sábado, 30 de abril de 2022

O DOMINGO DOS DENTES À MOSTRA. POR FERNANDO BRITO

Não dá para prever o quanto a máquina bolsonarista levará para as ruas amanhã, no seu Brucutu’s Day, em homenagem ao leão de chácara Daniel Silveira e para agredir o STF.

Mas, mesmo que venham a ser poucos, é certo que o estado de excitação e agressividade será grande.

Não estamos diante de um movimento político-eleitoral, estamos defrontados com um movimento sedicioso, que visa demolir um resultado negativo das eleições, senão no primeiro turno, certamente no segundo, quando esperam colocar em marcha um clima de terror e de chantagem aberta.

Claramente, o de que as Forças Armadas não aceitarão uma vitória de Lula.

Ou seja, ou se dá o voto a Bolsonaro ou se dará, sem o voto, o poder outra vez a Bolsonaro.

Repare como, nos últimos meses, ficou claro que, infelizmente, as opções próprias da democracia ficaram obscurecidas.

É evidente que em processos eleitorais normais, cada um pode buscar o ajuste fino entre o que pensa e o candidato em que vota e que isso implica, como em qualquer país, em quatro, cinco, seis ou ate mais candidatos.

Aqui, entretanto, há um cenário em que qualquer voto desperdiçado em candidaturas inócuas ou mesmo anulado por descrença é, na prática, um voto que ajuda o país a descambar para o autoritarismo.

Os dentes estão à mostra, deles não façamos pouco caso.

Há uma ameaça sobre todas as cabeças dos brasileiros e é preciso entender que, se ainda temos saída, cada metro em que se permite que o bolsonarismo avance nos deixa mais perto de um ponto sem volta nesta loucura.

O 1° de maio, dia dos direitos e das liberdades dos que trabalham não pode ser convertido na data das feras à solta, pregando a barbárie e a ditadura.

Tijolaço.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

BOLSONARO NÃO TEM PARTIDO PORQUE FAZ GUERRA, NÃO POLÍTICA. POR FERNANDO BRITO

A Folha anuncia hoje o falecimento, sem provocar lágrimas, do “Aliança pelo Brasil”, o partido que Jair Bolsonaro lançou, com pompa e circunstância, em 2019, depois da briga pelo controle dos recursos do PSL, que havia perdido para o espertíssimo Luciano Bivar, sócio-controlador da sigla que abrigou a candidatura presidencial em 2018.

Faltaram-lhe 309 mil das 492 mil assinaturas requeridas por lei, porque só conseguiu validar 183 mil filiados, ficando o restante na conta dos mortos, dos filiados a outros partidos, à duplicidade e, até, à inexistência do eleitor que, supostamete, apoiada a criação do partido “38”, número que havia sido escolhido para resumir suas ideias, agora substituído pelo menor calibre do “22” do Partido Liberal.

Mas é um erro acreditar que Bolsonaro “não conseguiu” reunir as tantas assinaturas necessárias, porque há dúzias de gente com menos poder e dinheiro que o consegue com um pé nas costas, como atesta o fato de termos mais de 30 partidos registrados.

É que o bolsonarismo não se estrutura através de partidos. Não o fazia através do PSL, não tentou fazê-lo no “Aliança 38” e nem o faz através do PL que lhe alugou Valdemar Costa Neto, CEO do Partido Liberal.

Já em 2019 escreveu-se isso neste blog.

O bolsonarismo não tem diretórios, nem sente a necessidade de tê-los, porque se organiza em outras células: polícias, milícias, templos religiosos, clubes de atiradores e movimentos reacionários inorgânicos, além do apoio de grupos empresariais atrasados, especialmente no meio rural.

Seu objetivo não é a organização, mas reproduzir a agitação que vem de cima, da figura tosca do presidente da República. Compete-lhes apenas difundir os comandos e verdades emanados de cima, não há ideias a discutir, nem resoluções a tomar.

Também não é esse o objetivo dos políticos, seja de qual partido do Centrão forem, mas apenas o de garantirem verbas e cargos, não para implementar políticas, mesmo as conservadoras, mas apenas as de recolherem vantagens políticas e materiais.

A necessidade de Bolsonaro não é a de um partido, é a de uma gangue.

Tijolaço.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

BOLSONARO QUER ELEIÇÃO APURADA EM ‘COMPUTADOR MILITAR’. POR FERNANDO BRITO

Pronto: Jair Bolsonaro encontrou a fórmula, inédita no mundo, para transformar uma eleição em um golpe militar, sem o uso de tanques, carros blindados e tropas de choque.

Basta um cabo (USB?) soldado nos computadores da Justiça Eleitoral, que transfira os dados para o computador do Exército, e a sua vitória estará garantida. Pelo menos é o que se depreende do que disse, agora há pouco, o presidente:

“Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, e tem um cabo que alimenta a ‘sala secreta do TSE’. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz ‘quem ganhou foi esse’. Uma sugestão é que neste mesmo duto seja feita uma ramificação, um pouco à direita, porque temos um computador também das Forças Armadas para contar os votos”, disse Bolsonaro, informa a Folha.

Como ‘a ramificação’ é ‘um pouco à direita’, não é difícil imaginar o que aparecerá no ‘computador militar’.

É bom que as chefias militares vejam no que estão se metendo, porque este é o caminho mais perigoso, não só para o país, mas para elas próprias. Bolsonaro, como qualquer comandante, só deve ser obedecido em suas ordens legítimas e não há nada de mais ilegítimo do que forças militares usurparem o controle da apuração do processo eleitoral, algo que nem durante o período autoritário foi feito.

Isto é, evidentemente, uma patacoada, mas envolver as Forças Armadas numa patacoada é criminoso e perigoso. Coloca-as na posição de usurpadoras do voto popular e de – não há outra conclusão possível – de dispostas a fraudar, na apuração, a vontade popular.

A declaração foi feita numa cerimônia oficial, em pleno Palácio do Planalto, onde pontificou como “herói” o leão de chácara aliviado de sua condenação pelo presidente.

Ele é, agora, o símbolo anabolizado da liberdade de expressão, inclusive para ameaçar dar surras e tiros.

Quem sabe Bolsonaro não vai usar sua “Bic” para nomeá-lo o próximo ministro “da defesa” pessoal?

Tijolaço.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

COM LULA O ‘TIJOLAÇO’ VAI PODER ESCREVER QUE A ALEGRIA VOLTOU AO PAÍS, DIZ BRITO

Se é cabotino, perdoem-me, mas não posso deixar de compartilhar com os leitores deste blog o trecho da coletiva de Lula, ontem, que talvez tenha escapado de muitos (porque a entrevista foi uma maratona de 3 horas e meia) em que ele responde à pergunta que fiz sobre a retomada do desenvolvimento econômico e da restauração de um mínimo de dignidade na vida do povo pobre do Brasil.

Lula elencou as linhas gerais de suas medidas na economia e das responsabilidades do Estado na recuperação do país e de que pretende assumir, pessoalmente, o papel de indutor, via política econômica, da recuperação dos níveis de atividade na economia, repelindo as críticas de que não teria “responsabilidade fiscal” ao adotar políticas de aceleração da economia e da retirada do nosso país da catástrofe social em que foi atirado.

Quem puder, pode assistir a íntegra da entrevista aqui.


Tijolaço.

terça-feira, 26 de abril de 2022

E DESDE QUANDO O LULA NÃO FALA? POR FERNANDO BRITO

“Lula não fala disto; Lula não fala daquilo…”, você está lendo na grande mídia.

Mas é claro que Lula fala, e vai falar amanha a blogueiros, youtubers e para a mídia independente, em entrevista coletiva, a partir das 10;30, com transmissão por seu canal oficial no Youtube e por diversos sites, como este Tijolaço, que replicarão as perguntas sobre crise institucional, inflação, aliança com Geraldo Alckmin, pesquisas, “terceira via” e pautas alternativas que raramente estão nos jornais.

Carlito Neto (O Historiador); Conceição Lemes (Viomundo);João Antônio (Click Político); José Fernandes Júnior (Portal do José); Laura Sabino (Laura Sabino); Luíde Matos (Luideverso); Mariana Torquato (Vai uma mãozinha aí); Nina Fideles (Brasil de Fato); Pedro Borges (Alma Preta); Ronny Telles (Ronny Telles); Talita Galli (TVT) e eu, deste Tijolaço, vamos, por duas horas, tentar dar conta de tudo o que tem a dizer este protagonista dos últimos 40 anos da vida política brasileira.

Como de outras vezes, é provável que ele repita uma frase que virou um bordão em muitas das entrevistas que concede às radios de todo o Brasil, um dos poucos espaços que tem para se comunicar com a população: “não tem pergunta proibida”.

Lições do passado, preocupações do presente e as esperanças possíveis para o futuro são a nossa pauta. E são a própria vida de Lula.

Daqui a pouco, aqui em baixo, a transmissão. ao vivo.

Tijolaço.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

“EU ACIMA DE TUDO”. POR FERNANDO BRITO

Do alto do cavalo, digo, do alto de seu saber jurídico, Jair Bolsonaro, Primeiro e (graças a Deus) Único Imperador da República decreta que seu decreto perdoando Daniel Silveira, o deputado leão de chácara, “é constitucional e será cumprido”.

Portanto, o Supremo Tribunal Federal, a quem compete o controle de constitucionalidade de todos os atos administrativos é, solenemente, declarado inútil.

Seu poder está definitivamente usurpado e Jair Bolsonaro pode, a partir de agora, decretar a nulidade de toda e qualquer sentença que de lá saia, se o quiser.

“Eu acima de tudo”: foi só tirar duas letras.

Para isso, garantem-lhe os “manos” fardados, reduzidos à condição de guarda pretoriana idosa do César., que está à beira de cruzar com ela o Rubicão da independência dos poderes.

Por isso marcha ali outro personagem que soa estranho, como dublê de ministro da Defesa de fato e candidato a vice-presidente.

É triste e ruinosa a situação da República e só não é pior porque ainda resta – ao menos suponho – inteligência entre os militares para saber que a imposição de medidas de força não tem possibilidade de sustentar-se por mais que alguns dias, porque não se tem a mídia e nem a conjuntura mundial que havia em 1964.

Isso parece ser, ainda, a nossa maior garantia, pois já mandaram o cabo e o cavalo para pisotear as decisões judiciais.

Tijolaço.

sábado, 23 de abril de 2022

PARA QUE É O GOLPE? FERNANDO BRITO

Não há “agitação nas ruas”, exceto este carnaval “meia-boca”, já em dias algo friozinhos. Também não há “comoção nacional” pela condenação de Daniel Silveira, razão invocada para perdoar a pena de um sujeito que parece inflado por ar comprimido que expele xingamentos, insultos e ameaças com a pressão que parece tem sem seu tórax hipertrofiado.

A no entanto, o clima de golpe institucional pesa como se o país estivesse a viver insurreições e não um processo eleitoral que só não está frio porque um dos interessados é o presidente da República e faz de tudo motivo para parecer aclamado pelas multidões, ainda que elas não passem de umas 4 mil motos ou de centos de pessoas arrebanhadas para inaugurações já nem se sabe do quê.

Este “novo 64”, ainda que lá na cabeça insana de seus promotores agora, não é invocado contra a “ameaça vermelha”. Se tanto, pela ‘cor-de-rosa”, obcecados que são nosso conservadores com o gayzismo subversivo, depois que ficaram no ridículas as alegações de lavouras de maconha nos terrenos das universidade. Também não é contra a crise econômica, porque o governo é deles, o ministério é deles e a grande maioria dos poderosos – e todo-poderosos – do dinheiro também é deles.

O Congresso também não está “dominado pela esquerda”, que não tem número nem para fazer o terço necessário a impedir mudanças constitucionais. O Orçamento secreto e o loteamento de cargos garantem nele folgadíssima maioria.

Também a polícia só aparenta causar problemas ao governo por conta de um naco suculento que lhe foi prometido e até agora não entregue.

Os soldos militares foram revistos e as remunerações de quem vai para a reserva não sofreram o castigo imposto aos civis e, para vários milhares, os cargos de nomeação garantem que, agora, “prontidão” nunca mais.

Não se pode reclamar do Supremo Tribunal Federal: atendeu ao “bilete” do general, deixou fora das urnas de 2018 o capitão que cevaram e, com ele eleito e secundado por uma tropa de generais, tiveram tudo para fazer o governo como bem quisesse. Um atraso ou outro no “liberou geral” do armamento para os tarados que se realizam furando a tiros figuras de papelão não chegou a comprometer o “armas a granel” que se erigiu como fundamento da liberdade.

Então contra o que é o golpe que se apregoa aos quatro ventos, que se ameaça todo o tempo, que se ensaia com medidas arbitrárias, que se anuncia com os “acabou, porra!” presidenciais?

Ora, é simples e evidente: o golpe é contra o voto popular, que esboça eleger aquele que, com tudo o que tiveram nas mãos, destruir.

É por isso que precisam arranjar motivos para tentá-lo antes de outubro, para que embora evidente que não, é a maioria que o deseja.

E, para isso, serve até mesmo a figura insólita de um boçal, com seu discurso de latrina, o qual está inscrevendo na porta da sua latrina verbal o nome de quem o protege.

De latrinas, o sr. Bolsonaro conhece bem, desde que planejou explodi-las num quartel.

Tijojaço.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

BOLSONARO ABRE GUERRA TOTAL AO STF. POR FERNANDO BRITO

O decreto de graça presidencial editado ontem por Jair Bolsonaro é flagrantemente inconstitucional. Ponto.

Não foi requerido pelo condenado, nem pelo MP, não tem parecer do Conselho Penitenciário, não é pena transitada em julgado. Não tem outra razão senão de ser senão a de revogar uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Uma anulação sumária de uma decisão de outro poder.

Uma declaração de guerra, em resumo.

Não se esperava que Jair Bolsonaro aceitasse a aplicação da lei, mas não que fosse tão longe em sua reação.

É evidente que o decreto será anulado, ou pelo Congresso ou pelo Judiciário.

Ou Bolsonaro o impõe pela força militar – e é improvável que as Forças Armadas vão se mobilizar por um cabo expulso da PM – ou se faz de vítima perante seus fanáticos seguidores, que acham legítimo “dar uma surra de gato morto até o gato miar, uma manifestação legítima da “liberdade de expressão”.

É guerra aberta.

A bomba está no colo de Arthur Lira, presidente da Câmara, que vai ter de associar o Legislativo a ofensiva golpista de Bolsonaro sobre o Judiciário.

Há um evidente crime de responsabilidade na atitude presidencial e Lira não terá desculpas para não colocar em votação o pedido de impeachment que será inevitavelmente apresentado, e por partidos e entidades de peso.

Bolsonaro criou uma crise institucional que não poderá ser resolvida, nem mesmo pelo processo eleitoral, porque evidencia que ele não está disposto a aceitar decisões legítimas.

Coloca na ordem do dia a possibilidade de que o poder militar no Brasil, na terrível antevisão de Ruy Castro, na Folha de hoje sobre se os militares “se sujeitarão a bater continência para gente como Daniel Silveira”.

A radicalização do processo político e eleitoral não é obra senão do próprio governo subversivo a que estamos submetidos.

Não subestimem os perigos de seis meses de aguda crise institucional.

Tijolaço.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

BOLSONARO E O “CHARME DO TRAÍDO”. POR FERNANDO BRITO

Não passa desta quinta-feira o início do discurso vitimista de Jair Bolsonaro sobre o voto do ministro André Mendonça condenando o deputado Daniel Silveira pelas ameaças que fez de surrar ministros e de fechar o Supremo Tribunal Federal.

De novo, como vem desde a demissão de Gustavo Bebianno, do seu confronto com os deputados do PSL, com Mandetta e com o “caso Moro”, Bolsonaro trabalha a fidelidade de seus adeptos pondo-se na posição de “traído” por aqueles “por quem sempre fez tudo”.

Não precisava se associar ao brucutu que estava sendo julgado na sessão desta quarta-feira no STF, pois Silveira é uma figura periférica e “folclórica” , distante de seu núcleo político.

Mas fez questão de mandar o filho como “leão de chácara” para acompanhá-lo na tentativa – frustrada, aliás – à missa de corpo presente que seria seu julgamento.

Claro que tem a intenção de fazer dele um mártir e, para isso, terá de fazer de André Mendonça um Judas.

Este é o dilema de Bolsonaro: precisa crescer para fora de seu grupo, mas só o que sabe fazer é açular os seus, dizendo que está sendo apunhalado.

Apresentar-se como um solitário faz parte da imagem que quer propagar, exceto em relação às Forças Armadas, a quem verga a se apresentarem como garantidoras do seu poder.

Ruy Castro, na Folha, é impiedosamente verdadeiro com esta estranha conjunção de “fiéis”:

Sob Bolsonaro, qualquer desclassificado no governo pode pregar o armamento da população contra a “criminalidade de Estado”. Isso significa a incitação a que civis peguem em armas para, ao comando de Bolsonaro ou dos zeros, desafiar os governadores, os tribunais e, se preciso, o próprio Exército.
O que esses generais acharão da ideia de dividir a força armada da nação com uma turba acima da lei, com ideias particulares de ordem e poder? Irão à sua caça, para prendê-los e torturá-los, como seus heróis fizeram contra os inimigos no passado? Ou se sujeitarão a bater continência para gente como Daniel Silveira?

Pois quem notar que tipo de mártires Bolsonaro quer construir saberá que tipo de heróis se terá de cultuar.

Tijolaço.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

SILVEIRA, DO VAL, GABRIEL MONTEIRO. O PARLAMENTO DECAIU TANTO QUE NEM ESSA FAXINA O LIMPA. POR FERNANDO BRITO

O dia é ruim para os três estrupícios que simbolizam – porque a quantidade, infelizmente, é muito maior – a mancha de lixo que se espalhou no Poder Legislativo com a “onda” bolsonarista.

Daniel Silveira, o quebrador de placas, caminha para a condenação no Supremo, Arthur Do Val, o tarado da Ucrânia, e Gabriel Monteiro, o ex-PM e youtuber de sexo com adolescentes, estes já eram e o “Mamãe Falei” já renunciou na vã tentativa de escapar à cassação, inutilmente.

Nem o fato de que existem outros é tão importante quanto o fato de que existem, em número inédito, eleitores dispostos a transformar a sua representação no parlamento em um exército de valentões, debochados e policiais exibicionistas.

Sempre existiram, é verdade, mas era uma situação marginal, agora é uma regra.

Corresponde à estupidez suprema que foi levada ao mais alto cargo do país quanto, por ódio politico, as elites deste país resolveram entregá-lo a Jair Bolsonaro.

É como se a vergonha tivesse perdido a vergonha, e se orgulhasse de desfilar, crendo que irá encantar a porção da sociedade que foi progressivamente insuflada nos últimos anos.

A desfaçatez é tanta que Eduardo Bolsonaro e o próprio Brucutu Silveira foram ao plenário do STF, para tentar intimidar os ministros durante o julgamento do segundo, por ameaçar o próprio Supremo.

Felizmente, a restrição na ocupação das cadeiras do plenário provocada pela pandemia ainda está em vigor e evita-se, assim, a cena insólita.

Assistir, podem, mas como todos nós. Inclusive na transmissão da TV Justiça, que reproduzo abaixo.

Tijolaço.

terça-feira, 19 de abril de 2022

MORO E SEU ESTELIONATO POLÍTICO. POR FERNANDO BRITO

A coluna Painel, da Folha, reproduz uma mensagem de Antonio Bivar, presidente do União Brasil, onde este diz, com todas as letras, a apoiadores de Sergio Moro que “ao tomar sua decisão [de filiar-se ao partido], ele [Moro] estava ciente de que em nenhum momento a legenda para a disputa presidencial lhe fora prometida”.

Ou seja, não foi Moro o enganado nesta história, mas a opinião pública, à qual o ex-juiz levou a crer ter sido vítima “dos políticos”, com a pantomima do “desisto de desistir” que ele encenou (e ainda encena) sobre sua candidatura presidencial.

Assim, consegue mídia e, melhor ainda, “justifica” o que de fato fez: posar de mártir da política quando, na verdade, estava agindo para evitar que a frustração com os índices de adesão a sua candidatura sinalizavam um queda, sem nunca terem apontado os números que sonhara.

Numa palavra, fugiu de um desastre que se anunciava e mandou às favas os que depositavam nele sua boa-fé, ainda que distorcida.

Desistir, claro, é um direito de qualquer um. Mas a quem se coloca como um paladino da moralidade, como um salvador do país, o nome certo é deserção, não desistência.

Este é Sergio Moro, o dissimulado, o que esconde suas ambições sob um falso “heroísmo” e que foge quando o caminho que dizia seguir apresenta alguma aspereza.

Moro é o falso esperto, que logo se revela um otário, ao ponto em que está temeroso até de uma candidatura ao Senado.

Pena que, enquanto isso, produz estragos para o país.

Tijolaço.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

O DISCURSO DE BOLSONARO: SAIR DA RETA E AMEAÇAR COM FRAUDE. POR FERNANDO BRITO

Não penso que Jair Bolsonaro seja um idiota mal-informado, sem noção da realidade.

Sim, ele é um tipo imbecil, grosseiro, estúpido, desumano e insensível, mas certamente é dono de um tino eleitoral que o levou ao lugar que, desafortunadamente para os brasileiros, ocupa agora.

E é, também com certeza, muito bem alimentado por pesquisas e análises que a máquina de informações militar-palaciana lhe provê.

Por isso, convém prestar atenção nos rumos que toma seu discurso, ainda que tatibitati, recheado de palavrões e metáforas, se é que chegam isso, de cunho sexual.

E há dois pontos que têm sido frequentes em seu discurso – além, claro, da exploração da religião e da ideia de que ele, e só ele, é o ungido por Deus para governar o Brasil.

O primeiro deles é o “tirar o corpo fora” das responsabilidades sobre a crise econômica. Não promete solução, dá-se absolvição pelos preços em alta e o poder aquisitivo em forte baixa. Diz que a culpa é do “pessoal do fica em casa”, da guerra da Ucrânia, “dos governos do PT” (que terminaram há seis anos!) e que a inflação “vai continuar por uma tempo”.

Isto é, procura desvencilhar-se de um quadro que não resolverá e que, calcula, pode até piorar. Tenta absolver-se das culpas sobre isso, que sabe que será o centro do discurso da campanha do PT.

Como qualquer garoto covarde, acha que o “não fui eu” o deixa fora das cobranças por uma situação desastrosa.

O segundo ponto que voltou a ser recorrente nas falas presidenciais é aquilo em que ele insiste em possíveis ameaças de fraude eleitoral e na parcialidade do TSE, mais especificamente dos ministros Alexandre de Morais, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, respectivamente futuro, atual e ex-presidentes da Corte Eleitoral.

E, neste caso, é o movimento de preparação de uma inevitável tentativa de “melar” a eleição, questionando a sua legitimidade e, em consequência, os seus resultados ou, mesmo antes, as suas tendências.

São, ambas, “pregação para convertidos”, discursos voltados apenas para seus seguidores: o primeiro como contra-argumento frente à realidade; o segundo para criar clima de desconfiança e medo.

Foram usados no segundo semestre do ano passado e não se refletiram em melhoria dos seus índices de popularidade. Retomá-los agora é sinal de que sente-se mais ameaçado eleitoralmente.

O que exige da oposição mais cabeça fria e prudência para não lhe dar mais combustível para o ódio e o terror que movimentam sua máquina.

Tijolaço.

domingo, 17 de abril de 2022

DORIA, ‘RIFADO’, DEVE LEVAR “CABEÇAS BRANCAS” DO TUCANATO A APOIAREM LULA. POR FERNANDO BRITO

“Se Doria for rifado, FH e tucanos históricos devem ir com Lula”, diz Guilherme Amado em sua coluna no Metrópoles.

Se for rifado?

Nem mesmo Doria duvida que foi e a esta altura deve estar arrependido em ter – logo ele, um especialista em “não vale o que está escrito” – acreditado na carta do presidente do partido, Bruno Araújo, confirmando o apoio a sua candidatura e dizendo que estava na coordenação da campanha dorista à Presidência apenas para fazer com que o “candidato” não desistisse de deixar o governo e conservasse, assim, o poder dentro do partido.

Sua “candidatura”, agora, só lhe serve para atrapalhar os planos dos seus algozes e ele não tem nenhum interesse em terminar o processo eleitoral com 2 ou 3% dos votos, ou até menos, a seguir a polarização que vai se tornando completa nas eleições.

Fernando Henrique Cardoso – e toda a velha guarda do tucanato – já tem simpatia zero por ele, embora dissessem que seguiriam a “fidelidade partidária”.

Mas não há fidelidade nem a contragosto quando a própria direção do partido trai seu candidato.

Ainda mais com a “porta” Alckmin aberta na chapa de Lula.

Os “cabeças brancas” do tucanato se omitiram em 2018 e isso ajudou a chegar onde chegamos. Têm uma chance, embora tardia, de não repetir o desastre.

Tojolaço.

sábado, 16 de abril de 2022

DORIA, O SUICÍDIO DO PSDB E O PERIGO PARA O PT. POR FERNANDO BRITO

O afastamento do presidente do PSDB, Bruno Araújo, do comando da campanha de João Dória – lugar em que, todos viram, só desempenhava o papel de sabotador – é só mais uma das pás de cal que vai sendo depositada sobre aquele que foi, goste-se ou não, o partido da direita no Brasil desde o início dos anos 90.

O que resta a Dória são os cacos do que fez como governador do Estado – aliás, num desempenho que esteve longe de ser desastroso – mas que mostra que não tem significado político nacional, e que torna o tucanato menos do que sempre foi. Se não passava das fronteiras de São Paulo, apenas atraía com o poder deste estado, agora nem mesmo para dentro das terras paulistas já funciona.

Nem mesmo a candidatura à sua sucessão, um “implante” do DEM no tucanato feito por João Doria, vai bem das pernas: Rodrigo Garcia tem 6% e dá sinais de que esconderá o patrono na campanha.

Entre os adversários de Doria dentro do partido, a situação não é melhor, com Eduardo Leite fazendo reuniões e articulações (?) não se sabe em nome de quem, além dos dirigentes nacionais que sabotam as próprias prévias internas que anunciaram como uma revolução na vida partidária.

Em apenas seis anos, desde que foi candidato a prefeito de São Paulo, Doria adonou-se do berço do tucanato, numa escalada de traições e oportunismo que levou o PSDB a estar perto da dizimação total em seu maior e agora último reduto.

O PSDB em franco declínio leva a eleição em São Paulo, também, para uma ievitável polarização, porque Tarcísio de Freitas já vai se consolidando como o candidato do bolsonarismo, em oposição a Fernando Haddad.

Incrivelmente, Marcio França, inimigo figadal de Dória, teima com sua candidatura de olho no espólio tucano pode deixar Fernando Haddad numa situação perigosa de, em lugar de aliado, parecer rival de Geraldo Alckmin.

Tijolaço.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

MÁ NOTÍCIA PARA BOLSONARO: REJEIÇÃO A LULA ESTÁ EM QUEDA. POR FERNANDO BRITO

Divulgados agora cedo, os dados sobre rejeição da última rodada da pesquisa PoderData mostram que, ao contrário do que parte da imprensa sugeriu, não há evidências de que possa estar havendo alguma erosão da candidatura do ex-presidente Lula, porque, como tenho insistido, a polarização faz com que essa eleição presidencial seja, antes de tudo, uma batalha de rejeições, seja a ele seja a Jair Bolsonaro.

Lula teve 38% de declarações de que “não votaria de jeito nenhum” nele, seis pontos a menos (muito fora da margem de erro) do que o registrado há um mês atrás. Bolsonaro ficou nos mesmos 51% da pesquisa anterior, número que está em linha com o dos que consideram “ruim ou péssimo” o seu governo, 53%.

Nas respostas “é o único em quem votaria” e “poderia votar”, Lula soma 59% (44 e 15%, respectivamente), contra 45% de Bolsonaro (32 e 13%, em cada opção). Os quesitos “poderia votar” e “não votaria”, que aceitam várias respostas, explica o total maior que 100%.

A soma das decisões de voto cristalizadas na expressão “é o único em quem votaria” nos dois principais candidatos, que vai a 76%, considerada uma parcela de outros 10% que não votam válido (nulo, branco ou abstenção eleitoral real, não a “de cartório”, que tem muitas distorções) deixa algo em torno de 14% apenas dos votos flutuando e, pelo grau das rejeições, mais propícios escolher Lula que Bolsonaro.

Os números também ajudam a entender porque a estratégia do atual presidente é apostar na radicalização, no fanatismo e no medo. Ele quer e precisa consolidar sua base fiel, sem a qual não terá um ponto de partida para atrair os que, mesmo dizendo rejeitá-lo, possam recusar a escolha de Lula. Ou não foi assim com parte dos “moristas”?

A Lula, é preciso calma e prudência, para não se deixar alvejar pelo fogo da hipocrisia. Com o perdão pelo cacófato, é só a uma fé disforme o que tem Bolsonaro a agarrar-se, como se Deus fosse seu cabo eleitoral.

Tijolaço.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

MORO E BIVAR ESTÃO ‘COMBINADINHOS’?. POR FERNANDO BRITO

O tipo de métodos usados para atingir um fim costuma identificar qual é a natureza deste objetivo.

Reinaldo Azevedo, no UOL, e Renata Agostini, na CNN (vídeo ao final), levantam a possibilidade que o “lançamento” da “candidatura presidencial” (note-se quantas aspas) de Luciano Bivar, presidente do União Brasil seja, na verdade, um expediente para “guardar lugar” para Sergio Moro numa chapa presidencial, o que Reinaldo chama de “Cavalo de Troia”.

Numa palavra, um espécie de golpe de esperteza sobre os demais partidos e um golpe na dinâmica eleitoral, claro que facilitado, como todo estelionato, pela ambição das próprias vítimas.

Dada a natureza dos personagens envolvidos, não é de se duvidar.

Mas acho que, a esta altura, a “desistência da desistência da desistência” de Moro não tem espaço para nada além de tomar de volta um ou dois “pontinhos” de Bolsonaro, porque a figura do ex-juiz se tornou tão patética que não chegará nem ao pouco que chegou antes.

Ocorre, porém, que Luciano Bivar não é homem de guardar rancores quando se trata de fazer negócios. E nada impede que ele negocie com Bolsonaro – deixo ao leitor a ideia de em troca de quê – justamente o contrário: o não-retorno de Sergio Moro à disputa e que aqueles 2% fiquem para onde já migraram: o atual presidente.

Os integrantes do “Clube dos Candidatos da 3ª Via” – Simone Tebet e Eduardo Leite, sobretudo – não são ingênuos, como autores ou vítimas, em matéria de traição política e, por isso, sabem que a candidatura de Bivar a presidente – é mais sem pé ou cabeça quanto a deles e, portanto, não adianta que ele balance o pote de ouro do Fundo Eleitoral do União Brasil.

Para Bivar prometer que vai sair dali é preciso que ele saiba onde vai entrar verba sem carimbo, ainda que com digitais.

Tijolaço.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

BOLSONARO ‘PROMETE’ INFLAÇÃO ALTA ‘POR LONGO TEMPO AINDA’. POR FERNANDO BRITO

Se o presidente da República anuncia, em solenidade oficial, que “a inflação na questão alimentar terá que ser convivida (sic) por um longo tempo ainda”, será que o Seu Zé, que está pagando 40% a mais no saco de batata e de 10 a 20% a mais na caixa de tomates do que pagava, no atacado, para levar à feira estes produtos, vai moderar o preço no varejo para recuperar o baixo ganho na semana que vem?

Será que o seu Geraldo, precista daquela rede de hortifrútis vai pensar em promoção para as verduras que não baixaram de preço no Ceagesp?

Alface, tomate e batata não têm nada a ver com a Guerra da Ucrânia, que Bolsonaro aponta como causa dos aumentos. Têm a ver, além da chuva e do sol, com a expectativas dos preços internos.

A alta dos preços da cesta básica, que já alcançou níveis absurdos, não vai recuar e a fala presidencial só o confirma.

Nos demais preços, estamos “pendurados” na apreciação do Real que, sabem-mo até as pedras de Wall Street, se sustenta na insignificância dos juros norte-americanos frente à inflação que é alta mas, ao contrário do que diz Bolsonaro, é menor que nossa e, portanto, depreciativa para moeda brasileira.

Bolsonaro aposta em um cenário absolutamente temerário, achando que a situação internacional lhe servirá de álibi para um eventual descontrole de preços maior do que temos hoje.

Difícil contar isso em Nova Iguaçu, Duque de Caxias ou em Osasco.

Tijolaço.

terça-feira, 12 de abril de 2022

MILITAR VIRAR CHACOTA, MAIS UMA OBRA DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Na sua coluna no UOL, o jornalista Tales Faria é preciso no julgamento: “o presidente Jair Bolsonaro não tem conseguido sucesso na gestão da economia ou da saúde da população, mas saiu-se vitorioso na desmoralização dos militares, especialmente do generalato do país”.

Nos três últimos dias as notícias são um prato cheio para a chacota com os dirigentes das Forças Armadas: compra de Viagra, de remédios para a calvície e até de próteses penianas.

Outros governos, que os generais tanto odeiam, compraram-lhes armamentos, caças modernos, submarinos.

As desculpas médicas são deploráveis, porque até os meio-fios caiados dos quartéis sabem que, ainda que eventualmente necessários como terapia, não são para todos os militares, de todas as patentes, mas para a alta oficialidade.

Sigo com Tales:

Bolsonaro conseguiu promover um verdadeiro estrago na imagem dos militares, que vinha se refazendo nesses anos de respeito à democracia pós-ditadura. O presidente começou a desmoralizá-los, primeiro distribuindo cargos aos milhares no governo. Mostrou que, em troca de um acréscimo no soldo, a turma poderia se comportar da mesma forma que aquele grupamento político que tanto criticavam.

Mas é pior, senhores. Trata-se da sua desmoralização perante a tropa, como se fossem aproveitadores daquilo que a ela é negado, mesmo quando necessário.

Os cochichos, as risadas – até sem a sensibilidade devida a quem tem problemas de saúde, o que é perverso – os apelidos jocosos, a esta altura, proliferam nas casernas, ferindo a liderança de quem, como profissional de defesa, deveria ter o respeito e o permanente acatamento de seus subordinados.

É inevitável e péssimo que ocorra, mas quem quis a ribalta que não lhe pertencia tem de aguentar as luzes que se lança sobre quem quer subir ao palco que não lhe pertence.

Tijolaço.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

NÃO HÁ LEI PARA BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

A Advocacia Geral da União, num completo desvio de finalidade da sua função de defender o Estado brasileiro, bem poderia trocar seu nome para “Advocacia Geral do Jair”, fazendo par com o Ministério “Impudico” Federal na tarefa de blindarem o atual Presidente da República de qualquer consequência de seus atos.

Agora, pede o arquivamento da investigação sobre o patrocínio presidencial aos “pastores do MEC”, dizendo haver apenas uma “menção indevida” a Jair Bolsonaro no áudio em que o ex-ministro da Educação, Mílton Ribeiro, diz que atendê-los é um “pedido do Presidente”.

Em outro front, no Congresso, cuida-se de fazer alguns acertos para que senadores retirem suas assinaturas de apoio a uma CPI do MEC, para apurar estes e outros fatos, em troca do que deixo ao leitor imaginar.

A economia com que tratei esta natimorta CPI já era fruto da constatação de que, no Brasil de instituições corrompidas que há hoje, nada é capaz de furar a blindagem de impunidade que se construiu ao redor dele.

Nem mesmo um possível crime de morte encomendada, como sugerem as gravações da família do ex-PM miliciano Adriano da Nóbrega anima promotores e procuradores a investigar.

Nem aquela morte, nem as quase 700 mil outras que restaram da pandemia criminosamente “enfrentada” com Ivermectina, Cloroquina e outras prescrições charlatãs.

Esqueçam qualquer possibilidade de que Jair Bolsonaro venha a ser responsabilizado por estas e quaisquer outras barbaridades.

O sistema de Justiça no Brasil só voltará a existir com a sua saída do poder, isso se não for bem sucedido em continuar nele, mesmo derrotado eleitoralmente.

Tijolaço.

domingo, 10 de abril de 2022

A TERRA PLANA E O LADO ESCURO DA LUA. POR FERNANDO BRITO

É surpresa para ninguém a retirada de duas assinaturas de senadores do Podemos – os ex-moristas Oriovisto Guimarães e Styvenson Valentim – do pedido de instalação de uma PI para apurar a corrupção no MEC.

É que, como diz o chefe do Centrão, Ciro Nogueira, a corrupção, agora, “é virtual”.

E, portanto, como disse Janio de Freitas, “não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro”.

O país que arde na inflação, “está dando certo” com a “dobradinha centrão e militares” segundo o mesmo Nogueira.

Vivemos já nem na Terra Plana, mas no lado escuro da Lua, de onde não se pode ver o que se passa aqui.

Planos para o próximo governo? Deus, pátria e família, além de um presidente que alterna seus compromissos entre motociatas, cavalgadas e leitos hospitalares quando surgem notícias negativas.

Desculpe o leitor dominical, mas desanima tentar analisar o nonsense que, paradoxalmente, faz sentido e deve continuar para algo entre 25 e 30% dos brasileiros.

E ainda mais inacreditável que o bolsonarismo mais insano esteja nas faixas com maior renda e, incrível, com maior formação educacional.

Como tem sido afirmado aqui, não estamos diante de uma eleição normal, mas de uma chance de voltarmos a um grau de civilidade e de racionalidade sem o qual nem mesmo a divergência política pode acontecer sem tornar-se guerra.

Tijolaço.

sábado, 9 de abril de 2022

JANIO DE FREITAS: AS INSTITUIÇÕES ESTÃO DEVASTADAS. POR FERNANDO BRITO

Como no “tá tudo dominado” do funk, o Brasil já não se escandaliza com nada. Congresso e sistema judiciário, ainda que neste último surjam alguns gemidos do Supremo Tribunal Federal, vivem em completa anomia, onde padrões normativos de conduta e de valores enfraqueceram ao ponto de quase desaparecer.

Assistimos a um período onde se aceita do ( e no) governo, as maiores barbaridades, desde o achaque rastaquera de tomar o dinheiro de servidores de gabinete até o envolvimento com o crime organizado e suspeitas de execução de ex-parceiro marginais.

Até mesmo quando a imprensa publica, há quase um aceitar como “pitoresco” e “natural” que as instituições da República não reajam ao absurdo, como se fosse parte da hegemonia política a associação ao crime, inclusive os de morte.

Cumprida a missão de derrubar um governo eleito, o próprio Ministério Público Federal, que se apresentava – não dá trabalho recordar – como a vestal da Lei, intocável e intolerante, aceitou-se em berço esplêndido, no qual bale feito cordeiro.

Numa única frase, Janio de Freitas condensa a situação de nosso país: Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao [que lhe é] devido.

São as entranhas brasileiras

Janio de Freitas, na Folha

Nenhum presidente legítimo, desde o fim da ditadura de Getúlio em 1945 —e passando sem respirar sobre a ditadura militar— deu tantos motivos para ser investigado com rigor, exonerado por impeachment e processado, nem contou com tamanha proteção e tolerância a seus indícios criminais, quanto Jair Bolsonaro. Também na história entre o nascer da República e o da era getulista inexiste algo semelhante à atualidade. Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao devido.

As demonstrações não cessam. Dão a medida da degradação que as instituições, o sistema operativo do país e a sociedade em geral, sem jamais terem chegado a padrões aceitáveis, sofrem nos últimos anos. E aceitam, apesar de muitos momentos dessa queda serem vergonhosos para tudo e todos no país.

Nessa devastação, Bolsonaro infiltrou dois guarda-costas no Supremo Tribunal Federal. Um deles, André Mendonça, que se passa por cristão, na pressa de sua tarefa não respeita nem a vida. Ainda ao início do julgamento, no STF, do pacotaço relativo aos indígenas, Mendonça já iniciou seu empenho em salvá-lo da necessária derrubada.

São projetos destinados a trazer a etapa definitiva ao histórico extermínio dos indígenas. O pedido de vista com que Mendonça interrompeu o julgamento inicial, “para estudar melhor” a questão, é a primeira parte da técnica que impede a decisão do tribunal. Como o STF deixou de exigir prazo para os seus alegados estudiosos, daí resultando paralisações de dezenas de anos, isso tem significado especial no caso anti-indígena: o governo argumentará, para as situações de exploração criminosa de terras indígenas, que a questão está subjudice. E milicianos do garimpo, desmatadores, contrabandistas e fazendeiros invasores continuarão a exterminar os povos originários desta terra.

Muito pouco se fala desse julgamento. Tanto faz, no país sem vitalidade e sem moral para defender-se, exangue e comatoso. Em outro exemplo de indecência vergonhosa, nada aconteceu à Advocacia-Geral da União por sua defesa a uma das mais comprometedoras omissões de Bolsonaro. Aquela em que, avisado por um deputado federal e um servidor público de canalhices financeiras com vacinas no Ministério da Saúde, nem ao menos avisou a polícia. “Denunciar atos ilegais à Polícia Federal não faz parte dos deveres do presidente da República”, é a defesa.

A folha corrida da AGU é imprópria para leitura. Mas, com toda certeza, não contém algo mais descarado e idiota do que a defesa da preservação criminosa de Bolsonaro a saqueadores dos cofres públicos. Era provável que a denúncia nada produzisse, sendo o bando integrado pela máfia de pastores, ex-PMs da milícia e outros marginais, todos do bolsonarismo. Nem por isso o descaso geral com esse assunto se justifica. Como também fora esquecido, não à toa, o fuzilamento de Adriano da Nóbrega, o capitão miliciano ligado a Bolsonaro e família, a Fabrício Queiroz, às “rachadinhas” e funcionários fantasmas de Flávio, de Carlos e do próprio Bolsonaro. E ligado a informações, inclusive, sobre a morte de Marielle Franco.

Silêncio até que o repórter Italo Nogueira trouxesse agora, na Folha, duas revelações: a irmã de Adriano disse, em telefonema gravado, que ele soube de uma conversa no Planalto para assassiná-lo. Trecho que a Polícia Civil do Rio escondeu do relatório de suas, vá lá, investigações. O Ministério Público e o Judiciário estaduais e o Superior Tribunal de Justiça não ficam em melhor posição, nesse caso, do que a polícia. São partes, no episódio de implicações gravíssimas, de uma cumplicidade que mereceria, ela mesma, inquérito e processo criminais. O STJ determinou até a anulação das provas no inquérito das “rachadinhas”, que, entre outros indícios, incluía Adriano da Nóbrega.

Desdobrados nas suas entranhas, os casos aí citados revelariam mais sobre o Brasil nestes tempos militares de Bolsonaro do que tudo o mais já dito a respeito. Mas não se vislumbra quem ou que instituição os estriparia.

Tijolaço.