Roberto
Jefferson, agora preso por liberar os seus instintos mais primitivos contra as
instituições republicanas, já foi alguns anos atrás, glorificado por sua
propaganda do ódio, quando isto interessava à mídia e ao restante da elite
brasileira.
A
selvageria que marca nossos dias, por vezes, é pouco percebida e deixa muita
gente passar distraída diante deste processo descivilizatório que
assola o Brasil.
Por
vezes penso que enfrentamos talibãs de um deus católico, gente que saiu
da nulidade para a proclamação de verdades absolutas, aquela que condena à
morte todos os que não mugem no mesmo diapasão.
Estes
são “comunistas”, “esquerdopatas”, destruidores das famílias, abortistas, isso
quando não são gays ou drogados, na estúpida retórica do motoqueiro
Jefferson, que se nomeia de Bob Jeff Road King, “cristão, conservador e
nacionalista”.
E
tome de vídeos com rifles, pistolas, tacos de beisebol e chicotes para “dar uma
surra nos satanazes“.
Enquanto
nos ocupamos disso, vão se enfiando, a toque de caixa, mudanças terríveis nas
leis trabalhistas, nos direitos sociais e na tributação dos dinheiros e
empresas grandes; grassa a fome, vendem-se irresponsavelmente a Eletrobras e os
Correios e até o Palácio Capanema, sede histórica do Ministério da Educação e
marco da materialização dos sonhos de que este viesse a ser o país que
acreditava em novas ideias.
Abro aqui um
parêntesis de quem, nos dias de calor infernal no Rio, aliviou-se no ar marinho
que os dois andares de pilotis deixavam circular entre a Avenida Graça Aranha e
a Igreja de Santa Luzia, aquela que dava luz aos cegos que não veem que não se
pode vender nossa história. Ali, onde tomou forma concreta a aspiração de
intelectuais, arquitetos, pintores, escultores e outros artistas fizeram seu
trabalho abertos aos passantes na correria da cidade. Gustavo Capanema, maestro
desta reunião, era um conservador, mas não era um primitivo.
Mas
há que considerar que Roberto Jefferson foi, de alguma forma, um profeta,
infelizmente, destes tempos demoníacos.
Quem
mais primitivo que Jair Bolsonaro poderíamos imaginar poucos anos atrás?
Não
se iludam com a aparente reação da Justiça para impedir o regresso do Brasil ao
passado.
A
luta é política e todos os sinais são de que ela será terrível. As convocações
das manifestações bolsonaristas para o Sete de Setembro são as mais terríveis
que se possam imaginar e há indícios de que setores do agronegócio está
disposto a financiar a concentração de caminhões diante do Congresso,
misturados a veículos das Forças Armadas.
Não
há terceira via entre civilização e barbárie. Nem a luta entre elas tem
resultado previamente determinado.
Afinal,
instintos precedem à razão e é preciso que a razão prevaleça apelando também a
outro instinto, o mais primitivo de todos, o da sobrevivência.
O
da sobrevivência de um povo que está, além da Covid, morrendo de fome,
inclusive a de sonhos.
Tijolaço.
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