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terça-feira, 23 de junho de 2020

XADREZ DE CRISTINA BONER, WASSEF E O NEGÓCIO DO POUPATEMPO, POR LUIS NASSIF

Com o tempo, e a parceria com Wassef, Cristina refez sua influência em Brasília. Provavelmente, com a exposição trazido pelo companheiro, os processos aos quais responde devem se acelerar.
PEÇA 1 – O ENVOLVIMENTO COM A OPERAÇÃO PANDORA
Cristina Boner voltou ao noticiário através de seu companheiro Frederick Wassef, o “Anjo”, advogado da família Bolsonaro e pessoa que escondeu Fabrício Queiroz em sua casa.
Nos anos 90 Cristina se tornou a maior revendedora Microsoft para a América Latina, sempre vendendo para a área pública. Sua base de atuação era Brasília, governo federal e o Governo do Distrito Federal.
Cristina Boner chegou em São Paulo em 2005, quando, eleito prefeito, José Serra levou para lá várias empresas que atuavam com o governo do Distrito Federal. E alguns executivos do polêmico Banco Regional de Brasília.
No Distrito Federal, seu ponto de apoio era o empresário e vice-governador Paulo Otávio.
Em 2007 separou do marido Bruno Basso e tornou público seu relacionamento com o advogado Frederick Wassef, o “Anjo”. A partir dali, todos os passos de Cristina Boner foram acompanhados e apoiados por Wassef, inclusive nas ações interpostas por seu ex-marido.
Em novembro de 2009 explodiu o escândalo chamado de “mensalão do DEM”, o sistema de propinas do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal.
Logo depois, foi deflagrada a Operação Caixa de Pandora, do Ministério Público Federal, conduzido pela Procuradora Raquel Dodge, e tendo Cristina como um dos personagens centrais.
O escândalo abateu a TBA em pleno voo. Perdeu a representação da Microsoft, da Oracle e da indiana Tata. E decidiu se reinventar.
Em 2010 fundou a GlobalWeb e colocou em nome de uma filha. No anúncio do lançamento, a empresa nascia com mais de R$ 30 milhões em contratos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e, segundo ele, nos Estados Unidos.
Por trás desses contratos, o mesmo estilo de Cristina Boner de atuar com o setor público. E, agora, tendo como carro-chefe o Poupatempo, com um modelo de consórcios que permitia, em cada estado, incluir empresas de interesse dos respectivos governadores.
PEÇA 2 – O MODELO POUPATEMPO
Em São Paulo, Cristina aproximou-se de Luiz Salles. Provavelmente já o conhecia de Brasília, por suas ligações com Paulo Otávio, o vice-governador e seu padrinho nos negócios com o Governo do Distrito Federal. Salles, Paulo Otávio e Fernando Collor eram tão únicos que acompanharam Collor à Argentina, em sua viagem de núpcias.
Por volta de 2007, Cristina e Luiz Salles iniciaram a parceria para o Poupatempo, com um modelo de consórcio que poderia ser transportado para todo o país. A porta de entrada foi Julio Semeghini, que desde o governo Mário Covas tratava das questões de tecnologia para o PSDB.
Consistia em montar um consórcio onde havia o formulador, Luiz Salles, o responsável pela TI (a TBA através de sua empresa B2BR) e parceiros indicados pelos governantes interessados no projeto.
Com base nesse modelo, em 2008 Luiz Salles criou o Shopping do Cidadão, para ser o integrante central dos diversos consórcios criados a partir de então.
Foi Luiz Salles quem apresentou Frederick Wassef à Cristina, para resolver um problema de um desfalque de 500 mil dólares na empresa.
Montada a parceria, entraram no mercado do Rio de Janeiro em parceria com George Sadalla, o empresário caixa do governador do Rio Sérgio Cabral.
Lá, o instrumento jurídico foi o Consórcio  Agiliza Rio, que tinha como principal agente George Sadalla, além de operador financeiro, responsável pelo Poupatempo.
O consórcio era integrado pelo Shopping Cidadão, de Luiz Salles, a CEI Shopping Centers, B2BBR Informática do Brasil, a Bequest Soluções, Vex Logística e Gelpar, Empreendimentos e Participações.
O dono da Gelpar era George Sadalas, que ficou com 25% do consórcio.
A Vex Logística era o novo nome da Facility, empresa de Arthur César de Menezes Soares Filho, Rei Arthur, outro dos parceiros de Cabral.
A quadrilha foi desbaratada pela Operação C’Est Fini, do Ministério Público Federal.
Em depoimentos na 7a Vara Criminal, Cabral admitiu:  “Houve uma determinação minha para que ganhasse o consórcio pertencente ao senhor Jorge Sadala”.
Em pouco tempo, portanto, Cristina Boner se tornou personagem central em dois dos principais inquéritos que correram no período, a Caixa de Pandora e o C’Est Fini.
Mesmo assim, prosseguiu incólume em sua caminhada.
PEÇA 3 – A ESTREIA COM SÉRGIO CABRAL
O modelo estreou no Rio em 2009, justamente quando implodia o esquema José Roberto Arruda, comprometendo Cristina Bonner.
Nas conversas com Durval Barbosa, o operador de Arruda, Cristina tentou convencê-lo a implantar o modelo no Distrito Federal. A conversa ficou registrada nos vídeos que serviram de base para as investigações da Caixa de Pandora.
Em 2010 o modelo foi para Minas Gerais, logo após Aécio se desincompatibilizar do governo para disputar as eleições, deixando como sucessor seu braço direito (administrativo) Antonio Anastasia.
O tema foi levantado em 2018 pela Agência Sportlight
Sadala era conhecido como o ponto de contato entre Sérgio Cabral e Aécio Neves. Aécio foi seu padrinho de casamento.
O Poupatempo mineiro era o projeto UAI, Unidade de Atendimento Integrado. Das seis empresas do Consórcio Agiliza, três estavam presentes na formação do vencedor da disputa mineira: a Shopping do Cidadão Serviços de Informática, a Gelpar Empreendimento e Participações, de George Sadala e a B2BR, de Cristina Boner.
O grupo tentou entrar em Mato Grosso, através do Consórcio Cidadão, formado pelas mesmas empresas.
Hoje, o modelo está espalhado por diversos estados e cidades do país.
Apesar de pessoas próximas ao negócio afiançarem que a empresa está desativada, em 2016 foi quinta empresa de tecnologia com mais contratos com o governo federal.
PEÇA 4 – A GLOBALWEB
A empresa foi criada em 2010, quando estourou o escândalo do mensalão do DEM inviabilizando a TBA.
No seu site, há uma página para o compliance da empresa:
“COMPLIANCE GLOBALWEB CORP
INTEGRIDADE, RESPEITO, RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM A SOCIEDADE”
“A condução de negócios pela Globalweb Data Services Corp é pautada pelo devido comprometimento com seus valores de integridade, atuando de forma responsável, transparente, legal e ética. Este mesmo comprometimento é requerido de todos os terceiros que se relacionam com a Globalweb Data Services Corp, pelo que é constantemente apoiado e encorajado pela empresa”.
Com o tempo, e a parceria com Wassef, Cristina refez sua influência em Brasilia. Provavelmente, com a exposição trazido pelo companheiro, os processos aos quais responde devem se acelerar.
Do GGN

domingo, 20 de maio de 2018

Com os PODRES a mostra Moro e os lavajateiros silenciam sobre a denúncia dos doleiros. Por Joaquim de Carvalho

Carlos Fernando, Figueiredo Basto e Moro
Sempre tão falante através do Facebook — agora ele entrou em guerra aberta com o ministro do STF Gilmar Mendes —, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima não deu um pio a respeito da delação de dois doleiros no Rio de Janeiro sobre a cobrança de propina para garantir proteção no Ministério Público Federal e na Polícia Federal de Curitiba.
Como revelou O Estado de S. Paulo, em manchete da edição de 19 de maio, os doleiros Vinícius Claret, conhecido como “Juca Bala”, e Cláudio de Souza, subordinados ao “doleiro dos doleiros” Dario Messer, disseram que, entre 2006 e 2013, pagaram mensalmente uma “taxa de proteção” de US$ 50 mil (cerca de R$ 186 mil ao câmbio atual).
O dinheiro, conforme os relatos, era entregue ao advogado curitibano Antonio Figueiredo Basto e um colega dele cujo nome não foi informado. Em troca, eles seriam poupados nas delações decorrentes do caso Banestado, que correu na jurisdição de Sergio Moro.
Alguém pode argumentar que é tudo mentira e não se deve dar crédito à palavra de criminoso. Se fosse assim, a Lava Jato não existiria, já que quase tudo usado ali para condenações ou prisões peventiva tem como fundamento a palavra de criminoso.
Mas o ponto principal é outro: Dario Messer e seus operadores nunca foram, de fato, incomodados por Moro, o Ministério Público Federal ou a Polícia Federal de Curitiba, contrário de seus concorrentes. Toninho da Barcelona, por exemplo, pegou uma condenação superior a dez anos e foi exposto à execração publica e acabou até depondo em CPI.
Recentemente, Toninho da Barcelona foi solto, mora em São Paulo, mas se recusa a falar sobre Moro, embora tenha o juiz atravessado na garganta. Conhecidos dizem que ele evita até voos de avião sobre Curitiba, para não se lembrar do que passou nas mãos de Moro, procuradores e policiais federais — também foi procurado por advogados ligados ao grupo.
Já Messer seguiu sua vida, com concorrentes fora do mercado. A tranquilidade só acabou quando a Lava Jato se estendeu para o Rio, e foi lá que a investigação o alcançou, no caminho da lavagem do dinheiro do esquema de Sérgio Cabral. Ainda assim, ele tem contatos importantes.
Fugiu para o Paraguai, onde tem cidadania, quando soube que poderia ter sua prisão preventiva decretada. Quando o decreto saiu, foi procurado no território paraguaio, graças a acordo de cooperação do país vizinho com o Brasil, mas não foi encontrado, o que indica que foi avisado mais uma vez.
Antigos aliados acreditam que ele esteja em Israel, onde também tem cidadania, por ser judeu. Messer não foi o único a escapar. O doleiro René Maurício Loeb fugiu do Rio de Janeiro para a Europa a bordo de um navio de luxo, semanas antes da operação ser deflagrada.
A Procuradoria admite que houve vazamento, mas o credita a doleiros presos, que saíram da cadeia muitas vezes para depor e teriam se comunicado com o grupo. Mas, se isso é verdade, como esses doleiros sabiam da data da operação? Como saberia que haveria investigação?  Difícil acreditar. Faz mais sentido que alguém de dentro da Lava Jato alertou o doleiro.
Mas a velha imprensa divulgou essa versão da Procuradoria sem questionamento e é por isso que, num primeiro momento, surpreende que o Estadão tenha publicado a revelação da delação dos doleiros, num furo de Ricardo Galhardo.
Mas quem lê os jornais de hoje vê que o assunto desapareceu. Não está na primeira página nem da Folha de S. Paulo nem do jornal O Estado de S. Paulo. O Jornal Nacional da Rede Globo publicou a reportagem, mas pode-se apostar que também desaparecerá dali, porque é assim que  funcionam as redações.
A notícia é publicada, mas logo esquecida quando o assunto é sensível aos interesses da empresa jornalística.
É só comparar dois casos notórios: reportagens negativas sobre Lula e o PT já consumem horas do noticiário, com inserções diárias, e quilômetros de páginas de jornais e revistas, enquanto o PSDB, quando citado, vira notícia, mas logo depois o tema desaparece da pauta.
É na pauta que os patrões exercem o poder. Quando o repórter insiste que talvez o caso merecesse aprofundamento, desdobramento, repercussão — suíte, na linguagem da profissão —, o editor, orientado pela chefia, argumenta que a empresa já cumpriu seu papel e que agora deve-se partir para outro assunto.
Mas, se a notícia é contra alguém que seja considerado inimigo da casa, a paulada é incessante. É o que se chama de jornalismo de guerra, aquele que tem inimigos.
Talvez seja por apostar nos panos quentes da velha imprensa que Carlos Fernando dos Santos Lima silenciou quanto à reportagem de O Estado de S. Paulo. 
Carlos Fernando, o mais antigo na equipe da lava Jato, linha de frente no caso Banestado, poderia dizer que o esquema denunciado pelos doleiros ligados a Messer lembra o funcionamento da máfia: pagar por proteção.
Poderia falar da necessidade de investigar.
Poderia até dar seu próprio testemunho e contar por que só uma pequena parte dos envolvidos no Banestado acertou contas com a Justiça. A maioria foi poupada.
Mas Carlos Fernando, em vez de falar, desta vez preferiu o silêncio. E vai continuar tentando espinafrar Gilmar Mendes, porque os procuradores sabem que o ministro já não conta com a proteção das redações como antes.
No fundo, eles se conhecem muito bem.
PS: o depoimento dos doleiros tem ares de ameaça: eles contam um pouco, deixam a porta aberta para recuo, mas demonstram que sabem muito. Querem passar recado. Como na máfia, estão avisando: se me ferrarem, eu quebro vocês.
Do DCM