quarta-feira, 24 de agosto de 2022

CIRO INSOSSO, FAZ ENTREVISTA SEM EMOÇÃO NO JN. POR FERNANDO BRITO

Parece que a influência do marqueteiro João Santana conseguiu domar o “pavio curto” de Ciro Gomes. Mas o resultado disso foi um Ciro “certinho”, mas insosso.

Expôs um programa de governo algo onírico, que pode encantar gente do famoso Reino da Quinta Essência que Rabelais descreveu como aquele em que se desenhava na água e media-se o salto das pulgas.

A ideia de que um presidente sem base parlamentar vá aprovar plebiscitos a torto e a direito, que dependem de aprovação congressual. E que, recordemos, significa uma renúncia de deputados e senadores a seu monopólio legislativo.

Disse que quer apenas 4 anos, sem reeleição, mas quer moldar o Brasil por três décadas. Quer um benefício de mil reais para dezenas de milhões de famílias, todas as que são pobres no Brasil, mas não fala de salário mínimo, Fala de transformar a educação brasileira numa das melhores do mundo, mas não fala como. Não menciona a saúde, não falou de habitação, não tocou – exceto por uma menção a um suposto sistema inglês – num de seus pontos fortes, o enfrentamento ao endividamento das famílias.

Mas foi, reconheça-se, uma entrevista programática, ainda que de um programa distante das aflições diárias das pessoas. Até ameaçou falar da fome, mas o fez sem emoção, uma imensa chance desperdiçada, como quem ali, no início do programa, é o mesmo que chutar sem força uma bola livre, na marcado pênalti.

Ajudou-o, com certeza, a pouca ou nenhuma disposição de William Bonner e Renata Vasconcelos em desconstruir uma candidatura que, até para seus próprios eleitores, é apenas uma “escala” para um voto em Lula no 2° turno. Simples: a demolição de Ciro ajudaria uma eleição de um turno só e uma vitória de Lula com muito mais força política.

É por isso que não se fez a pergunta óbvia: a de porque a 3a. Via, ele inclusive, não decolou e a população enxerga um Lula ou Bolsonaro como a escolha necessária.

Ciro ficou onde está, numa opção de 2° voto da esquerda, sem contato com o povão. Pode, no máximo, ter mais uma semana ou duas de soro, mas segue minguado, pouco sanguíneo, incapaz de despertar animação.

Tijolaço.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O CORAÇÃO DE D. PEDRO NO LUGAR DO QUE BOLSONARO NÃO TEM. POR FERNANDO BRITO

Na manhã desta segunda-feira, assistiremos o mórbido espetáculo da recepção, por Jair Bolsonaro, do coração de D. Pedro, trazido numa espécie de vidro de conserva desde a igreja da cidade do Porto, no que seria parte das nossas “comemorações” do bicentenário da Independência.

Não é necessário tratar da estupidez que é tratar assim de um personagem que a memória história deveria colocar num lugar melhor do que num vidro de azeitonas que é levado a atravessar o Atlântico para atender conveniências políticas, o que já lhe fizeram antes aos ossos, despejados num caixote para o fervor patriótico que a ditadura achou que deveria dar aos 150 anos do Ipiranga.

Melhor refletir sobre o fato de Jair Bolsonaro precisar buscar um coração já pálido dos quase dois séculos sem bater para que se simbolize nele o coração que lhe falta vibrar por este país.

É, porque alguém que leva a mão ao peito pelo hino, que saúda em continência a bandeira e que acha que verde-amarelo serve para afirmar a nação no que é possível, os jogos de futebol, não tem de fato o coração de que o Brasil precisa, aquele que se aperta ao ver irmãos com fome, gente tiritando de frio, crianças pelas quais a mãe nos pede comprar um doce, garotos lançados ao crime…

Presta-nos um coração que não se aperta diante de 680 mil mortes, diante das quais só empurra à boca um “e daí, eu não sou coveiro?”. Serve-nos um coração que, em suprema contradição à vida que simbolizaria, cultua a morte?

Talvez por isso Jair Bolsonaro tenha se empenhado tanto em trazer de volta ao Brasil, por alguns dias, o coração de Pedro I.

Se as normas de conservação o permitissem, levantaria com se fosse seu o troféu dourado que o contém como fez Emílio Médici com a Jules Rimet, em 1970, apossando-se das glórias alheias para simbolizar as que não tem.

Ou, neste caso, do coração que o atual presidente não tem, não só para bater pelo povo que porcamente governa mas, pior, nem mesmo pelo país que chega aos 200 anos de existência autônoma, ou declaradamente assim.

Jair Bolsonaro arruinou a festa do bicentenário de nossa independência como arruína tudo em que toca, ao transformá-la num festim mórbido e não no borbulhão de vida que há num povo resistente, sofrido, mas, ainda assim, decidido a defender seu direito – mais que isso, seu destino – a amar e ser feliz.

Laços fora, gritou Pedro; Fora Bolsonaro, grita o Brasil.

Tijolaço.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A SITUAÇÃO CONFORTÁVEL DE LULA NO DATAFOLHA, POR LUIS NASSIF

Em relação ao sexo, Lula vence entre os homens por 39 a 30 e entre as mulheres por 37 a 22.


Consulado Geral de Portugal

A última pesquisa do DataFolha traz uma situação relativamente folgada para Lula, em relação a Bolsonaro.

Vamos a alguns recortes. Em uma das tabelas, a pesquisa desdobra em diversos grupos. Por exemplo, junto à População Economicamente Ativa, Lula tem 10 pontos de vantagem. Mas junto aos assalariados com registro em carteira, apenas 6 pontos. Quando o assalariado não tem registro, a diferença aumenta para 19. Entre desempregados, a diferença vai para 26. Mas entre empresários, a diferença é de 27 em favor de Bolsonaro.

Esses dados mostram que a situação econômica dos entrevistados têm peso efetivo nas suas preferências.

No recorte por renda, Lula tem ampla vantagem entre os que ganham até 2 salários mínimos – 41 a 20. Empata com quem ganha entre 2 e 5 SM – 32 a 31. E perde pára quem ganha entre 5 e 10 SMs (30 a 42) e mais de 10 SMs (30 a 39).

Por região, vence em todas as regiões, com exceção do Norte – onde há empate técnico. Entre as religiões, perde entre evangélicos (26 a 37), mas vence entre católicos (42 a 23) e espíritas (45 a 25).

Ponto relevante é a pergunta sobre o segundo candidato em que o eleitor votaria. O primeiro lugar é de Ciro Gomes – justamente por ter baixa votação como primeiro candidato. Mas, depois dele, Lula tem 19 das preferências e Bolsonaro 14. O que significa que a saída dos demais concorrentes poderá acrescenter mais 5 pontos ao eleitorado de Lula.

A taxa de rejeição de Lula também é inferior à de Bolsonaro. No primeiro turno, 53% não votariam em hipótese alguma em Bolsonaro, contra 38% em Lula.

Na segmentação por sexo e por idade, Lula vence em todos os segmentos, com mais distância em quem tem ensino fundamental (46 a 20), e menos em que tem ensino superior (34 a 31).

Em relação ao sexo, Lula vence entre os homens por 39 a 30 e entre as mulheres por 37 a 22.

GGN.

sábado, 13 de agosto de 2022

A SUJEIRA MAL COMEÇOU, POR FERNANDO BRITO


 

O pedido de vistas – ou de adiar para “perder de vistas” – do ministro André Mendonça para o “pacote” de recursos com que Jair Bolsonaro e outros bolsonaristas acusados de fakenews, abusos funcionais e atos antidemocráticos é só uma desnecessária prova de que não há qualquer possibilidade de um “acordão” para tentar pacificar as relações entre Executivo e Legislativo até a realização de eleições.

Salvo se – e ainda há ministros que não se convenceram de que é exatamente assim – o Judiciário abdicar de seus poderes e aceitar ficar como tutelado, verdadeiro “puxadinho” do Palácio do Planalto, é impossível entendimento com que faz do crime político o seu método de atuação.

Pelo STF, nada mais acontece até o dois de outubro, e não só porque os seus terrivelmente submissos indicados – André Mendonça e Kássio Nunes Marques são figuras sobre as quais, se alguma dúvida pairar, não será a de sobre seu comportamento obediente aos interesses presidenciais.

O foco, agora, é o Tribunal Superior Eleitoral, onde não se vislumbra uma situação em que algum ministro, ao menos abertamente, preste-se ao papel de watch dog do Planalto e onde os ritos, ao tratar-se de campanha eleitoral, são muito mais sumários.

É por isso que não se deve esperar qualquer moderação do bolsonarismo, entulhando o TSE de reclamações contra a campanha de Lula, como forma de inibir que a oposição possa haver-se livremente na campanha e usando a recusa de providência em tal ou qual ação como justificativa a que não se aja em outra, muito maior e evidentemente transgressora.

A única forma de minimamente conter o avanço das agressões bolsonaristas é, portanto, que a campanha de Lula se inicie com muita prudência em relação às críticas – portanto ninguém se espante se ela começar com as história de progresso de pessoas e comunidades nos governos do petista, para poder ir logo testando a disposição do Tribunal em conceder “direito de resposta” aos ataques que, apesar dos pedidos dos marqueteiros, virão logo nos programas inaugurais de Bolsonaro.

A conversa de que Bolsonaro estaria pretendendo “paz nas eleições” é fiada e mal fiada, porque já vai começar com um teatro de comoção da tropa, revivendo o episodio da facada em Juiz de Fora.

Vai ser jogo bruto e sujo.

Tijolaço.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

ATOS DE ONTEM INVERTERAM A INICIATIVA POLÍTICA, POR FERNANDO BRITO

Terminadas os atos que marcaram a leitura da carta pela democracia, algumas impressões ficam nítidas.

A primeira delas é, sem dúvida, que foi um momento de reversão das iniciativas políticas, diferente das muitas outras manifestações antibolsonaristas que tivemos, até com mais gente na rua.

Até agora, seja com seu “pacote de bondades” eleitoreiras, seja na ameaça de um Sete de Setembro golpista, quem pautava a campanha era Bolsonaro.

A natureza política das manifestações de hoje foi diferente das outras mobilizações contra Bolsonaro e isso é fácil de se constatar pelo comportamento da grande mídia e dos agentes econômicos e organizações da sociedade civil, aderindo aos atos de maneira que jamais fizeram nos anteriores.

Bolsonaro fez a eles o que seus promotores não fizeram: atrelaram as manifestações à campanha de Lula e, se algo conseguiram com isso, foi mostra que a rejeição ao ex-presidente nas camadas médias da população é menor, muito menor, do que ao atual.

Importantíssimo para Lula, num momento em que Bolsonaro, com a chuva de “bondades” algum farelo consegue entre os mais pobres, ainda que o favoritismo do candidato petista siga sendo enorme entre eles.

O movimento provocado pela carta democrática, nenhuma dúvida há, mobilizou segmentos importante da classe média e gente que, para eles, é referência, como é o caso dos artistas e intelectuais, formadores de opinião. Não decidem eleição, é certo, mas ajudam a formar círculos concêntricos que, como uma pedra no lado, vão espalhando ondas. São superficiais, mas movimentos muito importantes se bem próximo das eleições.

São, também, uma “vacina” contra as mobilizações que os bolsonaristas preparam e dão a assinatura do que significam: se os de hoje são pela democracia, os de Sete de Setembro, ainda que iguais ou até maiores, serão contrários.

Vamos ver estas demonstrações de massa se multiplicarem nos atos de campanha, pela quebra do imobilismo que, devemos reconhecer – tem marcado uma boa parte do período pré-eleitoral.

E nós precisamos, por isso, estar prontos para mais e maiores atos, que sirvam para mostrar que atropelar a democracia não será fácil para os fascistas.

Tijolaço.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

“POSTO IPIRANGA” NA CAMPANHA DE 2018, GUEDES É ESCONDIDO POR BOLSONARO EM 2022

Se antes economista era tido como suposto solucionador de problemas, mandatário encerra ciclo com crise galopante.

Bolsonaro e Guedes tentam coagir o Congresso para liberar dinheiro desnecessário - Antonio Cruz/Agência Brasil.

Mencionado constantemente como nome de destaque na campanha eleitoral do então candidato Jair Bolsonaro (ex-PSL e hoje PL) em 2018, em que ficou conhecido pelo apelido de “Posto Ipiranga”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sido apagado das menções do chefe do Executivo em meio aos discursos e agendas que miram o pleito de outubro deste ano.

Chamou a atenção nesse cenário, por exemplo, a ausência de Guedes do palanque de Bolsonaro quando a chapa foi oficialmente lançada pelo PL, no último dia 24, no Rio de Janeiro (RJ). O ministro não compareceu ao evento, cujo palco foi marcado inclusive pela presença de lideranças do centrão.

Um levantamento feito pelo portal Poder 360 comparou o discurso do presidente no evento do PL deste ano com a retórica adotada quando Bolsonaro se lançou candidato ao Planalto em 2018. Guedes esteve entre os nomes mais citados há quatro anos, mas, em 2022, a predominância foi para figuras políticas como a deputada e ex-ministra da Agricultura de seu governo, Tereza Cristina (PP-MS), figura de peso na bancada ruralista, e para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes do centrão.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), não é possível separar o fracasso e o sumiço de Guedes da ascensão do centrão, grupo de direita liberal que é maioria no Congresso e controla o chamado “orçamento secreto”. A parlamentar entende que a musculatura política que o segmento adquiriu nos últimos anos ajudou a reduzir o poder e a influência do ministro da Economia junto ao presidente da República.  

“É um governo que está terceirizado nas mãos de um setor fisiológico que tenta manter o governo para continuar mandando, mas, objetivamente, a tendência é um processo de demonstração que se faz com políticas de pequeno fôlego, que não resolvem o problema da população, e o governo se desmoralizou.

O ministro perdeu prestígio em meio ao conjunto de problemas que hoje marcam o cenário socioeconômico nacional. Destacam-se principalmente os índices históricos de desemprego, o descontrole inflacionário, o crescimento da miséria entre as faixas de renda menos favorecidas e a volta do país ao chamado “Mapa da Fome”, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação da Agricultura (FAO). Diante de uma crise socioeconômica galopante, restou a Guedes a antipatia de distintos setores da economia.

Agenda

O ministro passou a incomodar também grupos neoliberais que esperavam uma agenda mais aprofundada do ponto de vista desse modelo econômico. Isso foi ampliando, aos poucos, o descrédito do mandatário junto a segmentos como o mercado financeiro, por exemplo.

Entre outras coisas, o então “Posto Ipiranga” de 2018 havia se comprometido a aprovar reformas de caráter estrutural, como a tributária, mas a pauta ainda não teve oxigênio suficiente para ir até o fim do trâmite legislativo e empacou no Congresso.

 “Guedes não é um ministro habilidoso politicamente. Ele não sabe lidar com aquele jogo do centrão, do Congresso Nacional. Ele não é um economista tecnicamente competente, mesmo admitidas as premissas neoliberais”,  observa professor Francisco Tavares, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que se dedica a temas como sociologia fiscal, entre outros.

O ministro também havia dito, em 2018, que venderia todas as estatais do país. No entanto, para a felicidade de opositores e segmentos da sociedade civil do campo progressista, o governo não conseguiu avançar na cartilha para além da privatização da Eletrobras, que foi finalizada em junho deste ano a uma bagatela de R$ 33,7 bilhões.

“Em que pese o fato de não terem ocorrido privatizações significativas, o Estado tampouco investiu. A taxa de investimento público no Brasil é uma das menores de todos os tempos da nossa República”, acrescenta Tavares.

O professor Frederico Gonzaga Jayme, da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também avalia o mau desempenho do governo em outros aspectos: “Do ponto de vista econômico, o Paulo Guedes não conseguiu entregar absolutamente nada em termos minimamente sociais. Do ponto de vista dos interesses do grande capital, teve a reforma da Previdência, por exemplo, mas não foi ele que entregou, e sim o Congresso”, lembra.

Francisco Tavares pontua que o ministro da Economia também não conseguiu entregar para o próprio Bolsonaro resultados provisórios eleitoralmente vantajosos e medidas de curto prazo que pudessem impulsionar o governo mesmo sob a manutenção do receituário neoliberal.

“Nesse sentido, já não há mais nenhuma vantagem pro Bolsonaro em se utilizar desse nome. Ele [o presidente] consegue conquistar o latifúndio improdutivo por si só, por exemplo, e não precisa de uma figura que é politicamente desastrada e tecnicamente incompetente”, avalia o professor da UFG.  

A jornada de Guedes no governo também foi marcada por episódios como a debandada ocorrida no ministério em outubro do ano passado, quando Bruno Funchal e Jeferson Bittencourt, então secretário especial do Tesouro e Orçamento e secretário do Tesouro Nacional, respectivamente, pediram exoneração dos cargos.

Pegaram o mesmo bonde a secretária-adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e ainda o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araújo, que também se demitiram. Apesar de os quatro terem alegado oficialmente motivações pessoais, a iniciativa foi associada à insatisfação do grupo com a má gestão fiscal do país. A questão já vinha sendo apontada nos bastidores como um dos principais pontos de descontentamento da equipe com a gestão.

O professor Frederico Gonzaga Jayme destaca o peso negativo que as políticas de Guedes tiveram no cenário nacional nos últimos tempos e qualifica a gestão como “desastrosa” em aspectos como inflação, políticas públicas e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

“Nada deu certo do ponto de vista econômico, então, nada mais razoável também do que o Bolsonaro deixar um pouco de lado nesta eleição o Paulo Guedes, que não deu o retorno esperado, porque, obviamente, um governo de extrema direita precisaria de algum retorno que desse um verniz de razoabilidade ao governo, mas nada disso aconteceu”.

Jayme faz ainda uma ligação entre o ofuscamento de Guedes e as políticas apontadas como eleitoreiras das quais a gestão tem lançado mão neste momento que antecede o pleito de outubro. É o caso do aumento das parcelas do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, da ampliação do valor do vale-gás e da criação de um benefício específico pra taxistas, todas elas válidas até o fim do ano.

“Com a popularidade muito baixa, é o momento de ele tentar fazer algum tipo de política de aumento do gasto público de uma maneira pouco comum na estrutura das regras vigentes, inclusive da Lei de Responsabilidade Fiscal, pra tentar reverter essa situação. Isso vai totalmente contra tudo o que propõe o Guedes, então, estrategicamente, é melhor que ele tente mantê-lo mais distante mesmo.”

B de F.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

BANCOS, INDÚSTRIA E SETORES DO AGRO SE AFASTAM DE BOLSONARO ANTES DA ELEIÇÃO

Empresários e entidades setoriais assinam manifestos contra golpe e são criticados por presidente, que se diz perseguido.

Bolsonaro perde apoio de parte da elite a dois meses do primeiro turno das eleições - Sergio Lima / AFP

Faltando menos de dois meses para a eleição, empresários ligados a bancos, à indústria e até ao agronegócio estão cada vez mais afastados politicamente de Jair Bolsonaro (PL). Após um desempenho ruim da área econômica do governo e de discursos golpistas do presidente, entidades patronais de diferentes setores assinaram cartas em favor da democracia e acabaram virando, inclusive,  alvo de críticas de Bolsonaro.

O distanciamento vem tomando forma há mais de dois meses, ainda antes do surgimento dos manifestos em defesa das eleições, mas já motivados por questões eleitorais.

Em junho, por exemplo, a Folha de S.Paulo noticiou que Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústria dos Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou a aliados que se sentia traído pelo presidente justamente por falta de apoio à sua candidatura ao Senado. Skaf foi aliado próximo de Bolsonaro e chegou a ser nomeado para o Conselho da República.

Já em julho, foi a vez do empresário do ramo do agronegócio Elusmar Maggi criticar Bolsonaro. Elusmar é sócio da Bom Futuro, irmão do empresário Eraí Maggi, conhecido como "rei da Soja", e primo do ex-ministro de Michel Temer (MDB), Blairo Maggi. Ele se posicionou após críticas de agricultores de Mato Grosso à uma aliança de candidatos ligados ao setor com o Partido dos Trabalhadores (PT) no estado.

"Que fria esse presidente [Bolsonaro]. Se esse ele fosse bom, ele teria dado uma verba como o PT deu para fazer armazéns", afirmou, em áudio reproduzido pela imprensa. “Esse presidente é muito ruim de serviço. Esse presidente motoqueiro, que não passa de um simples motoqueiro e que ainda dá mau exemplo para a nação.”

O agronegócio é um dos setores mais identificados com Bolsonaro e ao qual o presidente mais dá atenção. Segundo levantamento publicado pelo site Poder360, desde que lançou sua pré-candidatura à reeleição, em 27 de março, o presidente esteve 15 vezes com empresários do agro. Ao todo, nesse período, o presidente esteve com empresários de todos os setores 37 vezes – ou seja, quase metade do tempo dedicado ao agro.

Golpismo amplia distância

Também durante sua pré-campanha, Bolsonaro reforçou seus ataques às urnas eletrônicas e seu discurso contra instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF). As falas do presidente motivaram manifestos em favor da democracia. Entidades empresariais e empresários renomados aderiram a esses manifestos, contrariando Bolsonaro.

Ainda em julho, os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, os empresários Guilherme Leal, da Natura, Horácio Lafer Piva, da Klabin, assinaram um documento elaborado pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).

Hoje, esse manifesto já tem mais de 740 mil assinaturas.

Dias depois, foi a vez da própria Fiesp anunciar que estava elaborando a sua carta em favor da democracia. O documento ganhou a adesão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP), da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e das principais centrais sindicais.

Bolsonaro menosprezou a iniciativa. Primeiro, lembrou que o atual presidente da Fiesp, Josué Gomes, é filho de José Alencar, falecido vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje candidato à Presidência. Depois da adesão da Febraban, disse que o manifesto era uma reação dos bancos à uma perda de lucro por conta do lançamento do Pix durante seu governo. Essa perda nunca ocorreu.

Por conta da carta elaborada pela Fiesp, Bolsonaro cancelou uma visita à entidade à qual ele mesmo havia marcado para o dia 11. Nessa visita, ele se reuniria com empresários e seria convidado a assinar o manifesto da entidade, o qual ele critica.

Nova relação

Bolsonaro foi eleito com apoio do empresariado e seu esforço para a aprovação da Reforma da Previdência, por exemplo, foi bem-recebido pelos donos de empresas. Os bancos têm registrado lucros recordes neste governo e têm sido beneficiados por medidas de estímulo ao crédito proposta pelo governo, como a concessão de empréstimos consignados vinculados inclusive ao recém-criado Auxílio Brasil.

Segundo o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a relação entre os donos do capital e o governo nunca esteve tão ruim basicamente por dois motivos: primeiro, porque a economia, no geral, vai mal; segundo, porque eles sabem que qualquer tentativa de golpe pioraria ainda mais a situação.

"O empresariado percebeu que se trata de um governo desastroso. Não há interesse do empresariado em estar num país com um governo desastroso", explicou Couto. "Também não há interesse numa ruptura institucional."

Segundo Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma parte dos empresários, principalmente ligados ao setor industrial, parece estar mobilizado pela criação de uma política de desenvolvimento do país. O governo Bolsonaro não se movimentou para isso. Por isso – e pensando na sobrevivência de seus próprios negócios – eles parecem buscar um novo presidente.

"Um projeto de desenvolvimento para o Brasil que precisa ser um projeto que em primeiro lugar respeite a democracia", disse ela, analisando o movimento da Fiesp, por exemplo.

André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembrou que o empresariado tem interesses heterogêneos. Ele concorda que empresários se afastaram de Bolsonaro recentemente, mas disse que o presidente ainda tem apoio de setores do comércio, do agronegócio e do mercado de capitais.

"Muita gente está lá na Faria Lima que sentem que seu patrimônio melhorou", disse. "Eles ainda confiam no Bolsonaro e na agenda econômica que o ministro Paulo Guedes representa."

A última pesquisa sobre intenções de voto divulgada pela Quaest e financiada pelo Banco Genial, por exemplo, aponta que, entre as pessoas que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos (cerca de R$ 6 mil), Bolsonaro lidera a corrida presidencial e ganha cada vez mais votos. Em janeiro, ele tinha 27% das intenções. Neste mês, tem 45%.

B de F.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

DIRETOR DE ÁREA DA CAIXA LIGADA AO ESCÂNDALO DE ASSÉDIO É ENCONTRADO MORTO

Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco – FOTO DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO.

Nesta terça-feira (19), Sérgio Ricardo Faustino Batista, diretor de Controles Internos e Integridade da Caixa, foi encontrado morto no edifício-sede do banco, na região central de Brasília. Apurações preliminares indicam tratar-se de suicídio.

O corpo foi encontrado na área externa do prédio por vigilantes que estavam de plantão. A ocorrência foi registrada pela Polícia Civil do Distrito Federal. A tragédia chama atenção porque a diretoria de Sérgio Faustino Batista tem relação direta com o escândalo de assédio que envolve o banco. 

Desde 2019, mais de nove ofícios relatando episódios de assédio e de intimidação contra servidores que ocupam cargos de gestores foram enviados à direção da Caixa. Nada foi feito até o momento, segundo a entidade. O ex-presidente da instituição, Pedro Guimarães, caiu após a publicação das denúncias. Ele deixou o cargo em junho deste ano.

Transtornos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout seriam algumas das doenças desenvolvidas por funcionários em razão do suposto modelo de gestão adotado por algumas unidades da Caixa.

O diretor morto tinha 54 anos e seguiu no cargo mesmo após a mudança na presidência da Caixa. Ele assumiu o posto há pouco mais de seis meses. Funcionário de carreira, antes ele havia integrado a equipe que assessorava diretamente o gabinete de Pedro Guimarães.

DCM.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

BOLSONARO IGNORA TCU E FECHA CONTRATO SUSPEITO DE R$ 450 MILHÕES EM LICITAÇÃO

O presidente Jair Bolsonaro em foto divulgada nas redes sociais – Reprodução/Instagram.

A Secretaria Especial de Comunicação do governo de Jair Bolsonaro passou por cima de uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e fechou contrato de R$ 450 milhões em uma licitação que estava sob apuração da corte por suspeita de favorecimento à empresa vencedora.

O ministro Weder de Oliveira, relator do caso no TCU, havia pedido a suspensão da licitação em que a Calia/Y2 Propaganda e Marketing teve as melhores notas para realizar serviços de publicidade sobre ações do governo.

A medida cautelar para interromper o processo havia sido tomada por Oliveira no último dia 15 de junho para que os indícios de irregularidades fossem apurados pelo tribunal com maior profundidade e que eventuais danos ao processo fossem evitados.

Porém, no dia 21 seguinte, véspera da sessão plenária em que a decisão seria submetida para confirmação ou não pelos demais integrantes do tribunal, representantes da Secom solicitaram reunião de urgência no gabinete do ministro a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), na qual lhe foi informado que o contrato já havia sido firmado no dia 25 de maio.

Nestes casos, não é possível aplicar multa ao órgão por descumprimento da medida porque a finalização da licitação aconteceu quando o tribunal ainda estava analisando as informações recebidas para então decidir se manteria ou não a suspensão do processo. Na sessão plenária, o ministro se queixou da atitude do governo. Disse que a Secom se omitiu por quase um mês em dar essa informação ao TCU, deixando que a Selog (Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas), unidade encarregada da instrução processual do tribunal, concluísse sua instrução sem estas informações.

A Secom sabia desde o dia 9 de maio que o certame estava sendo questionado pelo tribunal, mas não forneceu este dado ao processo durante as oitivas do TCU. O ministro acrescentou que tal “conduta reprovável não é usual, mas não é a primeira vez que ocorre”. Ele disse que, em outras oportunidades, outros relatores do TCU já reportaram situações análogas.

DCM

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Movimentos e parlamentares buscam caminhos para evitar despejos em massa após as eleições

Remoções forçadas estão suspensas até 31 de outubro; alternativas ainda precisam ser elaboradas.

Gabriela Moncau Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

De acordo com a Campanha Despejo Zero, entre as pessoas ameaçadas de despejo no país, 97 mil são crianças e 95 mil idosos - Lucas Martins

Até 31 de outubro, de acordo com decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso formalizada na última quinta-feira (30), as remoções forçadas estão proibidas no Brasil. No documento, o magistrado argumentou que o país vive nova tendência de alta nos índices de mortes e contaminações da pandemia de covid-19. 

Comemorada como um fôlego diante do cenário de 569.540 de pessoas no país que, de acordo com a Campanha Despejo Zero, estão ameaçadas de perderem suas casas, ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que a decisão de Barroso se amparou, também, na intenção de evitar uma “convulsão social” num contexto de crise socioeconômica às vésperas das eleições. 

A prorrogação da suspensão das remoções forçadas ainda será julgada pelo conjunto do plenário do STF em audiência extraordinária, marcada para os dias 4 e 5 de agosto. A expectativa é que a maioria dos ministros acompanhem o voto do relator. 

Ainda que o façam, no entanto, fato é que a vigência da suspensão - tomada no âmbito da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 828 e prorrogada três vezes - em algum momento vai acabar.  

“Com a progressiva superação da crise sanitária, os limites da jurisdição deste relator se esgotarão”, alertou Barroso na decisão. “Por isso, será preciso estabelecer um regime de transição para a retomada da execução das decisões suspensas por esta ação”, aponta o ministro. 

Propostas legislativas e um calendário de ações conjuntas entre movimentos sociais rurais e urbanos estão sendo preparados para tentar evitar que, passado o pleito, 142.385 mil famílias percam o teto em um contexto de alta da fome e da população em situação de rua.  

"Transição" 

Irene Maestro, ativista do movimento Luta Popular, destaca que a transição mencionada por Barroso indica uma avaliação de que “um processo massivo de despejos pode levar a um acirramento dos conflitos sociais”.  

Além de iniciativas legislativas em âmbitos estaduais e municipais, no Congresso Nacional estão tramitando dois Projetos de Lei (PL) sobre o tema. O PL 1718/2022, do senador Paulo Paim (PT-RS) prevê a proibição das remoções até 31 de março de 2023. O PL 1501/2022, da deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), propõe procedimentos de permanência de famílias ameaçadas de despejo no território onde estão ou que entes da federação promovam políticas públicas para garantir, de forma alternativa, o direito à moradia.  

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está preparando um ato normativo com protocolos mínimos para a realização de despejos. Procurado pelo Brasil de Fato, o órgão informou que a resolução será levada ao plenário no segundo semestre e que entre as propostas está a implantação, nos tribunais, do Grupo de Apoio à Solução Pacífica das Ações de Reintegrações de Posse (Gaspar).  

Sinuca de bico 

“A nosso ver, o principal é a garantia da proteção do direito das famílias, evitando os despejos, as violações e uma situação de agravamento das condições de pobreza”, salienta Irene, ao complementar que é preciso que o poder executivo se responsabilize por políticas públicas que atendam essa demanda. 

“Acontece que os poderes públicos municipais geralmente não têm políticas específicas que não estejam apoiadas em políticas estruturadas a nível federal. Mas durante o governo federal foi desconstruída a já insuficiente, problemática e contraditória política habitacional que existia nos governos anteriores”, afirma. “A realidade é que tem mesmo uma sinuca de bico para a construção de alternativas”, resume. 

“O fato é que as ocupações têm sido a construção dessa solução. São a retomada das terras que estão a serviço da especulação ou de grandes latifundiários rurais ou urbanos para construir bairros onde as pessoas tenham garantidas condições de vida dignas”, define Irene Maestro. 

Luta contra o tempo 

De acordo com Kelli Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um calendário de lutas está sendo organizado. “O 25 de julho é uma data importante do trabalhador e trabalhadora rural, vamos fazer ações de solidariedade contra a fome, e além disso estamos em alerta sobre o 7 de setembro”, ilustra Maffort. Em sua visão, a data deve ser “para discutir um projeto de país e também o que significam os 200 anos desta suposta independência. É importante que a gente esteja alerta em relação às ameaças de golpe que estão em torno dessa data”. 

Lembrando das milhares de pessoas que foram às ruas em dezenas de cidades pelo despejo zero nos dias 17 de março e 21 de junho deste ano, Irene defende a importância de, até outubro, potencializar a unidade já construída entre os movimentos.  

“É uma base social muito precarizada, espoliada, que é quem mais sofre não só os impactos da pandemia em si, mas da crise econômica que se agravou nos últimos anos”, descreve Maestro. “E que tem um potencial explosivo para fazer ações inclusive mais radicalizadas para botar no centro do debate público o problema da moradia, que é brutal e histórico no nosso país”. 

BdeF: Thalita Pires.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Bolsonaro não quer clube de tiro virando biblioteca; prefere biblioteca da bala, por Fernando Brito

Na sua live de hoje, vangloriando-se de termos já quase um milhão de atiradores licenciados, com um crescimento de 72% no número de lojas de armas e de 90% no de clubes de tiro, Jair Bolsonaro criticou Lula porque este iria fazer com que estes fossem ser transformados em bibliotecas.

É uma boa ideia, presidente, porque conhecimento e ideias são armas muito mais eficientes do que pistolas e fuzis.

Mas hoje, dia destas declarações, parece que isso é um revanchismo, um desagravo à ofensa que seu governo e os asseclas que colaboram com ele fazem de ofensa às bibliotecas brasileiras e justamente com a mais importante delas, a Biblioteca Nacional, cuja direção acaba de conceder ao brucutu Daniel Silveira, aquele condenado pelo Supremo Tribunal Federal indultado por Bolsonaro, a Ordem do Mérito do Livro, segundo nos conta Mônica Bergamo, na Folha.

Ouvido pela coluna, sequer soube dizer o nome da instituição: “”É uma honraria muito grande porque é em homenagem aos 200 anos da… ”

200 anos são da Independência, porque a Biblioteca é obra anterior, de D. João VI.

Brucutus não amam os livros, queimam-nos, em fogueiras e censuras, porque acham perigosos e tóxicos os seus conteúdos, as ideias. Este mesmo aí, que vai ganhar a medalha, invadiu o Colégio Petro II para vistoriar, como quem dá “uma dura” o que se ensinava nos livros de lá. Foi posto a correr, embora com seu corpanzil, por franzinos meninos e meninas que mereciam mil vezes mais aquela comenda.

Tijolaço.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

PESQUISA DATAFOLHA DE HOJE LULA VENCERIA A ELEIÇÃO NO PRIMEIRO TURNO

Se as eleições fossem realizadas hoje, ex-presidente teria 47% contra 41% de seus adversários somados.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada hoje (23), Lula tem 47% contra 28% de Bolsonaro - Agência Brasil

O Instituto Datafolha divulgou no final da tarde desta quinta-feira (23) a mais recente pesquisa sobre a corrida presidencial de 2022, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencendo no primeiro turno caso a eleição fosse realizada hoje.

Feito por meio de abordagem pessoal, o levantamento contou com 2.556 entrevistas realizadas nos dias 22 e 23 de junho, e é a primeira sondagem divulgada após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Segundo o Datafolha, Lula tem 47% das intenções de voto, contra 28% do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida aparecem o candidato do PDT, Ciro Gomes, com 8%, e André Janones (Avante), com 2%. Simone Tebet (MDB), Pablo Marçal (Pros) e Vera Lúcia (PSTU) têm 1% cada. Os demais candidatos não chegaram a 1%. Votos brancos e nulos somam 7% e não souberam ou não quiseram opinar 4% dos entrevistados.

Na pesquisa espontânea, Lula tem 37%; Bolsonaro, 25%, e Ciro aparece com 3%. Todos os demais somam 3%.

O Datafolha de hoje e o de maio

Esta é a terceira pesquisa Datafolha divulgada em 2022. No último levantamento, publicado em maio deste ano, Lula tinha 48% de intenções de voto, contra 40% dos seus adversários somados, já indicando àquela altura a possibilidade de vitória no primeiro turno. Bolsonaro tinha 27% .

A pesquisa presidencial de maio foi a primeira divulgada pelo instituto após as desistências de Sergio Moro e João Doria. Segundo aquela sondagem, Lula tinha uma expressiva votação entre eleitores de 16 a 24 anos, chegando a 58%. Já Bolsonaro aparecia com percentual maior na região Centro-Oeste, onde alcançava 42%.

O levantamento do Datafolha divulgado nesta quinta (23) foi registrado no TSE com o número BR-09088/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

BdeF.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

UM GOVERNO EM CHAMAS PODE QUEIMAR O PAÍS. POR FERNANDO BRITO

Dão os jornais que, neste momento, há uma reunião de emergência no Palácio do Planalto para discutir a “comunicaço” da camapana de Jair Bolsonaro. Nela, além do próprio, estão os filhos Flávio e Eduardo, o ministro Ciro Nogueira e o virtual candidato a vice, general Braga Netto.

Será que alguém acredita que a reação de Bolsonaro à prisão de Mílton Ribeiro será, como se diz na mídia, só um “isso prova que a Polícia Federal é independente?”.

É evidente que não e está se acertando ali uma ofensiva, para que as más notícias que esperam o presidente em matéria de pesquisas eleitorais não prevaleçam no noticiário político.

E, provavelmente, não será a CPI da Petrobras, até porque se o Centrão quisesse, o pedido não teria, depois de três dias, apenas 132 assinaturas. Antes de assinar – e se a CPI permanecer como desejo de Bolsonaro – o Centrão quer uma mudança que mude a lei das estatais para abocanhar cargos no fim de governo.

Bolsonaro, a esta hora, está é cuidando de providenciar mais do mesmo: a distribuição de dinheiro através de “vale”-tudo, se necessário com uma decretação de estado de calamidade para driblar a lei eleitoral.

Projeto em que seu maior temor é que seja detido no Supremo, pela evidente intenção de burla que contém.

Temos um governo em liquidação e, com ele, um país que entra em liquidação.

Não é só a cara do governo que está queimando, é o país que crepita, por toda a parte, à beira de uma catástrofe ainda maior.

Tijolaço.

terça-feira, 21 de junho de 2022

REFINARIA NA BAHIA MOSTRA QUE, COM PRIVATIZAÇÃO, COMBUSTÍVEL É MAIS CARO. POR FERNANDO BRITO

O Estadão publica um ranking do preço médio apurado pela Agência Nacional de Petróleo, medido na semana passada e , portanto, antes da entrada em vigor do último reajuste da Petrobras.

E a Bahia é o estado com maior preço – R$ 8,037 – por uma razão muito simples, que o jornal não menciona.

É que a maior parte do combustível vendido nos postos baianos vem da Refinaria Landulpho Alves, em Mataripe, a 60 km de Salvador.

A refinaria, a primeira construída do Brasil, agora é privada, vendida a um fundo de investimentos de Dubai, nos Emirados Árabes, pertencente à Mubadala Investment Company.

E cobra mais caro que a base de distribuição da Petrobras em Pernambuco, a unidade mais próxima onde se poderia, alternativamente, comprar o combustível.

O preço do diesel na Acelen, quando o cobrado pela Petrobras passou para R$ 5,61 na refinaria, subiu para R$ 6,11, quase 9% mais caro.

Este discurso sempre usado – e repetido pelo Ministro de Minas e energia, hoje, na Câmara, que a “competição” baixa os preços é uma história para boi dormir, porque o frete e a própria logística de poucos pontos de venda – como são as refinarias – não pode funcionar.

Seria, além de irracional, inviável abastecer a Bahia apenas com derivados vindos de São Paulo ou do Paraná.

Tijolaço.

sábado, 18 de junho de 2022

A CRISE NÃO SÃO SÓ OS 20 CENTAVOS DA GASOLINA. POR FERNANDO BRITO

É claro que a “desgovernança corporativa” do governo e da Petrobras é responsável por boa parte do desastroso comportamento do mercado financeiro nesta sexta-feira, na qual a Bovespa perdeu os 100 ,mil pontos dos quais não baixava desde o início de novembro do ano passado e o dólar subir a R$ 5,15.

Mas não é só o acréscimo de R$ 0,20 no preço do litro da gasolina ou o de R$ 0,70 no do diesel e nem mesmo a reação enlouquecida de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira e Arthur Lira que criaram o “sextou” de caos no mundo da grana.

A coleção de más notícias é vasta e envolve inflação e recessão ameaçando em escala global.

O índice da inflação registrado na Zona do Euro – 8,1%, em 12 meses – é recorde desde a criação da União Europeia, os norte-americanos falam abertamente em recessão, como nesta matéria de hoje do NY Times. Quem, ainda assim, achar que os pobres não importam, vá ver o que acontece com as ações da Tesla, do badaladíssimo Elon Musk.

Quando eles caem, nós, que vivemos de vender-lhes produtos primários, caímos também, porque nos conformamos a não ter dinâmica econômica própria, o que, claro, não é deixar de ter visão global.

O preço do minério de ferro, um de nossos mais fortes itens de exportação caiu mais de 5% na China, em razão das expectativas de menor crescimento do país, arrastando aqui as ações da Vale para uma queda igual.

A expectativa de recessão se espalha, com inflação e juros altos empurrando para baixo as expectativas do comércio. Por aqui, empresas do varejo, físico e eletrônico, perderam cerca de um terço do seu valor de mercado.

Cresce a apreensão de que a economia global esteja caminhando para um recessão desastrosa e, desta vez, o Brasil não tem o colchão do consumo interno para amenizar seus efeitos.

A solução primária tem sido sangrar os orçamentos públicos, abrindo mão de receitas e lançando perigosamente os recursos que poderiam estar sendo dirigidos a programas de retomada de investimentos no ralo de subsídios e, pior, subsídios de natureza eleitoral.

É como se estivéssemos transformando as contas públicas num lamaçal e isso nos impedisse de ter onde nos apoiarmos para reerguer o país. Até o Supremo, pelas mãos bolsonaristas de André Mendonça, lança-se a contribuir para isso, invertendo a lógica jurídica tradicional de travar tudo o que oferece perigo à arrecadação pública até que se esclareçam as razões, para mandar cessar impostos que podem montar a quantias que arruínem a prestação de serviços essenciais.

Agem como se o mundo fosse acabar nas eleições de outubro, enquanto o que periga acabar, sim, é a era de desgoverno do país.

Embora seja evidente, é preciso dizer que não estamos falando de pequenos expedientes eleitorais, mas de medidas que vão deixar o país arruinado em larga escala.

Tijolaço.