Políticos tentam
passas a manta do caixa 2. Passar a manta, em mineirês: passar a perna durante
uma negociação.
Desde tempos
imemoriais, misturaram-se financiamentos de campanha e financiamento pessoal.
Tome-se o caso de Tancredo Neves: a vida financeira de sua família só ganhou
alguma folga após a campanha para presidente. Ou então, Franco Montoro que,
após a campanha para governador, conseguiu recursos para sair da casa onde
morou a vida toda e mudar-se para um apartamento de boas dimensões. E Fernando
Henrique Cardoso que, após a primeira campanha, conseguiu recursos para se
tornar sócio de uma fazenda em Minas Gerais.
Estamos falando
dos políticos mais íntegros.
Nos tempos
atuais, há uma maneira simples de separar quem recebeu recursos para campanha e
quem enriqueceu embolsando uma parte: basta abrir suas contas pessoais.
Os fundos de
investimentos de Verônica Serra resistiriam a uma auditoria por uma firma
independente, dessas que, ao contrário do Ministério Público Federal, não
permitem o vazamento de informações sigilosas? E Serra teria como justificar
sua coleção de obras de arte? Ou então apresentar recibos de aluguel da bela
casa que adquiriu, ainda enquanto Secretário do Planejamento de Montoro, e que
dizia a todos que só foi morar lá devido a um aluguel módico? A propriedade da
casa só foi esquentada em 2002, usando como lastro supostas doações da filha
Verônica Serra, conforme consta nas explicações do candidato à época.
Aécio abriria
mão do sigilo de suas contas no exterior e de suas declarações de renda, para
que se entenda como uma pequena rádio de São João Del Rey permitiu a ele ter
uma coleção de carros caros e uma vida mansa no Rio de Janeiro?
Há três
justificativas para o uso do caixa 2 por políticos:
A empresa não
quer ser identificada para não sofrer assédio de outros candidatos. Digamos que
é a única circunstância legal. Bastaria doar ao partido, acertando previamente
o candidato a ser beneficiado.
A empresa não
quer ser identificada porque trata-se de dinheiro de propina e seria fácil
estabelecer as ligações entre obra e padrinho.
O político quer
liberdade para utilizar o dinheiro. Se a empreiteira entregou ao político
R$ 10 milhões em espécie, qual a prova de que o dinheiro seguiu intocado até o
marqueteiro? Imagine, então, o dinheiro sendo depositado em uma conta na Suíça,
em nome de um banqueiro de confiança do senador. O que impediria que parte dele
fosse para o bolso do senador? Em tese, nada.
Como não se
espere do MPF nenhuma investigação mais apurada sobre esses varões de Plutarco,
talvez eles tenham a intenção de espontaneamente se submeter a essas
averiguações. No mínimo, para espantar qualquer desconfiança que possa recair
sobre a reputação de tão notáveis homens públicos.
Do GGN