo, admitem políticas sociais de cima para baixo, como uma concessão dos bem pensantes.
Um modelo pactuado exigirá que os dois lados sentem juntos, com estadistas de lado a lado capazes de administrar as resistências de sua tropa. É um braço de guerra em que os dois lados precisam soltar a corda ao mesmo tempo.
Todos esses dilemas serão resolvidos pelo grande estadista intemporal, o Sr. Crise. A dúvida é quanto tempo será necessário, quanta tragédia a mais será suportada, até que o Sr. Crise se apresente?
Até proponho que o primeiro passo do pacto seja colocar os principais interlouttores em uma sala de cinema para assistirem conjuntamente “Bacurau” e “Coringa”. Com um refresco para Blade Runner.
Do GGN

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

JANOT E O VAZAMENTO DA CAPA DE VEJA NA VÉSPERA DAS ELEIÇÕES, POR LUIS NASSIF


Pelo livro fica-se sabendo que Janot sabia o que a torcida do Flamengo inteiro sabia, que o vazamento foi providenciado pela Lava Jato, exclusivamente pelo impacto político.
No livro “Nada Menos Que Tudo”, o ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot admite que a capa da Veja na véspera das eleições de 2014, com a suposta delação de Alberto Yousseff, dizendo que “Lula e Dilma sabiam de tudo”, expôs o viés político da Lava Jato.
É curioso! No jantar de posse de Dilma Rousseff, compartilhei uma mesa com Janot. Na ocasião, depois de algumas pinicadas recíprocas, provoquei-o em relação a dois temas.
Um deles, o vazamento com a tal delação de Yousseff, que quase decide as eleições. Ele disse que nada podia fazer porque fora feito por advogados do réu. Insisti: se vazamentos são ilegais, você não vai fazer nada?
Pelo livro fica-se sabendo que Janot sabia o que a torcida do Flamengo inteiro sabia, que o vazamento foi providenciado pela Lava Jato, exclusivamente pelo impacto político. Como Janot admite no livro, “eram destituída de qualquer valor jurídico”, por Yousseff sequer compartilhava da intimidade do Palácio do Planalto e não tinha provas do que dizia.
No momento oportuno, Janot calou-se, como deve ter se calado em vários episódios nos quais, de acordo com sua versão, teria explodido, reagido, gritado.
O segundo fato foi um inquérito sobre Aécio Neves que mofa desde 2010 na gaveta do PGR, referente à Operação Norbert, que identificou contas de Aécio no exterior, em nome de offshores abertas em paraísos fiscais.
É por aí que não se aceitam as explicações dele, sobre as razões de não ter incluído Aécio na primeira lista de Janot. Na ocasião, uma fonte com contato direto com o filho de Teori Zavaski, relatou sua surpresa de Janot ter indiciado Lindbergh e poupado Aécio, segundo que os indícios contra Aécio eram muito mais evidentes – versavam sobre as mesadas de Furnas.
A alegação de Janot foi que duas testemunhas do caso já tinham morrido. Ora, não consta que, com sua morte, sumiu a contabilidade ou os registros bancários da empresa. Além disso, se a PGR já possuía um inquérito com indicações das contas de Aécio na Suiça, o quadro ficava muito mais completo do que meras delações ao vento.
Do GGN