Li
recentemente uma notícia sobre uma tal bancada da Farsa Jato. Não sei se
composta por delegados ou outros servidores da Polícia Federal. Em vários
estados, policiais estariam programando candidaturas para formar uma bancada da
dita operação que quebrou o Brasil. A rigor, a ópera bufa jus-moralista que
encantou burros nos quatro cantos do país.
Ora,
ora, Senhoras e senhores! Pelo jeito, a PF não têm noção do que é uma campanha
política. Sequer se preocupou em aferir de que forma alguns poucos federais se elegeram
ou quem os bancou. Melhor não. Na melhor das hipóteses, alguns bem sucedidos
levaram a assinatura de “insuspeitas instituições evangélicas”.
Também
não se deram conta do desempenho dos policiais eleitos e como foram os seus
votos em questões cruciais e influenciados por quem. O fato é que o nome
Polícia Federal, por si só, não elege ninguém. Campanhas precisam mídia e
financiamento. Será que sabem o preço de cada voto? Em 2014, se elegeu quem
gastou mais de R$ 5 milhões e os que menos gastaram ficaram em torno de R$ 3
milhões. Será que só o nome da PF e o rótulo sejumoriano supririam essas
cifras?
Nota
importante! Quem se candidatar deve saber que a Farsa Jato, com apoio da mídia,
criminalizou até as doações legais. A legalidade da doação virou questão de
interpretação e ou presunção: se foi para o partido X é legal, se para o Y só
pode ter sido ilegal, em troca de favores genéricos e difusos, no melhor estilo
DD/Sejumoro. Afinal, o capitalismo samaritano, que doa dinheiro em troca de
nada não se pratica pró-Partido de Trabalhadores, mas sim e tão somente quando
se trata dos bandidos de estimação da Justiça/Midia/Mercado. Nesse contexto,
policiais federais irão arrecadar dinheiro e disputar espaço em grandes
partidos? Irão concorrer por partidos nanicos (quase apolíticos) que vivem de
fundos partidários tão condenados pela Polícia Federal? Mas, como os federais
são “do bem”, os fundos partidários não serão mais tão demoníacos assim.
Desse
modo, policiais federais apolíticos, negando a política, precisarão se filiar a
partidos políticos (apolíticos). Como não têm noção sequer do preço de uma
campanha, é improvável que saibam o que é montar um diretório em cada esquina,
com equipe e material publicitário, tudo muito aquém das vaquinhas
inexpressivas. Poderão fazer dobradinhas com políticos (apolíticos de
preferência gestores). Negando a política, policiais federais irão fazer
política e se vacilar irão mais promover o amigo da dobradinha do que conseguir
voto para si próprio. Obviamente, com raras exceções, vão perder as eleições,
mas terão atraído alguns votos para a legenda que não atingirá coeficiente
eleitoral para ir muito longe. Leia-se, a PF negando a política está politizada
e ensaia candidaturas. Justo ela que já foi Collor, Serra, FHC, Aécio agora
é... pasme(!) bolsopata.
Numa
conversa com setores críticos da PF sobre as candidaturas em tempos de
“CaosFarsa Jato”, recebi várias mensagens. Numa delas, um interlocutor disse
que a ficha dos federais não caiu mesmo, pois para eles está tudo bem: o golpe
foi bem sucedido. “A justiça já encarcerou o nine...” Qualquer reprovado no
psicotécnico na PF sabe que o sucesso foi além da prisão do Lula: conseguiram
criminalizar a esquerda, os movimentos sociais e os sindicatos (hoje
praticamente interditados). Podem até existir, mas não têm fonte de
financiamento. Existem pró-forma, com o simples direito de minguar como um
preso num campo de concentração. A mídia, diz meu interlocutor, junto com a
persecução penal, destruiu a política no Brasil, reduzindo o debate público ao
simples roubou ou não roubou... Aliás, digo eu, nem precisa ter roubado, basta
estar sendo acusado.
Insisto:
a Polícia Federal politizada (partidarizada) quer fazer política negando a
política, no melhor estilo João Dória, o “prefeike” de São Paulo que
foi apoiado por Sejumoro – aquele juiz para quem nada vem ao caso, exceto o seu
“livre convencimento”. Aquele da “Aquarela” do cantor Toquinho, que “com cinco
ou seis retas é fácil fazer um castelo” (tríplex).
E
aí, vem outro interlocutor e diz: “Sem rodeios, buscando só os fatos, não tem
escapatória mais na economia. Meirelles pulou do barco... O que aconteceu na
“greve dos caminhoneiros” foi só aperitivo. O dólar está alto, os
"investidores" retirando a sua grana, juros ampliados, preço dos combustíveis
subindo, num intenso flerte com a inflação e o desemprego. E o processo
eleitoral, ó! A classe política está destruída e a credibilidade no judiciário
quase zero. A foto de juízes no puteiro paulista falam por si. Quem tem
legitimidade para por ordem na casa? Nesse contexto, a última
cartada dos golpistas é a bolsopatia e até o Reinado Azevedo já
sacou. Mas, tudo isso passa ao largo e a saída para PF é ter candidatos. Ah,
tá!
A
PF não aprendeu nada com nada. Foi moleque de recado e capitã do mato do golpe,
no melhor estilo Macabeia. Usei aqui o termo Macabéa, personagem da Clarice
Lispector (A Hora da Estrela), por que de tão precária, Macabéa, não sabia quem
era ela, assim como um cachorro não sabe que é um cachorro. Os federais, com os
olhos voltados aos seus próprios umbigos, desconectados da realidade nacional e
internacional, não conseguem aquilatar o que significa a concentração de poder
nas mãos de um insano bolsopata. Não se dão conta de uma aliança entre uma
legião de bolsopatas com a juristocracia. Como diz um amigo, “O poder da
juristocracia só persiste como uma fase intermediária entre a ausência ou
deficiência de poder político e a ditadura. É nesse interregno que a
juristocracia brilha. Esse brilho não é, evidentemente, duradouro”.
Não.
Os policiais federais ainda não entenderam o que está acontecendo no Brasil e
no mundo. A síndrome da Macabéa não lhes deixa aprender nada, nem com o golpe,
nem com Moro que recebe patrocínio de empresa investigada para receber
homenagens na matriz (EUA). Vender barril de petróleo a preço de uma latinha de
Coca-Cola para uma estatal norueguesa nada significa. Estatal virou sinônimo de
corrupção no Brasil e ao admitir isso, a PF passa a si mesmo atestado de
incompetência.
Moral
da história: já existem golpistas arrependidos, entre jornalistas do PIG e até
entre ministros tucanos de cortes superiores. Mas eles ainda acreditam em um
príncipe neoliberal, que virá em um cavalo branco para salvar as convicções do
mercado em um Brasil arrasado. Ah, tá! Preparem-se para a vinda de um ogro, no
lombo de uma mula, carregando um tacape com um prego na ponta e urrando
barbaridades, sob o aplauso de multidões descrentes nas instituições e ávidas
de realizar seu desespero na violência contra seus semelhantes.
E
aí, talvez ainda vejamos caricaturas de Sejumoros e Dalanhóis amestrados
lamentando o fim do Estado Democrático de Direito. O problema é que quando isso
acontecer, num breve e tétrico futuro, ninguém mais vai se lembrar quem são ou
o que fizeram. Talvez o ostracismo nem lhes seja tão inquietante. Eu, ao menos,
faria questão absoluta de ser esquecido, sob tais circunstâncias...
Armando
Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia
Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
GGN