quarta-feira, 10 de agosto de 2022

“POSTO IPIRANGA” NA CAMPANHA DE 2018, GUEDES É ESCONDIDO POR BOLSONARO EM 2022

Se antes economista era tido como suposto solucionador de problemas, mandatário encerra ciclo com crise galopante.

Bolsonaro e Guedes tentam coagir o Congresso para liberar dinheiro desnecessário - Antonio Cruz/Agência Brasil.

Mencionado constantemente como nome de destaque na campanha eleitoral do então candidato Jair Bolsonaro (ex-PSL e hoje PL) em 2018, em que ficou conhecido pelo apelido de “Posto Ipiranga”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sido apagado das menções do chefe do Executivo em meio aos discursos e agendas que miram o pleito de outubro deste ano.

Chamou a atenção nesse cenário, por exemplo, a ausência de Guedes do palanque de Bolsonaro quando a chapa foi oficialmente lançada pelo PL, no último dia 24, no Rio de Janeiro (RJ). O ministro não compareceu ao evento, cujo palco foi marcado inclusive pela presença de lideranças do centrão.

Um levantamento feito pelo portal Poder 360 comparou o discurso do presidente no evento do PL deste ano com a retórica adotada quando Bolsonaro se lançou candidato ao Planalto em 2018. Guedes esteve entre os nomes mais citados há quatro anos, mas, em 2022, a predominância foi para figuras políticas como a deputada e ex-ministra da Agricultura de seu governo, Tereza Cristina (PP-MS), figura de peso na bancada ruralista, e para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes do centrão.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), não é possível separar o fracasso e o sumiço de Guedes da ascensão do centrão, grupo de direita liberal que é maioria no Congresso e controla o chamado “orçamento secreto”. A parlamentar entende que a musculatura política que o segmento adquiriu nos últimos anos ajudou a reduzir o poder e a influência do ministro da Economia junto ao presidente da República.  

“É um governo que está terceirizado nas mãos de um setor fisiológico que tenta manter o governo para continuar mandando, mas, objetivamente, a tendência é um processo de demonstração que se faz com políticas de pequeno fôlego, que não resolvem o problema da população, e o governo se desmoralizou.

O ministro perdeu prestígio em meio ao conjunto de problemas que hoje marcam o cenário socioeconômico nacional. Destacam-se principalmente os índices históricos de desemprego, o descontrole inflacionário, o crescimento da miséria entre as faixas de renda menos favorecidas e a volta do país ao chamado “Mapa da Fome”, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação da Agricultura (FAO). Diante de uma crise socioeconômica galopante, restou a Guedes a antipatia de distintos setores da economia.

Agenda

O ministro passou a incomodar também grupos neoliberais que esperavam uma agenda mais aprofundada do ponto de vista desse modelo econômico. Isso foi ampliando, aos poucos, o descrédito do mandatário junto a segmentos como o mercado financeiro, por exemplo.

Entre outras coisas, o então “Posto Ipiranga” de 2018 havia se comprometido a aprovar reformas de caráter estrutural, como a tributária, mas a pauta ainda não teve oxigênio suficiente para ir até o fim do trâmite legislativo e empacou no Congresso.

 “Guedes não é um ministro habilidoso politicamente. Ele não sabe lidar com aquele jogo do centrão, do Congresso Nacional. Ele não é um economista tecnicamente competente, mesmo admitidas as premissas neoliberais”,  observa professor Francisco Tavares, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que se dedica a temas como sociologia fiscal, entre outros.

O ministro também havia dito, em 2018, que venderia todas as estatais do país. No entanto, para a felicidade de opositores e segmentos da sociedade civil do campo progressista, o governo não conseguiu avançar na cartilha para além da privatização da Eletrobras, que foi finalizada em junho deste ano a uma bagatela de R$ 33,7 bilhões.

“Em que pese o fato de não terem ocorrido privatizações significativas, o Estado tampouco investiu. A taxa de investimento público no Brasil é uma das menores de todos os tempos da nossa República”, acrescenta Tavares.

O professor Frederico Gonzaga Jayme, da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também avalia o mau desempenho do governo em outros aspectos: “Do ponto de vista econômico, o Paulo Guedes não conseguiu entregar absolutamente nada em termos minimamente sociais. Do ponto de vista dos interesses do grande capital, teve a reforma da Previdência, por exemplo, mas não foi ele que entregou, e sim o Congresso”, lembra.

Francisco Tavares pontua que o ministro da Economia também não conseguiu entregar para o próprio Bolsonaro resultados provisórios eleitoralmente vantajosos e medidas de curto prazo que pudessem impulsionar o governo mesmo sob a manutenção do receituário neoliberal.

“Nesse sentido, já não há mais nenhuma vantagem pro Bolsonaro em se utilizar desse nome. Ele [o presidente] consegue conquistar o latifúndio improdutivo por si só, por exemplo, e não precisa de uma figura que é politicamente desastrada e tecnicamente incompetente”, avalia o professor da UFG.  

A jornada de Guedes no governo também foi marcada por episódios como a debandada ocorrida no ministério em outubro do ano passado, quando Bruno Funchal e Jeferson Bittencourt, então secretário especial do Tesouro e Orçamento e secretário do Tesouro Nacional, respectivamente, pediram exoneração dos cargos.

Pegaram o mesmo bonde a secretária-adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e ainda o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo, que também se demitiram. Apesar de os quatro terem alegado oficialmente motivações pessoais, a iniciativa foi associada à insatisfação do grupo com a má gestão fiscal do país. A questão já vinha sendo apontada nos bastidores como um dos principais pontos de descontentamento da equipe com a gestão.

O professor Frederico Gonzaga Jayme destaca o peso negativo que as políticas de Guedes tiveram no cenário nacional nos últimos tempos e qualifica a gestão como “desastrosa” em aspectos como inflação, políticas públicas e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

“Nada deu certo do ponto de vista econômico, então, nada mais razoável também do que o Bolsonaro deixar um pouco de lado nesta eleição o Paulo Guedes, que não deu o retorno esperado, porque, obviamente, um governo de extrema direita precisaria de algum retorno que desse um verniz de razoabilidade ao governo, mas nada disso aconteceu”.

Jayme faz ainda uma ligação entre o ofuscamento de Guedes e as políticas apontadas como eleitoreiras das quais a gestão tem lançado mão neste momento que antecede o pleito de outubro. É o caso do aumento das parcelas do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, da ampliação do valor do vale-gás e da criação de um benefício específico pra taxistas, todas elas válidas até o fim do ano.

“Com a popularidade muito baixa, é o momento de ele tentar fazer algum tipo de política de aumento do gasto público de uma maneira pouco comum na estrutura das regras vigentes, inclusive da Lei de Responsabilidade Fiscal, pra tentar reverter essa situação. Isso vai totalmente contra tudo o que propõe o Guedes, então, estrategicamente, é melhor que ele tente mantê-lo mais distante mesmo.”

B de F.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

BANCOS, INDÚSTRIA E SETORES DO AGRO SE AFASTAM DE BOLSONARO ANTES DA ELEIÇÃO

Empresários e entidades setoriais assinam manifestos contra golpe e são criticados por presidente, que se diz perseguido.

Bolsonaro perde apoio de parte da elite a dois meses do primeiro turno das eleições - Sergio Lima / AFP

Faltando menos de dois meses para a eleição, empresários ligados a bancos, à indústria e até ao agronegócio estão cada vez mais afastados politicamente de Jair Bolsonaro (PL). Após um desempenho ruim da área econômica do governo e de discursos golpistas do presidente, entidades patronais de diferentes setores assinaram cartas em favor da democracia e acabaram virando, inclusive,  alvo de críticas de Bolsonaro.

O distanciamento vem tomando forma há mais de dois meses, ainda antes do surgimento dos manifestos em defesa das eleições, mas já motivados por questões eleitorais.

Em junho, por exemplo, a Folha de S.Paulo noticiou que Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústria dos Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou a aliados que se sentia traído pelo presidente justamente por falta de apoio à sua candidatura ao Senado. Skaf foi aliado próximo de Bolsonaro e chegou a ser nomeado para o Conselho da República.

Já em julho, foi a vez do empresário do ramo do agronegócio Elusmar Maggi criticar Bolsonaro. Elusmar é sócio da Bom Futuro, irmão do empresário Eraí Maggi, conhecido como "rei da Soja", e primo do ex-ministro de Michel Temer (MDB), Blairo Maggi. Ele se posicionou após críticas de agricultores de Mato Grosso à uma aliança de candidatos ligados ao setor com o Partido dos Trabalhadores (PT) no estado.

"Que fria esse presidente [Bolsonaro]. Se esse ele fosse bom, ele teria dado uma verba como o PT deu para fazer armazéns", afirmou, em áudio reproduzido pela imprensa. “Esse presidente é muito ruim de serviço. Esse presidente motoqueiro, que não passa de um simples motoqueiro e que ainda dá mau exemplo para a nação.”

O agronegócio é um dos setores mais identificados com Bolsonaro e ao qual o presidente mais dá atenção. Segundo levantamento publicado pelo site Poder360, desde que lançou sua pré-candidatura à reeleição, em 27 de março, o presidente esteve 15 vezes com empresários do agro. Ao todo, nesse período, o presidente esteve com empresários de todos os setores 37 vezes – ou seja, quase metade do tempo dedicado ao agro.

Golpismo amplia distância

Também durante sua pré-campanha, Bolsonaro reforçou seus ataques às urnas eletrônicas e seu discurso contra instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF). As falas do presidente motivaram manifestos em favor da democracia. Entidades empresariais e empresários renomados aderiram a esses manifestos, contrariando Bolsonaro.

Ainda em julho, os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, os empresários Guilherme Leal, da Natura, Horácio Lafer Piva, da Klabin, assinaram um documento elaborado pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).

Hoje, esse manifesto já tem mais de 740 mil assinaturas.

Dias depois, foi a vez da própria Fiesp anunciar que estava elaborando a sua carta em favor da democracia. O documento ganhou a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP), da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e das principais centrais sindicais.

Bolsonaro menosprezou a iniciativa. Primeiro, lembrou que o atual presidente da Fiesp, Josué Gomes, é filho de José Alencar, falecido vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje candidato à Presidência. Depois da adesão da Febraban, disse que o manifesto era uma reação dos bancos à uma perda de lucro por conta do lançamento do Pix durante seu governo. Essa perda nunca ocorreu.

Por conta da carta elaborada pela Fiesp, Bolsonaro cancelou uma visita à entidade à qual ele mesmo havia marcado para o dia 11. Nessa visita, ele se reuniria com empresários e seria convidado a assinar o manifesto da entidade, o qual ele critica.

Nova relação

Bolsonaro foi eleito com apoio do empresariado e seu esforço para a aprovação da Reforma da Previdência, por exemplo, foi bem-recebido pelos donos de empresas. Os bancos têm registrado lucros recordes neste governo e têm sido beneficiados por medidas de estímulo ao crédito proposta pelo governo, como a concessão de empréstimos consignados vinculados inclusive ao recém-criado Auxílio Brasil.

Segundo o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a relação entre os donos do capital e o governo nunca esteve tão ruim basicamente por dois motivos: primeiro, porque a economia, no geral, vai mal; segundo, porque eles sabem que qualquer tentativa de golpe pioraria ainda mais a situação.

"O empresariado percebeu que se trata de um governo desastroso. Não há interesse do empresariado em estar num país com um governo desastroso", explicou Couto. "Também não há interesse numa ruptura institucional."

Segundo Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma parte dos empresários, principalmente ligados ao setor industrial, parece estar mobilizado pela criação de uma política de desenvolvimento do país. O governo Bolsonaro não se movimentou para isso. Por isso – e pensando na sobrevivência de seus próprios negócios – eles parecem buscar um novo presidente.

"Um projeto de desenvolvimento para o Brasil que precisa ser um projeto que em primeiro lugar respeite a democracia", disse ela, analisando o movimento da Fiesp, por exemplo.

André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembrou que o empresariado tem interesses heterogêneos. Ele concorda que empresários se afastaram de Bolsonaro recentemente, mas disse que o presidente ainda tem apoio de setores do comércio, do agronegócio e do mercado de capitais.

"Muita gente está lá na Faria Lima que sentem que seu patrimônio melhorou", disse. "Eles ainda confiam no Bolsonaro e na agenda econômica que o ministro Paulo Guedes representa."

A última pesquisa sobre intenções de voto divulgada pela Quaest e financiada pelo Banco Genial, por exemplo, aponta que, entre as pessoas que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos (cerca de R$ 6 mil), Bolsonaro lidera a corrida presidencial e ganha cada vez mais votos. Em janeiro, ele tinha 27% das intenções. Neste mês, tem 45%.

B de F.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

DIRETOR DE ÁREA DA CAIXA LIGADA AO ESCÂNDALO DE ASSÉDIO É ENCONTRADO MORTO

Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco – FOTO DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO.

Nesta terça-feira (19), Sérgio Ricardo Faustino Batista, diretor de Controles Internos e Integridade da Caixa, foi encontrado morto no edifício-sede do banco, na região central de Brasília. Apurações preliminares indicam tratar-se de suicídio.

O corpo foi encontrado na área externa do prédio por vigilantes que estavam de plantão. A ocorrência foi registrada pela Polícia Civil do Distrito Federal. A tragédia chama atenção porque a diretoria de Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco. 

Desde 2019, mais de nove ofícios relatando episódios de assédio e de intimidação contra servidores que ocupam cargos de gestores foram enviados à direção da Caixa. Nada foi feito até o momento, segundo a entidade. O ex-presidente da instituição, Pedro Guimarães, caiu após a publicação das denúncias. Ele deixou o cargo em junho deste ano.

Transtornos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout seriam algumas das doenças desenvolvidas por funcionários em razão do suposto modelo de gestão adotado por algumas unidades da Caixa.

O diretor morto tinha 54 anos e seguiu no cargo mesmo após a mudança na presidência da Caixa. Ele assumiu o posto há pouco mais de seis meses. Funcionário de carreira, antes ele havia integrado a equipe que assessorava diretamente o gabinete de Pedro Guimarães.

DCM.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

BOLSONARO IGNORA TCU E FECHA CONTRATO SUSPEITO DE R$ 450 MILHÕES EM LICITAÇÃO

O presidente Jair Bolsonaro em foto divulgada nas redes sociais – Reprodução/Instagram.

A Secretaria Especial de Comunicação do governo de Jair Bolsonaro passou por cima de uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e fechou contrato de R$ 450 milhões em uma licitação que estava sob apuração da corte por suspeita de favorecimento à empresa vencedora.

O ministro Weder de Oliveira, relator do caso no TCU, havia pedido a suspensão da licitação em que a Calia/Y2 Propaganda e Marketing teve as melhores notas para realizar serviços de publicidade sobre ações do governo.

A medida cautelar para interromper o processo havia sido tomada por Oliveira no último dia 15 de junho para que os indícios de irregularidades fossem apurados pelo tribunal com maior profundidade e que eventuais danos ao processo fossem evitados.

Porém, no dia 21 seguinte, véspera da sessão plenária em que a decisão seria submetida para confirmação ou não pelos demais integrantes do tribunal, representantes da Secom solicitaram reunião de urgência no gabinete do ministro a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), na qual lhe foi informado que o contrato já havia sido firmado no dia 25 de maio.

Nestes casos, não é possível aplicar multa ao órgão por descumprimento da medida porque a finalização da licitação aconteceu quando o tribunal ainda estava analisando as informações recebidas para então decidir se manteria ou não a suspensão do processo. Na sessão plenária, o ministro se queixou da atitude do governo. Disse que a Secom se omitiu por quase um mês em dar essa informação ao TCU, deixando que a Selog (Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas), unidade encarregada da instrução processual do tribunal, concluísse sua instrução sem estas informações.

A Secom sabia desde o dia 9 de maio que o certame estava sendo questionado pelo tribunal, mas não forneceu este dado ao processo durante as oitivas do TCU. O ministro acrescentou que tal “conduta reprovável não é usual, mas não é a primeira vez que ocorre”. Ele disse que, em outras oportunidades, outros relatores do TCU já reportaram situações análogas.

DCM

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Movimentos e parlamentares buscam caminhos para evitar despejos em massa após as eleições

Remoções forçadas estão suspensas até 31 de outubro; alternativas ainda precisam ser elaboradas.

Gabriela Moncau Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

De acordo com a Campanha Despejo Zero, entre as pessoas ameaçadas de despejo no país, 97 mil são crianças e 95 mil idosos - Lucas Martins

Até 31 de outubro, de acordo com decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso formalizada na última quinta-feira (30), as remoções forçadas estão proibidas no Brasil. No documento, o magistrado argumentou que o país vive nova tendência de alta nos índices de mortes e contaminações da pandemia de covid-19. 

Comemorada como um fôlego diante do cenário de 569.540 de pessoas no país que, de acordo com a Campanha Despejo Zero, estão ameaçadas de perderem suas casas, ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que a decisão de Barroso se amparou, também, na intenção de evitar uma “convulsão social” num contexto de crise socioeconômica às vésperas das eleições. 

A prorrogação da suspensão das remoções forçadas ainda será julgada pelo conjunto do plenário do STF em audiência extraordinária, marcada para os dias 4 e 5 de agosto. A expectativa é que a maioria dos ministros acompanhem o voto do relator. 

Ainda que o façam, no entanto, fato é que a vigência da suspensão - tomada no âmbito da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 828 e prorrogada três vezes - em algum momento vai acabar.  

“Com a progressiva superação da crise sanitária, os limites da jurisdição deste relator se esgotarão”, alertou Barroso na decisão. “Por isso, será preciso estabelecer um regime de transição para a retomada da execução das decisões suspensas por esta ação”, aponta o ministro. 

Propostas legislativas e um calendário de ações conjuntas entre movimentos sociais rurais e urbanos estão sendo preparados para tentar evitar que, passado o pleito, 142.385 mil famílias percam o teto em um contexto de alta da fome e da população em situação de rua.  

"Transição" 

Irene Maestro, ativista do movimento Luta Popular, destaca que a transição mencionada por Barroso indica uma avaliação de que “um processo massivo de despejos pode levar a um acirramento dos conflitos sociais”.  

Além de iniciativas legislativas em âmbitos estaduais e municipais, no Congresso Nacional estão tramitando dois Projetos de Lei (PL) sobre o tema. O PL 1718/2022, do senador Paulo Paim (PT-RS) prevê a proibição das remoções até 31 de março de 2023. O PL 1501/2022, da deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), propõe procedimentos de permanência de famílias ameaçadas de despejo no território onde estão ou que entes da federação promovam políticas públicas para garantir, de forma alternativa, o direito à moradia.  

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está preparando um ato normativo com protocolos mínimos para a realização de despejos. Procurado pelo Brasil de Fato, o órgão informou que a resolução será levada ao plenário no segundo semestre e que entre as propostas está a implantação, nos tribunais, do Grupo de Apoio à Solução Pacífica das Ações de Reintegrações de Posse (Gaspar).  

Sinuca de bico 

“A nosso ver, o principal é a garantia da proteção do direito das famílias, evitando os despejos, as violações e uma situação de agravamento das condições de pobreza”, salienta Irene, ao complementar que é preciso que o poder executivo se responsabilize por políticas públicas que atendam essa demanda. 

“Acontece que os poderes públicos municipais geralmente não têm políticas específicas que não estejam apoiadas em políticas estruturadas a nível federal. Mas durante o governo federal foi desconstruída a já insuficiente, problemática e contraditória política habitacional que existia nos governos anteriores”, afirma. “A realidade é que tem mesmo uma sinuca de bico para a construção de alternativas”, resume. 

“O fato é que as ocupações têm sido a construção dessa solução. São a retomada das terras que estão a serviço da especulação ou de grandes latifundiários rurais ou urbanos para construir bairros onde as pessoas tenham garantidas condições de vida dignas”, define Irene Maestro. 

Luta contra o tempo 

De acordo com Kelli Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um calendário de lutas está sendo organizado. “O 25 de julho é uma data importante do trabalhador e trabalhadora rural, vamos fazer ações de solidariedade contra a fome, e além disso estamos em alerta sobre o 7 de setembro”, ilustra Maffort. Em sua visão, a data deve ser “para discutir um projeto de país e também o que significam os 200 anos desta suposta independência. É importante que a gente esteja alerta em relação às ameaças de golpe que estão em torno dessa data”. 

Lembrando das milhares de pessoas que foram às ruas em dezenas de cidades pelo despejo zero nos dias 17 de março e 21 de junho deste ano, Irene defende a importância de, até outubro, potencializar a unidade já construída entre os movimentos.  

“É uma base social muito precarizada, espoliada, que é quem mais sofre não só os impactos da pandemia em si, mas da crise econômica que se agravou nos últimos anos”, descreve Maestro. “E que tem um potencial explosivo para fazer ações inclusive mais radicalizadas para botar no centro do debate público o problema da moradia, que é brutal e histórico no nosso país”. 

BdeF: Thalita Pires.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Bolsonaro não quer clube de tiro virando biblioteca; prefere biblioteca da bala, por Fernando Brito

Na sua live de hoje, vangloriando-se de termos já quase um milhão de atiradores licenciados, com um crescimento de 72% no número de lojas de armas e de 90% no de clubes de tiro, Jair Bolsonaro criticou Lula porque este iria fazer com que estes fossem ser transformados em bibliotecas.

É uma boa ideia, presidente, porque conhecimento e ideias são armas muito mais eficientes do que pistolas e fuzis.

Mas hoje, dia destas declarações, parece que isso é um revanchismo, um desagravo à ofensa que seu governo e os asseclas que colaboram com ele fazem de ofensa às bibliotecas brasileiras e justamente com a mais importante delas, a Biblioteca Nacional, cuja direção acaba de conceder ao brucutu Daniel Silveira, aquele condenado pelo Supremo Tribunal Federal indultado por Bolsonaro, a Ordem do Mérito do Livro, segundo nos conta Mônica Bergamo, na Folha.

Ouvido pela coluna, sequer soube dizer o nome da instituição: “”É uma honraria muito grande porque é em homenagem aos 200 anos da… ”

200 anos são da Independência, porque a Biblioteca é obra anterior, de D. João VI.

Brucutus não amam os livros, queimam-nos, em fogueiras e censuras, porque acham perigosos e tóxicos os seus conteúdos, as ideias. Este mesmo aí, que vai ganhar a medalha, invadiu o Colégio Petro II para vistoriar, como quem dá “uma dura” o que se ensinava nos livros de lá. Foi posto a correr, embora com seu corpanzil, por franzinos meninos e meninas que mereciam mil vezes mais aquela comenda.

Tijolaço.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

PESQUISA DATAFOLHA DE HOJE LULA VENCERIA A ELEIÇÃO NO PRIMEIRO TURNO

Se as eleições fossem realizadas hoje, ex-presidente teria 47% contra 41% de seus adversários somados.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada hoje (23), Lula tem 47% contra 28% de Bolsonaro - Agência Brasil

O Instituto Datafolha divulgou no final da tarde desta quinta-feira (23) a mais recente pesquisa sobre a corrida presidencial de 2022, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencendo no primeiro turno caso a eleição fosse realizada hoje.

Feito por meio de abordagem pessoal, o levantamento contou com 2.556 entrevistas realizadas nos dias 22 e 23 de junho, e é a primeira sondagem divulgada após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Segundo o Datafolha, Lula tem 47% das intenções de voto, contra 28% do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida aparecem o candidato do PDT, Ciro Gomes, com 8%, e André Janones (Avante), com 2%. Simone Tebet (MDB), Pablo Marçal (Pros) e Vera Lúcia (PSTU) têm 1% cada. Os demais candidatos não chegaram a 1%. Votos brancos e nulos somam 7% e não souberam ou não quiseram opinar 4% dos entrevistados.

Na pesquisa espontânea, Lula tem 37%; Bolsonaro, 25%, e Ciro aparece com 3%. Todos os demais somam 3%.

O Datafolha de hoje e o de maio

Esta é a terceira pesquisa Datafolha divulgada em 2022. No último levantamento, publicado em maio deste ano, Lula tinha 48% de intenções de voto, contra 40% dos seus adversários somados, já indicando àquela altura a possibilidade de vitória no primeiro turno. Bolsonaro tinha 27% .

A pesquisa presidencial de maio foi a primeira divulgada pelo instituto após as desistências de Sergio Moro e João Doria. Segundo aquela sondagem, Lula tinha uma expressiva votação entre eleitores de 16 a 24 anos, chegando a 58%. Já Bolsonaro aparecia com percentual maior na região Centro-Oeste, onde alcançava 42%.

O levantamento do Datafolha divulgado nesta quinta (23) foi registrado no TSE com o número BR-09088/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

BdeF.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

UM GOVERNO EM CHAMAS PODE QUEIMAR O PAÍS. POR FERNANDO BRITO

Dão os jornais que, neste momento, há uma reunião de emergência no Palácio do Planalto para discutir a “comunicaço” da camapana de Jair Bolsonaro. Nela, além do próprio, estão os filhos Flávio e Eduardo, o ministro Ciro Nogueira e o virtual candidato a vice, general Braga Netto.

Será que alguém acredita que a reação de Bolsonaro à prisão de Mílton Ribeiro será, como se diz na mídia, só um “isso prova que a Polícia Federal é independente?”.

É evidente que não e está se acertando ali uma ofensiva, para que as más notícias que esperam o presidente em matéria de pesquisas eleitorais não prevaleçam no noticiário político.

E, provavelmente, não será a CPI da Petrobras, até porque se o Centrão quisesse, o pedido não teria, depois de três dias, apenas 132 assinaturas. Antes de assinar – e se a CPI permanecer como desejo de Bolsonaro – o Centrão quer uma mudança que mude a lei das estatais para abocanhar cargos no fim de governo.

Bolsonaro, a esta hora, está é cuidando de providenciar mais do mesmo: a distribuição de dinheiro através de “vale”-tudo, se necessário com uma decretação de estado de calamidade para driblar a lei eleitoral.

Projeto em que seu maior temor é que seja detido no Supremo, pela evidente intenção de burla que contém.

Temos um governo em liquidação e, com ele, um país que entra em liquidação.

Não é só a cara do governo que está queimando, é o país que crepita, por toda a parte, à beira de uma catástrofe ainda maior.

Tijolaço.

terça-feira, 21 de junho de 2022

REFINARIA NA BAHIA MOSTRA QUE, COM PRIVATIZAÇÃO, COMBUSTÍVEL É MAIS CARO. POR FERNANDO BRITO

O Estadão publica um ranking do preço médio apurado pela Agência Nacional de Petróleo, medido na semana passada e , portanto, antes da entrada em vigor do último reajuste da Petrobras.

E a Bahia é o estado com maior preço – R$ 8,037 – por uma razão muito simples, que o jornal não menciona.

É que a maior parte do combustível vendido nos postos baianos vem da Refinaria Landulpho Alves, em Mataripe, a 60 km de Salvador.

A refinaria, a primeira construída do Brasil, agora é privada, vendida a um fundo de investimentos de Dubai, nos Emirados Árabes, pertencente à Mubadala Investment Company.

E cobra mais caro que a base de distribuição da Petrobras em Pernambuco, a unidade mais próxima onde se poderia, alternativamente, comprar o combustível.

O preço do diesel na Acelen, quando o cobrado pela Petrobras passou para R$ 5,61 na refinaria, subiu para R$ 6,11, quase 9% mais caro.

Este discurso sempre usado – e repetido pelo Ministro de Minas e energia, hoje, na Câmara, que a “competição” baixa os preços é uma história para boi dormir, porque o frete e a própria logística de poucos pontos de venda – como são as refinarias – não pode funcionar.

Seria, além de irracional, inviável abastecer a Bahia apenas com derivados vindos de São Paulo ou do Paraná.

Tijolaço.

sábado, 18 de junho de 2022

A CRISE NÃO SÃO SÓ OS 20 CENTAVOS DA GASOLINA. POR FERNANDO BRITO

É claro que a “desgovernança corporativa” do governo e da Petrobras é responsável por boa parte do desastroso comportamento do mercado financeiro nesta sexta-feira, na qual a Bovespa perdeu os 100 ,mil pontos dos quais não baixava desde o início de novembro do ano passado e o dólar subir a R$ 5,15.

Mas não é só o acréscimo de R$ 0,20 no preço do litro da gasolina ou o de R$ 0,70 no do diesel e nem mesmo a reação enlouquecida de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira e Arthur Lira que criaram o “sextou” de caos no mundo da grana.

A coleção de más notícias é vasta e envolve inflação e recessão ameaçando em escala global.

O índice da inflação registrado na Zona do Euro – 8,1%, em 12 meses – é recorde desde a criação da União Europeia, os norte-americanos falam abertamente em recessão, como nesta matéria de hoje do NY Times. Quem, ainda assim, achar que os pobres não importam, vá ver o que acontece com as ações da Tesla, do badaladíssimo Elon Musk.

Quando eles caem, nós, que vivemos de vender-lhes produtos primários, caímos também, porque nos conformamos a não ter dinâmica econômica própria, o que, claro, não é deixar de ter visão global.

O preço do minério de ferro, um de nossos mais fortes itens de exportação caiu mais de 5% na China, em razão das expectativas de menor crescimento do país, arrastando aqui as ações da Vale para uma queda igual.

A expectativa de recessão se espalha, com inflação e juros altos empurrando para baixo as expectativas do comércio. Por aqui, empresas do varejo, físico e eletrônico, perderam cerca de um terço do seu valor de mercado.

Cresce a apreensão de que a economia global esteja caminhando para um recessão desastrosa e, desta vez, o Brasil não tem o colchão do consumo interno para amenizar seus efeitos.

A solução primária tem sido sangrar os orçamentos públicos, abrindo mão de receitas e lançando perigosamente os recursos que poderiam estar sendo dirigidos a programas de retomada de investimentos no ralo de subsídios e, pior, subsídios de natureza eleitoral.

É como se estivéssemos transformando as contas públicas num lamaçal e isso nos impedisse de ter onde nos apoiarmos para reerguer o país. Até o Supremo, pelas mãos bolsonaristas de André Mendonça, lança-se a contribuir para isso, invertendo a lógica jurídica tradicional de travar tudo o que oferece perigo à arrecadação pública até que se esclareçam as razões, para mandar cessar impostos que podem montar a quantias que arruínem a prestação de serviços essenciais.

Agem como se o mundo fosse acabar nas eleições de outubro, enquanto o que periga acabar, sim, é a era de desgoverno do país.

Embora seja evidente, é preciso dizer que não estamos falando de pequenos expedientes eleitorais, mas de medidas que vão deixar o país arruinado em larga escala.

Tijolaço.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

REINO UNIDO AUTORIZA EXTRADIÇÃO DE ASSANGE AOS EUA; ATIVISTA PODE PASSAR O RESTO DA VIDA PRESO

A ministra do interior do Reino Unido, Priti Patel, aprovou a extradição baseada na sentença do Tribunal Supremo.

Todos os grandes meios de comunicação internacionais recorreram às informações reveladas por Assange. Em outras palavras: quem revelou o delito será punido, não o delinquente - Justin TALLIS/AFP

A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, autorizou nesta sexta-feira (17) a extradição do jornalista Julian Assange para os Estados Unidos. A partir de agora, em solo estadunidense, Assange pode ser condenado a passar o resto de sua vida atrás das grades. Responsável por publicar informações sobre possíveis crimes de guerra dos EUA em suas invasões no Oriente Médio, como o assassinato de civis, o jornalista agora enfrentará o judiciário estadunidense. Assange poderá recorrer.

A decisão contraria pedidos da Anistia Internacional, do Repórteres Sem Fronteiros e do Comissário de Direitos Humanos do Conselho Europeu, Dunja Mijatović.

"A natureza ampla e vaga das alegações contra Assange, e dos crimes listados na acusação, são preocupantes, pois muitos deles dizem respeito a atividades centrais do jornalismo investigativo na Europa e além. Consequentemente, permitir a extradição de Assange sob estas bases teria um efeito desencorajador sobre a liberdade dos meios de comunicação social e poderia, em última análise, dificultar a imprensa no desempenho de sua tarefa de provedora de informação e fiscalizadora pública nas sociedades democráticas", afirmou Mijatović em carta a Patel.

Por que os Estados Unidos buscam Assange?

Durante o governo de Donald Trump, os Estados Unidos usaram a Lei da Espionagem da Primeira Guerra Mundial para acusar o jornalista de publicar documentos confidenciais do governo. Se condenado, Assange pode receber uma pena de mais de um século atrás das grades. 

Trump e seu governo ficaram especialmente irritados com Assange após o WikiLeaks publicar em um de seus vazamentos, conhecido como Vault 7, informações sobre ferramentas secretas da vigilância dos EUA. Um dos vazamentos é de que a CIA perdeu o controle de ferramentas de espionagem criadas pela inteligência estadunidense.   

De acordo com reportagem investigativa do Yahoo News, após a publicação do Valut 7, o governo dos Estados Unidos discutiu e fez planos para matar ou sequestrar o jornalista

Assange não estava na Embaixada do Equador em Londres?

Assange ficou na Embaixada do Equador no Reino Unido de 2012 até 2019, quando o país latino-americano revogou seu asilo e as autoridades britânicas o prenderam. O jornalista buscou refúgio na instalação diplomática porque alegou que poderia ser extraditado aos Estados Unidos pela Suécia, onde havia um processo de estupro contra o fundador do WikiLeaks.

Em 2019, as autoridades suecas descontinuaram o processo contra Assange após uma revisão das evidências. Apesar da acusação ter sido descontinuada, Assange continuou refugiado na embaixada porque poderia ser detido por descumprir as regras da condicional que havia permitido sua liberdade em terras britânicas enquanto respondia ao processo da Suécia.

Ainda em 2019, o então presidente do Equador, Lenín Moreno, revogou o asilo de Assange sob a justificativa de que o jornalista teria interferido em assuntos da política doméstica equatoriana. Rafael Correa, antecessor de Lenín Moreno no cargo de presidente do Equador e responsável por conceder asilo a Assange, afirma que o jornalista foi entregue por alinhamento de Moreno com os Estados Unidos e em troca de um acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Sob pedido de uma ordem de extradição dos Estados Unidos, a Polícia Metropolitana de Londres prendeu Assange em 11 de abril de 2019. 

BdeF: Arturo Hartmann

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Irmãos confessam assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips; corpos teriam sido decepados e incinerados

Segundo reportagem da Bandnews, Oseney da Costa contou à PF que o crime ocorreu no dia 5, dia do desaparecimento de Bruno e Dom. O motivo teria sido a pesca ilegal na região.

Bruno Pereira e Dom Philips (Foto: Divulgação/Funai/Arquivo | Reprodução Twitter/@domphillips | Ricardo Lima/Reuters).

Oseney da Costa confessou para a Polícia Federal que ele e seu irmão, Amarildo dos Santos, o "Pelado", assassinaram o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips. A informação foi divulgada em reportagem da Band News.

Segundo Oseney, o crime ocorreu no dia 5, dia do desaparecimento de Bruno e Dom. Ele contou à PF que os corpos teriam sido decepados e queimados na terra indígena do Vale do Javari, na Amazônia.

"O motivo do crime teria sido a pesca ilegal na região. Estavam pescando pirarucu, foram alertados por Bruno e Dom Phillips que estava fotografando. Eles foram rendidos e levados para uma vala, onde foram mortos e tiveram os corpos esquartejados e incendiados", diz a reportagem da Band.

Oseney foi levado no início da tarde desta quarta-feira pela PF para apontar o local do crime. A PF vai dar o caso como encerrado e indicar Oseney e Amarildo pelo assassinato. Também há a suspeita de participação de outras pessoas nas mortes de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira.

Brasil 247.

terça-feira, 14 de junho de 2022

O GOVERNO DE JAIR BOLSONARO JÁ ENTREGOU UM TERÇO DAS EMPRESAS PÚBLICAS BRASILEIRAS PARA O CAPITAL PRIVADO

Número de empresa controladas pelo governo federal caiu de 209 para 133 em quase 4 anos.

Manifestantes realizam ato contra a privatização da Eletrobrás em frente à Bolsa de Valores de São Paulo - Divulgação/Salve a Energia.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) privatizou 36% das estatais brasileiras durante três anos e meio de seu governo. Quando ele assumiu a Presidência, a União controlava 209 empresas. Hoje, após a desestatização da Eletrobras, o número baixou para 133.

A cifra foi divulgada nesta terça-feira (14) pelo secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord. Ele participou no início desta tarde na cerimônia que marcou a conclusão da privatização da Eletrobras, realizada na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, no centro da capital paulista.

“A finalização da operação da Eletrobrás vai fazer com que a gente atinja a marca de redução de um terço das estatais”, disse Mac Cord.

Enquanto movimentos populares protestavam contra a venda do controle da estatal, o presidente Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes e outros membros do governo comemoram o evento. O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, classificou a desestatização da Eletrobrás como um feito histórico.

Sachsida foi secretário de Guedes no Ministério da Economia até maio. Ressaltou que o governo Bolsonaro decidiu reduzir a participação de estatais na economia para, segundo ele, abrir espaço para o capital privado.

No caso da Eletrobrás, por exemplo, o governo vendeu parte de suas ações para investidores. Com essa venda, ele deixou de ser acionista controlador da companhia. O controle da empresa, agora, é majoritariamente privado.

:: Quais os impactos da privatização da Eletrobras? Entenda no Programa Bem Viver ::

Outras empresas

A venda de ações também ocorreu no caso da privatização da BR Distribuidora, antiga subsidiária da Petrobras. Em 2019 e 2021 –ou seja, durante o governo Bolsonaro– a Petrobrás reduziu sua participação na empresa, que passou a ser 100% privada e até mudou de nome. Passou a chamar-se Vibra Energia.

No governo Bolsonaro, a Petrobras também vendeu a TAG (Transportadora Associada de Gás), que agora aluga seus dutos à estatal. Ainda privatizou a Codesa (Companhia Docas do Espírito Santo) e outras companhias. Muitas também ainda estão em processo de privatização, como os Correios.

O economista Sergio Mendonça, ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), disse que essas privatizações representam uma perda de patrimônio público. Ele, aliás, não vê benefício nas vendas.

“O resultado é a redução da taxa de investimento das estatais nos últimos anos”, explicou. “Novos acionistas estão mais interessados nos lucros de curto prazo. Com a redução dos investimentos, reduziu-se a capacidade da economia brasileira crescer.”

O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) já alertou que, privada, a Eletrobrás tende a priorizar a distribuição de lucros a seus acionistas. A conta de luz dos consumidores, por outro lado, tende a subir. Cálculos do coletivo estimam alta de até 25%.

Leia mais: Juca Abdalla, o banqueiro que lucra com a privatização da Eletrobras e administrará a Petrobras

Mais privatizações

Bolsonaro, aliás, já anunciou que pretende dar sequência a sua agenda de privatizações caso seja reeleito. Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, o presidente, inclusive, tem usado a promessa de venda de estatais em busca de apoio político de grandes investidores interessados nessas empresas.

Guedes e Sachsida já deram início a estudos para a privatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo SA (PPSA). Mas neste mandato, essas desestatizações seriam inviáveis.

BdeF: Rodrigo Durão Coelho.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

OS CORPOS DE BRUNO PEREIRA E DOM PHILLIPS FORAM ENCONTRADOS, DIZ ESPOSA DO JORNALISTA

Informação foi divulgada pelo jornalista André Trigueiro, que disse ter conversado com a esposa do jornalista britânico Dom Phillips, Alessandra Sampaio.

Bruno Pereira e Dom Phillips (Foto: Reprodução)

O jornalista André Trigueiro informou pelo Twitter às 8h50 desta segunda-feira (13) que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecidos há dias na Amazônia, foram encontrados mortos.

A informação teria sido passada pela esposa de Phillips, Alessandra Sampaio. "Alessandra, mulher de Dom Phillips, acaba de me informar que foram encontrados os corpos do marido e do indigenista Bruno Pereira", escreveu Trigueiro.

Na GloboNews, porém, Trigueiro afirmou que Alessandra entrou em contato novamente por volta de 9h05 para dizer que dois corpos foram encontrados, mas que ainda é necessário aguardar uma perícia para confirmar a identidade das vítimas.

No domingo (12), o Corpo de Bombeiros do Amazonas afirmou ter encontrado uma mochila com pertences de Pereira e Phillips. Eles desapareceram no domingo (5).

Os bombeiros também haviam desmentido a informação de que partes de corpos tinham sido encontradas. 

Brasil 247.

DECISÃO DO STF ABRE DEBATE SOBRE PRESERVAÇÃO DE DIREITOS TRABALHISTAS POR CATEGORIAS

Acordo coletivo previa que trabalhadores não receberiam por tempo em deslocamento; TST foi contra, mas STF manteve.

Direitos previstos na legislação trabalhista estão sendo atacados; categorias devem se unir para preservá-los - Pedro Ventura/Agência Brasília.

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no último dia 2 de junho, abriu espaço para discussões no meio jurídico sobre os rumos dos direitos dos trabalhadores após a "reforma" implementada em 2017, ainda durante o governo de Michel Temer (MDB). 

O Supremo confirmou uma cláusula de acordo coletivo que suprime direitos previstos na legislação trabalhista, em votação do colegiado do STF, que deu ganho de causa à Mineração Serra Grande S/A, de Goiás, em recurso contra decisão tomada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST)

O acordo coletivo assinado previa que a empresa forneceria transporte para os trabalhadores entre o centro urbano da cidade de Crixás e a sede da mineradora, mas sem pagamento pelas horas gastas em deslocamento. O TST anulou essa cláusula do acordo – e foi essa decisão que foi derrubada pelo STF.

Centrais criticam a decisão

Em nota em seu site oficial, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lamentou a derrubada, e lembrou que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Justiça do Trabalho geralmente autorizavam que "o negociado prevalecesse sobre o legislado", desde que não implicasse em retirada de direitos. Desde as mudanças na legislação trabalhista, porém, a pedido dos patrões, o critério passou a poder ser aplicado de sinal trocado: a Justiça passou a ter a prerrogativa de retirar direitos.

O advogado José Eymard Loguércio, que representou a CUT Nacional na votação no Supremo, afirmou que a negociação coletiva deve ser valorizada, mas o Judiciário não pode naturalizar a retirada de direitos. A entidade foi convidada a participar, mesmo não sendo parte diretamente envolvida, como representante dos trabalhadores em geral, que têm interesse direto no processo.

"Quando se faz uma naturalização da regressão de direitos para a construção da autonomia coletiva, começamos a desproteger novamente, porque não há princípio de equivalência entre as partes", disse, durante o primeiro dia do julgamento no Supremo (quarta, dia 1º).

O secretário-geral da Intersindical, Edson Índio, destacou que a supressão do direito de pagamento pelas horas em deslocamento não teve nenhum tipo de contrapartida. Ele disse que a decisão do Supremo acompanha a posição das entidades patronais, que há muito tempo pressionavam para poder retirar direitos, o que culminou com a "reforma" de Temer.

"Foi um retrocesso, mas não esperávamos coisa diferente, já que as decisões de matérias que chegam ao STF geralmente têm sido ruins para os trabalhadores. Esse debate, inclusive, sobre pagamentos de horas gastas em itinerários a locais de difícil acesso, aconteceu durante a tramitação da reforma, isso já era previsto", lamentou.

Índio disse, ainda, que a decisão do Supremo é perigosa em pontos menos específicos. Por exemplo, quando é citado que os direitos trabalhistas podem ser negociados abaixo do que preveem as legislações, desde que um "patamar mínimo" de direitos seja respeitado. 

"Só pode haver negociação para melhorar o que já está conquistado. Negociar pra reduzir é que não pode. Não vamos, centrais e sindicatos, negociar abaixo do patamar que já temos. Isso inclusive vai contra o princípio constitucional do não retrocesso social", alertou.

Alerta para os trabalhadores

Para a juíza do trabalho, Valdete Souto Severo, que também é professora de direito do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o caso deve ser observado com atenção pelas entidades de classe. Ela lembra que a discussão nas instâncias superiores da Justiça só existiu por que o acordo coletivo previu que os trabalhadores não receberiam pelas horas que passam no transporte fornecido pela empresa.

"Nesse caso específico, a discussão não se relaciona com a questão do 'pactuado sobre o legislado'. O STF está tirando um direito previsto em lei, mas retirado em acordo. O que o Supremo está dizendo é que é possível um acordo coletivo retirar um direito previsto em lei", alerta.

A juíza chama atenção para o fato de que a legislação em vigor prevê requisitos mínimos para as relações de trabalho, e isso inclui, por exemplo, o tempo máximo de jornada de trabalho, a necessidade de salário mínimo e o oferecimento de condições de segurança. E alerta: cabe aos sindicatos negociarem para conquista de melhores condições para as categorias que representam – e não piores.

"Essa decisão é muito importante para ser refletida e discutida, pois mostra como o STF está se comportando perante alguns direitos que são reconhecidos como fundamentais. O problema é quando convenções e acordos retiram direitos, e cada vez retiram mais. O sindicato assinou um acordo", destaca.

Espaços em disputa

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o jurista Jorge Souto Maior vai na mesma linha, e afirma que a classe trabalhadora não deve aceitar argumentos econômicos de que "se a empresa não reduzir direitos, ela não vai conseguir se manter", em ambientes de negociação e reforça que as categorias devem se recusar a aceitar propostas que retirem conquistas anteriores.

A decisão do STF no caso da mineradora goiana, segundo Souto Maior, não "faz terra arrasada" nos direitos trabalhistas. O caso é muito específico e ainda há muitos espaços de disputa. "Não é uma situação simples, mas é absolutamente necessário que os sindicatos, as centrais sindicais e o movimento trabalhista como um todo deem uma resposta em outro sentido: não negociar nada que envolva redução de direitos. Essa contraposição política é que pode estabelecer mudanças positivas", pondera.

A mineradora goiana pertence ao grupo sul-africano AngloGold Ashanti, um dos maiores da área no mundo. A decisão tomada beneficia a gigante, e, por ser uma decisão específica, não tem impacto favorável a outras empresas, deste e de outro setor.

"Nesse caso é um benefício para esta empresa em detrimento de outras, que não conseguem o mesmo patamar de redução de benefícios. Quando os trabalhadores assinam um acordo de retirada de direitos, eles favorecem o grande capital", destaca Souto Maior.

"Só vai ser possível reverter esse cenário com uma atuação da classe trabalhadora como classe. O que interfere na vida dos petroleiros deve dizer respeito também aos metroviários. O que interessa aos metalúrgicos, interessa também aos bancários. Sempre que houver esse tipo de ameaça a uma categoria, as demais devem estar solidárias", completa.

Brasil de Fato: Rodrigo Durão Coelho.