Insisto:
o Ministro Luiz Edson Fachin deve explicações. Se não der agora, terá que dar
quando cair a blindagem dos grandes negócios atuais, assim como está caindo a
blindagem da Lava Jato.
Quando
começaram as privatizações, ainda no governo Collor, denunciei a grande jogada
que se armara através do sistema de avaliações. Na ocasião, a Price Waterhouse,
empresa incumbida da precificação dos ativos, determinou a seu especialista
rebater minhas denúncias, mas não conseguiu.
A
estratégia de redução dos preços funcionava assim:
1.
Todo sistema de avaliação de ativos leva em consideração as perspectivas
futuras de rendimento dos ativos, não a passada. A privatização de Collor
consistia em considerar as estatais de então, amarradas por gestão travada, por
abandono dos investimentos, pelo que rendiam naquele momento.
2.
No caso da Ultrafertil, baseou-os nos preços do fosfato na época, deprimido por
uma desova gigantesca de estoques da Rússia, para projetar por décadas.
3.
Depois de estimar o fluxo futuro de resultados, calculava-se o valor presente
de acordo com determinada taxa de retorno. A Price pegava empresas que geravam
cruzados, com financiamento do BNDES, em cruzados, e aplicavam as altas taxas
de risco dos empréstimos em dólares – com o Brasil em plena moratória. Era
golpe, que não obedecia a nenhuma lógica financeira.
No
caso da TAG, o sistema de gasodutos da Petrobras, vendida para a francesa
Engie, ocorreu uma tacada bem mais tosca.
Conforme
mostramos no post “Fachin deve explicações sobre o caso TAG”, a cronologia de
votação da autorização de venda, pelo Supremo Tribunal Federal, a venda
propriamente dita e, pouco depois, a revelação de grandes descobertas de gás em
Sergipe, formavam um todo suspeito:
06/06
– STF libera a venda de subsidiárias
6/06
(mesmo dia) – Fachin libera a venda da TAG (transportadora de Gás)
13/06
– Petrobras conclui a venda da TAG
16/06
– Petrobras anuncia descoberta gigante de Gás em Sergipe e Alagoas.
É
evidente que o a exploração do gás de Sergipe trará um ganho adicional para a
TAG por razoes óbvias: só poderá explorar o gás quem tiver gasodutos para
transportá-lo. A direção da Petrobras escondeu a descoberta até que a venda se
consumasse, repassando todos os ganhos para a nova controladora.
Vamos
a uma reportagem do Valor, de 8 de abril passado, na qual o presidente da
Engie explica a investidores como será calculado o preço de venda da TAFG.
O
título sintetiza tudo: “Compra de TAG foi baseada em contratos existentes”, diz
Engie.
O
valor [da operação] está muito baseado nos contratos existentes. Oitenta por
cento do valor da transação estão baseados nos contratos já existentes”, disse
Bähr, na teleconferência.
Com
o negócio, a Engie terá 29,25% da TAG. A Engie Brasil Energia (EBE) terá outros
29,25%. O fundo canadense Caisse Dépôt et Placement du Québec (CDPQ) ficará com
31,5% e a Petrobras, com 10%.
A
Petrobras terá que se desfazer dessa participação após a aprovação do novo
marco regulatório para o mercado de gás natural, afirmou o diretor de
desenvolvimento de negócios da Engie, Gustavo Labanca. Isso porque, explicou,
pela nova lei, provavelmente a petroleira terá que desverticalizar sua atuação.
(…)
O financiamento para a compra da TAG será de R$ 22 bilhões, sendo parte em
dólar e parte em reais, afirmou Labanca. O financiamento será feito pela
Aliança Transportadora de Gás, veículo criado pela Engie, a EBE e a CDPQ para
aquisição e operação da TAG.
“Já
está tudo negociado e todos os financiamentos, garantidos. Mais do que
garantidos. [Os financiamentos] são 100% baseados nas receitas dos contratos
com a Petrobras. Isso já está garantido com os bancos. Agora é só questão de
execução”, disse Bähr.
Insisto:
o Ministro Luiz Edson Fachin deve explicações. Se não der agora, terá que dar
quando cair a blindagem dos grandes negócios atuais, assim como está caindo a
blindagem da Lava Jato.
GGN