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segunda-feira, 11 de junho de 2018

A PF MACABÉA NÃO APRENDEU NADA, POR ARMANDO COELHO

Li recentemente uma notícia sobre uma tal bancada da Farsa Jato. Não sei se composta por delegados ou outros servidores da Polícia Federal. Em vários estados, policiais estariam programando candidaturas para formar uma bancada da dita operação que quebrou o Brasil. A rigor, a ópera bufa jus-moralista que encantou burros nos quatro cantos do país.
Ora, ora, Senhoras e senhores! Pelo jeito, a PF não têm noção do que é uma campanha política. Sequer se preocupou em aferir de que forma alguns poucos federais se elegeram ou quem os bancou. Melhor não. Na melhor das hipóteses, alguns bem sucedidos levaram a assinatura de “insuspeitas instituições evangélicas”.
Também não se deram conta do desempenho dos policiais eleitos e como foram os seus votos em questões cruciais e influenciados por quem. O fato é que o nome Polícia Federal, por si só, não elege ninguém. Campanhas precisam mídia e financiamento. Será que sabem o preço de cada voto? Em 2014, se elegeu quem gastou mais de R$ 5 milhões e os que menos gastaram ficaram em torno de R$ 3 milhões. Será que só o nome da PF e o rótulo sejumoriano supririam essas cifras?
Nota importante! Quem se candidatar deve saber que a Farsa Jato, com apoio da mídia, criminalizou até as doações legais. A legalidade da doação virou questão de interpretação e ou presunção: se foi para o partido X é legal, se para o Y só pode ter sido ilegal, em troca de favores genéricos e difusos, no melhor estilo DD/Sejumoro. Afinal, o capitalismo samaritano, que doa dinheiro em troca de nada não se pratica pró-Partido de Trabalhadores, mas sim e tão somente quando se trata dos bandidos de estimação da Justiça/Midia/Mercado. Nesse contexto, policiais federais irão arrecadar dinheiro e disputar espaço em grandes partidos? Irão concorrer por partidos nanicos (quase apolíticos) que vivem de fundos partidários tão condenados pela Polícia Federal? Mas, como os federais são “do bem”, os fundos partidários não serão mais tão demoníacos assim.
Desse modo, policiais federais apolíticos, negando a política, precisarão se filiar a partidos políticos (apolíticos). Como não têm noção sequer do preço de uma campanha, é improvável que saibam o que é montar um diretório em cada esquina, com equipe e material publicitário, tudo muito aquém das vaquinhas inexpressivas. Poderão fazer dobradinhas com políticos (apolíticos de preferência gestores). Negando a política, policiais federais irão fazer política e se vacilar irão mais promover o amigo da dobradinha do que conseguir voto para si próprio. Obviamente, com raras exceções, vão perder as eleições, mas terão atraído alguns votos para a legenda que não atingirá coeficiente eleitoral para ir muito longe. Leia-se, a PF negando a política está politizada e ensaia candidaturas. Justo ela que já foi Collor, Serra, FHC, Aécio agora é... pasme(!) bolsopata.
Numa conversa com setores críticos da PF sobre as candidaturas em tempos de “CaosFarsa Jato”, recebi várias mensagens. Numa delas, um interlocutor disse que a ficha dos federais não caiu mesmo, pois para eles está tudo bem: o golpe foi bem sucedido. “A justiça já encarcerou o nine...” Qualquer reprovado no psicotécnico na PF sabe que o sucesso foi além da prisão do Lula: conseguiram criminalizar  a esquerda, os movimentos sociais e os sindicatos (hoje praticamente interditados). Podem até existir, mas não têm fonte de financiamento. Existem pró-forma, com o simples direito de minguar como um preso num campo de concentração. A mídia, diz meu interlocutor, junto com a persecução penal, destruiu a política no Brasil, reduzindo o debate público ao simples roubou ou não roubou... Aliás, digo eu, nem precisa ter roubado, basta estar sendo acusado.
Insisto: a Polícia Federal politizada (partidarizada) quer fazer política negando a política, no melhor estilo João Dória, o  “prefeike” de São Paulo que foi apoiado por Sejumoro – aquele juiz para quem nada vem ao caso, exceto o seu “livre convencimento”. Aquele da “Aquarela” do cantor Toquinho, que “com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo” (tríplex).
E aí, vem outro interlocutor e diz: “Sem rodeios, buscando só os fatos, não tem escapatória mais na economia. Meirelles pulou do barco... O que aconteceu na “greve dos caminhoneiros” foi só aperitivo. O dólar está alto, os "investidores" retirando a sua grana, juros ampliados, preço dos combustíveis subindo, num intenso flerte com a inflação e o desemprego. E o processo eleitoral, ó! A classe política está destruída e a credibilidade no judiciário quase zero. A foto de juízes no puteiro paulista falam por si. Quem tem legitimidade para por ordem na casa? Nesse contexto, a  última cartada dos golpistas é a  bolsopatia e até o Reinado Azevedo já sacou. Mas, tudo isso passa ao largo e a saída para PF é ter candidatos. Ah, tá!
A PF não aprendeu nada com nada. Foi moleque de recado e capitã do mato do golpe, no melhor estilo Macabeia. Usei aqui o termo Macabéa, personagem da Clarice Lispector (A Hora da Estrela), por que de tão precária, Macabéa, não sabia quem era ela, assim como um cachorro não sabe que é um cachorro. Os federais, com os olhos voltados aos seus próprios umbigos, desconectados da realidade nacional e internacional, não conseguem aquilatar o que significa a concentração de poder nas mãos de um insano bolsopata. Não se dão conta de uma aliança entre uma legião de bolsopatas com a juristocracia. Como diz um amigo, “O poder da juristocracia só persiste como uma fase intermediária entre a ausência ou deficiência de poder político e a ditadura. É nesse interregno que a juristocracia brilha. Esse brilho não é, evidentemente, duradouro”.
Não. Os policiais federais ainda não entenderam o que está acontecendo no Brasil e no mundo. A síndrome da Macabéa não lhes deixa aprender nada, nem com o golpe, nem com Moro que recebe patrocínio de empresa investigada para receber homenagens na matriz (EUA). Vender barril de petróleo a preço de uma latinha de Coca-Cola para uma estatal norueguesa nada significa. Estatal virou sinônimo de corrupção no Brasil e ao admitir isso, a PF passa a si mesmo atestado de incompetência.
Moral da história: já existem golpistas arrependidos, entre jornalistas do PIG e até entre ministros tucanos de cortes superiores. Mas eles ainda acreditam em um príncipe neoliberal, que virá em um cavalo branco para salvar as convicções do mercado em um Brasil arrasado. Ah, tá! Preparem-se para a vinda de um ogro, no lombo de uma mula, carregando um tacape com um prego na ponta e urrando barbaridades, sob o aplauso de multidões descrentes nas instituições e ávidas de realizar seu desespero na violência contra seus semelhantes.
E aí, talvez ainda vejamos caricaturas de Sejumoros e Dalanhóis amestrados lamentando o fim do Estado Democrático de Direito. O problema é que quando isso acontecer, num breve e tétrico futuro, ninguém mais vai se lembrar quem são ou o que fizeram. Talvez o ostracismo nem lhes seja tão inquietante. Eu, ao menos, faria questão absoluta de ser esquecido, sob tais circunstâncias...
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
GGN