Lula é hoje
o maior risco e a única esperança para a retomada da normalidade democrática no
Brasil. A resolução desse paradoxo está nas ruas.
A manchete
da Folha de 30 de abril de 2017, sobre a pesquisa de intenção de voto para as
eleições presidenciais de 2018 no Brasil traz dois erros. Um jornalístico e
outro de análise estatística.
Bolsonaro
sobe e disputa 2º lugar; Lula amplia a liderança
O erro
jornalístico e patente, dá destaque ao secundário – o crescimento de Bolsonaro
– em detrimento do principal: Lula não é afetado pelas delações da Odebrecht e,
além disso, amplia sua vantagem em relação aos adversários. Alguns deles foram
destroçados por tais delações, Lula passou incólume em relação a elas.
O erro de
análise estatística é cometido também em relação a Bolsonaro. Pelo menos neste
instante, seu crescimento nas pesquisas é um dado curioso, embora previsível,
mas não altera o resultado previsto na para das eleições presidenciais de 2018.
Por ora, ainda a principal adversária de Lula é Marina Silva.
Porém,
independente da má vontade do secretário de redação que elaborou a matéria –
tipo conhecido do antipetismo – a pesquisa Datafolha permite analisarmos as
possibilidades atuais de vários candidatos para as próximas eleições
presidenciais.
Bolsonaro – comecemos por ele.
Bolsonaro é
o representante da extrema-direita e seu crescimento - 15% de intenção de voto
no primeiro turno - deve ser acompanhado. Porém, não é relevante para o
resultado final das eleições, neste instante.
Perde para
Lula no segundo turno de 43% a 31%, respectivamente. Esse cenário deixa 26% do
eleitorado sem candidato definido – ou seja, que não votariam em nenhum dos
dois. Lula teria de conquistar 7 pontos percentuais nesse total para se eleger
– menos de 3 em cada 10 indecisos. Bolsonaro teria de conquistar 19 pontos
percentuais – mais de 7 em cada 10. Façam suas apostas, senhores - vermelho 13.
Marina Silva - é ainda a principal
adversária de Lula. Está em segundo lugar no primeiro turno com 14% - empatada
com Bolsonaro – e vence Lula, na margem de erro, em um segundo turno por 41% a
38%, respectivamente.
Por que
então a Folha não lhe deu destaque? Simples, Marina está em queda livre no seu
recall de votos da eleição de 2014. Era de 52% na pesquisa de novembro de 2015
e está agora com 41% - perdeu 11 pontos percentuais. Lula está em crescimento contínuo
– cresceu 7 pontos percentuais debaixo da tempestade e poderá ultrapassar
Marina já na próxima pesquisa.
João Doria – aparentemente sofre da mesma
fraqueza de Alckmin, é um fenômeno puramente paulista. Está em forte e
ininterrupta campanha midiática desde que se elegeu para a prefeitura de São
Paulo, mas obteve apenas 9% dos votos. É aparentemente um produto que não pegou
junto ao público geral, apesar da forte campanha midiática no lançamento.
Provavelmente um produto para um nicho de mercado.
No segundo
turno, perderia para Lula igualmente a Bolsonaro – 43% a 32%, respectivamente.
Luciano Huck - Doria e Bolsonaro disputam
públicos diferentes, mas no mesmo espectro político – o radical de direita. A
Folha não liberou os dos brutos da pesquisa, mas não é difícil traçar o perfil
dos seus eleitores através do que se constata nas suas campanhas nas redes
sociais – homem branco, classe média, desrespeitoso e grosseirão – Bolsonaro
emociona os mais jovens e os mais velhos - viúvas da ditadura; Doria é dos
adultos e jovens adultos. Mas ambos com o mesmo perfil. Públicos muito
restritos e específicos com baixo poder de crescimento.
Dória
essencialmente paulista e Bolsonaro com alcance nacional. As chances de
crescimento de Doria, portanto, são maiores que as de Bolsonaro – mas se é para
apostar no outsider – o político não político – melhor apostar em Luciano Huck.
Muito mais
palatável que o milico de pijama ou o dândi empedernido. Luciano Huck tem 3%
dos votos, mas isso é enganoso já que não foi testado em um cenário em que não
dividisse seus votos com outros candidatos - do PSDB, por exemplo.
Ciro Gomes - Ciro não decola pois é
o eterno Plano B das esquerdas. Só tem chances se Lula não concorrer – 12% de
intenções de voto.
Não é pouco,
nos cenários em que Lula não participa, isso o embola no segundo lugar com
outros candidatos. Mas Marina vence com uma margem mais de 10 pontos percentuais,
no mínimo.
PSDB –
não existe eleitoralmente, tornou-se um partido nanico com menos de 10% das
intenções de voto não importa quem seja o candidato – Aécio (8%), Alckmin (6%)
ou Doria (9%). Sugestivamente, o nome de José Serra sequer participou da
pesquisa.
Sergio Moro – é o antípoda de Lula. Mas os
dados da pesquisa não são bons para ele.
Sergio Moro
e Lula travam, por iniciativa do primeiro ou com seu consentimento, pelo menos,
uma batalha entre o santo guerreiro e o demônio da maldade. E o demônio da
maldade empatou o jogo. Sergio Moro 42% e Lula 40%.
Mas uma
disputa como essa é somente alegórica. Para que ocorresse no mundo real, Sergio
Moro teria de se despir do poder da toga. Ocorre que Sergio Moro não seria tolo
para tanto. Sem poder decretar prisões preventivas ou mandatos de conduções
coercitivas e tendo de dar explicações sobre seus atos, que chance tem Moro?
Apanharia até dos desafetos que possui dentro do próprio Judiciário.
Temer – literalmente não existe. Com
dois pontos percentuais de inteção de voto, nos cenários em que seu nome foi
pesquisado, conseguiu empatar com a própria margem de erro da pesquisa. E um
candidato que não ganha nem da margem de erro não existe – zero.
Lula – não há o que analisar sobre
Lula, além de que é o virtual presidente do Brasil eleito em 2018, isso se
puder disputar e se, sem em função disso, houver eleições.
Somente para
termos uma ilustração, na pesquisa Datafolha não há cenários de segundo turno
sem Lula, mas, nos do primeiro turno, quando Lula não está presente, o
percentual de votos indefinidos (brancos, nulos, nenhum e não sabe) sobe 10
pontos percentuais – de em torno de 20%, com Lula, para algo como 30% do
eleitorado, sem Lula. Ou seja, hoje, ninguém fica com os votos de Lula.
Essa é a
manchete que a Folha não deu: Lula – somente preso não ganha em 2018.
Numa análise
final: o cenário político nascido do golpe parlamentar de 2016 e seus
desdobramentos tornaram Lula, hoje, o maior risco e a única esperança para a
retomada da normalidade democrática no Brasil.
A resolução desse paradoxo está nas
ruas.
PS: A Oficina de Concertos Gerais e
Poesia não nega méritos a quem os tem, neste caso, a ombudsman da
Folha, Paula Cesarino Costa, por sua análise da postura adotada pela imprensa
mainstream na cobertura da Greve Geral de 28 de abril de 2017: "na
sexta-feira, o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para
trabalhar". Tampouco no domingo ao analisar os resultados da pesquisa
para eleições de 2018.
Do GGN