quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O 2° TURNO EM SÃO PAULO CAMINHA PARA SER ENTRE COVAS X BOULOS, POR FERNANDO BRITO

A nova pesquisa Datafolha, divulgada há pouco, não tem, a rigor, novidades.

Porque os dados diferentes que traz são algo que todos já sabíamos: o “derretimento” da candidatura de Celso Russomano e que o apoio de Jair Bolsonaro, em lugar de votos, traz rejeição.

A candidatura de Guilherme Boulos, ao contrário, mostra que já estabeleceu uma base sólida e, por isso, será natural que muitos eleitores partidariamente alinhados com o PT comecem a ver nele a possibilidade de um segundo turno contra Covas, o candidato de João Dória.

Jilmar Tatto não foi capaz de uma arrancada suficientemente forte, com a base de apoio do PT, para que se tornasse viável.

Presença certa na rodada final, o neto de Mario Covas terá, ali, de assumir a sua identidade com o governador, que ostenta, como Bolsonaro, alta taxa de rejeição.

Márcio França, alternativa “comportada” ao tucanismo avesso a Doria, parece empolgar pouco, ao ponto de mais da metade de seus potenciais eleitores admitirem que podem mudar o voto.

A tendência é de que haja um segundo turno entre Bruno Covas e Guilherme Boulos e, neste caso, será necessária muita maturidade do PSOL, se não quiser ser um adversário fácil para o “dorismo”.

O discurso nacional será essencial nisso, porque obrigaria Covas a se posicionar frente ao bolsonarismo. E ficar preso no dilema de atrair a extrema-direita sem arrastar junto a imensa rejeição de Jair Bolsonaro, além da de Doria.

 Do Tijolaço!

sábado, 31 de outubro de 2020

A MARCHA DA INSENSATEZ DE UM PAÍS EM PROCESSO DE DESTRUIÇÃO, POR LUIS NASSIF

É um quadro mais assustador do que o da pós-ditadura. A conta maior não será do Congresso, mas do Supremo. Os principais personagens dessa trama macabra não serão poupados pela História.

Há uma ameaça latente ao futuro do país como Nação. O sistema político foi destruído. Há um avanço sistemática das organizações criminosas, controlando espaços cada vez maiores do território. As disputas não são mais entre poder formal e organizações, mas guerras entre elas. Sem a estruturação formal dos partidos, aumenta a influência deletéria de grupos setoriais, como os neopentecostais, ruralistas, mercado. E, a cada dia que passa, o Estado construído pós-Constituição vai sendo desmontado, sob a lógica exclusiva do benefícios a grupos específicos.

Políticas científico-tecnológicos, universidades federais, sistema de saúde, saúde mental, educação inclusiva, tudo é soterrado por visões ideológicas que visam mascarar os grupos de interesse que se apossaram do governo. Na ponta, Supremo se apropria de funções legislativas, o Congresso se perde sem uma voz de comando, órgãos de controle assumem cada vez mais funções policialescas. Sem o papel coordenador de uma liderança, sem o conjunto articulado de ideias de um partido, cada instituição, cada ator vai abrindo espaço a cotoveladas, desmontando qualquer ideia de disciplina institucional.

Onde começou essa loucura auto-destrutiva?

No final da ditadura, o país passava por desafios similares. O sistema bipartidário desmoronava, a herança militar legara um país quebrado, com hiperinflação, moratória; a miséria era avassaladora e visível nos semáforos das grandes cidades, no campo, no interior quebrado.. Havia um oceano de turbulências apontando para uma dissolução do país.

É nesse quadro que emergem algumas lideranças fundamentais. No centro, Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Mário Covas.

Mas o ponto essencial foi o aparecimento de uma nova liderança, o metalúrgico Luiz Ignácio Lula da Silva.

Com um discurso explosivo, e uma ação conciliadora, Lula conseguiu canalizar todas as insatisfações dos abandonados para o jogo político formal.

Sem terras, sem tetos, sem comidas, sem Estado, a imensa multidão dos desassistidos seria massa de manobra fácil para organizações criminosas, para candidatos a guerrilha. Ao organizar o Partido dos Trabalhadores, Lula deu consistência política às demandas, teve grandeza para aguardar o momento de ser eleito, perdendo eleições sucessivas sem questionar seu resultado e estendendo o papel civilizatório do partido para todos os rincões.

Ao mesmo tempo, criou a possibilidade de uma polarização produtiva, com o aparecimento do PSDB. O partido se estruturou como uma alternativa racional das classes médias intelectualizadas contra a esquerda não radical representada pelo PT.

Quando explodiu a crise internacional, tem 2008, tornou-se mais nítida a grandeza de Lula. Tornou-se um símbolo internacional da tolerância, da busca da paz, um pacifista do nível de um Mandela, um Ghandi – conforme reconhecimento internacional.

Para manter a coesão nacional, talvez tenha cedido mais do que devia. Manteve uma política cambial e monetária corrosivas da industrialização, para não afrontar o mercado. Não avançou na reforma fiscal, para não afrontar os ricos. Não avançou nas comissões da verdade, para não afrontar os militares. Mas, nas frestas abertas pelas negociações, conseguiu implementar alguns dos programas sociais mais relevantes da história. Mudou a face do Nordeste com a transposição do São Francisco e a política de cisternas. Mudou a face das universidades com as políticas de cotas. Com o aumento do salário mínimo e o Bolsa Família abriu um caminho inédito de inclusão social e de redução das desigualdades.

Seu sucesso, especialmente a partir da crise de 2008,  levou a uma deterioração do jogo político, e a deterioração da democracia por outros atores, incapazes de contrapor um discurso eficaz. No mensalão, o Ministério Público Federal julgou que poderia ser poder autônomo. Com a morte de Mário Covas e Franco Montoro, o PSDB caiu nas mãos de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e José Serra. Ao mesmo tempo, sem saber como enfrentar a competição trazida pela Internet, a mídia passava a exercitar cada vez mais o jornalismo de guerra, o discurso de ódio. E trouxe o PSDB consigo.

Ex-presidentes são ativos nacionais. São políticos com influência em suas bases para ajudar o país em momentos de tempestade. Na França, Miterrand foi alvo de acusações, mas preservado por uma questão de realismo político.

No auge do mensalão, quando o Ministério Público Federal exercitou pela primeira vez seus músculos, visando a desestabilização política, vários ex-presidentes saíram em defesa da normalidade institucional – José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. O único que ficou de fora foi Fernando Henrique Cardoso.

Terminadas as eleições de 2014, sabia-se que era questão de tempo para haver alternância de poder. Mas, quando Aécio Neves deu a senha para o golpe, deu a largada para o desmanche institucional do país. Nos meses seguintes, as passeatas contaram com a participação entusiasmada de Aécio, Serra e FHC.

Dali em diante, puxado pela Lava Jato, a democracia foi estuprada, com participação direta do Supremo Tribunal Federal (STF). Submetido a lideranças mais interessadas no enriquecimento financeiro do que em mudar a República, o PSDB perdeu substância.

Com a destruição do papel mediador de Lula, a perseguição implacável a que foi submetido e a anomia histórica de FHC, criou-se um vácuo político, quebraram-se as barreiras do sistema de freios e contrapesos e, a partir dali, começou a desintegração do país. Primeiro, ao se permitir a ascensão da mais suspeita organização política pós-democratização – o centrão de Michel Temer, Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima. Depois, com o grande mercado de negócios que se abriu com o desmonte, estatais sendo leiloadas, políticas sociais destruídas, em um estouro da boiada típica de países que destruíram suas referências políticas, sem colocar nada no lugar.

Hoje se tem o país com recordes mundiais de morte por Covid, uma política econômica errática que assusta o mercado, o avanço das organizações criminosas por todos os poros da República, sem nenhum referencial racional para impedir o desmanche.

É um quadro mais assustador do que o da pós-ditadura. E a conta maior não será do Congresso, mas do Supremo Tribunal Federal. Os principais personagens dessa trama macabra não serão poupados pela história.

Publicado originalmente em 28/10/2010

Do DCM.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

SÃO QUASE 20 MILHÕES DE BRASILEIROS SEM TRABALHO, MAIS PRECISAMENTE DESEMPREGADOS, DIZ IBGE

A leitura crua dos dados do IBGE sobre emprego: o Brasil tem 13,8 milhões de pessoas (14,4% da força de trabalho) procurando emprego e outras 5,9 milhões que nem o procuram mais, por desalentadas em não encontrá-los.

A Soma disso diz que a parcela da população brasileira apta ao trabalho que realiza algum tipo de atividade econômica, mesmo “por conta própria” caiu ao seu menor nível em toda a história: 46,8%, com queda de 2,7 pontos percentuais ante o trimestre anterior (49,5%). Comparado ao que se registrava em 2014, são mais 10% de todos os brasileiros que deixaram de ter um posto de trabalho.

E não só os trabalhadores formais, não. Estes caíram para 29,1 milhões, dois milhões de certeiras assinadas frente ao trimestre anterior e 4 milhões ante há um ano atrás. Para avaliar: são 16 milhões de carteiras assinadas a menos que em janeiro de 2016, onde todos falavam em “desastre econômico”.

Os trabalhadores sem carteira diminuíram em 3 milhões desde 2019, os “por conta própria” em 2,8 milhões e os empregados e empregadas domésticas em 1,7 milhão de pessoas.

Difícil encontrar outra palavra para isso que não seja devastação do emprego.

E não há sequer uma política pública para restaurá-los.

Do Tijolaço.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

GRANDE ESQUEMA PARA PROTEGER BOLSONARO DE MULTIDÃO NO MA, PARA NADA, SÓ APARECEU QUATRO GATOS PINGADOS

A segurança da presidência armou um grande esquema de proteção para Bolsonaro ser recebido no Maranhão mas, para dar boas- vindas, apenas um pequeno grupo o aguardava no local.

(Foto: Reprodução/Twitter)

A expectativa de Jair Bolsonaro ser recebido por uma multidão de apoiadores em sua visita em São Luís, no Maranhão, nesta quinta-feira (29) parece que foi frustrada.

A segurança da presidência armou um grande esquema de proteção para Bolsonaro mas, para recebê-lo, apenas um pequeno grupo o aguardava no local, como informou o jornalista George Marques em sua conta no Twitter. 

O estado do Maranhão é governado por Flávio Dino (PCdoB-MA) que faz forte oposição ao bolsonarismo. Recentemente, Bolsonaro disparou fake news contra o comunista, dizendo que ele não garantiu segurança policial mínima para que sua visita no Estado fosse realizada. 

Dino recorreu em ação no STF contra Bolsonaro, alegando que o pedido nunca ocorreu. 

Do 247.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

EVO VOLTA À BOLÍVIA DIA 9, PARA NÃO FAZER SOMBRA À POSSE DE ARCE, POR FERNANDO BRITO

Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires da Rádio França Internacional, informa que o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, voltará ao país no dia 9 de novembro, um dia depois da posse de seu ex-ministro Luís Arce na presidência do país.

Chegará, provavelmente, de carro, pela fronteira com a Argentina, e em seguida deve ir a Tarija, Potosi, Sucre e Cochabamba. Sua volta a La Paz ainda não tem data.

É um cuidado, dizem seus partidários, para não fazer sombra à festa de posse do presidente eleito e, certamente, o cuidado de não criar melindres numa relação que será delicada, por conta da imensa ascendência política de Morales na Bolívia. Os meios conservadores bolivianos tem sido pródigos em intrigar os dois, pressionando Arce a todo tempo para que diga que Morales não terá papel administrativo na sua gestão.

Evo tem se mantido discreto, dizendo que voltará às suas bases em Cochabamba – fará um grande ato na sua chegada à cidade, dia 11, quando se completa um ano do inicio de seu exílio e que pretende dedicar-se ao sindicalismo, ao seu partido e, curiosamente, à criação de tambaquis, peixe amazônico que, segundo ele, alguns de seus amigos têm criado em cativeiro com bons lucros.

Parece disposto a não aceitar iscas para que se ponha num conflito de lideranças com Arce, ainda mais depois de escaldado pela experiência de seu amigo Rafael Correa, do Equador, que elegeu Lenín Moreno presidente e este, logo que assumiu, dedicou-se a apunhalar seu antigo líder.

Do Tijolaço.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

MILITARES CAEM NA ARMADILHA. BEM FEITO. POR HELENA CHAGAS

As Forças Armadas brasileiras, que avançaram gulosamente sobre o governo, achando que Jair Bolsonaro seria seu Cavalo de Tróia, sairão – e não levará muito tempo – das beiradas do poder muito menores do que eram e certamente com as marcas dos coices que recebem, a toda hora das figuras esdrúxulas que cercam o presidente.

O episódio com o ministro do Meio Ambiente, afrontando o general Hamilton Mourão e chamando de “Maria Fofoca” o também general Luiz Carlos Ramos, secretário de Governo, não foi o primeira e não será a última da série de bofetadas que receberam e receberão como preço por sua ambição obtusa em querer ir além de seus coturnos e dominar o governo brasileiro.

Para ficar apenas em um caso, todos viram o general Eduardo Pazuello, que se aventurou a achar que era mesmo ministro da Saúde e não mero serviçal de Bolsonaro, se esbofeteado em público, baixar a cabeça e fingir que nada houve.

Helena Chagas, hoje, no site Os divergentes, publica artigo tão impiedoso quanto veraz sobre este castigo (merecido) a uma camada de generais que permitiu e estimulou a penetração do extremismo de direita nos quartéis e agora, como bem diz ela, nem mesmo pode arrepender-se do que foi feito e terão de amargar, sossegados com gratificações e cargos, ser uma nova milícia do capitão.

MILITARES CAEM NA ARMADILHA. BEM FEITO

Helena Chagas, n’Os Divergentes

O prazo de validade de Ricardo Salles no governo já venceu há muito tempo. Ainda que saibamos que o descalabro na política ambiental tem a digital explícita de Jair Bolsonaro, uma simples troca na pasta do Meio Ambiente já teria, há meses, melhorado o ambiente internacional a a imagem do Brasil nesse assunto. Mas Salles, espertamente, se abraçou ao bolsonarismo ideológico, e agora sua saída — ou não — virou uma batalha importante na guerra entre essa ala e os militares. Até mesmo os filhos presidenciais pegaram em armas em sua defesa neste fim de semana.

Do outro lado, os militares, sobretudo no Alto Comando do Exército, estão furiosos — e não só com o fato de Salles ter chamado o general Luiz Eduardo Ramos de Maria Fofoca. Além das trombadas do ministro do Meio Ambiente com o vice Hamilton Mourão, não estão gostando da forma como outro general, Eduardo Pazuello, foi tratado pelo chefe do episódio da vacina “chinesa”contra o coronavírus. Sem contar no vazamento gratuito de notícias de que o próprio Mourão será rifado da chapa presidencial de 2022.

Há algo de podre no reino de Bolsonaro, que depois do acordo com o Centrão está se sentindo muito seguro para cutucar e desautorizar seus generais — aqueles mesmos que, lá trás, dizia-se que iriam “tutelá-lo”. Assim como, justiça seja feita, o presidente vem fazendo com os próprios ideológicos em sua estratégia de se recompor com o establishment político e o próprio STF.

Talvez Bolsonaro tenha percebido que nem ideológicos e nem militares têm para onde ir sem ele. Uns, porque não vão encontrar, nem em 2022 nem nunca, um candidato mais à direita do que ele para apoiar. Outros, porque entraram numa canoa furada e agora não têm como sair. Ao passar por cima de valores como a lealdade ao Estado — e não a governos — os militares que correram para apoiar Bolsonaro e ocupar, aos milhares, os cargos da administração, talvez não tenham percebido a armadilha em que caíram. Ou talvez os espaços a preencher na volta ao poder tenham falado mais alto.

Agora, divididos e enfraquecidos, os militares percebem que sua imagem se colou a de um governo que contraria tudo aquilo que prometeu no quesito austeridade e combate à corrupção. O inevitável desgaste das Forças Armadas já se manifesta nas pesquisas. Bem feito.

Do Tijolaço.

domingo, 25 de outubro de 2020

O BRASIL NÃO TEM GOVERNO E É DIFÍCIL SABER O QUE RESTA, POR JÂNIO DE FREITAS

Em artigo, colunista da Folha de São Paulo fala sobre a chave que o presidente deu ao eleitor – e que pode jogar sua ambição eleitoral no lixo da história.

O jornalista Jânio de Freitas. Foto: Reprodução

Jair Bolsonaro ofereceu ao eleitor a chave ideal para o eleitor inseguro sobre o destino de seu voto: ver o que foi feito durante a pandemia, se o eleitor concorda ou não com o que foi feito, e se foi feito ou não aquilo que foi necessário.

Com essa possibilidade, abre-se a possibilidade de colocar Bolsonaro e sua ambição pela reeleição na lixeira da história, como explica Jânio de Freitas em sua coluna no jornal Folha de São Paulo.

“É a resposta necessária para compensar, ao menos no plano individual, o escapismo acovardado e vendilhão dos apelidados de autoridades institucionais. As figuras minúsculas incumbidas de resguardar a população, e seu país, da sanha louca que não os quer sob a proteção nem de incertas vacinas”, pontua o articulista, ressaltando que o nome do país tem sido colocado ao lado de diversas ditaduras contra os direitos das mulheres e vendo reservas como a Amazônia e o Pantanal em chamas, sem fazer muita coisa (ou nada) a respeito.

“O Brasil não tem governo. E é difícil saber o que lhe resta, inclusive vergonha”, ressalta Freitas. “Ao eleitor, é só não esquecer a ideia de Bolsonaro para escolher o voto. Mas é humilhante que o Brasil continue suportando, apenas para proveito do raso segmento de influentes, a vergonheira que se passa nos seus Poderes”.

Do GGN

sábado, 24 de outubro de 2020

BANDIDAGEM DE POLÍTICO NÃO LEGITIMA BANDIDAGEM FISCAL, POR FERNANDO BRITO

A reportagem da revista Época, relatando a pressão dos advogados de Flávio Bolsonaro sobre o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, sobre o Serpro e a Receita Federal para identificar quem, como e por qual razão teve acesso aos dados ficais do Filho o1 e que isso teve a anuência do próprio Jair Bolsonaro, que se reuniu com o filho, suas advogadas e o general Augusto Heleno e com o chefe da Abin para ouvir o relato destas tratativas é, se o Ministério Público ainda existisse no Brasil, o suficiente para abrir uma investigação sobre a prática de crime de responsabilidade, uma vez que Heleno e Ramagem deixaram a reunião com a missão de “checar” as suspeita de que teria havido acesso irregular e fraude nos registros fiscais do senador da rachadinha.

Mas é igualmente grave é o fato de que há sinais de que, sim, também há situações suspeitas dentro da Receita que, sem dúvida, foi contaminada pelo espírito policialesco que o lavajatismo introduziu nos órgãos de fiscalização financeira, ao ponto de que, haver um “manto de invisibilidade” para garantir o anonimato digital – um acesso “fantasma ao sistema – para averiguar dados sigilosos de “suspeitos”, sem ordem judicial.

O primeiro caso é, sem dúvida, objeto de crime de responsabilidade . O segundo é uma conspiração funcional, coisa de Estado policial em que nos transformamos.

O registro de transações financeiras pelo Coaf ou pela Receita é correto e deve existir. Mas seu acesso tem, necessariamente, de ser formalmente motivado e identificado. É preciso haver o registro de quem o faz e por que razão o faz, sob pena de acontecer – e já aconteceu – o que foi revelado pelas mensagens mostradas pelo The Intercept: ações informais de policiais e procuradores federais para obter dados clandestinamente.

Que há bandidagem na política, há e Flávio Bolsonaro e sua família são exemplos acabados disso. Mas daí a se legitimar a bandidagem fiscal como forma de combatê-la só abre caminho para o que fica evidente na reportagem: pressões espúrias, abuso de poder, tráfico de influência e manipulação política das apurações.

Do contrário, tudo vira guerra de quadrilhas.

Do Tijolaço.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

GENOÍNO E POMAR DEBATEM ELEIÇÕES E ESQUERDA, POR FERNANDO BRITO

Personagem dos mais importantes dos governos petistas e, infelizmente, afastado da vida pública pelos reflexos da primeira onda de judicialização da política, com o chamado “mensalão” e o furor de Joaquim Barbosa, Jose Genoíno só raramente dá a sua visão sobre o que se passa no Brasil.

Pudera, apesar de não ter nenhuma conta na Justiça, desde que sua pena foi julgada extinta, em 2015, Genoíno usa uma frase para reagir aos contatos com a imprensa que, em geral, quando o procura é para seguir com um jogo de intrigas e insinuações que o velho militante político costuma recusar, dizendo que “a mão que bate pode esquecer, mas a cara que apanha, não”.

Daqui a pouco, porém, Genoíno vai debater com o historiador Walter Pomar o rumo que tomam nossas eleições municipais, a política no Brasil de Bolsonaro e a retomada, pela esquerda, de governos latinoamericanos, como na Argentina de Alberto Fernández e com Luiz Arce, na Bolívia, apesar do golpe contra Evo Morales.

O debate terá a moderação de Jorge Folena e é promovido pelo movimento SOS Brasil Soberano, apoiado pela Federação de Engenheiros do Brasil e pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e pode ser assistido, ao vivo, abaixo: 

Do Tijolaço 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

NEVE PIAUÍ É HOMENAGEADA PELA PARÓQUIA DE BURITI NA SUA SEXTA NOITE DO NOVENÁRIO DE SANTANA FORA DE ÉPOCA

Inovador e criativo o pároco atual da paróquia de Santana de Buriti, neste novenário de Santana fora de época por causa da pandemia da Covid - 19, institui uma honraria aos benfeitores da Igreja buritiense, hoje foi homenageada com uma placa, a renomada costureira Maria das Neves do Nascimento, conhecida também por Nevinha ou Neve Piauí.

MARIA DAS NEVES DO NASCIMENTO

Maria das Neves do Nascimento, conhecida popularmente por Neves Piauí ou Nevinha pelos mais íntimos, nasceu a 05 de maio de 1938, na localidade Riacho Grande no município de Buriti-MA, filha do casal de agricultores, João de Sousa Lima apelidado de João Piauí e Raimunda Rosa do Nascimento, a Raimunda Piauí (parteira de mão cheia), de quem Maria das Neves herdou também o apelido. Apesar da alcunha, o casal não era piauiense, e sim migrantes do Ceará, de onde saíram fugindo da seca Nordestina, que à época castigava seriamente aquele Estado.

Maria das Neves muito curiosa, desde pequena ouvia sempre seus pais dizerem, que antes de chegarem ao Riacho Grande peregrinaram por muitos outros lugares, saindo do Ceará passaram uma temporada no norte do Piauí nos municípios de Porto e Miguel Alves-PI, só posteriormente atravessaram o Rio Parnaíba, aportando definitivamente no Estado do Maranhão, mais precisamente no município de Burti, onde primeiramente moraram nas localidades, Santa Cruz, Cabeça do Cavalo para só depois chegarem ao  Povoado Riacho Grande, onde a menina Maria das Neves veio ao mundo, local em que  seus pais baixaram a âncora de vez, ali criaram seus filhos e faleceram bem velhinhos.

Maria das Neves é a mais nova de uma prole numerosa do casal Piauí, eram dezesseis irmãos, sendo que seis deles não chegaram a vida adulta. Maria uma menina espirituosa, quando criança sua ocupação era ir para escola do temido professor Inedino com sua palmatória sempre a vista da meninada, por quem foi alfabetizada e nos momentos de folga, mesmo sendo a caçula de todos ia para roça junto com os outros irmãos ajudar os pais na labuta diária. Só muito mais tarde por causa das dificuldades e a falta de escolas próximas de sua casa pode retorna a estudos, cursou até 5ª séria primária na Escola Inácia Vaz na época com dezenove anos.

Nevinha ainda muito novinha por volta dos 10 anos de idade, já sabia o que queria fazer na vida adulta, pois se encantava com os detalhes das roupas confeccionadas por sua irmã mais velha, a Maria do Nascimento Lima, cognominada também de Maria Piauí, uma exímia costureira que era, um luxo, ter uma irmã versada nas costuras que lhe ensinava com maior gosto, de modo que assim se inicia a profissão de costureira de Maria das Neves, no que fora bem-sucedida por que fazia tudo com amor. O sucesso da mais nova costureira do Riacho Grande se espalha pela vizinhança ganhado toda redondeza.

Em pouco tempo Maria das Neves se torna famosa, passando a prestar seus relevantes serviços de costura para toda cidade de Buriti, era uma das profissionais mais requisitadas pelas famílias buritienses mais abastadas. Tais como os Costa através da Dona Chiquinha Costa, irmã do Pe. Júlio de Freitas Costa, pároco da Paróquia de Sant’Ana de Buriti por muitos anos, assim como, para muitas outras mulheres da sociedade buritiense, como Dona Arina de Melo, Mazé Ventura, Dra. Elza Magaldi, Dona Fleuri Freitas, entre outras. Nevinha se torna uma artista completa, fazia de tudo. As peças mais confeccionadas no seu ateliê eram roupas para festas de batizados, formaturas, casamentos, aniversários, desfiles, fardamentos, bem como, os paramentos para celebrações eucarísticas dos Padres e Coroinhas da Igreja, entre outras.

A vida privada de Maria das Neves é de uma guerreira, no final dos anos 60 casou-se com Antonio das Graças Teixeira, também (alfaiate), filho de Antonio Teixeira Neto e Francisca das Chagas Teixeira, morador do povoado Pé da Ladeira lugarejo vizinho ao Riacho Grande, desta união constituíram uma família de 5 filhos e hoje Avó de 5 netos e bisavó de 2 bisnetos. Os costureiros continuaram costurando com toda desenvoltura, porém em busca de melhores espaços, mudam-se para o povoado Varginha donde viveram por 7 longos anos, período em que paralelamente exerce as profissões de costureira e professora, e ele o marido a de alfaiate e quitandeiro, sua nova experiência foi no Projeto João de Barro de Alfabetização, que posteriormente passou a Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), daí mudam-se novamente para o povoado Joao Lobo, onde moraram por 3 anos, até meados de 1980.

Maria das Neves muda-se mais uma vez, sai da zona rural e vai para a cidade, era dezembro de 1980, quando se estabeleceu em Buriti, costurando e ministrando suas aulas a noite na Rua do Roçado, no bairro Bacuri, continuou a sua tripla função, de costureira, professora e dona de casa, no projeto João de Barro de Alfabetização, ficou até final do ano de 1980. E assim continuou sua saga, mais tarde fez o curso de Auxiliar de Enfermagem, e em 1982 passa a trabalhar como enfermeira para o município, no Posto de Saúde da cidade, logo depois no hospital Shimit Braz a principal casa de saúde de Buriti, nesta toada seguiu até o ano de 1992, quando começou a ter problemas de saúde, seguramente por causa da jornada exaustiva de trabalho, no que consegue se recuperar.

Com a idade chegando Maria das Neves começa a sentir o peso dela nas costas, passou por vários momentos difíceis, principalmente de saúde, mais sempre no batente, firme e forte, quantas e quantas, noites passou acordada, rotineiramente saia do plantão as 18 horas, e ao chegar em casa tinha outra jornada lhe esperando,  a filharada para cuidar, com pouco tempo ou quase nada para o descanso do corpo, bem como, o sustento da casa, pois precisava costurar a noite toda, uma devido aos compromisso para entregar as peças de roupas no prazo, a outra pela necessidade  pecuniária mesmo, eram muitas costuras, para noivas, casamentos que se realizavam na Igreja Matriz, peças para batizados e tudo isso complementava renda e garantir o sustento da família numerosa. Sofrendo como sofreu, mas sempre com um sorriso no rosto, e nesta longa jornada se tornou uma pessoa muito conhecida e querida por todos da cidade.

Ao aposentar-se apenas diminuiu o ritmo de trabalho com as costuras, mas nuca deixou o ofício, hoje contando com 82 anos de idade, a arte de costurar continua sendo uma das suas grandes paixões, por causa da idade e com maior tempo livre ela passou a prestar serviços à comunidade junto a igreja católica, trabalhou como ministra nas celebrações eucarísticas até início da pandemia. Maria das Neves é uma grande guerreira, ela nunca se deixa abater com as tais dores da idade, está sempre disposta a começar um novo projeto, é ativa nos seus afazeres doméstico, nos compromissos a que se propõe a ajudar. Maria das Neves ou Nevinha como queiram é uma empreendedora de sucesso, uma mulher acima de tudo forte e batalhadora, vive a vida intensamente.

Este é um breve histórico de vida da DONA NEVES, nesses seus 82 anos de dedicação à sua família, aos amigos e a comunidade buritiense. Mesmo neste período de pandemia que se instalou em nosso país e no mundo inteiro, não deixou as costuras de lado, fez as vestimentas dos acólitos, máscaras para doar aos amigos e familiares.

Obrigado mamãe! Dizem seus cinco filhos.

Pelos momentos que foi rígida quando tinha que ser, e dizer sim nos momentos que era para dizer sim, com seus ensinamentos nos fizeram homens e mulheres cada dia mais responsáveis.

Seus filhos pela ordem de nascimento são: Antonio das Neves do Nascimento Teixeira; Antonio Claudio do Nascimento Teixeira; Gracineia do Nascimento Teixeira; Antonilson do Nascimento Teixeira; Gracilene do Nascimento Teixeira.

Confira a transmissão dessa Novena pelo canal da Igreja local no YouTube:

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

ARCE, MINISTRO DE EVO, VENCE EM 1° TURNO. O GOLPE BOLIVIANO PERDE NAS URNAS, POR FERNANDO BRITO

Um ano depois da derrubada de Evo Morales, as urnas devolveram a Bolívia à normalidade democrática.

As contagens rápidas, baseadas em projeções da apuração das urnas mostram uma incontestável vitória do Movimiento Al Socialismo, o partido de Evo Morales.

Luís Arce, ministro da Economia de toda a sua gestão, ganhou por uma diferença incontestável de mais de 20% dos votos, muito mais do que previam as pesquisas feitas com uma população amedrontada por um regime ilegítimo que, desde outubro passado, assumiu o poder naquele país.

Foi dele a formulação das políticas que fizeram a economia boliviana ser uma das que mais cresceram na América Latina.

As pesquisas, para variar, apontavam um segundo turno e a vitória do candidato da direita na votação entre eles.

A urnas estão mostrando o contrário.

Mais diretamente: as urnas mostram que o golpe, é evidente, foi um golpe.

Num tempo em que voltamos ao passado, em que um governo com prioridades sociais, além delas, tem que se cuidar do golpismo.

Do Tijolaço

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

NÃO HÁ PRODUÇÃO DE PROVAS CONTRA LULA EM AÇÃO DOS EUA CONTRA A PETROBRAS, APONTA MPF

Foto: Ricardo Stuckert

Informação encontra-se em nota pública do MPF sobre parecer que rejeita pedido de Lula para suspender ação penal até que a defesa tenha acesso a material envolvendo EUA.

A Lava Jato informou ao Superior Tribunal de Justiça que não houve qualquer tipo de produção de provas nos processos que a Petrobras enfrentou nos Estados Unidos, quando o Departamento de Justiça (DOJ) e a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) decidiram colocar a petroleira no banco dos réus – enquanto, no Brasil, ela foi vista como “vítima” da corrupção e assistente de acusação.

A defesa de Lula moveu um recurso para obrigar a força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal a dar acesso aos documentos que foram compartilhados com as autoridades dos Estados Unidos no processo contra a Petrobras.

O GGN já mostrou, em reportagens e na série de vídeos Lava Jato Lado B, que delatores arrematados pela turma de Curitiba ajudaram os EUA a instruir o processo contra a estatal.

Os advogados de Lula queriam verificar se nos documentos usados contra a Petrobras pelos EUA, o ex-presidente figura como “maestro” da corrupção ou chefe da “propinocracia” como alegou a Lava Jato no Brasil, sem provas materiais disso.

Em parecer enviado ao STJ, divulgado na quinta (15), o MPF nega dar acesso ao material que possui, argumentando que não há relação entre os processos da Petrobras nos EUA e a ação penal em que Lula foi condenado por suposta propina da Odebrecht.

Além disso, o MPF afirmou que, “conforme já esclarecido pela Petrobras, os procedimentos instaurados nos EUA foram encerrados em fases preliminares de investigações administrativas instauradas pela Securities and Exchange Comission (SEC) e pelo Departamento de Justiça (DoJ) daquele país. Assim, não houve a autuação formal de um processo judicial perante a autoridade judiciária competente, não tendo sido constituído nenhum elemento de prova documental em procedimento investigatório.”

Com medo de sofrer uma condenação bilionária em corte norte-americana, a Petrobras decidiu fechar um acordo com o DOJ e a SEC em 2018, evitando que o processo chegasse aos tribunais. Por causa disso, aceitou pagar uma multa de R$ 3,6 bilhões. A maior parte disso, R$ 2,5 bilhões, retornou ao Brasil. A Lava Jato em Curitiba manobrou para injetar o dinheiro em uma fundação própria, mas o Supremo Tribunal Federal abortou o plano.

Confira toda série do GGN sobre a influência dos EUA na Lava Jato aqui. Abaixo, o capítulo que trata dos processos da Petrobras.

Do MPF

O Ministério Público Federal (MPF) opinou pela improcedência de reclamação apresentada pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que negou acesso a informações e documentos compartilhados entre o MPF e autoridades dos Estados Unidos no âmbito da Ação Penal 5046512-94.2016.4.04.7000/PR. Na AP em questão, Lula foi condenado a mais de 8 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro envolvendo contratos firmados entre a Petrobras e a construtora Odebrecht.

Na reclamação, a defesa de Lula alega que, ao negar o acesso às informações, o STJ teria violado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF), prejudicando assim a ampla defesa do ex-presidente. Desse modo, afirma ser necessário o acesso a todos os documentos produzidos nas tratativas dos acordos celebrados pela Petrobras a fim de demonstrar a ausência de sua participação nos fatos objeto da AP. Por fim, requer o acolhimento do pedido de tutela provisória para que seja determinada a suspensão do processo em trâmite na 5ª Turma do STJ, até o julgamento de mérito da presente reclamação.

No entanto, o MPF argumenta que, conforme já esclarecido pela Petrobras, os procedimentos instaurados nos EUA foram encerrados em fases preliminares de investigações administrativas instauradas pela Securities and Exchange Comission (SEC) e pelo Departamento de Justiça (DoJ) daquele país. Assim, não houve a autuação formal de um processo judicial perante a autoridade judiciária competente, não tendo sido constituído nenhum elemento de prova documental em procedimento investigatório. Nesse caso, não se aplica o Enunciado 14 da Súmula Vinculante.

Além disso, o MPF aponta que os fatos tratados nos EUA não dizem respeito ao que se discute na ação penal objeto da reclamação. A AP em questão trata da responsabilização criminal por corrupção e pagamento de subornos a agentes públicos. Nos EUA, tratou de suposta falha nas informações prestadas ao mercado, mas apenas no cumprimento de normas contábeis do direito estadunidense.

“No caso dos autos, a defesa de Lula busca o acesso e a juntada de mais de 7 milhões de páginas de documentos que não dizem respeito aos fatos objeto da referida ação penal e, consequentemente, não têm nenhuma relevância para o exercício do direito de defesa do réu, ora reclamante. Não há, portanto, violação do Enunciado nº 14 da Súmula Vinculante”, aponta a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, que assina a manifestação.

Enunciado 14 – O Enunciado 14 da Súmula Vinculante do STF ao qual se refere a defesa do ex-presidente Lula, prevê que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

Do GGN

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

“O OVO DA SERPENTE ESTÁ NA JUSTIÇA NEGOCIADA”, DIZ VALESKA TEIXEIRA

Advogada de Lula diz ao Cai Na Roda, da TVGGN, que Brasil já tem leis para combater o lawfare, mas falha em aplicá-las. Para Valeska, modelo ICACs de combate à corrupção poderiam inspirar o País.

Defensora de Lula e pesquisadora do lawfare que marcou a ferro em brasa a operação Lava Jato, a advogada Valeska Texeira Zanin afirmou, em entrevista ao programa Cai Na Roda, da TV GGN, que o “ovo da serpente” do autoritarismo por via judicial está na “justiça negociada”.

Foi lançando mão sobretudo de acordos de delação premiada que a força-tarefa da Lava Jato colocou empresários com negócios na Petrobras “de joelhos” e ofereceu “a redenção”, como disse Deltan Dallagnol em troca de mensagens pelo Telegram.

Nestes acordos, os réus abrem mão de qualquer possibilidade de defesa. A denúncia de corrupção deve prevalecer nos termos que interessam aos procuradores. O delator segue o combinado, em troca de benefícios como a redução de pena privativa de liberdade e manutenção parcial do patrimônio.

“O ovo da serpente, onde ele está? Ele está no plea bargain, na justiça negociada. No NPA, que é non-prosecution agreement, um acordo de suspensão, acordo de imunidade; e no plea bargain agreement, acordo de delação. É por aí que você entra nas empresas e chega nos políticos”, diz Valeska, frisando que, na Lava Jato, os empresários se achavam “imunes” a este tipo de estratagema, mas foram os primeiros a sucumbir.

COMBATE AO LAWFARE

Valeska citou o “ovo da serpente” no contexto do combate ao lawfare, após ser questionada sobre eventual necessidade de incluir no Código Penal punições mais rigorosas contra o uso do aparato jurídico para fazer perseguições políticas. Para a advogada, uma discussão desnecessária neste momento.

 “Fico mais preocupada em trazer as garantias, em deixar o processo obedecer às regras já existentes, do que trazer excessos de punitivismos ou então institutos internacionais neste momento”, disse.

Ela argumentou que já “temos mecanismos que, em tese, conseguiriam diminuir ou coibir um pouco a utilização do lawfare. “Juiz natural nós temos, a imparcialidade do procurador também nós já temos. Temos vários mecanismos que proíbem a utilização de lawfare, mas precisamos levá-los a sério, tornar o processo independente e imparcial” – da opinião pública e da mídia, frisa.

“Hoje percebo que há uma ansiedade muito grande na inserção de novos temas em nossos códigos, quando se nós simplesmente obedecermos ou levarmos a sério as leis já existentes, nós não teríamos o lawfare.”

Na visão da advogada, se o Brasil tivesse de importar um instituto no atual cenário, poderia olhar com mais atenção para os ICACs (termo em inglês para Comissão Independente Contra a Corrupção de Hong Kong). Segundo ela, “é a forma de luta contra a corrupção desenvolvida por Hong Kong na década de 70, que conseguiu desenvolver um combate a corrupção imparcial. Esse eu acho que merece um estudo, merece um carinho especial, porque tem dado certo tanto em Hong Kong quanto em outros países.”

Assista a partir de 38:55:

Do GGN

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

‘COVID SUPERDIMENSIONADA’. QUE NÃO NOS CASTIGUE A SOBERBA…POR FERNANDO BRITO

A soberba costuma ter como castigo o verso de Billy Blanco que diz, “mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal”.

Hoje, do alto de 151 mil mortes, Jair Bolsonaro diz que a pandemia, aqui, foi “superestimada”, muito embora ostentemos a segunda maior quantidade de mortes entre os países do mundo.

É a versão tupiniquim da “dancinha” de Donald Trump, ontem, zombando da Covid-19.

Como no início do ano, porém, os avisos estão chegando, enquanto os politiqueiros do vírus se rejubilam pela “vitória” contra a doença.

Na primeira escala do Sars Cov-2, a Europa, todos os países estão tomados de apreensão.

Neste outubro, o número de novos casos está batendo recordes na França, na Espanha, na Itália, na Polônia e até na disciplinadíssima Alemanha.

As barbas dos vizinhos estão em brasa e a moderadíssima Agência Reuters escreve que “Em pânico, Europa se prepara para segunda onda de Covid-19“, com o registro de mais de 100 mil casos novos nos últimos dias.

Perdemos, no final de janeiro, fevereiro e início de março a “janela” de oportunidade para tentar conter a pandemia por aqui e, talvez, estejamos na iminência de perder a “janela” de oportunidade que o atual decréscimo no numero de casos está nos proporcionando para organizar o funcionamento da vida com menos restrições mas também menos insânia.

Que nos é, infelizmente, fornecida diretamente de Brasília, todo santo dia.

Do Tijolaço.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

ZONA AZUL: COMO FAZER UMA LICITAÇÃO DE CARTAS MARCADAS, POR LUIS NASSIF

Fica evidente que todo o projeto foi preparado pelo BTG.  Com três meses de gestão, seria impossível Dória montar um projeto detalhado, cujos pontos básicos foram mantidos até o fim.

Fica evidente que todo o projeto foi preparado pelo BTG.  Com três meses de gestão, seria impossível Dória montar um projeto detalhado, cujos pontos básicos foram mantidos até o fim.

No dia 6 passado, publiquei o Xadrez da grande jogada do BTG com a Zona Azul, denunciando uma licitação com cartas marcadas. Lá, mostrava cinco condições definidas pela licitação especialmente para direcionar a licitação para a empresa Estapar, do grupo BTG. E manifestava a estranheza do Tribunal de Contas do Município ter convalidado a licitação, mesmo tendo identificado vícios do primeiro edital, que não foram sanados pelo segundo.

Confira, agora, esta matéria do G1, de 20 de março de 2018, com menos de três meses de governo João Dória Jr à frente da Prefeitura: Concessão da Zona Azul à iniciativa privada por até 30 anos deve render mais de R$ 1 bilhão.

Fica evidente que todo o projeto foi preparado pelo BTG.  Com três meses de gestão, seria impossível Dória montar um projeto detalhado, cujos pontos básicos foram mantidos até o fim.

Diz a reportagem:

Atualmente, o sistema de Zona Azul tem 40.682 vagas de estacionamento rotativo espalhados pelas cinco regiões da cidade. Com a concessão, o número será ampliado para 50 mil.

Segundo o secretário municipal de Desestatização, Wilson Poit, a empresa Estapar, que pertence ao Banco BTG, manifestou interesse em administrar a Zona Sul. 

A Prefeitura também pretende otimizar o processo de fiscalização com o fornecimento de tecnologia pela empresa vencedora para permitir a utilização de veículos com câmeras. Isso possibilitará que um agente da CET não precise fazer a fiscalização in loco, por exemplo. Obs:retirado do edital para reduzir a necessidade de investimentos pela concessionária.

Repito o que já escrevi: o TCM deve uma resposta para sua atitude de voltar atrás e permitir uma licitação direcionada. E o silêncio da mídia é a prova eloquente da enorme influência de grupos financeiros sobre operações suspeitas das políticas públicas.

Do GGN