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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Maranhense completa 110 anos de vida

Morador do bairro Santa Cruz completa 110 anos com muitas histórias para contar e saúde para comemorar. Nesta quinta-feira, desejamos vida longa a seu Petronílio Antônio Campos
 Você consegue imaginar São Luís há 100 anos? As poucas ruas, o centro comercial, basicamente na Praia Grande, os meios de transportes, feitos em cavalos, burros, jumentos, e por bondes. As notícias, que saíam através dos rádios e das páginas dos jornais impressos. Televisão? O que seria isso? Ela só viria a surgir em meados de da década de 30 do século 20 e ainda em preto e branco. O horror da 2ª guerra mundial, o primeiro título brasileiro de campeão mundial da copa do mundo. Tudo isso parece tão distante, e com certeza, para alguns, só é possível conhecer com informações através de pesquisas... na internet.

Mas em São Luís, bem na rua 17 de Agosto, no bairro Santa Cruz, um senhor, de estatura mediana, que aparenta pelo menos uns 85 anos, sentando na entrada de sua casa, relembra todos estes episódio e conta tudo, com clareza de detalhes. Seu Petronílio Antônio Campos, que hoje completa, 110 anos vivenciou toda esta história e faz parte da evolução pela qual passou a humanidade nos últimos 110 anos.

“Eu nasci em Viana no dia 31 de maio de 1902. Casei duas vezes. Fiquei casado com minha primeira esposa por dois anos, até que nos separamos”. A separação se deu por conta da imposição da família da esposa. A sogra não suportava seu Petronílio e fez de tudo para acabar com o casamento. “Eu sofri muito com a separação. Até porque na minha família nunca tinha acontecido essa coisa de separação”, lembra em tom triste. Por conta do casamento desfeito, o então jovem Petronílio decidiu sair de Viana e não mais voltar. “Eu tinha muita vergonha do que aconteceu e por isso decidi sair de lá e não voltar”, conta. Naquele tempo, separação não era uma coisa muito bem vista.

Do segundo casamento, 11 anos depois do primeiro, vieram os três filhos que estão vivos ainda hoje (eram quatro, mas uma das filhas morreu), o mais velho está com 67 anos. A amada esposa viveu com ele por longos 59 anos e há apenas 14 dias de completar o sexagésimo ano de casamento, a ela veio a falecer, então com 82 anos. “Está com nove anos que minha esposa morreu. Mas até hoje eu sinto falta dela. A minha cama é enorme e de vez em quando acordo passando a mão do lado que ela dormia”, relata com lágrima nos olhos.

Os três filhos deram 11 netos e 16 bisnetos. Um deles, o neto Nielson Douglas, 26 anos, mora hoje com o avô e a tia, Doralice, 39 anos, que foi adotada por Petronílio quando tinha apenas quatro meses de idade. Dividem a casa ainda a cuidadora de Petronílio e os dois gatos da família.
A cabeça do idoso é uma enciclopédia. Apesar da idade, está muito lúcido e é muito querido pelo bairro. Dona Rosa Muniz, costureira que é vizinha da família há 16 anos, é só elogios para o senhor. “Nossa, seu Petronílio é muito ativo, conversador e muito gentil. Sempre fala com todos. Dá bom dia, boa tarde, boa noite. Puxa conversa com todo mundo e aqui, todo mundo tem cuidado com ele”, esclarece.

Quando sai de casa para ir à igreja – ele freqüenta a Igreja Nossa Senhora da Consolação e faz parte do “Terço dos Homens”, que se reúne uma vez por semana para fazer orações --, seu Petronílio fala com todo mundo. E os gestos de gentileza são recíprocos, porque todos o respeitam.


Só mangue e mato

Seu Petronílio ainda lembra quando desembarcou no porto da Praia Grande, vindo do interior do Maranhão. “Foram seis dia viagem de barco. Naquele tempo não tinha ônibus, as viagens eram feitas ou de trem, ou de barco”. Ele veio com a família após passar uma temporada em Pindaré trabalhando em uma fábrica de pilar arroz. “Trabalhei lá um mês. O patrão não cumpriu com o que prometeu e eu resolvi sair de lá. Acabei vindo para cá”, diz.

Quando chegou na capital maranhense, o centro comercial era a Praia Grande. “Naquele tempo a São Luís só era cidade do Canto da Fabril pra lá. O resto tudo era lama, mangue e mato. Aqui só se andava ou de cavalo, burro, jumento ou a pé” rememora. Das lembranças daquele tempo, ele ainda guarda uma bacia de alumínio, comprado no “armazém J. Braga, na Praia Grande. A bacia foi para minha filha tomar banho”, diz. A relíquia que guarda as marcas do tempo, assim como seu dono, tem 61 anos.

Fonte: O Imparcial