Entre Lula e Temer há um abismo de 25 séculos. Michel Temer e Lula são
homens muito diferentes, analisa *Fábio de Oliveira Ribeiro. As diferenças
entre eles ficam ainda mais claras quando examinamos as ações de ambos diante da
Justiça.
Antevendo que poderia ser devorado pela Lava Jato, Michel Temer se
aproximou da Embaixada dos EUA, se apropriou do programa de governo de Aécio
Neves apoiado pela imprensa e ajudou Eduardo Cunha a se tornar presidente da
Câmara dos Deputados. Quando se sentiu seguro e percebeu a fragilidade de Dilma
Rousseff ele colou o golpe na rua subscrevendo e vazando a cartinha lamuriosa
em que se dizia alijado do poder.
Desde que chegou a presidência, Michel Temer tem se esforçado bastante
para ficar impune. Quando não está distribuindo dinheiro para imprensa ou
nomeando alguém para evitar uma delação indesejada, o usurpador costura nos
bastidores a aprovação da Lei de Anistia aos crimes que cometeu.
Temer não é apenas um criminoso. Se fosse, ele aceitaria as
consequencias de seus atos. Pois no fundo, todo criminoso quer ser pego (como
demonstrou com brilhantismo Fiódor Dostoiévski em seu romance Crime e Castigo).
O usurpador age como se fosse um psicopata frio e calculista que acredita ser
uma fonte privilegiada de legalidade. Vem daí sua rejeição absoluta à qualquer
punição aos atos criminosos que praticou.
Ao escolher o novo Ministro do STF, Michel Temer não pensou nas
necessidades do Brasil. Ele pensou apenas no seu próprio desejo de ficar
impune. Isto explica porque o usurpador nomeou um advogado ligado à tudo que há
de pior na política brasileira.
A única vez em que Michel Temer vacilou (em decorrência do que
poderíamos chamar vagamente de consciência atormentada pela culpa) foi quando
ele retornou ao Palácio do Jaburu. Como Raskólnikov, o usurpador também voltou
ao lugar onde executou seu maior crime (o golpe de estado que garantiria sua
impunidade). Michel Temer se afastou do Palácio do Planalto, como se não
quisesse estar ligado à sede da presidência, cargo que ele obteve de maneira
criminosa. O personagem de Crime e Castigo escondeu os objetos de valor que
roubou para não fornecer prova da autoria do crime à polícia.
No outro extremo do espectro político, vemos Lula confrontando a Justiça
não com artimanhas e sim mediante a invocação da Lei que os juízes já
demonstraram que não irão aplicar no caso dele. Por decisão judicial, Lula foi
impedido de ser Ministro de Dilma Rousseff. Em situação muito pior, Moreira
Franco foi autorizado a ser Ministro de Temer pelo mesmo Tribunal.
Lula tem um patrimônio modesto e, apesar das evidencias, continua sendo
ferozmente perseguido por causa das convicções de Dellagnol e Moro. A prova
documental contra Michel Temer (o cheque nominal de um milhão de reais que ele
recebeu de propina) sequer resultou em processo criminal. Perseguido pela
Justiça, Lula recorreu ao Tribunal de Direitos Humanos da ONU, provocando
intensa animosidade da imprensa e dos juízes brasileiros. Inocentado pelos seus
“amigos” no MPF e no Judiciário (Gilmar Mendes entre os tais), Michel Temer
segue em frente impondo reformas criminosas para prejudicar os eleitores que
rejeitaram o programa de governo que ele coloca em prática para beneficiar os
banqueiros.
O ex-presidente petista já se apresentou como candidato em 2018. Antes
das eleições ele será condenado e preso. Foi isto que antecipou a esposa de
Sérgio Moro à imprensa. O ilegal pré-julgamento de Lula é um fato jornalístico
consumado, mas não produzirá o efeito jurídico necessário. O juiz Sérgio Moro
não será afastado do caso. A nulidade que ele cometer não será judicialmente
reconhecida. O próprio TRT-4 já disse em duas oportunidades que a Lava Jato é
um processo excepcional não sujeito à aplicação da Lei.
Raskólnikov se vangloria de ser capaz de cometer um crime perfeito sem
deixar vestígios, mas acaba sendo derrotado pela consciência da culpa.
“Xenofonte afirma que Sócrates queria ser condenado, e fez o que pode no
sentido de hostilizar o júri.” (O julgamento de Sócrates, I.F. Stone, Companhia
de Bolso, São Paulo, 2005, p. 217).
Michel Temer é um criminoso que conseguiu domesticar a Justiça ao dar
aos juízes o que eles queriam (o aumento salarial vetado por Dilma Rousseff),
mas não suportou ficar na posse do Palácio que roubou da presidenta eleita pelos
brasileiros. Sempre que vem a público, Lula usa a Lei para chicotear seus
inimigos de toga. Nos últimos meses o líder petista tem agido como se quisesse
ser condenado. Temer é raskólnikoviano, Lula é socrático.
Quando condenou Sócrates, a democracia ateniense conseguiu apenas
condenar a si mesma. No Brasil, a Justiça se rebaixou à vil condição de
coiteira de Michel Temer instrumentalizando o golpe de estado liderado por um
criminoso que age como se fosse um psicopata. Ao condenar Lula para impedi-lo de
disputar as eleições de 2018, a Justiça brasileira fornecerá uma prova contra o
Brasil no Tribunal de Direitos Humanos da ONU. A democracia ateniense não
sobreviveu por muito tempo. A república brasileira será condenada e
inevitavelmente destruída.
Do GGN, *Fábio de Oliveira Ribeiro