Fernando Henrique Cardoso talvez seja a expressão máxima da
mediocridade do pensamento político nacional.
Assumiu a presidência devido à simpatia pessoal que lhe era
devotada pelo então presidente Itamar Franco. O Plano Real caiu no seu colo.
Produziu desastres de monta no seu período na presidência. Mas, quando saiu,
houve um trabalho diuturno da mídia para uma releitura do seu governo que
permitisse ser o contraponto do governo Lula.
No seu governo, limitou-se a entregar a gestão da política
monetária e cambial ao mercado, sem jamais ter conseguido desenvolver uma
proposta para o país, uma visão original ou não. Produziu a maior dívida
pública da história, sem contrapartida de ativos, liquidou com algumas
vantagens comparativas nacionais, como o custo da energia elétrica, abandonou
qualquer veleidade de política social em larga escala, abriu mão da coordenação
dos cursos superiores.
Logo após sua saída, fiz uma longa entrevista com ele para
meu livro “Os Cabeças de Planilha”, para saber o que pensava sobre diversos
aspectos da vida nacional: política de inovação, Pequenas e Médias Empresas,
diplomacia comercial, políticas industriais, políticas regionais. Não sabia
literalmente nada. Quando indaguei qual o seu projeto para o país, sua resposta
foi de um primarismo assustador:
Fortalecer os grupos mais internacionalizados (leia-se,
bancos e fundos de investimento) e eles, crescendo, conduzirão o país para a
modernização.
Agora, publicou um livro com o que áulicos denominam de seu
pensamento vivo. O tal pensamento vivo nada mais é do que uma compilação dos
princípios originais, que supunha-se guiariam o PSDB, acrescido do componente
moral. Pior: foi saudado por alguns analistas como uma revolução no pensamento
político nacional.
O que ele propõe é o meio-termo entre o mercadismo desregrado
e a estatização desvairada, com as bandeiras recentes do moralismo. Nada além
do que o PSDB pregava no seu início.
Eram princípios que tinham como formuladores, na prática e na
teoria, Franco Montoro, Mário Covas, Luiz Carlos Bresser Pereira, um conjunto
de intelectuais da USP que ou morreram ou debandaram quando, por falta de
uso, as ideias emboloraram e foram substituídas pelo discurso de ódio anti-PT e
pela superficialidade de FHC.
Jamais saíram do discurso. A ideia de que a privatização
tinha que obedecer à análise de cada setor, dentro da lógica de interesse
nacional, foi substituída pelo negocismo mais explícito.
Quanto ao moralismo, ora o moralismo.
Tenho dúvidas sobre o apartamento de Paris, se é dele ou dos
herdeiros de Abreu Sodré. Mas o apartamento que comprou na rua Rio de Janeiro,
em Higienópolis, vizinho de onde eu morava, valia três vezes mais do que o
preço que diz ter pago. Sei disso por moradores do próprio edifício. E foi
adquirido de um banqueiro ligado aos fundos partidários do PSDB. E FHC se vê em
condições morais de atacar o tal triplex de Lula, cuja propriedade jamais foi
comprovada.
FHC sempre foi o pândego, o malaca, sem nenhum compromisso de
país ou de partido, ou com as ideias. Assim como seu filhote, José Serra,
sempre foi um utilitarista de slogans e de uma pretensa formação acadêmica. A
propósito, até hoje não foi divulgada a suposta tese de doutorado de Serra nos
EUA.
FHC foi guindado pela mídia à condição de estátua equestre,
dessas que se coloca em praça pública para celebrar uma lenda que só cresce
quando não abre a boca.
Sua figura pública não se distingue apenas pela falta de
propostas, mas pela falta de atributos mínimos de caráter, lealdade,
generosidade, coragem. Quando explodiu a crise de governabilidade, com o
mensalão, todos os ex-presidentes vieram a público exprimir sua
responsabilidade de ex-presidente: Sarney, Collor, Itamar. Menos FHC.
Sua vaidade vazia, sua falta de compromisso com as palavras,
a superficialidade de suas ideias, é a maior mostra do subdesenvolvimento
brasileiro. A tentativa de colocá-lo como contraponto a Lula, a prova maior da
inviabilidade de um certo tipo de pensamento de direita.
Do GGN