Peça 1 – O fim da era
dos economistas tucanos
A
tentativa do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, de produzir uma atualização
dos princípios do partido, provocou revolta no grupo dos financistas que
empalmou o discurso do partido desde o plano Real.
A
saída de Tasso Jereissatti da direção do partido havia tirado o último elo de
ligação com a Casa das Garças.
Presidido
por José Aníbal, o ITV deu satisfações a Edmar Bacha e ignorou as críticas de
Elena Landau, por irrelevantes, entendendo que ela apenas queria valorizar sua
saída do PSDB.
A
saída dos economistas preenche uma lacuna. Agora, haverá espaço para o partido
pensar o país sistemicamente.
A
questão é o que será colocado no lugar. Não será tarefa fácil. 15 anos fora do
poder, sob o comando de lideranças sem capacidade de formulação – como Alckmin,
Serra, FHC e Aécio – o partido murchou intelectual e programaticamente.
A
tentativa de montar um programa, em todo caso, ajudará a dar um pouco mais de
consistência às discussões e ao discurso monotemático, preso a um antipetismo
tosco.
Peça 2 – o fator Geraldo
Alckmin
A
autodestruição de João Dória Jr consolidou a imagem que se tinha de Geraldo
Alckmin, do político habilidosíssimo na arte da não tomada de posição. Ele se
locomove silenciosamente entre as brigas partidárias, recusa os grandes lances
políticos, não entra em bola dividida e tem enorme objetividade na construção
das alianças com o poder.
Quando
Lula foi eleito, havia receios de que estivesse nascendo o PRI (Partido
Revolucionário Institucional) brasileiro – o partido que logrou controlar todos
os sistemas de poder no México.
Hoje
em dia, São Paulo é o melhor exemplo da estratificação política do PRI. Alckmin
conseguiu manter sob estrito controle a Assembleia Legislativa, o Tribunal de
Justiça, o Ministério Público Estadual e a PM. O aparelhamento ocorreu em todos
os setores, da TV Cultura à Fundap, desperdiçando o enorme potencial
intelectual disponível nas instituições públicas paulistas. É impressionante
sua capacidade de promover um desmonte silencioso do Estado, sem que ninguém se
pronuncie.
Ao
mesmo tempo, representando o partido que transformou a gestão em palavra de
ordem, não se conhece dele uma política inovadora, uma modernização
administrativa. Mesmo sendo governador do Estado mais avançado, dispondo das
corporações mais modernas e das instituições mais reputadas.
Recentemente,
o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) emitiu uma resolução definindo a
faixa litorânea a ser respeitada em todo o litoral brasileiro. O único estado
que se insurgiu foi São Paulo através justamente da Cetesb (Companhia Ambiental
do Estado de São Paulo). Houve reação do Ministério Público Federal e Estadual.
Agora a Cetesb provocou o Conama para revisar resoluções anteriores e
flexibilizar para o país inteiro.
Trata-se
de um escândalo considerável que, como tudo o que sai de Alckmin, passa ao
largo da fiscalização da mídia.
Mesmo
assim, com ou sem Lula a Lava Jato e a mídia terão de redobrar esforços para
conferir um mínimo de competitividade a Alckmin nas próximas eleições
presidenciais. Principalmente com a tendência de que se torne o candidato de
Michel Temer.
Peça 3 – o governo de
São Paulo e o fator Serra
Se
no plano federal o PSDB será pouco competitivo, no plano estadual o único
trunfo com que conta é o antipetismo exacerbado. E nada mais.
Para
as próximas eleições para governo do Estado, sabe-se quem não será: José Serra
e João Dória Jr. Pelo menos se depender das lideranças históricas do partido.
Mas não se sabe quem será.
Serra
se tornou um eremita, confinado em seu apartamento de São Paulo, enfrentando
alguns conflitos familiares. No auge da pressão da Lava Jato internou-se no
Sírio Libanês. Quem se encontrou com ele se surpreendeu com frases desconexas,
como no famoso episódio dos BRICS (em que ele não conseguia identificar os
cinco países). Depois, se constatou que era apenas paúra da boa, pavor da Lava
Jato, que o fez inclusive abrir mão do cargo de Ministro de Relações
Exteriores.
Quando
Gilmar Mendes conseguiu matar a bola no peito, Serra recobrou a calma. Mas é
considerado carta fora do baralho, inclusive por antigos seguidores que o têm
aconselhado a se contentar com mais quatro anos de Senado. Na cúpula do
partido, já existe um acordo tácito de não permitir que Serra se aproxime de
nenhum documento relevante, ou de qualquer reunião fechada, pois sabe-se que no
dia seguinte a informação estará nos jornais.
Hoje
em dia, Serra perdeu seu maior trunfo político: a capacidade de produzir
dossiês contra adversários, que recebiam ampla acolhida na mídia. Os poucos
jornalistas aliados apenas ajudarão a mitigar as denúncias que ainda brotarão
da Lava Jato.
Seu
trabalho no Senado para as petroleiras talvez seja seu canto de cisne no lobby
de alto coturno. Daí seu esforço para entregar a encomenda.
Peça 4 – o fator João
Dória
João
Dória Jr se tornou um caso raro de unanimidade partidária negativa dentro do
PSDB e ajudou no renascimento político de Alberto Goldman. Sua crítica a Dória,
beneficiada pela reação desastrada do criticado, alçaram Goldman à condição de voz
referencial do partido em São Paulo.
Já
Dória conseguiu incorrer em todos os mandamentos do político desastrado:
deslealdade com os padrinhos políticos; ambição desmedida; discurso desconexo;
descaso com a prefeitura; professor de Deus em qualquer matéria; imprudência
nos factoides, a ponto de endossar ração para crianças.
É
tanto desastre simultâneo que, na cúpula do partido, ele se tornou objeto de
avaliações psicológicas.
É
possível que surja um outro nome para o governo do Estado. Certamente Jose Anibal
está se colocando em campo. Poderá até juntar novas ideias ao programa, mas
dificilmente conseguirá definir a palavra de ordem, a plataforma.
Peça 5 – o espaço para
o tertius
As
próximas eleições serão uma com Lula, outra sem Lula. Com Lula, não haverá
espaço para novos candidatos do centro-esquerda e esquerda. Será favorito
absoluto para presidente. Daí a pressa da Lava Jato e dos desembargadores do
TRF-4 de acelerar os processos e tentar tirá-lo do jogo.
Há
manobras alternativas, como o tal semipresidencialismo, seja lá isso o que for.
Sem
Lula, abre-se um amplo espaço para o outsider.
Conforme
muitos analistas, começando a campanha o fenômeno Bolsonaro murchará.
Dependendo da solução encontrada pelo PT, haverá espaço para crescimento de
Ciro Gomes.
A
ideia de que se fortalecer o tal centro democrático esbarra na falta de
lideranças efetivas desse centro, e na radicalização do discurso político que
impede qualquer convergência de propostas em muitas políticas que, slogans à
parte, já são quase consenso nos meios técnicos.
Nos
últimos dias, houve algumas tentativas de se mostrar a continuidade dos avanços
no Brasil nos governos FHC, Lula e Dilma. Mas a retórica de guerra, insuflada
pela mídia, ainda impede qualquer lufada de bom senso.
GGN