Apesar
das diferenças teóricas, os três autores compartilham da ideia de que a
educação é uma instituição social central no desenvolvimento da sociedade.
Entre
os três pensadores citados, Émile Durkheim (2009) foi o único a produzir uma
teoria própria para a educação. A sua teoria se desenvolve ao afirmar que a
educação é um fato social específico, com natureza própria, e que, por conta
disso, deve ser objeto de uma especificação da sociologia: a sociologia da
educação. Para Durkheim, as práticas educativas não devem ser entendidas como
isoladas de outras práticas sociais, sendo que elas se relacionam como um todo,
integrando-se para um fim comum. Tal fim comum em que a educação se insere,
como desenvolve o autor, está fortemente ligado ao que é comum à coletividade e
a manutenção da estrutura social. Na constituição desse campo de pesquisa,
principal contribuição de Durkheim, a educação deve ainda ser vista como uma
instituição, onde existem regras socialmente partilhadas, recompensas e
castigos, deveres e direitos, considerando ainda que existem pessoas que se
beneficiam dessas regras (TURA, 2004).
Seguindo
pelo pensamento durkheimiano, a ação exercida por um professor ou um sistema
escolar sobre as gerações que ainda estão se formando tem por objetivo suscitar
e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial
ao qual a criança, particularmente, se destina a ocupar (DURKHEIM, 2009). Seria
então a educação a responsável por incutir os valores morais da sociedade e a
responsável pela distribuição dos indivíduos no campo de trabalho segundo a
necessidade dessa mesma sociedade, segundo escreve Félix Ortega (1999). Em
tempo, vale destacar aqui, que os professores ou os pais não podem, segundo o
pensamento de Durkheim, educar os seus filhos da maneira que quiserem, mas, por
outro lado, devem apoiar a iniciativa pública da educação estatal em formar
indivíduos de acordo os interesses da sociedade.
Max
Weber, por outro lado, não produziu uma teoria sociológica específica sobre a
educação. O pensamento sociológico do autor, de modo geral, parte do princípio
de que a realidade é infinita e inesgotável e que, portanto, só é possível
analisa-la a partir de ‘tipos ideais’ que tentam se aproximar da realidade.
Para a educação, seu pensamento é identificado por seus leitores ao estudo de
como as burocracias do Estado capitalista e da sociologia das religiões agem no
sentido inculcação e legitimação de tipos de conduta para a manutenção de
determinada estrutura social. Nesse sentido, a questão central na análise da
função social da educação é que os bens educacionais existem para uns e são
negados a outros, ou ainda de que os bens educacionais existem em formas
diferentes para grupos sociais de status diferentes (WEBER, 1971). É possível
também encontrar em sua sociologia uma perspectiva de defesa da meritocracia,
pois segundo o autor, a educação é um fator de estratificação social,
contribuindo para uma seleção social que acontece de uma forma permanente na
sociedade (VILELA, 2004).
Conforme
escreve Félix Ortega (2009), para Weber, a educação pode ser de três tipos: a carismática,
orientada para despertar a capacidade considerada um dom puramente pessoal; a
formativa, orientada para cultivar um determinado modo de vida que admita
atitudes e comportamentos particulares; e a especializada, orientada a instruir
o aluno em conhecimentos, em saberes concretos, necessários principalmente para
o exercício de papéis sociais específicos nas sociedades racionalizadas.
Podemos apontar ainda alguns temas que foram abertos para o estudo dentro da
sociologia da educação como contribuição para a área de pesquisa, por exemplo,
o tratamento da escola como aparato da manutenção da estrutura social ou o
valor social dos diferentes tipos de diplomas e de culturas escolares ou o
estudo dos sistemas escolares como sistemas de dominação (VILELA, 2004).
A
teoria sociológica de Karl Marx, segundo escreve Gadotti (1984), baseia-se na
ideia do conflito entre as classes, isto é, nas relações de poder presentes
entre tais classes sociais. Para o filósofo Leandro Konder (2004), embora a
escola seja uma instituição originalmente conservadora, o pensamento de Marx
aponta a educação como a base de inculcação de valores com o propósito de mudar
a sociedade no sentido de torna-la mais justa socialmente.
A
educação é considerada por Karl Marx como parte da superestrutura que conserva
o ordenamento social. Nesse sentido, conforme escreve Gadotti (1984), a
educação, como uma das formas de socialização (como também é a família ou a
igreja) continua a levar para as novas gerações as ideias e os valores da
classe dominante como se fossem únicos. A classe dominante, por meio do
controle material e da divulgação de suas ideias, torna o seu modo de vida a
forma dominante, ao mesmo tempo em que encobre outras possibilidades de
estruturação da sociedade, se tornando também dominante espiritualmente. Tal
concepção é conceituada por Marx e Engels como Ideologia (MARX; ENGELS, 1994) e
se reflete na escola de forma a manter o pensamento e o modus vivendi da classe
dominadora de, ao menos, duas maneiras: o professor, se for um agente que não
pensa as suas práticas, termina por disseminar as ideias e valores aos quais
esteve submetido enquanto aluno; uma verdadeira divisão do trabalho é realizada
pela diferenciação da educação empregada para as diferentes classes, isto é,
educação intelectual para as classes dirigentes e educação técnica para as
classes economicamente mais baixas, causando o que os pensadores chamaram de
alienação.
Como
saída desse modelo de educação dual e alienadora, as teorias educacionais
baseadas no pensamento original de Marx afirmam que a escola pública deve
preparar o homem para a emancipação e libertação (práxis libertadora) por meio
de uma educação intelectual, ligada a instrução tecnológica, ou seja, uma
educação unitária, completa, capaz de fazer o indivíduo compreender todo
funcionamento do sistema (MARX, 1978). Esse ideário resume a grande
contribuição para o campo da educação, quando educadores ligados a teorias
progressistas, socialistas e construtivistas afirmam qual é o papel da educação
quanto à sociedade e o indivíduo: fazer os indivíduos perceberem que são
construtores da própria história e da história de sua sociedade. Trata-se de
estimular o inconformismo, a inquietação, incentivar o desenvolvimento da
capacidade questionadora e a disposição crítica, trata-se de desenvolver no
indivíduo uma perspectiva de busca por melhores condições de vida para si e
para a sua sociedade.
Apesar
das diferenças teóricas, os três autores compartilham da ideia de que a
educação é uma instituição social central no desenvolvimento da sociedade,
havendo a necessidade de diálogo com outras instituições nacionais, como a
cultura, a economia e a política, quer para entender como está estruturada a
sociedade, quer para propor qualquer mudança para o seu futuro.
Durkheim,
E. (2009). Educação e Sociologia. Lisboa: Edições 70.
GADOTTI,
Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 3ª
ed. São Paulo: Cortez, 1984.
KONDER,
Leandro (2004). Marx e a sociologia da educação.
MARX,
K. (1978). Crítica da Educação e do Ensino. Lisboa: Moraes.]
MARX,
Karl, ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 11. ed. São Paulo:
Hucitec, 1994.
ORTEGA,
F. (1999). “La educación como forma de dominación: una interpretación de la
sociologia de la educación durkheimiana” in M. F. Enguita, Sociologia de la
Educación. Barcelona: Ariel.
TURA,
Maria de Lourdes (2004). Durkheim e a educação.
VILELA,
Rita Amélia (2004). Max Weber 1864 – 1920: Entender o homem e desvelar o
sentido da ação social. IN: TURA, Maria de Lourdes et. al (2004). Sociologia
para educadores. Rio de Janeiro. Ed. Quartet.
WEBER,
M. (1971). Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar.
Do
GGN