Na
opinião de professor de Filosofia Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) Aldo Fornazieri, "Temer está dando
uma aula de como os profissionais de uma quadrilha reagem com força para se
manter no poder". Para ele, "a esquerda está acomodada", Michel
Temer “está quebrando o país mais do que já está quebrado”.
Em
meio à maior crise política de sua história recente, o Brasil espera o fim do
recesso parlamentar para conhecer a decisão, pelo plenário da Câmara dos
Deputados, sobre o futuro de Michel Temer. A votação que pode ou não autorizar
o Supremo Tribunal Federal a dar prosseguimento ao processo está prevista para o dia 2 de agosto, quando o
peemedebista precisará de 172 votos para evitar esse desfecho e, na prática, o
fim de seu governo.
Para Fornazieri o país já vive
uma convulsão social. “Na verdade, a convulsão social está ocorrendo, mas não
pela via política. Está ocorrendo na guerra civil no Rio de Janeiro, com a
violência espalhada pelo país e a quebradeira geral dos serviços brasileiros
pelo governo”, diz.
Para
ele, o problema é que Temer até o momento tem sido bem sucedido em suas
manobras e articulações para se manter no poder. “Do ponto de vista político
não acontece nada. A esquerda está acomodada, o Lula é condenado e não vimos
ainda manifestações contra a condenação. Por esse caminho não acredito em
convulsão social.” A apelação do ex-presidente Lula da sentença do juiz Sergio
Moro, que o condenou a 9 anos e 6 meses de prisão, será julgada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em data
ainda imprevisível.
Na
visão de Fornazieri, Temer tem “grandes chances” de se salvar. “Ele está
fazendo um jogo pesado para isso. Está dando uma aula de como os profissionais
de uma quadrilha reagem com força para se manter no poder, gastando bilhões do
dinheiro público. Não vejo mobilizações suficientes para tirar Temer do
governo”, afirma Fornazieri.
Ele
acredita que as manifestações dia 20 precisarão ser grandes
para configurar um contraponto popular à mobilização parlamentar e articulação
política do grupo palaciano. “Qual vai ser o tamanho e o alcance dessas
manifestações? Até hoje as manifestações da esquerda na Paulista não passaram
de piqueniques cívicos”, diz Fornazieri. Em sua opinião, as mobilizações teriam
que envolver muito mais gente do que a militância organizada que faz parte das
estruturas dos partidos e sindicatos.
Para
se manter no poder, o presidente “está quebrando o país mais do que já está
quebrado”. “E não se vê uma contrapartida das oposições nas ruas. As oposições
são minoria no Congresso, mas estão se submetendo ao jogo puramente
parlamentar, enquanto no contexto do golpe e do impeachment da Dilma foram mobilizadas
milhões de pessoas nas ruas", afirma ainda o professor.
Na
quinta-feira (13), a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da
Câmara rejeitou, por 40 votos a 25, o relatório do deputado
Sergio Zveiter (PMDB-RJ), favorável à autorização para abertura do
processo contra Temer no STF.
Segundo
a ONG Contas Abertas, o governo federal liberou em junho R$ 134 milhões em
emendas parlamentares a 36 dos 40 deputados que votaram a favor de Temer na
CCJ.Para Antônio Augusto
de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (Diap), os cenários na atual conjuntura são basicamente três: “a) renúncia, por exaustão do governo; b) a
cassação, por decisão do STF, após autorização da Câmara dos Deputados; e c) a
Sarneyzação do governo, ou a imagem do “pato manco”, com a equipe econômica e o
Congresso fazendo o feijão com arroz, sem qualquer reforma relevante”. Na
opinião do analista, o primeiro cenário “é realista, o segundo pessimista e o
terceiro otimista”.
Da RBA