Por
aqui, tudo é concentrado, sem a diluição que a distância impõe nos grandes
centros. Os poderes se encontram nos restaurantes, nos gabinetes, nos salões
dourados dos três Poderes, com a chocante contraste em relação à miséria
nacional.
O
panorama, visto de Brasília, é mais desanimador ainda. Estou desde ontem aqui,
para uma palestra na Fundação João Mangabeira e, à noite, para o lançamento do
meu livro – “Walther Moreira Salles, banqueiro e embaixador e a reconstrução do
Brasil” -, às 19 horas no Carpe Diem.
Brasília
é a síntese maior da perda de rumo nacional. Por aqui, tudo é concentrado, sem
a diluição que a distância impõe nos grandes centros. Os poderes se encontram
nos restaurantes, nos gabinetes, nos salões dourados dos três Poderes, com a
chocante contraste em relação à miséria nacional.
Tem-se,
por aqui, de forma clara, o mapa da perda de rumo nacional.
O
álibi Lava Jato servia para tudo, era melhor do que o ipê roxo que, dizia-se,
curava de câncer a dor de dente. Serviu para a imprensa se auto justificar e
mergulhar de cabeça no pior período de antijornalismo da sua história; para
Ministros do Supremo abrirem mão das convicções nas quais montaram para serem
indicados ao cargo e cair no samba vivendo o papel de salvadores da moral; para
o Ministério Público abandonar sua vocação garantista e se tornar um explorador
de escândalos.
Agora,
cai a noite e sob os céus de Brasília a divulgação das conversas pela
Vazajato tira dos principais personagens as vestes da hipocrisia, com as
quais cobriam suas partes pudendas.
As
instituições viraram fumaça e seus integrantes estão nus. Baixaram a cabeça
para todos os abusos e, agora, quedam inertes, sem esboçar nenhuma reação ante
o strip tease moral da Nação.
Perdeu-se
completamente qualquer referencial de moral, qualquer senso de pudor.
*
Juízes e promotores defendem interferências de Moro na Lava Jato, enquanto
jornais de todo o mundo se escandalizam.
*
Veículos relevantes, como Estadão e Globo, escondem a notícia.
*
A tentativa de colocar a COAF para investigar Glenn Greenwald foi enfrentada
por um procurador do Tribunal de Contas da União, porque a Procuradoria Geral
da República não se manifestou.
*
Um Ministro do Supremo, Luiz Fux, vai falar para um evento de uma instituição
financeira, informa que será o próximo presidente do Supremo e apoiará todas as
propostas econômicas do distinto patrocinador que lhe garantiu o cachê polpudo.
*
Nos jornais, mentes mais sensíveis escandalizam-se com a indústria de palestras
de Deltan Dallagnol. E como ficará a indústria de palestras do Ministro Luis
Roberto Barroso que, primeiro, aderiu à Lava Jato por receio, e, depois, se
tornou praticante do empreendedorismo judicial defendido por Deltan?
É
um panorama tão contristador, que os personagens nem ousam atitudes minimamente
dignas. Tome-se o caso de Raquel Dodge. Era nítido que não seria reconduzida no
cargo de PGR. Tinha, então, a oportunidade histórica de resgatar a imagem do
MPF, com um final de mandato altivo, independente, de defesa da Constituição,
dos direitos, contra os abusos praticados nesse saque diuturno contra o Brasil.
Não teria a recondução, como não terá. Mas sairia com a biografia consagrada.
Em vez disso, preferiu se curvar ao ogro, tão submissa quanto Sérgio Moro,
abrindo mão da votação na lista tríplice para tentar ganhar a confiança de
Bolsonaro.
A
mídia que cobrava insistentemente a autocrítica do PT está presa ao seu
passado, à banalização dos escândalos, ao protagonismo político, e a perda de
credibilidade no bojo de uma crise universal dos modelões tradicionais de
mídia.
A
crise dos jornais se alastra por todos os cantos. Há notícias de passaralhos no
Valor Econômico, ceifando os salários mais caros – justamente dos jornalistas
que ajudaram a criar a reputação do jornal. Época, que voltou a fazer bom
jornalismo, se sustenta com o apoio da mãe Globo. O Globo, que tentou se
reciclar, volta e meia é derrubado pelo pacto do diabo firmado com a Lava Jato,
que impede essa mea culpa disfarçada de outros veículos.
Mas
a foto da home mostra que o enxugamento das redações cobrou um preço alto. As
manchetes principais permanecem na home durante todo o dia, sem renovação.
Jornalistas
que surfaram na onda, e se valeram do empreendedorismo da Lava Jato, como seus
porta-vozes oficiosos, discretamente estão saindo da cobertura e se escondendo
atrás de temas menos comprometedores.
Folha
e Veja tentam, em um esforço desesperado, recuperar o jornalismo perdido.
Aliás,
é comovente as tentativas de Veja, desde André Petry, de recuperar parte da
imagem daquela que foi o mais influente órgão da imprensa e escrita por muitas
décadas, jogada ao esgoto pelos próprios donos.
Do
GGN