O
que os politicamente menos alienados, sejam de direita ou esquerda, se deparam
hoje é com imenso grau de tensão e incertezas. Os alicerces institucionais
criados pela Constituição Cidadã degeneraram de tal forma nos últimos três anos
que a imagem que do país se quebrou em todos os sentidos. Esta é a tônica do
artigo de Jânio de Freitas, na Folha. O descalabro da atuação do Executivo, em
sua imoralidade, no Legislativo, em sua ignorância e indecência, e no
Judiciário, por fastio de presunção projetada, terminam por empurrar o país
para um lugar onde nunca imaginou estar.
Leia
o artigo a seguir: da Folha, por Janio de Freitas
O
grau de tensão e incerteza em que estão, à direita e à esquerda, os
politicamente menos alienados dá ao chamado julgamento de Lula a sua verdadeira
face: o ato judicial é só um trecho da superfície de um fluxo profundo, no qual
se deslocam as bases da ideia que o país fazia de si mesmo. Nos últimos três
anos, os alicerces institucionais criados na Constituinte de 1988, para garantir
o futuro sempre desejado, degeneraram até à situação em que nenhum mais
funciona como prescrito.
O
Brasil se reconhece como um país corrupto, dotado de um sistema político
apodrecido; injusto e perigoso. É assim o Brasil das conversas que se reproduzem
a todo tempo, em todos os lugares.
Este
país que decai de onde nunca esteve, mas imaginava estar, se vê jogado com
brutalidade em um turbilhão veloz de fatos sucessivos, sem controle e sem
sequer presumir aonde podem levar. Executivo, Legislativo e Judiciário não se
entendem nem o mínimo exigido pelas urgências. O primeiro, por imoralidade; o
segundo, por ignorância e indecência; o terceiro, por fastio de presunção
projetada, de cima para baixo.
A
consciência, por incompleta e adulterada que seja, está nos inundados de
incerteza inquietante. São os que sabem que o julgamento, em si, representa
pouco. O seu âmago não é judicial. É político. O que dele resultará não será um
novo passo no direito, mas, por certo, andamentos com influência direta no processo
político e institucional. O que, por sua vez, vai desaguar no fluxo das
conturbações modificadoras. Se para detê-lo, desviá-lo ou acelerá-lo, é a
incerteza que continua.
Gente de casa
Foi
preciso uma advertência sobre seu risco de ser processado para que Michel Temer
enfim admitisse o afastamento dos quatro vice-presidentes da Caixa postos sob
suspeita por investigações policiais e da própria Caixa. Mas a Procuradoria da
República no Distrito Federal quer mais, quer o necessário: o afastamento definitivo
dos vices e a ocupação desses cargos técnicos por pessoas com habilitação
específica, não mais testas-de-ferro de políticos abandidados.
E
a própria Caixa vai pedir o afastamento do seu presidente, Gilberto Occhi, que
não era alheio às irregularidades praticadas, por corrupção e política, nas
vice-presidências.
A
relutância de Temer é compreensível. Trata-se de gente do bando.
Ainda que tardia
À
primeira vista, impressiona o pedido do Ministério Público Federal de que
Eduardo Cunha receba pena de 387 anos. Mas o doleiro Alberto Youssef por
exemplo, foi sentenciado a mais de 120 anos e está livre no mundo. É a
generosidade dos discípulos de Madre Tereza na Lava Jato.
Youssef,
é verdade, fez "acordo" de delação para ser premiado, e Cunha o tem
recusado. Com o que sabe, porém, e seu competidor Lúcio Funaro ignorava,
Eduardo Cunha pode negociar delação e prêmio quando quiser. Por exemplo, ao que
consta, sobre negociantes de armas.
GGN