Do
Psicanalistas pela Democracia. Entrevista:
Luis Nassif comenta 1 ano do golpe.
Em 17 de abril
de 2016, tem início a última fase do golpe parlamentar-midiático-jurídico no
país com a votação, na câmara dos deputados, do impeachment da presidente Dilma
Roussef, eleita com mais de 54 milhões de votos. Nessa ocasião, a
consolidação do processo de impeachment culminou com o sequestro dos votos
de eleitores, brasileiros, que acreditavam na democracia recém conquistada no
país e, por isso, compareciam diante das urnas periodicamente a fim de eleger
seus representantes.
Esse
princípio foi traído e o resultado imediato desse golpe, após a usurpação do
voto, foi o início da pauperização e a retirada relâmpago de direitos
fundamentais da maioria da população brasileira, que já vivia em condições
precárias e limites antes do golpe.
Sem o mínimo
de decência, competência e coragem para redistribuir entre os mais ricos os
custos da crise nacional, o governo Temer e sua equipe econômica ameaçam a
população com mais perdas, caso o pacote de destruição de direitos das classes
trabalhadoras não seja aprovado na íntegra.
“Se a reforma da Previdência não sair, tchau, Bolsa Família“,
estampava o site oficial do PMDB.
Não se
envergonham ao sugerir:
“Olhem,
se vocês não aceitarem a chibata teremos de bater com cabo de aço. Aí sim vocês
vão ver como dói! Pelo bem do país, e de vocês mesmos, ofereçam docilmente seus
lombos!”
Trata-se de
mais um pacote de violências que sempre acompanha historicamente as chamadas
medidas econômicas no país, mas agora o governo não se envergonha, ao
contrário, se orgulha em manifestar abertamente que caberá exclusivamente ao
trabalhador os custos da crise e do golpe. Sim, um golpe custa caro, porque é
preciso recompensar todas as forças que o apoiaram e, de todas elas, a única
excluída explicitamente foi a dos despossuídos, fora dos circuitos da
acumulação e da riqueza e dependentes de sua própria força de trabalho.
A oikonomia gerencial
dos que aparentemente estão apenas administrando a crise promete gerar um
acúmulo de capital sem precedentes nas mãos de poucos, à espera de converter
isso em poder político sem legitimidade.
Isso
encontra hoje, no parlamento, uma usina de criação de mecanismos de acúmulo de
fortunas, formas especulativas de patrimonialização de verbas e bens públicos
que consagraram e institucionalizaram a submissão de boa parte da população
brasileira à hordas de criminosos de terno que, ou roubam e não fazem ou fazem
para roubar. Não existe, nunca existiu, o tão propalado e resignado ‘rouba mas
faz.’
A votação do
impeachment no dia 17 de abril de 2016 foi um espetáculo infame, mas flagrou de
maneira extraordinária, quais as forças que ainda devemos enfrentar.
Hoje, o
governo Temer já manifestou claramente à que veio. Ele aprofundará a crise,
estancará a tímida distribuição de renda, alijará os trabalhadores de direitos
e arrancará, de boa parte da população, a possibilidade de viver e sonhar.
Milhões serão condenados ao trabalho em troca da mera sobrevivência. (AQUI).
Sen em
governos anteriore,s avaliávamos as conquistas sociais como ainda tímidas para
uma das nações mais desiguais do mundo, hoje tudo foi reduzido drasticamente a
zero.
Em poucos
meses, assistimos o retrocesso da população pobre à estágios anteriores de
miserabilidade, o aumento do número de desempregados da ordem de milhões, o
desrespeito aos direitos humanos se esparramando em todo país e projetos de
venda de patrimônios nacionais sem precedentes (AQUI).
Antes do
golpe, muitos já adiantavam que ele seria mais profundo e devastador do que o
golpe civil-militar de 1964. Eles estavam certos. Ao longo dos últimos 14 anos
de democracia, o país provou ser capaz de sair de sua condição de
subalternidade diante dos países ricos, estabeleceu novos acordos e alianças
capazes de empalidecer as relações de mera subserviência entre norte e sul e
principiou um processo de crescimento que previa, ainda que lentamente, o
combate ao abismo econômico e social entre classes.
Hoje isso
acabou. Hoje, fora do país, a imagem do Brasil e dos brasileiros gera
desconfiança e suspeita como país. Somos um país sem democracia, sem justiça,
sem futuro. De líder inconteste da América do Sul o país retorna à sua irônica
posição da República das Bananas conferido pelo olhar estrangeiro. Aturdido
pelo mesmo golpe que recentemente sofreu o Paraguai.
Todavia, é
fundamental destacar que no lugar onde tudo termina, nasceram e se fortaleceram
movimentos, grupos, instituições e indivíduos que se insurgiram lá onde não
havia esperança e onde a descrença medrava. Muitos já existiam, mas suas ações
foram investidas de sentido e importância inconteste e crescente.
Não desistiram,
mesmo quando o golpe se concluiu e um vazio e silêncio pairou sobre os
resistentes. Mesmo assim continuaram a representar a esperança, a avançar nas
redes, nas ruas e continuaram a existir como sinais de esperança cujos lampejos
apontam caminhos.
Após um ano
todos estão vivos, outros surgiram, muitos se fortaleceram.
Psicanalistas
pela Democracia homenageia alguns deles – são muitos – postando semanalmente, a
partir de hoje – 17 de abril -, dia oficial do Golpe, as conversas e
entrevistas realizadas com alguns desses atores que representam hoje os
contrafogos do incêndio que todos os dias se prepara.
Desejamos
que nossos leitores, colaboradores e parceiros se sintam contemplados e
presenteados com essa iniciativa e os estimulamos a seguir nossos homenageados
nas ruas, propostas, iniciativas, sites, blogs e páginas que alimentam, e a
somar com eles e com outros, na esperança de repor e aprofundar a democracia
recém usurpada, mas ainda profundamente desejada por muitos de nós.